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março 07, 2013

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

   Essa frase, dita pela raposa ao pequeno príncipe no livro de mesmo nome, é vista, muitas vezes, como algo piegas. O próprio livro sempre foi visto como "um livro para moças de cabeças vazias". Prova disso é que onze  em cada dez canditatas a miss diziam tê-lo como seu livro de cabeceira.
      Mas não estamos para falar do famoso e controverso livro de  Saint Exupéry. Eu, particularmente, gosto muito e acho que é sempre oportuno que alguém nos chame a atenção para  esses detalhes da vida que teimamos em classificar como coisas sem muita importância ou às quais não devamos prestar muita atenção.
     É baseado nesse tipo de visão que fechamos os olhos para tudo o que está acontecendo ao nosso lado. É como se nada nos dissesse respeito e que tudo o que acontece com o outro não é da nossa conta.
     Até quando vamos viver essa mentira? Tudo o que acontece com os outros nos interessa sim, estamos todos interligados sim. Não podemos ficar indiferentes a nada. Mesmo com todo o esforço que fazemos par provar o contrário, ninguém pode negar
que a dor do outro doe em nós e que a  alegria do outro também é a nossa alegria.
     Parece piegas falar assim, mas não existe outra maneira de encarar os fatos. Ninguém é tão  insensível quanto tenta  provar ser. Somos todos irmãos, membros de uma mesma família e, portanto, responsáveis uns pelos outros.
     Nesses nossos dias, convencionou-se que o ideal é ninguém falar nada, concordar com tudo em nome da boa convivência, para não se aborrecer, para não parecer chato ou inconveniente.
     Por isso, deixamos que tudo aconteça à nossa volta: deixamos que depredem a cidade, que joguem lixo nas ruas e todos fiquemos ilhados nos dias de chuva e coisas assim porque este é a melhor maneira de se viver. Será mesmo? Acredito que a raposa estava certa: somos responsáveis por aqueles que cativamos:  os parentes, os amigos, os conhecidos, aqueles a quem nem conhecemos (principalmente esses),  nossa casa, a nossa cidade e por nós mesmos.
     Precisamos aprender a cuidar melhor de tudo isso.  Ou nos sucumbiremos  todos acreditando que tudo é responsabilidade do outro, do governo e de quem mais se queira acreditar.

março 05, 2013

Comédia ensaiada.

     Mesmo com todas as mudanças que ocorreram e que correm diariamente no  mundo, ainda não conseguimos dizer aquilo que estamos realmente pensando, deixar claro o nosso ponto de vista, expressar com clareza,  dar a nossa verdadeira opinião a respeito de qualquer assunto seja para não ferir suscetibilidades, seja para não se meter "naquilo que não é da nossa conta".
     Até pode parecer normal, pois essa é uma das conquistas da liberdade. Cada um pode viver do jeito que bem entende, sem dar satisfação a ninguém. Isso nos levar a viver pisando em ovos, só podemos dizer aquilo que convém e nada mais. Nada de sinceridade, nada de ir muito fundo nas questões. Tudo o que queremos é agradar.
     Do contrário, podemos ser taxados como loucos, chatos,  pessoas inconvenientes, seres antissociais.  Em nome disso, abrimos mão de conhecer o outro melhor, de buscar saber o que lhe vai na alma, de procurar saber de suas necessidades e carências. Por outro lado, também fazemos questão de esconder as nossas fragilidades, morrendo de medo de, por isso, não ser aceito no meio aonde vivemos e, assim, sofrer rejeição.
     Assim, vivemos num mundo de aparências: somos uma coisa e tentamos mostrar que somos outra completamente diferente, uma pessoa que construímos e que serve ao padrão exigido. Tentamos apagar qualquer resquicio da pessoa verdadeira que somos: aquela que chora, sofre, ri, tem dúvidas e se vê por vezes invadida por sentimentos contraditórios, mas que somos nós e mais ninguém, ou seja, a nossa essência.     
     Por outro lado, esse tipo de visão de vida nos leva a achar que tudo  o que acontece com o outro não nos diz respeito. O outro é alguém que idealizamos e a sua verdadeira essência não nos interessa, uma vez que aceitamos o jogo do faz de conta, onde ninguém mostra sua verdadeira cara, onde todo mundo faz questão de representar um papel préviamente ensaiado. 
     Acreditamos que assim (e só assim) podemos ser verdadeiramente felizes. Será? Pense nisso.

março 03, 2013

Só a vida ensina - Cap. 2

Eis o segundo capítulo da saga de Joel. 

