SÓ A VIDA ENSINA
CENA 1 - INTERIOR/DIA - SALA DO SR. OLAVO
OLAVO ESTÁ SENTADO EM SUA MESA, TRABALHANDO. JOEL ENTRA. ESTÁ BASTANTE APREENSIVO.
JOEL – Me chamou, seu Olavo?
OLAVO – (SEM PARAR O QUE ESTÁ FAZENDO) Sim. (TEMPO) Sente-se.
JOEL – (SENTANDO) Não sei se o Fábio avisou... Eu tive um probleminha em casa...
OLAVO – (INTERROMPENDO) Eu sei. Sua mãe... (TEMPO) E por falar nisso: como ela está?
JOEL – Agora ela está bem.
OLAVO – Que bom. Estimo as melhoras dela.
JOEL – Obrigado. (LEVANTANDO-SE) Posso ir. É que tenho muito trabalho. O senhor sabe, fim de mês...
OLAVO – Não precisa mais se preocupar...
JOEL – Como assim?...
OLAVO – A partir de hoje o senhor não mais precisará se preocupar com o serviço aqui, senhor Joel. Poderá cuidar muito bem de sua mãe.
JOEL – Não estou entendendo...
OLAVO – Eu me cansei, senhor Joel. Todo dia uma desculpa... Minha paciência se esgotou. (TOM) O senhor está DESPEDIDO.
JOEL – (PERPLEXO) O quê?
CORTA PARA:
CENA 2 - INTERIOR/DIA -SALA ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO ESTÁ DE PÉ DIANTE DA MESA DO OUTRO FUNCIONÁRIO. JOEL ENTRA. ESTÁ COMPLETAMENTE ARRASADO.
FÁBIO – E então? O que o homem queria?
JOEL – Ele me mandou embora. Tô no olho da rua.
FÁBIO – Qual é, Joel? Está de brincadeira? Seu Olavo vive dizendo que você é o melhor funcionário que ele tem.
JOEL – Para você ver. O melhor funcionário está sendo despedido.
FÁBIO – Que é isso, Joel? (TOM) Conversa com ele. Quem sabe ele muda de ideia...?
JOEL – (ESPERANÇOSO) Você acha...?
FÁBIO – Claro. Seu Olavo é gente boa. (TOM) O problema é que você tem abusado ultimamente. De repente, se você falar pra ele que vai mudar de atitude...
JOEL – (DECIDIDO) É isso que eu vou fazer. (SAI)
CORTA PARA:
CENA 3 - INTERIOR/DIA - SALA DO SENHOR OLAVO
OLAVO ESTÁ TRABALHANDO. JOEL ENTRA.
OLAVO – Pois não.
JOEL – Sabe o que é, seu Olavo, o senhor tem toda razão em estar chateado comigo. Eu tenho abusado muito da sua confiança nos últimos tempos. Mas agora eu prometo para o senhor que vou melhorar. O senhor vai ver: a partir de hoje eu vou ser o primeiro a chegar no escritório e o ultimo a sair. Pode confiar.
OLAVO (FICA OLHANDO PARA JOEL UM TEMPO, DEPOIS LEVANTA E O ENCARA, FIRMEMENTE) Eu tenho a impressão de que não fui claro o suficiente, senhor Joel. (TOM) O senhor está des – pe – di – do, entendeu? Eu lhe dei várias oportunidades de crescer aqui. O senhor fez questão de jogar todas no lixo. Portanto, não existe a menor possibilidade de eu voltar atrás na minha decisão. (TEMPO) E agora, saia daqui que o senhor está me atrapalhando.
JOEL – (SAINDO, HUMILHADO) Com licença.
CORTA PARA:
CENA 4 - INTERIOR/DIA -SALA ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO ESPERAM POR JOEL. JOEL ENTRA DE CABEÇA BAIXA.
JOEL – O homem não quis conversa.
FÁBIO – Ele deve estar meio nervoso. Mais tarde, quem sabe?
JOEL – Não tem mais jeito. Ele não vai mudar de ideia. É rua e pronto. (JOEL COMEÇA A JUNTAR SUAS COISAS. FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO TENTAM DEMONSTRAR SOLIDARIEDADE. DEPOIS DE JUNTAR UNS POUCOS PERTENCES, JOEL SE DESPEDE DOS COMPANHEIROS) Valeu, companheiros. A gente se vê por aí. (SAI)
CORTA PARA:
CENA 5 - INTERIOR/DIA - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL TRABALHA
PORTEIRO ESTÁ POR ALI. JOEL SAI DO ELEVADOR CARREGANDO UMA CAIXA PEQUENA.
PORTEIRO – (ZOMBANDO) Ora, vejam! O último a chegar e o primeiro a ir embora. Isso que é vida boa.
JOEL – Não enche o saco.
PORTEIRO – Ih!, o marajá tá nervoso.
JOEL – (PARTE PARA CIMA DO PORTEIRO) Olha aqui, seu folgado. (PORTEIRO CORRE E SE ESCONDE. JOEL FICA BUFANDO DE RAIVA) Filho da mãe. Provoca e corre.
CORTA PARA:
CENA 6 - EXTERIOR/DIA - UMA RUA DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
JOEL ANDA COM SUA PEQUENA CAIXA NA MÃO. NA CAIXA ESTÃO SEUS PERTENCES DO ESCRITÓRIO. ESTÁ BASTANTE ABATIDO, TRISTE.
JOEL – E agora, Joel? (TEMPO) Como é que eu vou dar essa notícia para minha mãe? Dona Margarida vai me matar quando souber.
