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dezembro 06, 2008

Dezessete anos

Dia 02/12 fez 17 anos que trabalho no mesmo emprego e este seria um bom motivo para comemoração, afinal vivo num país onde as coisas mudam constantemente, não fossem as circunstâncias em que comemoro "esse aniversário". Não estou feliz. Aliás, nunca fui feliz nesse trabalho. Quando fui trabalhar lá, estava saindo de um período muito difícil da minha vida, período esse que eu contei no meio livro " No olho da rua" que lancei e 1999, e vi esse emprego como uma coisa passageira. Eu esperava ficar lá apenas até eu me recuperar financeira e psicologicamente do fato de ter ficado mais de dois anos desempregado e sem ter onde morar. Logo de cara vi que não era um lugar do qual se podia esperar muito. O referido empregado é como auxiliar de escritório numa administração própria de um condomínio de grande prédio no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro. Fui contratado para trabalhar com o sindico, uma figura um tanto peculiar, seu "administrador", não menos peculiar. Dois "senhores" aposentados, cuja função naquele lugar era algo como defender o seu patrimônio. Segundo eles, havia muita gente interessada em tomar "o poder" e destruir o patrimônio que eles tinham gasto uma vida inteira para juntar. Aparentemente, nada mais justo. Afinal, quem não quer defender o seu patrimônio. Ninguém é louco de jogar fora o que conquistou com dificuldade. Diante de fatos como esse, fui tomando contato com o que hoje, dezessete anos depois, eu chamo de paranóia. Os dois senhores foram, aos poucos, mostrando serem duas pessoas totalmente irracíveis, que vivem aos berros e fazem qualquer negócio, sobretudo mentir, para manter-se no poder. Nesses dezessete anos participei de inúmeras (mais vinte) reuniões condominiais e eleições. Muitas delas, debaixo de brigas, acusações e muita gritaria. O tempo foi passando e o que seria um emprego temporário tornou-se permanente. Estou sempre dizendo para mim mesmo que não aguento mais trabalhar num lugar desses, mas quando lembro de tudo o que passei, me vejo obrigado a adiar o meu sonho de ficar livre desses dois, hoje velhos, senhores. Eles mantém o mesmo discurso de dezessete anos atrás. Ainda estão defendendo o seu patrimônio (um tempo um apartamento e trinta metros e o outro um de sessenta metros), com unhas e dentes. Depois de muitas brigas, muito me indispor com eles e tentar imprimir uma visão de vida mais suave, acabei desistindo. Trabalho apenas para garantir o meu salário no final do mês e abandonei qualquer sonho. Esses sonhos que qualquer pessoa tem ao se candidatar a um emprego: crescer, subir, melhorar o seu salário (embora não possa me queixar), ou assumir posto de comando. Nesse ponto costumo dizer que, como leonino que sou, acabei me dando muito mal. Não é fácil ter um temperamento de lider e trabalhar num lugar onde querem que você apenas diga "amém" para tudo e guarde sua opinião. Para não perder o costume, nesse dois de dezembro, voltei a fazer a promessa de trocar de emprego. Essa é a promessa de 2009. Porém, a crise mundial está aí e os economistas de plantão dizem que não é momento para grandes mudanças e mais uma vez acho que vou ter que adiar o meu sonho.