 

SÓ A VIDA ENSINA


CAPÍTULO 2 

Autor: Julio Fernando

CENA 1  - INTERIOR/DIA - SALA DO SR. OLAVO
OLAVO ESTÁ SENTADO EM SUA MESA, TRABALHANDO. JOEL ENTRA.  ESTÁ BASTANTE APREENSIVO.

JOEL – Me chamou, seu Olavo?

OLAVO – (SEM PARAR O QUE ESTÁ FAZENDO) Sim. (TEMPO) Sente-se.

JOEL – (SENTANDO) Não sei se o Fábio avisou... Eu tive um probleminha em casa...

OLAVO – (INTERROMPENDO) Eu sei. Sua mãe... (TEMPO) E por falar nisso: como ela está?

JOEL – Agora ela está bem.

OLAVO – Que bom. Estimo as melhoras dela.

JOEL – Obrigado. (LEVANTANDO-SE) Posso ir. É que tenho muito trabalho. O senhor sabe, fim de mês...

OLAVO –  Não  precisa mais se preocupar...

JOEL – Como assim?...

OLAVO – A partir de hoje o senhor não mais precisará se preocupar com o serviço aqui, senhor Joel. Poderá cuidar muito bem de sua mãe.

JOEL – Não estou entendendo...

OLAVO – Eu me cansei, senhor Joel. Todo dia uma desculpa... Minha paciência se esgotou. (TOM) O senhor está DESPEDIDO.

JOEL – (PERPLEXO) O quê?

CORTA PARA:

CENA 2 - INTERIOR/DIA -SALA ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO ESTÁ DE PÉ DIANTE DA MESA DO OUTRO FUNCIONÁRIO. JOEL ENTRA. ESTÁ COMPLETAMENTE ARRASADO.

FÁBIO – E então? O que o homem queria?

JOEL – Ele me mandou embora. Tô no olho da rua.

FÁBIO – Qual é, Joel? Está de brincadeira? Seu Olavo vive dizendo que você é o melhor funcionário que ele tem.

JOEL – Para você ver. O melhor funcionário está sendo despedido.

FÁBIO – Que é isso, Joel? (TOM) Conversa com ele. Quem sabe ele muda de ideia...?

JOEL – (ESPERANÇOSO) Você acha...?

FÁBIO – Claro. Seu Olavo é gente boa. (TOM) O problema é que você tem abusado ultimamente. De repente, se você falar pra ele que vai mudar de atitude...

JOEL – (DECIDIDO) É isso que eu vou fazer. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 3 - INTERIOR/DIA - SALA DO SENHOR OLAVO
OLAVO ESTÁ TRABALHANDO. JOEL ENTRA.

OLAVO – Pois não.

JOEL – Sabe o que é, seu Olavo, o senhor tem toda razão em estar chateado comigo. Eu tenho abusado muito da sua confiança nos últimos tempos. Mas agora eu prometo para o senhor que vou melhorar. O senhor vai ver: a partir de hoje eu vou ser o primeiro a chegar no escritório e o ultimo a sair. Pode confiar.

OLAVO (FICA OLHANDO PARA JOEL UM TEMPO, DEPOIS LEVANTA E O ENCARA, FIRMEMENTE) Eu tenho a impressão de que não fui claro o suficiente, senhor Joel. (TOM) O senhor está des – pe – di – do, entendeu? Eu lhe dei várias oportunidades de crescer aqui. O senhor fez questão de jogar todas no lixo. Portanto, não existe a menor possibilidade de eu voltar atrás na minha decisão. (TEMPO) E agora, saia daqui que o senhor está me atrapalhando.

JOEL – (SAINDO, HUMILHADO) Com licença.

CORTA PARA:

CENA 4 - INTERIOR/DIA -SALA ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO ESPERAM POR JOEL. JOEL ENTRA DE CABEÇA BAIXA.

JOEL – O homem não quis conversa.

FÁBIO – Ele deve estar meio nervoso. Mais tarde, quem sabe?

JOEL – Não tem mais jeito. Ele não vai mudar de ideia. É rua e pronto. (JOEL COMEÇA A JUNTAR SUAS COISAS. FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO TENTAM DEMONSTRAR SOLIDARIEDADE. DEPOIS DE JUNTAR UNS POUCOS PERTENCES, JOEL SE DESPEDE DOS COMPANHEIROS) Valeu, companheiros. A gente se vê por aí. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 5 - INTERIOR/DIA - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL TRABALHA
PORTEIRO ESTÁ POR ALI. JOEL SAI DO ELEVADOR CARREGANDO UMA CAIXA PEQUENA.