JOEL CONTINUA CAMINHANDO A ESMO, COM OS PENSAMENTOS FERVILHANDO NA CABEÇA.
CORTA PARA:
CENA 7 - EXTERIOR/DIA - PORTA DO SALÃO DE BELEZA ONDE VERINHA, A NAMORADA DE JOEL, TRABALHA
É UM SALÃO SIMPLES QUE ATENDE A CLIENTELA MAIS POBRE.
JOEL ESTÁ PARADO SEGURANDO A CAIXA. VERINHA SURGE SEGURANDO ALGUNS APETRECHOS DE CABELEREIRA. É UMA MOÇA DE ESTATURA MÉDIA, COM ROSTO DE GENTE SOFRIDA.
VERINHA – O que você está fazendo aqui? Já não disse que a minha patroa não gosta. Além do mais, eu tô com uma cliente na cadeira...
JOEL – Não fala assim, Verinha, meu amor. Não vê que eu tô aqui cheio de problema?
VERINHA – O único problema que eu sei que você tem é a safadeza.
JOEL – Tô falando sério, Verinha.
VERINHA – O que foi dessa vez, Joel? Fala logo que eu tenho que voltar para o meu trabalho. Daqui a pouco dona Damares briga comigo.
JOEL – É que eu... Bem eu...
VERINHA – Desembucha, homem. Já sei. Veio aqui para terminar o noivado comigo. (TOM) Tudo bem. Eu já esperava por isso. (TIRA A ALIANÇA DO DEDO) Toma essa aliança e agora me deixa em paz.
JOEL – Não é nada disso, Verinha.(COLOCANDO A ALIANÇA DE VOLTA AO DEDO DE VERINHA) Eu te amo e quero me casar com você.
VERINHA – Mas quando?
JOEL – (MENTINDO) O mais breve possível.
VERINHA – Você vive adiando nosso casamento.
JOEL – Eu bem que tava pensando em marcar a data, mas aconteceu uma coisa...
VERINHA – O que foi?
JOEL – Seu Olavo me mandou embora.
VERINHA – O quê? Era só o que faltava. Agora é que a gente não se casa mais...
JOEL – Agora vai ficar difícil. Sem emprego, não dá.
VERINHA – E você veio aqui para me dizer que não vai dar pra se casar agora porque perdeu o emprego? Não podia ter deixado isso pra mais tarde?
JOEL – Eu vim aqui pra lhe pedir que vá lá em casa comigo. Tô com medo de dar essa notícia pra minha mãe. Dona Margarida não vai resistir. (TEMPO) Você vem comigo?
VERINHA – Não. Sinto muito, mas eu tenho cliente esperando. Preciso trabalhar. Mais tarde a gente se fala. (SAI)
JOEL – Volta aqui, Verinha. Não me deixe sozinho nessa.
CORTA PARA:
CENA 8 - INTERIOR/DIA - CASA DE JOEL. SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ ASSISTINDO TELEVISÃO. JOEL ENTRA COM A CAIXA NA MÃO.
DONA MARGARIDA – Em casa à essa hora, Joel? O que aconteceu?
JOEL – (DISFARÇANDO) Nada, mãe. (TEMPO) Por que? Por acaso, tem sempre que estar acontecendo alguma coisa?
DONA MARGARIDA – Do jeito que a vida anda... (TOM) Além do mais, você já saiu daqui tarde...
JOEL – (MENTINDO) Seu Olavo deu folga para o pessoal do escritório na parte da tarde.
DONA MARGARIDA – É mesmo? (DESCONFIADA) Fala a verdade, Joel. (TOM)
Você perdeu o emprego? Seu Olavo te mandou embora? (TEMPO) Eu sabia que isso ia acontecer. Coração de mãe não falha. E agora?
JOEL – E agora eu vou arrumar outro emprego. Não é assim que funciona a vida? Tava cansado daquele chato do seu Olavo. Muquirana, mão de vaca. Eu tenho condição de arrumar coisa muito melhor.
CORTA PARA:
CENA 9 - INTERIOR/NOITE - CASA DE JOEL - SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ VENDO NOVELA NA TELEVISÃO. JOEL ENTRA VINDO DO QUARTO. ESTÁ ARRUMADO PARA SAIR.
DONA MARGARIDA – Onde você vai?
JOEL – Por ai.
DONA MARGARIDA – Não acha que está na hora de criar juízo, Joel? Para com tanta farra, filho. Bota juízo nessa cabeça. Você já não é nenhum menino. Trata de casar com a Verinha e sossegar o facho.
JOEL – Que conversa é essa, dona Margarida? Seu filho ainda tem muita lenha para queimar. Tchau. (SAI)
CARA DE PREOCUPADA DE DONA MARGARIDA.
DONA MARGARIDA – Não se esqueça que você acabou de perder o emprego.
CORTA PARA:
CENA 10 - INTERIOR/NOITE - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL MORA
JOEL SAI DO ELEVADOR E DÁ DE CARA COM O PORTEIRO, SEU ELMIR.
ELMIR – Boa noite, seu Joel. Tem aqui uma correspondência urgente para o senhor. (ENTREGA A CARTA A JOEL) Parece coisa da justiça. Não vai ler?
JOEL – (ABRINDO A CARTA) O quê? (A MEDIDA QUE VAI TOMANDO CONHECIMENTO DA CARTA, JOEL VAI FICANDO CADA VEZ MAIS ASSUSTADO.) Era só o que faltava, meu Deus!
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO
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