Não precisa se assustar. Não se trata, literalmente, de uma mão podre. É apenas uma forma usada para identificar aquelas pessoas que não costumam ter muita sorte em suas escolhas pela vida. Aquelas pessoas que quase sempre (pelo menos, elas acham assim) escolhem mal seus amigos, negócios e se veem obrigadas a admitir que não têm lá muita sorte.
É exatamente assim que o João se sente. O rapaz diz que não tem sorte. Vira e mexe lá vem ele reclamar que se deu mal com alguém em quem ele confiou ou em algum negócio que lhe parecia tão bom à primeira vista e que logo em seguida se revela um fiasco. Para não deixar dúvida, o João chega ao cúmulo de dizer que nada que ele planta nasce, tal é a ruindade de sua mão
Não adiante dizer para o João que a coisa não é bem assim, que tudo não passa de pura e simples coincidência e que ele devia mesmo era tomar mais cuidada da próxima vez examinando melhor os prós e os contras antes de tomar uma decisão ou plantando sua árvore com mais cuidado.
O João não concorda. Diz que isso acontece só com ele e coisa e tal. Faz longas comparações. Diz, por exemplo, que não tem sorte com os amigos. As amizades começam muito bem e quando ele menos espera tem uma decepção daquelas de derrubar touro bravo. Negócios então nem se fala: não consegue emplacar nada. A ideia pode ser maravilhosa e funcionar com qualquer pessoa, mas com ele não. Com ele é fracasso na certa.
Tento dizer para o João que isso que ele tem é pessimismo, que não existe esse negócio de sorte e azar, mão podre, então, é invenção da cabeça dele. Acrescento que ele tem mudar a sua maneira de pensar, rever a sua postura diante da vida, acreditar mais nele mesmo, mas o João encasquetou com a tal da "mão podre".
Pelo meu lado, um tanto cabreiro, me pergunto: "Será que nessa história de "mão podre", eu também estou incluído? Parece lógico pensar assim, não? Afinal, ele diz que não dá sorte com nenhum amigo, que não dá sorte com nada. Então, definitivamente, eu estou incluído.
Diante disso, ele muda um pouco o discurso dizendo que eu sou uma exceção. Bom, penso eu. Pelo menos existe exceção e isso já é alguma coisa, não é? Replico dizendo que nesse caso ele não pode dizer que nunca dá sorte. Ele fica um pouco encabulado e começa a dizer que um dia tudo já foi diferente. Fico logo interessado e ele me conta histórias do tempo em que ele ainda não tinha " mão podre".
Descobro que João teve algumas decepções e que isso marcou muito a sua vida. Concordo com ele que alguns golpes são mesmo muito duros de se enfrentar, mas que ele tem que reagir. Afinal de contas, tudo passa. Até as decepções passam. Agora quem concorda comigo é ele. Promete que vai ver as coisas pelo lado positivo e que nem todo mundo é igual.
Sinto que o João está mais leve. Sinto que eu também estou mais leve. Mais um pouco e acabo descobrindo que falei para o João o que eu estava precisando ouvir. No fundo, eu também sempre fui meio cismado com esse negócio de pouca sorte, mão podre. O João acabou despertando em mim também uma necessidade de ver mais o lado bom das coisas. O resto é pura cisma tanto minha quanto do João.
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