É sempre temerosa a notícia de que a televisão resolveu abordar temas relacionados à religiosidade do povo através do seu carro-chefe, as telenovelas. Principalmente quando se trata do espiritismo, um tema tão difícil de ser abordado dado às suas próprias características. Por mais bem intencionado que o autor (ou autores) seja, qualquer deslize e a coisa desanda.
Provavelmente, foi por esse motivo que a grande autora Ivani Ribeiro cercou-se de especialistas, entre eles Chico Xavier através de seu livro "Nosso lar", para escrever a novela "A viagem", a mais bem-sucedida investida do gênero no assunto, seguida de "O profeta", a versão da Tv Tupi, que fique claro, da também de sua autoria.
Outros autores tentaram abordar o tema, entre eles o competente Walter Negrão, mas nunca se repetiu o mesmo sucesso. Embora o tema seja fascinante, não deixa de ser espinhoso e não conta com a total adesão do telespectador. O brasileiro, apesar de ser conhecido como povo livre e aberto, é conservador quando o assunto é religião.
Por isso, é preciso cuidado quando se aborda o tema. E cuidado não parece ser o que está tendo a atual novela das sete da Rede Globo, "Alto astral" que trata o tema sem nenhuma preocupação de esclarecer o público. A tônica, parece, é fazer o povo rir custe o que custar.
E para isso vale qualquer coisa, inclusive fazer todo acreditar que médiuns são loucos e os espíritos agem da mesma maneira. Haja vista a personagem da atriz Cláudia Raia. Além da atriz ter claramente perdido a mão em sua interpretação, o personagem beira o ridículo.
A história da menina que apronta mil e uma traquinagens com a intenção de juntar o casal principal é muito pouco crível, sobretudo pela sua falta de entendimento da realidade do mundo. E o fato de um espírito apresentar-se como criança não significa que ele tenha o entendimento infantil. O espírito Carlitos mais parece um obsessor e não está interessado em mais nada que não seja fazer cirurgias.
Antes de curar o corpo há que se cuidar da alma, não? Muita estranha aquela situação onde o personagem da atriz Cristiane Torlone faz exigências ao espírito para poder aceitar que as cirurgias aconteçam em seu hospital. Chego a pensar que o mundo espiritual não é mais o mesmo.
No mais, a novela está longe de fazer jus ao título. O astral está longe de ser alto, mesmo com todo o esforço feito para criar situações "engraçadas" envolvendo os incautos espíritos.
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