Nem todo mundo enverga a toga de juiz, mas todo mundo adora julgar. Basta alguém sair um pouquinho da linha para que nos lancemos em campo com o nosso dedo em riste prontos para apontar o erro cometido. Como não podia deixar de ser, somos julgadores implacáveis e condenamos todos a pena máxima. Nada de ter misericórdia ou ser benevolente com quem quer que seja. Apenas aliviamos a barra daqueles aos quais temos alguma ligação, seja por parentesco ou por afeição. Fora isso, é a danação eterna.
O problema de tanta rigidez é que num belo momento poderemos ser aquele que está sentado no banco dos réus e aí... Bem, aí é que sentiremos o quanto um julgamento apressado pode ser injusto. Nesse momento descobriremos que somos muito cruéis ao julgar as falhas dos outros, mas aí já será tarde. Se fomos tão duros no julgamento de outras pessoas porque não damos a elas o direito de usarem da mesma dureza com a gente. Afinal de contas, como bem costumam dizer as constituições de todos os países civilizados e segundo a visão das religiões, somos todos iguais perante a lei e aos olhos de Deus.
Com a voz embargada, pedimos clemência. Que sejam justos com a gente, que tenham conosco a boa vontade que não tivemos ou temos com os nossos semelhantes. Porém, já é tarde e a sentença vai ser anunciada a qualquer hora. Nos resta abaixar a cabeça e aceitar que o jogo funciona exatamente assim. Não há nada de errado.As regras são claras e sua aplicação é nossa velha conhecida de todos.
Até quando vamos agir como juízes sem toga? Por que temos que ficar o tempo todo julgando cada deslize do outro como se fôssemos ficais do mundo? Chegou a hora de usar de boa vontade para com aqueles que erram, que julguemos (se mesmo assim achamos que devemos fazê-lo) com o coração brando daquele que está sobre a terra e que também pode a qualquer momento cometer esse ou aquele erro.
Todo erro deve ser julgado segundo a sua gravidade. Toda pessoa que erra tem que responder pelo erro que cometeu. Ninguém nunca vai poder mudar isso. No entanto, todos têm direito à ampla defesa e a um julgamento justo. E esse julgamento deve ser feito por alguém dotado de poderes para fazê-lo. Só assim a justiça pode ser feita. Do contrário, ao condenarmos sem estarmos preparados para fazê-lo, nos tornamos apenas justiceiros e todos sabemos do que são capazes os justiceiros.
Bom domingo.