Mesmo com todas as mudanças que ocorreram e que correm diariamente no mundo, ainda não conseguimos dizer aquilo que estamos realmente pensando, deixar claro o nosso ponto de vista, expressar com clareza, dar a nossa verdadeira opinião a respeito de qualquer assunto seja para não ferir suscetibilidades, seja para não se meter "naquilo que não é da nossa conta".
Até pode parecer normal, pois essa é uma das conquistas da liberdade. Cada um pode viver do jeito que bem entende, sem dar satisfação a ninguém. Isso nos levar a viver pisando em ovos, só podemos dizer aquilo que convém e nada mais. Nada de sinceridade, nada de ir muito fundo nas questões. Tudo o que queremos é agradar.
Do contrário, podemos ser taxados como loucos, chatos, pessoas inconvenientes, seres antissociais. Em nome disso, abrimos mão de conhecer o outro melhor, de buscar saber o que lhe vai na alma, de procurar saber de suas necessidades e carências. Por outro lado, também fazemos questão de esconder as nossas fragilidades, morrendo de medo de, por isso, não ser aceito no meio aonde vivemos e, assim, sofrer rejeição.
Assim, vivemos num mundo de aparências: somos uma coisa e tentamos mostrar que somos outra completamente diferente, uma pessoa que construímos e que serve ao padrão exigido. Tentamos apagar qualquer resquicio da pessoa verdadeira que somos: aquela que chora, sofre, ri, tem dúvidas e se vê por vezes invadida por sentimentos contraditórios, mas que somos nós e mais ninguém, ou seja, a nossa essência.
Por outro lado, esse tipo de visão de vida nos leva a achar que tudo o que acontece com o outro não nos diz respeito. O outro é alguém que idealizamos e a sua verdadeira essência não nos interessa, uma vez que aceitamos o jogo do faz de conta, onde ninguém mostra sua verdadeira cara, onde todo mundo faz questão de representar um papel préviamente ensaiado.
Acreditamos que assim (e só assim) podemos ser verdadeiramente felizes. Será? Pense nisso.