PORTEIRO – (ZOMBANDO) Ora, vejam! O último a chegar e o primeiro a ir embora. Isso que é vida boa.

JOEL – Não enche o saco.

PORTEIRO – Ih!, o marajá tá nervoso.

JOEL – (PARTE PARA CIMA DO PORTEIRO) Olha aqui, seu folgado. (PORTEIRO CORRE E SE ESCONDE. JOEL FICA BUFANDO DE RAIVA) Filho da mãe. Provoca e corre.

CORTA PARA:

CENA 6 - EXTERIOR/DIA - UMA RUA DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
JOEL ANDA COM SUA PEQUENA CAIXA NA MÃO. NA CAIXA ESTÃO SEUS PERTENCES DO ESCRITÓRIO. ESTÁ BASTANTE ABATIDO, TRISTE.

JOEL – E agora, Joel? (TEMPO) Como é que eu vou dar essa notícia para minha mãe? Dona Margarida vai me matar quando souber.

JOEL CONTINUA CAMINHANDO A ESMO, COM OS PENSAMENTOS FERVILHANDO NA CABEÇA.

CORTA PARA:

CENA 7 - EXTERIOR/DIA - PORTA DO SALÃO DE BELEZA ONDE VERINHA, A NAMORADA DE JOEL, TRABALHA
É UM SALÃO SIMPLES QUE ATENDE A CLIENTELA MAIS POBRE.
JOEL ESTÁ PARADO SEGURANDO A CAIXA. VERINHA SURGE SEGURANDO ALGUNS APETRECHOS DE CABELEREIRA. É UMA MOÇA DE ESTATURA MÉDIA, COM ROSTO DE GENTE SOFRIDA.

VERINHA – O que você está fazendo aqui? Já não disse que a minha patroa não gosta. Além do mais, eu tô com uma cliente na cadeira...

JOEL – Não fala assim, Verinha, meu amor. Não vê que eu tô aqui cheio de problema?

VERINHA – O único problema que eu sei que você tem é a safadeza.

JOEL – Tô falando sério, Verinha.

VERINHA – O que foi dessa vez, Joel? Fala logo que eu tenho que voltar para o meu trabalho. Daqui a pouco dona Damares briga comigo.

JOEL – É que eu... Bem eu...

VERINHA – Desembucha, homem. Já sei. Veio aqui para terminar o noivado comigo. (TOM) Tudo bem. Eu já esperava por isso. (TIRA A ALIANÇA DO DEDO) Toma essa aliança e agora me deixa em paz.

JOEL – Não é nada disso, Verinha.(COLOCANDO  A ALIANÇA DE VOLTA AO DEDO DE VERINHA) Eu te amo e quero me casar com você.

VERINHA – Mas quando?

JOEL – (MENTINDO) O mais breve possível.

VERINHA – Você vive adiando nosso casamento.

JOEL – Eu bem que tava pensando em marcar a data, mas aconteceu uma coisa...

VERINHA – O que foi?

JOEL – Seu Olavo me mandou embora.

VERINHA – O quê? Era só o que faltava. Agora é que a gente não se casa mais...

JOEL – Agora vai ficar difícil. Sem emprego, não dá.

VERINHA – E você veio aqui para me dizer que não vai dar pra se casar agora porque perdeu o emprego? Não podia ter deixado isso pra mais tarde?

JOEL – Eu vim aqui pra lhe pedir que vá lá em casa comigo. Tô com medo de dar essa notícia pra minha mãe. Dona Margarida não vai resistir. (TEMPO) Você vem comigo?

VERINHA – Não. Sinto muito, mas eu tenho cliente esperando. Preciso trabalhar. Mais tarde a gente se fala. (SAI)

JOEL – Volta aqui, Verinha. Não me deixe sozinho nessa.

CORTA PARA:

CENA 8 - INTERIOR/DIA - CASA DE JOEL. SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ ASSISTINDO TELEVISÃO. JOEL ENTRA COM A CAIXA NA MÃO.

DONA MARGARIDA – Em casa à essa hora, Joel? O que aconteceu?

JOEL – (DISFARÇANDO) Nada, mãe. (TEMPO) Por que? Por acaso, tem sempre que estar acontecendo alguma coisa?

DONA MARGARIDA – Do jeito que a vida anda... (TOM) Além do mais, você já saiu daqui tarde...

JOEL – (MENTINDO) Seu Olavo deu folga para o pessoal do escritório na parte da tarde.

