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novembro 15, 2014

Ganância

     Meu primeiro contato com a palavra ambição não foi positivo. A palavra me foi apresentada primeiramente em seu aspecto negativo. Aprendi em criança que pessoas ambiciosas eram gananciosas e queriam tudo para elas. Portanto, eu tinha, como bom menino, evitar ser ambicioso e mesquinho.
     A vida foi passando e logo descobri que ser ambicioso não era uma coisa tão ruim assim. A ambição me levaria a querer mais da vida e a  lutar para melhorar minha cultura, meu padrão social e a ter metas a alcançar. Com isso, eu já tinha mais que me envergonhar de ser ambicioso e, sim, me orgulhar. Assim eu estava apenas aceitado fazer parte do grupo dos que lutam por um lugar melhor ao sol. Camada de ozônio à parte, nada demais, não é?
     Passei a ambicionar ser melhor do que eu era e a alcançar posições que eu antes achava que estava fora do meu padrão e assim tenho vivido até hoje. Sempre querendo galgar um degrau a mais sabendo, claro, que a vida é feita de vitórias, mas também de derrotas. Mais que isso, sabendo que as derrotas não são vergonhas ou vexames, mas aprendizados, alertas, avisos para que eu me prepare melhor para a próxima tentativa.
     No entanto, nos últimos tempos tenho me perguntado se a palavra ambição não voltou a ter aquele seu único significado da minha infância, ou seja, sinônimo de ganância e "olho grande naquilo que não lhe pertence". E essa dúvida vem desses constantes escândalos políticos que a imprensa noticia dia a dia.
    Não dá para entender como alguém pode ter a desfaçatez de meter a mão no que não lhe pertence apenas levado pelo desejo de viver uma vida melhor. E não se pode dizer que seja sem fazer esforço, porque o que eles fazem para botar a mão no dinheiro público é algo que leva tempo e astúcia.
      Dizem que é a certeza da impunidade que os leva a agir assim, mas pelo que vemos há tempos a maioria acaba indo para a cadeia ou sendo exposta a algum tipo de vexame público. O que resta é mesmo pensar que são pessoas que agem levadas pela ambição, pura e simplesmente, sem medir as consequências de seus atos.
    É triste ver, não só o dinheiro público indo para as contas pessoais de ladrões e larápios travestidos de respeitados homens públicos, mas ver a que ponto o ser humano é capaz de descer para satisfazer a sua ganância.
      Mais triste é perceber que levados pelo que muitos acreditam ser apenas senso de oportunidade, o ser humano torna-se tão somente um predador voraz. Não aquele animal predador que mata para satisfazer a sua fome imediata, mas aquele que abocanha tudo pelo prazer de ver os próprios semelhantes padecerem sem nada.
Bom domingo