"Nadando contra a corrente só para exercitar... ", canta o saudoso Cazuza em uma de suas memoráveis músicas. Contestações à parte, você, caro leitor, vai concordar comigo que nem sempre, nadar contra a corrente, é apenas um exercício bom para criar músculos. O poeta queria mesmo era falar das dificuldades que encontram aqueles que insistem em nadar contra a maré, quando o mais fácil, e mais comum também, é ir a favor da onda, de preferência, sem fazer muito esforço.
Você deve estar se perguntando: "onde esse cara quer chegar com esse papo?" Não pretendo ir muito longe, pode ficar descansado. O que quero é falar daquele exército que todos os dias somos obrigados a enfrentar para poder continuar acreditando nas coisas que acreditamos. Falo de pessoas como eu e você que temos, ou procuramos ter, um comprimisso com o bem, a caridade, o amor ao próximo (aquele mesmo que Jesus nos ensinou), o respeito à vida, a tolerância às diferenças (opção sexual, cor, credo religioso, nacionalidade, time de futebol, classe social...)e tudo o mais que faz de nós pessoas dignas de compartilhar esse mundo.
O exército do mal está sempre em ação seja na forma de um pedestre ou usuário de rua (leia-se camelô, transeunte ou morador de rua) sujando-a, um adulto maltratando uma criança, um motorista de ônibus negando-se a parar para um idoso, um guarda, em nome da boa ordem pública, apreendendo a mercadoria de camelôs que afirmam estar nas ruas trabalhando para conseguir o sustento da família, um motorista avançando o sinal sem se preocupar com o pedestre, descaso, abandono, depredações do patrimônio público e privado, manchetes de jornais anunciando golpes e mais golpes de políticos e bandidos engravatados, chuvas que inundam, invadem casas e matam; tudo, enfim.
A cada passo somos colocados à prova, como se perguntassem em tom de zombaria: "e aí, você ainda vai insistir em bancar o bonzinho"? Mesmo com tudo isso é preciso continuar firme no propósito de ver esse mundo cada vez melhor. Apesar da sensação de estarmos "nadando contra a corrente", o importante é não desanimarmos. Vale a pena continuar nossa luta. Não podemos desistir. Já pensou o número de vidas que gastamos nos capitulando a cada problema, deixando que o exército do mal vencesse e até mesmo fazendo parte dele? É melhor a gente não pensar muito nisso, não é? Perdemos muito tempo do outro lado, agora não podemos deixar essa chance passar; a chance de lutar por um mundo melhor.
Quando vejo pessoas fazendo apologia do mal, dizendo que sou um bobo em ficar fazendo caridade, penso que também já fui assim, também já tive vergonha de fazer o bem (nessa e em outras vidas) por poder parecer fraco ou bobo. Por isso, apesar de tudo, sou tomado de piedade e peço a Deus que eles também acordem para uma nova visão da vida; aquela onde enganar, passar na frente dos outros, humilhar o seu irmão mais fraco, passar por cima dos sentimentos dos outros e trapacear são apenas sinais de fraqueza.