Outro dia, assistindo entrevista de uma famosa atriz de novelas tive a impressão de que estava diante de uma pessoa quase perfeita. Ela, não sendo exagerado, tinha solução para tudo, sabia de tudo, entendia de tudo.
Durante a entrevista, ela, sem nenhuma falsa modéstia, deu verdadeiras lições de vida em frases como:" isso tem que ser assim, aquilo tem que ser assado". "Eu faço, eu prendo, eu arrebento." "Onde eu chego não tem tristeza, velhice não tem vez comigo". "Não gosto disso, não gosto daquilo".
É bem verdade que eu conheço essa atriz de longa data e sei que seus rompantes chegam a beirar o exibicionismo e à falta de senso de ridículo. Por isso, eu poderia ter simplesmente mudado de canal ou desligado o aparelho, mas me senti impelido a continuar assistindo aquela demonstração de prepotência.
Terminada a entrevista, que por sorte não foi longa, fiquei encasquetado com tudo o que ouvi. As palavras da atriz continuaram na minha cabeça mesmo que eu fizesse esforço para não pensar nelas. Daí, comecei a racionar: o que leva uma pessoa, por ser conhecida, a se sentir no direito de ditar regras para as outras pessoas? O simples fato de ser uma atriz de sucesso (que ela mesma disse ter conseguido com muita luta, briga e mais o que se possa imaginar), dá a ela o direito de se achar num patamar acima das outras pessoas? O que é mesmo o sucesso?
Não acredito que seja somente estrelar uma novela na Globo e ser conhecida, por isso, no pais inteiro e até no exterior. Sucesso é algo muito diferente disso. Sucesso é fazer bem e com prazer aquilo que se gosta. É sentir-se satisfeito com o que se faz. Uma professora pode considerar-se uma pessoa de sucesso, se no final do ano ela perceber que seus alunos aprenderam aquilo que elas lhes ensinou. Um médico ao ver o seu paciente curado pode sentir a mesma sensação. E assim vai: pedreiro, padeiro, faxineiro, motorista, cozinheira. Todos podemos ser pessoas de sucesso sem aparecer na televisão e sem ditar regras para ninguém.
A culpa talvez não seja da atriz. Ela vive num meio que exalta pessoas como ela, ou seja, as pessoas que vivem de falar. Apenas falam. Basta se virem diante de uma câmera e de um microfone que dispararam a falar sem pensar no que estão dizendo. E, sobretudo, sem se sentirem obrigadas a ser coerentes. Apenas dizem, mas não fazem.
Provavelmente, num outro programa, esquecida das afirmações que fez, ela faça outras até opostas. Pelo jeito, o importante é ser polêmico e falar coisas que façam a audiência subir. Quando apagam as luzes do estúdio ou se vê na solidão de sua casa, é possível que ela queira muito acreditar e fazer o que diz para "chocar" o público. É possível que assistindo à própria entrevista ela pense: "que bom seria se eu fosse essa pessoa que fala na televisão".
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