DONA MARGARIDA – É mesmo?  (DESCONFIADA) Fala a verdade, Joel. (TOM)
Você perdeu o emprego? Seu Olavo te mandou embora? (TEMPO) Eu sabia que isso ia acontecer. Coração de mãe não falha. E agora?

JOEL – E agora eu vou arrumar outro emprego. Não é assim que funciona a vida? Tava cansado daquele chato do seu Olavo. Muquirana, mão de vaca. Eu tenho condição de arrumar coisa muito melhor.

CORTA PARA:

CENA 9 - INTERIOR/NOITE - CASA DE JOEL - SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ VENDO NOVELA NA TELEVISÃO. JOEL ENTRA VINDO DO QUARTO. ESTÁ ARRUMADO PARA SAIR.

DONA MARGARIDA – Onde você vai?

JOEL – Por ai.

DONA MARGARIDA – Não acha que está na hora de criar juízo, Joel? Para com tanta farra, filho.  Bota juízo nessa cabeça. Você já não é nenhum menino. Trata de casar com a Verinha e sossegar o facho.

JOEL – Que conversa é essa, dona Margarida? Seu filho ainda tem muita lenha para queimar. Tchau. (SAI)

CARA DE PREOCUPADA DE DONA MARGARIDA.

DONA MARGARIDA – Não se esqueça que você acabou de perder o emprego.

CORTA PARA:

CENA 10 - INTERIOR/NOITE - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL MORA
JOEL SAI DO ELEVADOR E DÁ DE CARA COM O PORTEIRO, SEU ELMIR.

ELMIR – Boa noite, seu Joel. Tem aqui uma correspondência urgente para o senhor. (ENTREGA A CARTA A JOEL) Parece coisa da justiça. Não vai ler?

JOEL – (ABRINDO A CARTA) O quê? (A MEDIDA QUE VAI TOMANDO CONHECIMENTO DA CARTA, JOEL VAI FICANDO CADA VEZ MAIS ASSUSTADO.) Era só o que faltava, meu Deus!

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO

março 02, 2013

Fumar é mesmo uma escolha individual?

      Muito se fala das escolhas pessoais de cada um, que são nada mais nada menos que a afirmação da nossa liberdade. Liberdade essa que como bem diz o dito popular: começa onde termina a do outro ou vice versa. Trocando em miúdos, todos nós somos ávidos em defender a liberdade de escolha e isso é muito importante, uma grande conquista de nossa sociedade, sem dúvida.
     Porém, há sempre que se lembrar que nossa liberdade não pode e nem deve ferir a do outro, não é mesmo? Não parece ser o que acontece quando se diz respeito ao hábito de fumar. É bem verdade que a escolha de fumar é tida como pessoal, mas não o efeito causado  pelo ato de acender o cigarro. Uma vez aceso ele (o cigarro e sua fumaça) passa a ser divido por todos os presentes naquele ambiente.
     É verdade que leis bastante oportunas têm sido colocadas em prática para poder diminuir essa escolha forçada, esse ato de fumar involuntário e seus efeitos nocivos, mas elas estão longe de resolver a questão.  É grande o contingente de fumantes passivos, aqueles que embora não acendam (muitas vezes, nunca acenderam) um cigarro e que são fumantes.
     Isso, na minha opinião, faz com que o ato de fumar não seja, necessariamente, uma escolha individual e que querendo ou não todos somos fumantes. E isso não se dá apenas quando o(a) fumante está num local fechado, mas também quando se anda pela rua, por exemplo. Basta que a pessoa que anda à nossa frente esteja com um cigarro aceso para a gente respire a fumaça exalada e "fume junto com a pessoa".
     Isso, sem esquecer que quando um local é usado por um fumante fica impregnado pelo cheiro do cigarro por um bom tempo. Definitivamente, pode-se afirmar que o ato de fumar não é uma livre escolha. Quando alguém acende um cigarro não está botando, como se pode supor, em risco somente a sua saúde, mas a de todos ao seu redor. Triste constatação.

fevereiro 28, 2013

As palavras que falamos e ouvimos.

