Há anos, mais especificamente desde que escreveu a novela "O clone", a novelista Glória Peres vem se valendo de um filão que parecia infalível: tal qual uma carnavalesca ela escolhia um país, digamos, exótico e se propunha a mostrar, entre um merchindising social e outro, as possíveis diferenças culturais existentes entre o país escolhido da vez e o Brasil, ou seja, nós.
A ideia deu muito certo em "O Clone", derrapou em "América" (nessa botaram a culpa no diretor Jaime Monjardim e o defenestraram) e voltou a dar certo em "Caminho das Índias". Agora em "Salve, Jorge", talvez pela forte identificação de católicos e não católicos têm com o "santo da Capadócia" todos, até esse que vos fala, acreditou que era barbada, que em pouco tempo ninguém mais se lembraria da Carminha, do Tufão, Leleco, Adauto, Nina, Max e companhia.
Ledo engano. Dessa vez a coisa parece que não funcionou. A começar pelo próprio título da novela que soou inicialmente como uma grande homenagem ao "santo guerreiro" e que apenas teve leves e estranhas, diga-se de passagem, referências nos capítulos iniciais. De lá pra cá o santo apenas dá nome à novela e nada mais.
São Jorge voltou pra lua. E nem na hora do aperto é chamado. Téo, o grande devoto, deixou o santo de lado faz tempo e na Capadócia parece que ele nem é conhecido. Vá lá que os capadócios não sejam católicos e nem umbandistas, mas ele nasceu lá e ganhou o mundo, quer dizer, o Brasil. Está bem. Pode dizer que santo de casa não faz milagre. Parece que não faz mesmo. Nem na novela.
Deixando o santo lá às voltas com o seu dragão, o que me espanta mesmo é o fato de que a Turquia não se mostrou tão atraente quanto o Marrocos ou Índia. Noves fora o fato de ter uma cultura um tanto quanto semelhante aos países anteriormente abordados (vide a eterna condição da mulher relegada, mesmo que em menor grau, a um papel secundário nestas sociedades), o problema é que tudo não passa de mero pano de fundo, sem grande profundidade. A autora não se posiciona e se contenta em mostrar um país exótico aos nossos olhos.
Quanto a questão do tráfico de mulheres, o tema se mostra pouco folhetinesco devido a dureza de sua realidade e a semelhança das histórias: toda moça é enganada e obrigada a prostituir-se e então fica presa e sem comunicação com o mundo exterior. Difícil criar cenas e tramas a partir de algo tão estático sem perigo de ter que solucionar tudo em pouco tempo. E novela é , como sabemos, como o diz o matuto: "coisa pra mais de metro".
Fica a lição: o tema "veja que país interessante" esgotou em si e Glória Peres vai ter que buscar outro filão para se manter como "autora de novelas". Por outro lado, está provado que o que daria um bom enredo de escola de samba nem sempre daria uma boa novela. Vale a preocupação social da trama. O que sobra é muito pouco. Principalmente porque a autora se cerca em suas novelas de tramas parelalelas no mínimo estranhas. O que é aquela história da Nicette Bruno com aquela cadelinha? Alguém vê algum sentido naquilo?
Estava me esquecendo do Alemão. Bem, o Alemão é uma outra história ou será mero cenário para turista turcos visitar e tirar fotografia?