- Não se preocupe.
- Tudo bem, eu não me importo.
- Não tem o menor problema.
- Faz do jeito que você quiser.
- Se você quer assim...
- Não tem pressa. Eu espero o tempo que for necessário.
- Pode deixar. Eu me viro.
Não se trata de um diálogo maluco. As frases aí em cima são muito usadas diariamente e não tenho dúvida que você as ouviu um monte vezes e, muitas vezes, acreditou nelas. Em outras ocasiões foi você que as usou e também acreditou que estava sendo sincero ao proferi-las.
Sinto muito dizer, mas essas frases são, quase sempre, meros amontoados de palavras destituídos de verdade. Elas são ditas por mera formalidade quando na verdade estamos pensando exatamente o contrário e nos falta coragem para demonstrar isso ou porque acreditamos que não é o momento oportuno para fazê-lo ou porque a (s) pessoa (as) em questão poderia (m) ficar magoada (s) com a nossa "sinceridade".
Portanto, quando dizemos "não se preocupe" é porque queremos dizer que a pessoa que nos ouve deve ficar preocupada sim; se dizemos "tudo bem, eu não me importo", estamos dizendo que não está nada bem e que importamos bastante; com "não tem o menor problema", o problema é enorme, quase insolúvel; "faz do jeito que você quiser" significa se a coisa não for feita do jeito que está combinado, é melhor que não seja feita de jeito nenhum; quando usamos "se você quer assim...", nesse caso, estamos à lá Pilatos, lavando as mãos, a responsabilidade do resultado é toda de quem faz; "não tem pressa. eu espero o tempo que for necessário", quer dizer que não precisa mais fazer, esquece, eu estou desistindo do projeto e "pode deixar. eu me viro" é usada quando se quer dizer umas boas verdades na cara da pessoa e respirou fundo antes, não conte com essa pessoa para mais nada, ela não vai esquecer essa desfeita.
Exageros à parte, é assim que eu me sinto quando uso essas e outras frases tão comuns no nosso dia a dia. A convenção social nos obriga em muitos casos a agir de forma quase dissimulada, principalmente nesses tempos do "politicamente correto", quando em nome do "bom convívio" abrimos mão de nossas verdadeiras opiniões.
Cabe a cada um fazer a sua interpretação do que se diz ou do que se ouve. Nada que é dito, por mais prosaico que seja, é sem significado. E, geralmente, dizemos muito quando falamos pouco, quando usamos frases de duplo sentido. Aliás, paremos por aqui, esse é um outro assunto.
Bom domingo.