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março 08, 2009

Beato Zé Miguelin, a minissérie.

Por volta do ano de 1990, quando eu praticamente tinha acabado de chegar ao Rio de Janeiro, vivi uma situação bastante complicada financeiramente ( fato que narro no meu livro, No olho da rua), mas também bastante fértil no que diz respeito ao meu lado de escritor. Nesse período escrevi o monólogo "Saudades da China", onde conto a história de José da Silva Severino, um migrante nordestino que vem para o Rio de Janeiro em busca de "melhores condições de vida" e acaba se transformando num traficante de drogas; escrevi também a peça infantil "Juca e Bilo em busca de uma grande aventura", que narra as peripécias de dois garotos em busca de aventura numa cidade do Rio de Janeiro caótica; além de "Vestida para o baile" , peça adulta que conta história de uma romântica dona de casa que após o casamento tem que lidar com a paraplegia do marido, vendo seus sonhos de uma vida feliz irem por água abaixo. Nesse período escrevi nada menos que uma minissérie, essas novelas curtas que são apresentadas na televisão. Além de ser ator, sempre gostei de escrever. E esse gostar de escrever passa também pelos roteiros para televisão e cinema. Tenho muitas sinopses para filmes e novelas que, infelizmente, não consigo mostrar aos canais de televisão ou produtores de cinema. Esse meio é muito fechado, só trabalham aqueles que têm QI ( quem indica) e eu não possuo esse atributo. Mesmo remando contra a maré, resolvi escrever a minissérie "Beato Zé Miguelin", em 20 capítulos; a história se passa no interior de Minas e fala de um garoto que nasce muito doente e sua mãe faz uma promessa que se ele for curado dedicará sua vida ao sacerdócio. Ele se cura e a mãe o entrega a um padre para ele o encaminhe para o seminário, esse padre envolve-se em questões políticas contra um coronel local e é transferido, passando a incumbência para o novo padre de chega. Esse novo padre entende que o garoto não vai ser padre por sua escolha e sim pela vontade da mãe e por isso decide que ele não irá para seminário, criando um sério problema. O garoto que passou a vida toda convencido de que seria padre se vê perdido e acaba se transformando num beato que, segundo muitos, faz milagres. Seus milagres incomodam a igreja e o coronel local, que sente o dono da cidade, causando um embate entre o bem e o mal.
Mas agora vem a pergunta que não quer calar: por que estou falando disso? É que outro dia encontrei a tal minissérie perdida nos meus guardados e resolvi relê-la e fiquei assustado de ver a sua qualidade. Modéstia à parte, muito melhor que muitas histórias que vemos hoje em nossa televisão. Autores cheios de tiques e manias, penando são verdadeiros dramaturgos ou filósofos gregos e nos apresentam histórias chinfrins e sem contacto com a realidade. É verdade que lendo a minha minissérie, escrita nas dependências da extinta rádio Continental, onde eu trabalha na produção de um programa na parte da manhã e passava o resto do dia escrevendo os capítulos, disputando as poucas máquinas de escrever com os jornalistas que ali trabalhavam, noto que ela foi escrita um pouco (ou muito) sob influência do realismo fantástico do Dias Gomes e do Aguinaldo Silva, que imperava na época, mas nada que tire seu valor. Afinal, quem não sofreu influências nessa vida? Quando olho para trás, acho tudo isso uma grande aventura. Eu era muito louco. Nesses anos só mostrei esse trabalho para o José Louzeiro, ele fez algumas anotações, mas não creio que tenha lido ou se interessado. Gostaria de ver essa minissérie no ar um dia, ainda que fosse numa produção simples e num canal obscuro. A história do Beato merece ser vista.