     Nossa relação com as palavras nem sempre é muito boa. Parece que pensamos que elas são meros vocábulos sem sentido e que podemos fazer uso delas de qualquer maneira sem nos preocupar com seu significado e com a sua força.
     A coisa não é bem assim. Como já há muito é sabido por todos, as palavras têm força e elas vêm sempre depois de um pensamento, quase nunca antes. Assim, quando dizemos alguma coisa é porque antes pensamos naquela coisa, mesmo que seja de forma inconsciente.
     Essa história de que "falei sem pensar" é quase sempre furada. Usamos esse expediente quando percebemos (geralmente, tardiamente) que falamos algo impróprio. O certo, nesse caso,  seria dizer: "falei o que não devida ter falado".
     Isso se dá porque muitas vezes falamos e só depois é que vamos dimensionar aquilo que foi dito. Aí vem as confusões, as brigas e, consequentemente, os arrependimentos. Nos mortificamos por ter dito coisas que prejudicaram ou magoaram pessoas.
     E mesmo tentando usar outras palavras (sim, sempre elas) para poder consertar o estrago, a chance de sucesso é muito pequena.  Uma vez dita, a palavra ganha uma força extraordinária para o bem e para o mal. O jeito, então, é esperar que o tempo bote as coisas no seu devido lugar outra vez. Só que, muitas vezes, isso demora para acontecer.  Depende do grau do ressentemento causado.
     Por isso, é preciso ter cuidado com elas. Elas tanto podem construir um belo relacionamento, trazer à tona coisas edificantes, como também podem destruir tudo à sua volta. Depois, como diz aquele velho ditado popular: " chorar na cama que é lugar quente".
     Outro ponto importante são aquelas palavras que a gente ouve por ai meio que sem saber o seu verdadeiro sentido ou mesmo o seu destino exato.  Devemos prestar mais atenção nessas palavras. Atrás de muitas coisas ditas ao acaso, por conhecidos e desconhecidos, escondem-se verdadeiros  toques, mensagens de vida dos anjos, dos guias de luz (ou não, pois não devemos cair na armadilha de pensar que tudo que vem do "além" é bom e bem intencionado), de Deus ou de quem mais possa habitar esse nosso mundo corpóreo e incorpóreo.
     Não raras vezes somos apenas porta-vozes, mensageiros. Através das palavras que proferimos ou ouvimos o amor ou ódio, a paz ou a guerra podem estar sendo disseminados. Portanto, atenção com elas,   as palavras.

fevereiro 26, 2013

O carnaval carioca.

     Eu sei que esse assunto já está pra lá de velho. Ninguém mais quer saber de falar do carnaval que passou e todo mundo já está pensando no carnaval que vem. Assim  é a vida. Mas ainda tenho uma última palavra a falar do carnaval de 2013.     
 Sei que está todo mundo feliz ou conformado (minha Portela nunca chega lá) com o campeonato da Vila Isabel. Assim como em todos os anos  muitos falam em marmelada, jurados comprados, falta de critério de julgamento, cartas marcadas, desfiles patrocinados etc.
      Enquanto isso, nas rruas a coisa corre solta. Tornou-se  simplesmente impossível viver no Rio de Janeiro nos dias do carnaval. O que antes eram blocos de carnaval com suas fantasias, suas marchinhas, foleões e tudo o mais , passou a ser uma coisa inexplicável.
      É gente para todo lado. Todos acreditam estar brincando, mas o que se vê é uma orda de desatinados andando a esmo pela cidade atrás dos blocos  que já não podem mais ser chamados de blocos, dado o número de pessoas que arrastam.
     Acredido que o carnaval do Rio acabou vítima do seu próprio sucesso.  As ruas não suportam o contingente de pessoas que acorrem à elas nesse periodo e torna o que antes era bonito e singelo numa coisa grotesca e sem sentido, onde as pessoas, movidas pela busca do prazer imediato se entregam a bebedeiras e o que mais se apresenta, em detrimento da festa, da folia carnavalesca em si.
     As ruas da cidade são tranformadas em verdadeiros campos de concentração. Pessoas bêbadas amdando desatinadamente ou sentadas (ou seriam caídas?) pelo chão têm o aspécto de refugiados ou pessoas abandonadas e famintas à espera de resgate. Isso sem esquecer de  falar dos escrementos e das toneladas de  lixo.
     Acho que é preciso que, urgentemente, se repense o carnaval do Rio de Janeiro. Sem isso, o que há pouco se pensava ser o seu renascimento pode ser a sua morte.

fevereiro 24, 2013

Só a vida ensina. (novelinha roteirizada)

A partir de hoje,  todos os domingos, estarei publicando aqui no blog a novelinha roteirizada, de minha autoria: "Só a vida ensina".  A novela conta a história de Joel, um cara que se nega a crescer e encarar a vida de forma adulta e responsável e, por isso, acaba atraindo para si uma série de situações desagradáveis que vão levá-lo a ter que rever seus conceitos e atitudes diante da vida.
Com vocês o primeiro capítulo.

