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abril 28, 2013

Só a vida ensina - Capítulo 10

Neste capítulo, depois de se livrar de policiais, Joel conhece Zelão, um homem que vai
levá-lo a conhecer um lado da vida que ele nem fazia ideia que existia.

SÓ A VIDA ENSINA

Capítulo 10



CENA 1 - EXTERNA/DIA - PORTA DO RESTAURANTE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 10 DO CAPÍTULO 9.
JOEL ESTÁ DIANTE DO RAPAZ QUE CARREGA UMA SACOLA COM UMA QUENTINHA.

MOÇO – O que foi que você disse?

JOEL – Me dá essa quentinha, moço. Eu estou com muita fome.

MOÇO – (PARA OS AMIGOS QUE O ACOMPANHAM) Vejam só. O mendigo quer a minha quentinha pra ele, gente.

JOEL – (OFENIDO) Eu não sou mendigo, moço. Sou apenas um desempregado.

MOÇO – Sai da minha frente, mendigo sujo. Se quer comer, vai trabalhar. Vê se eu tenho cara de quem sustenta vagabundo?

O MOÇO VIRA AS COSTAS E VAI SAINDO COM OS AMIGOS. JOEL SE ADIANTA E TENTA LHE TIRAR A SACOLA COM A QUENTINHA. UMA CONFUSÃO É FORMADA. A QUENTINHA CAI NO CHÃO. JOEL TENTA PEGAR A QUENTINHA NO CHÃO E A COMIDA SE PERDE.

 MOÇO – (AGREDINDO JOEL ) Veja o que você fez, imbecil.

NO MEIO DO TUMULTO, DOIS POLCIAIS APARECEM.

POLICIAÇ – Que baderna é essa?

MOÇO – Esse mendigo tentou roubar a minha comida.

POLICIAL –  (PARA JOEL) O senhor está preso.

JOEL – Eu não fiz nada. Apenas pedi para ele um pouco de comida.

OS POLICIAIS LEVAM JOEL, APESAR DE SUA RESISTÊNCIA. A CONFUSÃO É DESFEITA. PRÓXIMO DALI UM HOMEM MAL ENCARADO ASSISTE A TUDO COM INDISFARÇÁVEL INTERESSE.  É ZELÃO, MORADOR DE RUA.

CORTA PARA:

CENA 2 - EXTERNA/DIA - RUA UM TANTO DESERTA DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
CARRO DA POLÍCIA ESTACIONA E POLICIAL DESCE.

POLICIAL – (PARA ALGUÉM NO INTERIOR DO CARRO) – Vamos, desce.

JOEL – (DESCENDO DO CARRO) Já falei que não fiz nada, moço.

POLICIAL – Tô vendo mesmo essa sua cara de santinho. (TEMPO) Escuta aqui, malandro. Trata de desaparecer dessa área, tá ouvindo? Dessa vez, a gente vai livrar a tua cara. Mas da próxima a conversa vai ser bem outra. (GRITA) Entendeu?

JOEL – Tudo bem, moço. Só queria um pouco de comida. Não como faz três dias.

POLICIAL – Isso não é problema meu. A gente cuida da ordem. Barriga vazia é outro departamento. (EM TOM AMEAÇADOR) Agora se manda daqui antes que eu mude de ideia.  (GRITA) Sai fora.

JOEL COMEÇA A ANDAR MEIO INDECISO E FRACO. POLICIAL ENTRA NO CARRO, QUE PARTE.  NOVAMENTE O HOMEM MAL ENCARADO (ZELÃO) OBSERVAVA TUDO.

CORTA PARA:

CENA 3 - EXTERNA/DIA - UM BECO DE RUA
JOEL ESTÁ SENTADO. O HOMEM MAL ENCARADO APARECE, AVISTA JOEL E SE APROXIMA.

ZELÃO – (PUXANDO CONVERSA) A vida tá difícil, né?

JOEL – Se tá.

ZELÃO – E com a barriga vazia, fica mais difícil ainda.

JOEL – Eu que o diga. Tô há três dias sem botar nada que preste na boca.

ZELÃO – Eu sei o que é isso. Também já fiquei assim.

JOEL – Sem comer?

ZELÃO – Mais de uma semana. (TEMPO) Vi o que fizeram com você. Covardia. Não custava nada o cara ter te dado aquela quentinha. Cara bem empregado, podia comprar quantas quentinhas quisesse. O mundo é cheio de injustiça.

JOEL – Se é.

ZELÃO – Meu nome é Zelão. E o seu?

JOEL – Joel.

ZELÃO – Prazer, Joel. (TEMPO) Se tiver a fim, posso te levar num lugar onde você pode comer alguma coisa.

JOEL – (INTERESSADO) Onde é isso?

ZELÃO – Vem comigo.

JOEL LEVANTA E ACOMPANHA ZELÃO.

CORTA PARA:

CENA 4 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO PRÓXIMO A PRÉDIOS DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
HÁ DE TUDO NO LOCAL. BASTANTE ENTULHO, CARCAÇA DE CARROS, MUITO MATO, BARRACOS DE PAPELÃO E MADEIRA, MÓVEIS VELHOS ESPALHADOS PELO TERRENO, SOBRETUDO, SOFÁS VELHOS E SUJOS.
É UM LOCAL HABITADO POR MORADORES DE RUA. HÁ MUITOS DELES POR ALÍ.  ALGUNS ESTÃO COZINHANDO EM FOGÕES IMPROVISADOS.
JOEL CHEGA TRAZIDO POR ZELÃO.

