Passados cento e cinquenta capítulos já dá para fazer um julgamento sobre a novela das nove (ainda chamada das oito) da Rede Globo de Televisão. Anunciada como a salvadora da pátria quando da derrocada de sua antecessora "Babilônia" , a novela, logo de cara, não agradou.
Alguns colocaram a culpa na história árida e violenta demais e mesmo nos baixos índices herdados. Não demorou para que se percebesse que não era nada disso. A história não era lá essas coisas todas mesmo e o excesso de segredos fazia (e mesmo em sua reta final ainda faz) com que a história fique totalmente emperrada.
O autor (ou autores, ainda não consigo entender como uma novela precisa ter tantos autores se isso em nada contribui para sua qualidade e sucesso) está sempre vestindo uma saia justa, sem poder trabalhar ( pelo mesmo é isso que transparece) com a mesa liberdade que ele teve em sua outra novela, "Avenida Brasil".
O resultado é muita incongruência e disparate. Personagens são infantilizados e até mesmo imbecilizados, não conseguindo enxergar o óbvio. Parecem que todos agem como meros marionetes sem vontade própria ou capacidade de discernir entre certo e errado, verdadeiro ou falso.
Mudanças de rumo ocorrem sem explicação. Quer um exemplo: a manicure que sabia-se ganhar muito bem em seu ofício passou a ser garçonete num empreendimento de fundo de quintal sem nenhuma razão clara para que isso acontecesse.
Isso sem dizer que o cenário, a tal favela da Macaca, é mero coadjuvante e os personagens poderiam estar em qualquer outro lugar não só do Rio de Janeiro, mas do universo. Nada se sabe da favela em si, a não ser personagens caricatos que também se encontram em qualquer lugar e sem nenhuma ligação explicita com a trama. É como se a história acontecesse num local onde todos estão mortos ou simplesmente não tomam parte do enredo.
Além disso, falta fundamento para Gibson ser o homem que é. Sua insensibilidade em relação à família é algo que eu espero seja bem explicado. Do contrário, vou acreditar que os autores de novela da Globo apenas disputam que cria o pior vilão.
Outro que merece destaque é Romero. Difícil entender a patologia dele. Quer ser rico, viver do bom e do melhor (para isso é capaz de romper com a própria mãe e participar de sua morte), mas finge de pobre, ao mesmo que tempo que tenta convencer a todos ( e ai mesmo) que é bom. Sua prometida redenção sempre foi pura cascata. Um ser humano desses dificilmente pode se regenerar. Coerente apenas Atena. Essa, sim, apesar de não poder ser vista como vilã, a moça faz o que faz ´porque acredita no que faz.
O ensinamento que fica de tudo isso é que não existe autor ou história infalível. Se "Babilônia" não agradou não é porque o Gilberto Braga e sua turma são maus autores, o motivo é outro. O público não aguenta mais histórias maniqueístas repletas de personagens nos quais não se possa identificar ou mesmo espelhar-se. Fica a esperança que "Velho Chico" resgate o tempo em que os personagens de novela eram pessoas que você podia encontrar na esquina.
Bom domingo.