O título dessa postagem não é o bastante para expressar o que eu realmente estou sentindo. Já falei aqui que trabalho numa firma há cerca de dezessete anos e que é um local de trabalho bastante conturbado, além não me oferecer nenhuma perspectiva de futuro, respeito, dignidade, essas coisas tão importantes na vida de um ser humano. Para dizer a verdade a tal empresa não chega a ser um "empresa" no melhor sentido da palavra. Trata-se de um condomínio, o Condomínio do Edifício Catete Center, no Flamengo, uma chamada "administração própria". Quando lá cheguei em dezembro de 1991, eu vinha daquela história que conto no livro" No olho da rua", e esse emprego era uma espécie de tábua de salvação e a ideia de que eu iria trabalhar com dois senhores maiores de sessenta anos, aposentados, com discurso que me fazia crer que queriam apenas cuidar do condomínio e ensinar o trabalho para alguém que quisesse dar seguimento no cuidado daquele condomínio. Confesso que, apesar de os dois ( López e Alberto) não me parecerem as pessoas mais simpáticas do mundo ( logo tive a oportunidade de perceber que se tratavam de duas pessoas dadas a rompantes e gritarias), acreditei que tinha encontrado um lugar onde pudesse me reerguer socialmente através de um salário no final do mês que desse para pagar minhas contas, comprar a minha comida e me garantir um lugar para viver. Não demorou para eu ter certeza de que estava enganado. Os dois nada tinha de bons velhinhos. Pelo contrário, tratava-se de duas águias vorazes, capazes de tudo para manter o seu feudo e com uma necessidade de mando e autoridade que jamais tinha visto. O Brasil vivia aqueles dias do governo Collor e eu que tinha experimentado o indigência e a fome nas ruas do Rio de Janeiro, não podia me dar ao luxo de abandonar o emprego. Apesar de saber que aquele não era um lugar de futuro fui ficando a espera do melhor momento para sair. Tinha muita esperança na minha carreia de ator e depois de um cadastro na Globo, eles começaram a me chamar para uma participação ou outra, culminando com minha participação na novela "O rei do gado", momento em que acreditei que estava no caminho certo e que logo estaria fazendo participações maiores, com contrato e poderia sair daquele lugar. Cheguei a montar peças como "Viver e morrer em Copacabana" , texto de minha autoria, mas isso só serviu para solapar as minha economias. O tiro de misericórdia foi dado pelo lançamento do livro "No olho da rua", novamente usando minhas economias, cujo retorna foi quase nenhum. Com isso, o tempo passou e continuei no "Condomínio" num "casamento" infeliz ao lado de dois velhos malucos, cujo o único objetivo é se manterem no poder: um como síndico e o outro como "contador". Só que de uns tempos para cá descobrir e o meu emprego está sendo "negociado". Todo desempregado do condomínio ( e olha que é prédio de 520 unidades, entre apartamentos e salas) desejam o meu lugar. Já imaginou a barra? Não bastasse, hoje tive a confirmação de que fui vítima de uma armação para que eu perdesse o controle e brigasse e com isso fosse mandado embora por justa causa. Eu já desconfiava. O senhor Alberto tinha planos( e creio que ainda tem) e colocar o filho desempregado há mais de 12 anos, porque não aceita qualquer emprego, no meu lugar. Que ele queira arrumar emprego para o filho, eu acho que não tem nada demais, mas por que tem que ser justo e o meu? E que é pior: se fazendo valer de uma armação digna de vilão de novela: eu estava sentado trabalhando quando o senhor Alberto se aproximou de mim e disse que estavam me enregando na outra sala. Era hora do almoço e eu levantei para sair. Do lado de fora encontrei o senhor López pedindo a minha cabeça para o atual síndico em voz alta esperando que eu tivesse alguma reação. Passei por eles sem nada falar e fui embora. Só depois percebi que tinha sido uma armação, se eu tivesse qualquer reação, eles começariam uma discussão cujo o único final seria a minha demissão, depois de dezessete anos de trabalho. É lógico que empregos se perdem todos os dias e comigo não seria deferente. O que lamento é ser vítima de dois senhores que há mais de trinta anos ganham prolabores de dez salários mínimos e que hoje já contam com quase noventa anos de idade. Eu não esperava por isso.