SÓ A VIDA ENSINA

Capítulo 1

Autor: Julio Fernando

CENA 1 - INTERNA/NOITE - BAR TIPO “COPO SUJO”.
O BAR É UM LOCAL UM TANTO QUANTO ESCURO. HÁ APENAS UM GRUPO DE PESSOAS BEBENDO NUMA MESA. ELAS SÃO OBSERVADAS POR UM HOMEM QUE ESTÁ ATRÁS DO BALCÃO. ELE NÃO PARECE ESTAR FELIZ COM A PERMANÊNCIA DO GRUPO E MOSTRA-SE IMPACIENTE. O GRUPO RI, FALA ALTO, FAZ ALGAZARRA. SÃO EM NÚMERO DE SEIS, ENTRE HOMENS E MULHERES. TODOS ADULTOS, MEIA IDADE. TÍPICAS PESSOAS DA NOITE. ENTRE ELES ESTÁ JOEL GOMES, CERCA DE QUARENTA ANOS, O MAIS FALANTE DE TODOS:

JOEL – (FAZ SINAL PARA O HOMEM QUE ESTÁ ATRÁS DO BALCÃO) Ei,  Camarada...

HOMEM – (APROXIMANDO-SE DA MESA) – Pois não.

JOEL – Traz mais uma.

HOMEM – (TENTANDO SER EDUCADO) Sinto muito, amigo. É muito tarde.  Já passou da hora de fechar. Vamos deixar pra outro dia.

JOEL –  (IMPACIENTE) Eu quero a saideira, cara. (COM ESTUPIDEZ) Traz logo.

HOMEM – Já disse que não posso. Tô fechando... Só estou esperando vocês... Sejam compreensíveis. Amanhã abro o bar logo cedo.

JOEL – E daí? Traz a saideira e deixa de conversa. A noite é uma criança. (PARA OS AMIGOS) Aí, gente. O cara não tá querendo vender mais cerveja. Já tá rico. Tá querendo ir pra casa dormir... É por isso que esse país não vai pra frente. (A TURMA COMEÇA A GRITAR PELA SAIDEIRA, A BATER COM TALHER NAS GARRAFAS, ETC. POR FIM, O HOMEM ACABA SAINDO PARA BUSCAR A CERVEJA, TOTALMENTE CONTRARIADO)

CORTA PARA:

CENA 2 - INTERIOR/ NOITE. - CASA DE JOEL
APARTAMENTO SIMPLES, MAS ARRUMADINHO, SALA E DOIS QUARTOS.
JOEL TIRA A CHAVE DA FECHADURA FAZENDO BASTANTE ESTARDALHAÇO. CAMINHA CAMBALEANDO ATÉ A PORTA DO QUARTO. EMPURRA A PORTA E ENTRA.
CORTA PARA O INTERIOR DO QUARTO.
MOBILIÁRIO SIMPLES. AO ENTRAR NO QUARTO, JOEL SE JOGA NA CAMA DE ROUPA E TUDO E DORME. ALGUM TEMPO DEPOIS A PORTA SE ABRE E APARECE UMA MULHER. TEM CERCA DE UNS SESSENTA ANOS. É DONA MARGARIDA, A MÃE DE JOEL. ELA PARA DIANTE DA CAMA DO FILHO.

DONA MARGARIDA – (TIRANDO OS SAPATOS DOS PÉS DE JOEL) Você não tem jeito mesmo, Joel. Até essa hora na rua, bebendo. Quando é que você vai tomar jeito, meu filho? (SAI DO QUARTO, TRISTE)

CORTA PARA:

CENA 3 - INTERIOR/DIA - QUARTO DE JOEL.
JOEL DORME, RONCANDO, JOGADO NA CAMA.  O QUARTO ESTÁ TODO ILUMINADO, POIS A MANHÃ JÁ ESTÁ QUASE NO FIM. A PORTA SE ABRE E DONA MARGARIDA ENTRA. ELA SE DIREGE AO FILHO, CHAMANDO-O.

DONA MARGARIDA – Acorda, Joel. Já é muito tarde. Você vai chegar atrasado no trabalho. Acorda, Joel.

JOEL – (VIRANDO-SE  NA CAMA) O quê? Me deixa dormir em paz.

DONA MARGARIDA – Você  vai acabar perdendo esse emprego.

(DONA MARGARIDA TENTA UM POUCO MAIS E ACABA DESISTINDO. QUANDO ELA SAI DO QUARTO, JOEL PERMANECE DORMINDO A SONO SOLTO.)