ZELÃO – É aqui. Lugar sem luxo. Mas aqui ninguém nega um prato de comida prum irmão de infortúnio.

JOEL – Não sabia que existia lugares assim no meio da cidade.

ZELÃO – Pois a gente existe. Pra eles, nós somos o lixo da sociedade. (TEMPO) Agora, vamos deixar de conversa. Quero te apresentar para o pessoal.


CORTA PARA:

CENA 5 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO
NO TERRENO TODOS PARTICIPAM DE UM “ALMOÇO”.  JOEL ESTÁ COMENDO ENTRE ELES, TENDO ZELÃO AO SEU LADO.

ZELÃO – E então, Joel?  Tá dando pra enganar a fome?

JOEL – Não sei nem como te agradecer, Zelão. Se não fosse isso, acho que ia morrer de fome.

ZELÃO – Que é isso? De fome não se morre. (TEMPO) Não enquanto eu tiver na área.

JOEL – Você faz parte de alguma religião?

ZELÃO – Que nada. (TEMPO) Apenas acredito que “é dando que se recebe”. Sabe aquela história do santo...

JOEL – Não entendo muito de santo não. Mas acho isso bom.

ZELÃO – (RINDO) “È dando que se recebe”.

ZELÃO SE AFASTA E JOEL CONTINUA COMENDO.
CORTA PARA:

CENA 6 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO
OS HABITANTES DO TERRENO ESTÃO EM FESTA. ALGUNS TOCAM INSTRUMENTOS IMPROVISADOS, OUTROS CANTAM E DANÇAM. JOEL ESTÁ ENTRE ELES. JÁ ESTÁ TOTALMENTE INTEGRADO.

ZELÃO – E aí? Tá se divertindo?

JOEL – Muito. Isso aqui é muito bom. Acho que encontrei o lugar que eu procurava na vida.

ZELÃO – Como assim?

JOEL – È aqui que eu quero viver pra sempre.

ZELÃO – Não disse pra você? Aqui ninguém nega nada pra ninguém. Todo mundo aqui é irmão.

ZELÃO SAI E VOLTA COM MAIS BEBIDA E SERVE JOEL, QUE FICA CADA VEZ MAIS BÊBADO E ANIMADO. ZELÃO SE AFASTA E FICA OBSERVANDO A ANIMAÇÃO DE JOEL.

CORTA PARA:

CENA 7 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO
JOEL ESTÁ DORMINDO NO CHÃO. ZELÃO ESTÁ CONVERSANDO COM UMA MOÇA.

ZELÃO – E o nosso novo amigo?

SUZI – Tá dormindo feito um rei.

ZELÃO – Acho que já está na hora de chamar o cara às falas.

SUZI – O que você vai fazer?

ZELÃO – Eu não vou fazer nada. Quem vai fazer é você.

ZELÃO COCHICHA ALGUMA COISA NO OUVIDO DE SUZI E SAI. SUZI SE APROXIMA DE JOELE TENTA ACORDÁ-LO.

SUZI – Ei! Tá na hora de acordar.

JOEL – (DESPERTANDO) Hora de acordar? Isso aqui não é o paraíso?

SUZI – Quem te disse isso? (TOM) Aqui quem não trabalha, não come. (TEMPO) Dá uma olhada pra ver uma coisa. Tá todo mundo na batalha, meu. Levanta e trata de se virar.

JOEL LEVANTA E VÊ QUE O TERRENO ESTÁ VAZIO DE PESSOAS. SÓ ELE E SUZI ESTÃO LÁ.

CORTA PARA:

CENA 8 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO
SUZI PEGA UM SACO PRETO E ENTREGA A JOEL.

JOEL – O que eu faço com isso?

SUZI – Pega e,,, (TEMPO) Não vai me dizer que você nunca garimpou na vida?

JOEL – Garimpeiro de ouro?

SUZI – Não deixa de ser...(TEMPO) Agora pega isso e vai.  E quer um conselho?

JOEL – Todos. Sabe como é: é que eu sou novo nisso de viver assim na natureza como vocês. Eu sou trabalhador, entende? Apenas estou desempregado. Eu sempre vivi como gente.

SUZI – Já deu pra sacar. (TOM) Cuidado! O Zelão está de olho em você.

JOEL NÃO ENTENDE O CONSELHO.

CORTA PARA:

CENA 9 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO
MOVIMENTO NO TERRENO ESTÁ GRANDE, A MAIORIA DOS MORADORES DE RUA TRAZ O QUE GARIMPOU. PERCEBE-SE QUE JOEL NÃO CONSEGUIU NADA.

SUZI – Parece que seu protegido não conseguiu arranjar nada. Também, pelo que ele me disse...

ZELÃO – (NERVOSO) O que foi que ele disse?

SUZI – O moço é cheio de não me toques. Diz que não está acostumado a viver assim, que sempre viveu feito gente.

ZELÃO – Ah! Filho da mãe.

CORTA PARA:

CENA 10 - EXTERNA/DIA - TERRENO BALDIO
JOEL ESTÁ CONVERSANDO COM ALGUNS MORADORES DO TERRENO. ZELÃO CHEGA E O ARRASTA PARA O LADO.

ZELÃO – (PUXANDO JOEL) Acho que a gente precisa ter uma conversinha.

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO