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julho 19, 2015

O bem mais precioso.

Resultado de imagem para imagem de preto velhoUm pai, muito preocupado com o futuro do filho, resolveu procurar um guia espiritual. Cada um está livre para  entender "guia espiritual"  à sua maneira. Tanto pode ser um padre, um pastor, um pai de santo, um preto velho, um xamã,  um parente mais velho e sábio ou mesmo um amigo. Nesse caso, especificamente, o pai procurou um preto velho.
Era hábito antigo na família de vez em quando esquecerem que eram católicos apostólicos romanos, de missa todos os domingos, casamentos e batizados, e fazerem uma visitinha à tenda do "Pai Joaquim de Angola" . Tinham o preto velho quase como alguém da família e toda vez que tinham um problema era na porta dele que batiam.
E lá foi o pai em busca de alguma confirmação quanto ao futuro de seu rebento. Ele chegou, sentou-se diante da entidade, e começou a falar. Fez todos os elogios possíveis. Seu filho era o mais isso, o mais aquilo. O preto velho, entre uma pitada de cachimbo e outra, ouvia atentamente o que aquele pai dizia sem interferir.
Ao final do relato, o pai respirou fundo e completou:
- Vai, me diz aí. Meu filho tem um futuro brilhante, não tem?
O preto velho pitou mais um pouco, pigarreou, e  falou:
- Depois de todas essas maravilhas que você disse a respeito de seu filho, o velho chegou à uma conclusão.
- Que conclusão? - perguntou o ansioso pai.
- O seu filho tem apenas um bem nessa vida.
Ao ouvir aquilo o pai não conteve e falou:
- Como assim? Meu filho tem apenas um único bem? Mas ele...
O preto velho o interrompeu:
- Apenas um. 
O pai não podia aceitar e já estava pronto para sair porta a fora maldizendo o preto velho quando ouviu a entidade falar, depois de uma longa baforada:
 - Em compensação esse é o maior bem que uma pessoa pode ter durante toda a vida toda. 
Essa fala fez o pai respirar aliviado. O seu filho tinha o maior bem que alguém pode ter na vida. Ele não demorou a perguntar:
- Que bem tão precioso é esse?
O preto velho respondeu:
- A juventude. 
- A juventude!? - exclamou o pai.
- Sim. E diga pra ele que tome cuidado, pois ela passa rápido.
E dando uma risadinha, o preto velho não disse mais nada.

Bom domingo.

julho 12, 2015

A outra Alice.

Alice tinha uma amiga de nome Marta. Essa amiga vivia falando de uma outra amiga que tinha uma amiga que se chamava Alice e que era uma pessoa muito feliz. A coincidência do nome deixou Alice feliz e ela murmurou:
- Bom saber que uma pessoa que tem o mesmo nome que eu é feliz. Não é muito, mas serve como conforto saber que nem toda Alice é infeliz como eu.
Após esse pensamento aparentemente banal, Alice tomou uma decisão: na próxima vez que sua amiga Marta falasse da outra Alice, ela pediria para conhecê-la. Queria saber quem era essa pessoa que despertara nela tanta admiração e curiosidade. Uma pessoa com quem ela tinha em comum apenas o nome.
Ela era triste, sentia-se a última das pessoas, não tinha muitos amigos. Namorados? Nem pensar. Aos trinta e dois anos de idade tivera apenas amores platônicos. Uma vez apaixonara-se pelo professor de matemática, outra pelo dentista, um colega de trabalho, um estranho que encontrava todos no dias no caminho para o trabalho e  de quem ela nunca soube sequer o nome e.. Alice perdeu a conta das vezes que sonhou com príncipes encantados que vinham trazer luz para os seus dias sombrios.
No entanto, nada acontecia e sua tristeza e solidão pareciam não ter fim. A única companhia era Marta, a amiga com um estilo de vida quase idêntico ao dela, que falava muito da Alice que era feliz.
A amiga tanto falou que sua vontade de conhecer a tal Alice que era feliz só fez aumentar. Um dia, ela  se encheu de coragem e pediu a Marta que lhe apresentasse a amiga que tinha mesmo nome que ela. Marta ficou de marcar o encontro com sua amiga Elisabete  que era, na verdade, quem conhecia a feliz Alice.
Por coincidência, Alice também tinha uma colega de nome Elisabete, porém ela não deu muita importância para o fato. Se havia mais uma Alice no mundo, também havia mais de uma Elisabete. Encontro marcado, lá foi Alice na companhia de sua amiga Marta para conhecer a Alice cuja vida feliz causava-lhe tanta admiração
No caminho Alice foi pensando em fazer muitas perguntas para sua xará. Pensou até em pedir-lhe a receita de como ser feliz, pois deveria haver um segredo. Segredo esse que ela seria capaz de tudo para descobrir. Marta também não conhecia a outra Alice e estava igualmente ansiosa para conhecer uma pessoa que tinha encontrado o dom mais precioso dessa vida: a felicidade. Afinal ela, como Alice, vivia solitária e infeliz achando a vida sem graça e sem brilho.
Ao se aproximarem do local, Alice começou  a achar tudo muito estranho. Ela conhecia bem aquele lugar. A primeira pessoa que ela viu no local foi sua colega de trabalho Elisabete. Só então lembrou-se que tinha marcado um encontro com ela, mas que tinha esquecido de ligar para desmarcar.
Elisabete levantou e deu um grito de felicidade quando as duas chegarem perto da mesa onde ela estava sentada. Alice estava pronta para pedir desculpas. No entanto, a colega adiantou-se:
- Pelo que vejo vocês duas já se conhecem.
Marta e Alice não entenderam nada e Elisabete sorrindo explicou:
- Marta, essa é a minha amiga Alice, a pessoa mais feliz que eu conheço nesse mundo. Ela vive sorrindo, trata a todos com gentileza, educação e nunca reclama da vida. Isso é ou não é ser feliz?
Bom domingo.

