Após vários anos trabalhando como voluntário distribuindo comida nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, eu já vi as pessoas refutarem a esse tipo de trabalho de diversas maneiras depreciativas. Algumas alegam que as pessoas que vivem nas ruas ali estão porque se recusam a levantar todos os dias pela manhã para encarar o batente, ou seja, por pura vagabundagem.
Outras admitem que a sua situação do país está mesmo difícil, mas que elas não têm nada a ver com isso. É problema do governo. O governo é que tem a obrigação de cuidar dos indigentes e famintos. É para isso que pagam altos impostos.
Há também as que acham errado dar comida ou qualquer outro tipo de ajuda. Esta atitude, segundo elas, faz com que muitos permaneçam nas ruas e delas não queiram mais sair.
- Se encontram vida boa, o que mais vão querer? - perguntam.
Muitos chegam a ser agressivos e nos acusam de estar estimulando a vadiagem, a bandidagem e o crime. Até a polícia nos vê com maus olhos e algumas vezes chegaram a tentar nos coibir com o argumento de que estamos atrapalhando o serviço deles.
Seja como for, a intenção deste post não é exatamente falar das dificuldades que as pessoas que trabalham com o que se acostumou chamar de caridade enfrentam. Problemas sempre existem em todos os lugares e neste caso não seria diferente.
O que quero é falar do preconceito que existe com este ripo de trabalho vindo das pessoas que convivem com os voluntários. Muitas tentam impedir ou proibir o familiar de participar usando aqueles mesmos velhos argumentos já citados acima. Principalmente, maridos, esposas, namorados, filhos, amigos próximos e colegas de trabalho.
Outro dia, ouvimos uma desculpa de uma pessoa que justificou sua ausência na distribuição dizendo que sua mãe não podia saber que ele fazia parte de um grupo de distribuição de alimento. Essa mãe jamais admitiria que seu filho tivesse contato com pessoas de rua pensando, acredito, por tratarem de pessoas perigosas que poriam em risco a vida de seu filho.
Nós que fazemos esse tipo de trabalho o fazemos por acreditar que, antes de qualquer coisa, são pessoas famintas e necessitadas de apoio de compreensão. Se são bandidas, preguiçosos, exploradores da boa-fé de pessoas de bom coração, não podemos dizer e nem cabe a nós julgar. Não dá para imaginar que alguém more na rua por livre escolha. O que leva uma pessoa a viver nas ruas são outros fatores.
Nós que fazemos esse tipo de trabalho o fazemos por acreditar que, antes de qualquer coisa, são pessoas famintas e necessitadas de apoio de compreensão. Se são bandidas, preguiçosos, exploradores da boa-fé de pessoas de bom coração, não podemos dizer e nem cabe a nós julgar. Não dá para imaginar que alguém more na rua por livre escolha. O que leva uma pessoa a viver nas ruas são outros fatores.
Desculpem estar tratando desse assunto aqui, mas eu não podia deixar de falar. Fiquei muito chocado com isso. Em pleno século vinte e um ainda vivemos como se fossemos superiores uns aos outros e separados por castas que não podem ter contato.
Prefiro pensar que essa mãe tenha apenas se equivocado e não saiba o verdadeiro sentido da palavra caridade.
Bom domingo.