CORTA PARA:

CENA 4 - INTERIOR/DIA - ESCRITÓRIO DE CONTABILIDADE ONDE JOEL TRABALHA.
É UM ESCRITÓRIO DESSES QUE LRMBRAM ANTIGAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS.  SALA PEQUENA, TRÊS MESAS, COMPUTADORES ANTIGOS, MÁQUINAS DE ESCREVER, SOMAR, E MUITA PAPELADA.. HÁ DOIS FUNCIONÁRIOS TRABALHANDO. UM DELES É FÁBIO, 38 ANOS, ESTATURA MÉDIA. UMA PORTA SE ABRE E ENTRA UM HOMEM MAIS VELHO.  É OLAVO, O DONO DO ESCRITÓRIO.

OLAVO – Bom dia!

FÁBIO – Bom dia, seu Olavo.

OLAVO – (VÊ A MESA DE JOEL VAZIA) E o Joel? Ainda não chegou?

FÁBIO – Ainda não, seu Olavo.

OLAVO – Qual é a desculpa da vez?

FÁBIO – (SEMPRE CONSTRANGIDO) Não sei não, seu Olavo. A mãe dele estava meio adoentada. Acho que ele teve que levá-la ao médico.

OLAVO – (ABORRECIDO) Sempre a mesma coisa. Esse rapaz está brincando com a verdade. Se ele quer trabalhar, precisa cuidar do emprego.

(OLAVO SAI E FÁBIO OLHA PARA O COLEGA, COM AR DE PREOCUPAÇÃO)

FÁBIO – Joel não se emenda mesmo.

CORTA PARA:

CENA 5 - INTERIOR/DIA - QUARTO DE JOEL.
JOEL DESPERTA ASSUSTADO E VERIFICA AS HORAS NO RELÓGIO. PERCEBE QUE JÁ É TARDE, LEVANTA DA CAMA APRESSADAMENTE E SAI DO QUARTO.
CORTA PARA A SALA DO APARTAMENTO. DONA MARGARIDA ESTÁ SENTADA FAZENDO TRICÔ:

JOEL – (AFOBADO) Por que a senhora não me chamou, mãe?  Perdi a hora.

DONA MARGARIDA – Tentei te acordar várias vezes, mas você virava para o canto e dormia de novo. (TOM) Você está facilitando, Joel. Uma hora dessas, seu Olavo acaba te mandando embora e aí como é que vai ser?

JOEL – Seu Olavo precisa de mim naquele escritório, mãe. Sem mim, aquilo não anda. (AJEITA A ROUPA PARA SAIR) Tchau.

DONA MARGARIDA – Não vai tomar café?

JOEL – (SAINDO) Não dá mais tempo. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 6 - INTERIOR/DIA - ESCRITÓRIO ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO ESTÃO TRABALHANDO.  OLAVO ENTRA E SE DIRIGE A FÁBIO.

OLAVO – E então? Nosso turista já deu as caras?

FÁBIO – Ainda não, seu Olavo. (TOM) Do jeito que os hospitais andam cheios...

OLAVO – (IRÔNICO) Os hospitais andam mesmo muito cheios. (TOM) Portanto, se o abnegado filho da dona Margarida der o ar da graça, diz para ele ir até a minha sala. Preciso ter uma conversinha com ele.

FÁBIO – Pode deixar, seu Olavo.

(OLAVO SAI. FÁBIO FICA PENSATIVO)

CORTA PARA:

CENA 7 - EXTERNA/DIA - RUA DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
JOEL DESCE DE UM ÔNIBUS E ANDA APRESSADO PELA RUA. APROXIMA-SE DA PORTA DE UM PRÉDIO. O PORTEIRO, QUE ESTÁ POR ALÍ, OLHA PARA ELE CHEIO DE MALÍCIA:

PORTEIRO – Olha a hora que chega o marajá. Isso que dá ser patrão e não empregado. Um dia ainda arrumo uma boca dessas.

JOEL – Isso é pra quem pode e não pra quem quer.

CORTA PARA:

CENA 8 - INTERIOR/DIA - ESCRITÓRIO ONDE JOEL TRABALHA
MESMA SITUAÇÃO DAS CENAS ANTERIORES, OU SEJA, FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO TRABALHANDO.  JOEL ENTRA TODO AFOBADO E VAI DIRETO PARA A SUA MESA.

FABIO – Que foi que aconteceu, Joel?

JOEL – Perdi a hora.

FÁBIO – Você está facilitando, rapaz. Seu Olavo já perguntou diversas vezes por você.

JOEL – O que foi que você disse?

FÁBIO – O de sempre. Que sua mãe... (TOM) Aquela velha história.

