Você já reparou quantas vezes essa frase aí do título é usada quando as pessoas estão reivindicando alguma coisa? A pessoa começa toda inflamada, mostrando-se mortalmente ofendida, humilhada ou o que quer que seja e quando você está certo de que ela está buscando os seus justos e inalienáveis direitos, ela entra com essa máxima:
- Bem, na verdade, eu não falo por mim, falo por aqueles...
A partir daí tece todo uma lista de desvalidos que ela, naquele gesto de extrema benevolência, representa.
Esse tipo de situação se dá muito em reuniões (principalmente as de condomínio, associações) onde se quer ajustar parâmetros ligados ao convívio, ao direito individual etc. Tem sempre aquela pessoa que se levanta para falar em nome da coletividade ou de outrem geralmente sem que tenha sido constituída para tal.
É bem verdade que isso não tem nada de mais. Particularmente, acho que é até muito bom que alguém se disponha a expor as mazelas que atingem seu semelhante, ainda mais quando esse semelhante é alguém sem voz ou que se mostra tímido para falar em seu próprio nome. Além do que esse tipo de atitude é, em muitos casos, prova de desprendimento e de solidariedade.
Mas, é preciso lembrar também, que existe gente que se esconde atrás desse "falar em nome do outro" , por medo e vergonha de se expor. Quando na verdade o que pretende mesmo é falar em seu próprio nome, do problema que aflige a ela. O outro, nesse caso, é apenas um subterfúgio.
Por exemplo, se o vazamento é no seu apartamento, é a você que ele atinge em primeiro lugar. Portanto, você é a vítima. Ao falar, a pessoa costuma assumir uma postura mais ou menos assim:
- É verdade que o apartamento mais atingido é o meu, mas se continuar vai atingir o que vem imediatamente abaixo do meu. Embaixo mora a dona Margarida e ela é uma velhinha indefesa. Falo isso por ela, coitada. Quanto a mim, eu tenho como me defender, mas ela...
Sinceramente, dá para acreditar num discurso desses? Fica claro que a pessoa está usando de um estratagema para conseguir seu objetivo que é livrar-se do vazamento. Ela pode até gostar da dona Margarida, mas, nesse caso, está usando a velhinha como mero escudo.
Sendo assim, é sempre muito melhor a gente falar em nosso próprio nome e deixar que cada um lute pelos seus interesses. Afinal de contas, somos, até prova em contrário, pessoas capazes de falar, pensar, agir. Diferente, é claro, do quem pensam nossos políticos e autoridades que insistem em falar e pensar por nós. A menos que sejamos destacados para isso e quando sentimos que nossa ajuda é mesmo necessária. Do contrário pode parecer que estamos tentando nos esconder. E acho que ninguém quer passar por alguém que não tem coragem de enfrentar as coisas de frente, não é mesmo?