Flávia passou por um grande drama em sua vida. Seu filho de apenas dezessete anos morreu num acidente automobilístico. Ela, que era uma mulher alegre, tornou uma pessoa triste e fechada em si mesma, inconformada com a perda do filho único. A vida de Flávia tornou-se um lamentar constante. Tudo perdeu a graça. Literalmente, ela queria morrer.
As pessoas à sua volta tentaram de todo jeito demovê-la daquele estado de prostração permanecendo sempre ao seu lado a incentivando a seguir em frente. Nada adiantava. O marido, apesar de amá-la muito e também ter igualmente sentido a perda do filho, começou a não suportar ficar ao lado dela, pois estava cansado de tanto sofrimento e lamentação.
- Nosso filho está morto e nós não podemos fazer nada para mudar isso. Deus quis assim. Vamos seguir em frente com a nossa vida. Não podemos viver eternamente lamentando, brigando com Deus por ele ter permitido que o Du morresse daquela forma. - ele disse repetidas vezes para a mulher.
Trabalho perdido. Flávia não dava ouvidos para ninguém e continuava xingando, brigando com todo mundo. O marido saiu de casa, os amigos foram se afastando e ela passou a viver deitada numa cama, agindo como se fosse uma doente, uma incapaz.
- Deus me abandonou. - eram as suas palavras mais brandas.
E assim ela sobreviveu até que um dia recebeu a notícia de que o filho de uma de suas melhores amigas tinha morrido num acidente parecido com o que acontecera com o seu Du. A notícia fez com que Flávia, pela primeira vez, pensasse que ela não era a única mãe no mundo a perder um filho de maneira tão estúpida.
Ela imaginou a dor que a amiga estaria sentindo naquele momento e sentiu vontade de confortá-la. Esquecida de sua própria dor, ela levantou-se da cama e correu até a casa da amiga. Lá, encontrou uma mãe chorosa, mas serena.
- Os filhos não são nossos, Flávia. Deus, em sua bondade, nos emprestam esses anjos para que eles alegrem nossas vidas por algum tempo. - disse a amiga.
Ouvir aquelas palavras de uma mãe que acabara de perder seu filho, fez com que Flávia pensasse melhor a sua própria perda. Desde então ela diz para todos que encontrou conforto na dor da amiga. Precisou que alguém passasse pelo mesmo transe para ela entender que a vida não é feita de privilégios. Todos somos iguais na dor e na alegria.