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julho 05, 2013

Sem uma porta para bater.

     Acho que contei aqui que todas as segundas feiras, juntamente com um grupo de amigos, eu participo da distribuição de sopas pelo centro da cidade do Rio de Janeiro, não é? Para quem não se lembra, faço isso com esse grupo há mais ou menos nove anos. Não é um trabalho fácil. Todas as segundas feiras encontramos pessoas de todo jeito: desempregados, drogados, marginais, ex-presidiários, doentes, abandonados, jovens, velhos, crianças ( muitas crianças), homens e mulheres. Enfim, difícil enumerar todos.
     Mas nesta segunda feira (02/07/2013) encontramos uma família: pai, mãe, filho e filha. A menina de uns doze anos e o menino de uns dez anos. O pai e a mãe, um casal bastante jovem ainda. O curioso é que a gente nunca podia imaginar que eles fossem moradores de rua (o nosso público alvo) e todos ficamos assustados quando as duas crianças entraram na fila para receber a sopa e o pão que distribuímos.
     Isso se deu, em primeiro lugar, pelo fato de termos o hábito (triste hábito) de julgar as pessoas pela aparência e a família referida estava com a aparência normal de qualquer passante da rua Uruguaiana (esquina com o Largo da Carioca). As duas crianças pegaram a sopa para elas e para os pais. Entregamos as sopas e pouco depois elas voltaram para fila e pediram mais, no que foram atendidas.
     Não costumamos tecer comentários a respeito das pessoas que encontramos, mesmo aquelas que se mostram, às vezes, inconvenientes e nos obrigam a ter uma postura diferente da usual. Porém, esse casal e os filhos nos fez quebrar esse costume e antes mesmo de voltar já estávamos falando sobre eles. Sentados os quatro comiam as sopas e o pai fez-nos um aceno de agradecimento. Aí entendemos que os quatro estavam mesmo na rua. Provavelmente chegaram naquele dia (dado o estado de asseio deles).    
     Acontecimentos como esse faz com que acreditemos que, independente do motivo, qualquer um pode um dia se ver nessa situação. E é por isso que a sopa existe: para poder receber aqueles que não têm uma porta onde bater.