Aluísio não nasceu em berço de ouro. Muito pelo contrário, teve um infância cheia de privações. Tão logo chegou à adolescência percebeu que precisaria fazer alguma coisa para mudar seu destino, pois não pretendia viver para sempre mergulhado na miséria e na indigência.
No entanto, engana-se quem pensou que ele seguiu aquele velho conselho que aponta a educação como única forma que uma pessoa tem para sair da pobreza e galgar patamares mais altos da sociedade, de maneira sustentável e duradoura; para ele, esse caminho podia até ser eficaz, mas era muito demorado, demandava muito esforço. Exatamente o oposto daquilo que ele procurava, uma vez que tinha pressa; muita pressa.
A desnutrição da infância e pré-adolescência não impediu que se tornasse um rapaz de boa estatura e notável aparência. Então, ele percebeu que poderia lançar mão desses atributos para sair da pobreza. Dessa maneira, não foi difícil se aproximar de "pessoas interessantes". Em pouco tempo, ele estava colocando em prática seu plano de ascensão social. Muitas vezes esteve perto do que considerava "subir na vida" e pôde, ainda que por frações de segundos, se sentir distante de seu passado de privações.
Dizem por aí que quem nunca comeu melado quando come se lambuza; Aluísio sempre acabava cometendo pequenos delitos e perdia sua "galinha dos ovos de ouro". Algumas vezes, acabou preso e virou figurinha fácil nas delegacias e tribunais. Nem por isso desanimava; saía atrás de novas vítimas, sempre com o intuito de "se dar bem na vida". Um dia, ele, depois de mais uma detenção pelos crimes de sempre, ouviu o seguinte conselho de um delegado:
- Já deu pra entender que você não é o que se pode chamar de um marginal na verdadeira concepção da palavra. Não passa de um garoto querendo se dar bem usando a única arma que tem, ou seja, o corpo. Vê se toma juízo. Quer sombra e água fresca? Está bem. Ninguém pode te recriminar por isso. Mas tenta se colar em alguém. Para com esse negócio de dar pequenos golpes. Você não é do ramo. Vai por mim. Fica com alguém, homem, mulher, o que seja. Não importa. Dá pelo um tempo antes de praticar seus golpes "pé de chinelo". Quem sabe você vira um cidadão de respeito e para de tomar o meu tempo?
Aluísio saiu da delegacia levando consigo as palavras do delegado. O homem tinha razão; seus golpes eram sempre muito amadores; nunca davam certo. Quase sempre acabava passando a noite na cadeia por roubar uma joia sem valor, um celular que não conseguia usar ou vender, uma pequena quantia em dinheiro, um objeto sem serventia, enfim, nada que resolvesse sua vida. No outro dia estava na rua com fome, com o bolso e a barriga vazios.
Na próxima vez que encontrou alguém que julgou poder lhe dar a vida boa que tanto queria, lembrou do conselho do delegado e reprimiu a vontade de aplicar seu costumeiro golpe. Resultado: está com a "pessoa" até hoje e nunca mais encontrou o delegado, pois não teve mais de passar a noite na cadeia.
P.S. - A "pessoa" o convenceu voltar a estudar e isso garantiu-lhe um emprego que o livra de ter de aplicar golpes em corações solitários para sobreviver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário