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outubro 02, 2010

Porteiros de prédio: amigos ou inimigos?

      É claro que há um tom de exagero no título, mas duvido se em algum momento você não questionou essa figura quase onipresente em nossas vidas: o porteiro. Todos que moram em prédio, quase sem exceção, tem pelo menos um desses profissionais em sua vida. Não raro, são pessoas simples de pouca ou nenhuma cultura ( pode-se dizer que são todos semianalfabetos, muitos mal assinam o nome), vindos do nordeste brasileiro ( não é difícil eleger o estado do Ceará como o maior exportador de porteiros e afins) e entram  nos prédios como faxineiros, trazidos por algum parente ou amigo também nordestino. Essa é uma regra: todo funcionário de um prédio é indicado por outro funcionário e, quase sempre, é um parente que acabou de chegar e está sem onde morar. Muitos vêm direito da rodoviária para o prédio e são admitidos quase imediatamente.
     É possível que você esteja se perguntando o por que de eu estar falando desse profissional que todos têm como boa gente e que está ali como um verdadeiro "pau para toda obra" e que "quebra o galho de todo mundo" e tudo o que se precisa fazer é dar uma gorjeta para ele e tudo bem. Até concordo com essa visão que a maioria das pessoas têm do porteiro. Nada mais justo, pois geralmente são mesmo pessoas do bem e que tudo fazem para ajudar a quem os procura. Só que a moeda tem dois lados: de um está o porteiro, esse profissional, muitas vezes improvisado, que serve a todos e passa o tempo tendo de ora ser onipresente e ora ser quase uma peça de decoração que nada vê e nada escuda, mas que tudo vê e tudo escuta, que não está na portaria do seu prédio porque não tem nada melhor para fazer e sim porque, como qualquer outro profissional ou cidadão, está ali para ganhar o seu salário e garantir o sustento de sua família; do outro está o morador do prédio que, dependendo do seu interesse, vê o porteiro ora como a mais amável das criatura (basta que ele dê bom-dia, boa-tarde e boa-noite e que ele resolva todos os problemas do prédio e de sua casa, de preferência sem cobrar nada), ora o vê como um parasita que fica o tempo todo sentado na portaria sem nada fazer apenas falando sobre futebol ( parece que para ser porteiro é obrigatório gostar de futebol e ser flamenguista) e assistindo televisão.
     Há exagero nas duas visões. Nem o porteiro é um anjo da guarda e nem é um vagabundo que leva seu dinheiro sem fazer muita força. Aliás, exagero  é coisa comum em prédio. Tem morador que praticamente "adota" o porteiro e sua família, tratando-os como coitadinhos. Outros os demonizam, vendo neles todo tipo de defeitos. Os acusam de alcoólatras, ladrões, fofoqueiros, preguiçosos e até ostilizam seus familiares sob a acusação de causarem prejuízos ao prédio e morarem de graça. Na questão salarial, acham absurdo qualquer aumento e fazem conta de cada benefício que o porteiro tem.
     Na verdade o porteiro é um profissional como outro qualquer. Como já disse  nada tem de anjo ou super-herói. Apenas está ali para ganhar seu dinheiro e como é um profissional com características de empregado doméstico por morar no emprego ( a maioria dos prédios oferece moradia para os porteiros), isso é motivo de muita confusão. Muita gente acha que eles têm que estar disponíveis o tempo todo e que no seu salário está incluído tudo, até aturar morador chato. Isso não é verdade. O porteiro trabalha para o condomínio não para o morador particularmente. É preciso ficar atento à isso.
     Por outro lado, os moradores precisam deixar de confundir os porteiros como pessoas da família e lhes confiar todos os seus segredos. como se fossem pessoas de sua inteira confiança. O porteiro é empregado do prédio e o Sindico  não é responsável pelo seu caráter. Há quem faça negócios ou trate com excesso de confiança um profissional desses e quando tem algum problema diz que a culpa é do Sindico que o colocou no prédio. Isso é discutível.
     Creio que a saída é profissionalizar a função de porteiro passando a exigir que eles tenham um certo grau de escolaridade e que tenham um preparo maior para o trato das questões (que não são poucas) do dia a dia de um prédio. É preciso deixar um pouco de lado essa história de admitir parentes analfabetos que acabaram de chegar na cidade.
Porteiros profissionais já!