JOEL – Obrigado, companheiro. Quando ele me colocar de chefe, eu não vou me esquecer de você. Tá no meu caderninho.

FÁBIO – Sei... Se eu fosse você ficava de olho. Ele está cismado com você. (FÁBIO LEVANTA E SE ARRUMA PARA SAIR)

JOEL – (FAZENDO MUXOXO) Deixa pra lá. Com seu Olavo, eu me entendo. Ele é meu chapa. (VÊ FÁBIO SAINDO) Onde você está indo?

FÁBIO – Tem noção das horas, Joel? Já é hora do almoço. (VAI SAINDO)

JOEL – Espera aí. Eu vou com você. Tá na minha hora também.

(OS DOIS SAEM. APENAS O OUTRO FUNCIONÁRIO PERMANECE TRABALHANDO)

CORTA PARA:

CENA 9 - INTERIOR/DIA - RESTAURANTE
JOEL E FÁBIO ESTÃO TERMINANDO O ALMOÇO. O GARÇOM CHEGA E ENTREGA A FÁBIO UM EMBRULHO COM UMA QUENTINHA:

JOEL – O que isso? Tá levando merenda?

FÁBIO – Nada disso. É para um amigo.

(OS DOIS AGRADECEM AO GARÇOM E SAEM DO RESTAURANTE.)

CORTA PARA:

CENA 10  - EXTERNA/DIA - RUA EM FRENTE AO RESTAURANTE
FÁBIO CAMINHA COM JOEL. FÁBIO PARA E SE DIRIGE A UM HOMEM QUE ESTÁ SENTADO NO CHÃO E ENTREGA A ELE O EMBRULHO COM A QUENTINHA. O HOMEM TEM REAÇÃO DE FELICIDADE E AGRADECE A FÁBIO. JOEL FICA INCOMODADO COM A CENA:

JOEL – Qual é, Fábio? Deu agora pra alimentar vagabundo?

FÁBIO – Esse homem não é um vagabundo. É seu Ramiro, um homem trabalhador. Depois que sofreu um revés da vida, ficou assim.

JOEL – E o que você tem com isso? Quem tem que cuidar disso é o governo, não?

FÁBIO – Pode até ser, Joel.   Mas não consigo ficar de braços cruzados vendo alguém nessa situação.

JOEL – Você é um idiota, Fábio. Pra mim, vagabundo tem mais é que morrer de fome.

FÁBIO – Não fala uma coisa dessas, Joel. Nunca se sabe o dia de amanhã.

(JOEL MOSTRA-SE BASTANTE INCOMODADO COM A CONVERSA E ACABA DEIXANDO FÁBIO PARA TRÁS. FÁBIO CONTINUA CONVERSANDO COM O MENDIGO, TRATANDO-O COM HUMANIDADE E RESPEITO)

CORTA PARA:

(ATENÇÃO PRODUÇÃO E DIREÇÃO: ESTA CENA 10 TEM GRANDE IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA E SERÁ USADA NOVAMENTE MAIS TARDE)

CENA 11 - INTERNA/DIA - ESCRITÓRIO ONDE JOEL TRABALHA. SALA DE OLÁVO.
SALA PEQUENA COM APENAS UMA  MESA.
OLAVO ESTÁ SENTANDO EM SUA MESA. FÁBIO ESTÁ DE FRENTE PARA ELE, MOSTRANDO ALGUNS PAPÉIS.

FÁBIO – Está tudo aí, como o senhor pediu.

OLAVO – (VERIFICANDO OS PAPÉIS) Está certo.

FÁBIO – Mais alguma coisa, seu Olavo?

OLAVO – Não. Quer dizer, pede ao Joel que venha falar comigo, I-ME-DI-A-TA-MEN-TE.

FÁBIO – Sim, senhor. (SAI)

CENA 12 - INTERIOR/DIA - ESCRITÓRIO ONDE JOEL TRABALHA
JOEL E O OUTRO FUNCIONÁRIO ESTÃO TRABALHANDO.  FÁBIO ENTRA. CAMINHA E PARA NA FRENTE DE JOEL. COMO JOEL NÃO NOTA A SUA PRESENÇA, ELE FICA ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO. JOEL ACABA POR NOTAR O NERVOSISMO DO AMIGO.

JOEL – Que foi, Fábio? Você está se sentindo bem?

FÁBIO – Sabe o que é...?

JOEL – Fala, homem.

FÁBIO – O seu Olavo está te chamando na sala dele, I-ME-DI-A-TA-MEN-TE.

JOEL REAGE ASSUSTADO.

CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO