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janeiro 07, 2012

Presenças e ausências.


   Jorge era uma pessoa dotada de umas certas peculiaridades: estava quase sempre calado, quase sempre sozinho e tinha uma tristeza no olhar, um semblante que revelava uma inconfessada desesperança ou mesmo um inconformismo. Quem o via "sempre na sua", não raro, o classificava como uma pessoa egoísta e esnobe. Afinal de contas, é assim que são vistas as pessoas que não costumam expressar vivamente os seus sentimentos, não é? Julgamos as pessoas pelo que elas aparentam e não damos chance de que os outros sejam diferentes ou, para ser exato, que elas sejam elas mesmas.
    Nossa sociedade estabelece um padrão de comportamento e quem está fora dele paga o preço de "ser diferente". Jorge podia ser classificado com um desses "seres diferentes". Não que ele agisse assim propositadamente. Pelo contrário, ele bem que gostaria de ser igual a todo mundo: gostar das mesmas coisas, frequentar os mesmos lugares, ter o mesmo gosto para música, esporte, cinema, teatro, literatura etc. Isso, segundo o que ele pensava quando o peso dessa diferença fazia-se insuportável, tornaria as coisas mais fáceis. Ele certamente teria amigos, faria parte de algum clube, sociedade ou qualquer arranjamento em que pessoas juntam-se para se divertirem e se suportarem.
   Era com esse pensamento que Jorge, vez por outra, aproximava-se das pessoas numa tentativa de convívio, de troca, de cumplicidade (por que não?), numa tentativa de entendimento. Durante esse período ele, por vezes, chegava a sentir-se integrado, amalgamado.  Vivia grandes esperanças de ter encontrado "sua turma", sua "cara metade". Uma certa felicidade ficava estampada em seu rosto e não era difícil vê-lo sorrindo e cantarolando por aí.
   Porém, não demorava muito e as diferenças iam surgindo e ele, mais uma vez, voltava a ausentar-se do mundo social, do mundo das relações. O tempo das presenças tinha chegado ao fim e era chegado o tempo das ausências. O regresso ao mundo da solidão era muito dolorido para Jorge. Ele, como qualquer pessoa, sonhava e desejava fazer parte do todo. Também, como qualquer um, ele não queria viver só. Mas sua total incompatibilidade para com o falso, o dissimulado tornava as coisas impraticáveis.
   Ferido, maltratado, Jorge recolhia-se ao  seu mundinho particular, o das ausências, e ali ficava até curar-se, até que todas as feriadas daquele convívio recente desaparecessem. Só que, uma vez curado, Jorge voltava a sonhar com o mundo dos convívios, das relações, das trocas, das presenças. A vontade era tanta que ele chegava a censurar-se: afinal, só um louco iria desejar algo que o fazia sofrer.
   No entanto, um dia ele chegou a conclusão de que não há outro jeito, ele tem que passar por esse processo sempre, pois nenhum ser humano está livre da roda dos relacionamentos. Uns com mais sorte, outros com menos, mas todos experimentando a dor e a delícia de tentar viver em comunhão.