julho 04, 2015

Gargalhada no espelho.

Resultado de imagem para imagem de gargalhada no espelhoNão sei se acontece com você, mas, infelizmente, acontece comigo. Estou falando daquela mania que ás vezes pega a gente de ficar se achando pior do que os outros. Parece que o modelo de virtude, beleza, inteligência e todos os "predicados" possíveis acompanham outros "sujeitos". E esse "sujeito" aqui tem que se contentar adjetivos muito "mais ou menos".
Decidi botar um fim nessa palhaçada. Que história é essa de que se os outros têm as boas qualidades, os melhores predicados? Nada disso. Eu também quero ser um sujeito bem qualificado com todos os predicados e complementos a que tenho direito.
Decisão tomada, muito acertadamente, embora tardia, veio o pergunta; como? Porque eu não posso sair por aí exigindo que as outras pessoas passem a ver qualidades em mim da noite para o dia, não é mesmo?
Foi aí que resolvi começar por mim. Isso mesmo. E comecei tentando me ver com olhos menos críticos e cruéis, ser menos exigente comigo mesmo. É verdade que eu não tenho a altura ideal, a cor ideal, o peso ideal, aquela tal pegada que dizem que é tão importante, o jeitão de conquistador, a conversa fácil, o olhar cativante. Mas o que importa isso, não? O importante é que eu me queira bem, seja compreensivo com as minhas possíveis deficiências e passe a me olhar de um jeito mais, digamos,  complacente.
Penando assim corri para o espelho. No primeiro momento, cheguei a pensar em desistir. A figura que apareceu refletida nele me pareceu meio sem jeito. Já estava pronto para quebrar o pobre espelho quando resolvi tentar de novo e pude ver que a coisa não era tão desesperadora assim.
Com esse pensamento na cabeça, tive vontade de dar uma bela gargalhada. Foi o que fiz. E ela saiu bem sonora. Cheguei a temer que os vizinhos estivessem ouvindo aquele despropósito e levei a mão à boca numa tentativa de reprimi-la. A mão não chegou à boca. A gargalhada deu lugar a um sorriso de satisfação.
Satisfação pelo que eu estava vendo diante de mim. Pela primeira vez, me olhei de uma outra maneira. Me olhei de uma maneira simpática e amiga. E uma pergunta brotou em meus lábios:
- Sabia que você não é de se jogar fora?
A resposta veio logo:
- E não sou mesmo.
Desde então, tenho vivido assim, em lua de mel comigo. Parei de me maltratar com frases pejorativas, de me comparar com quer que seja e passei a me ver como realmente sou: alguém muito interessante e cheio de confiança na vida.

Bom domingo.

junho 28, 2015

Execração.

Conta a história, provavelmente fantasiosa, que o inventor do avião, Santos Dumont, teria cometido suicídio após perceber que sua invenção seria usada para fins bélicos. As imagens de aviões despejando bombas sobre cidades inteiras durante a segunda guerra mundial reforçam essa tese.
Verdade ou pura invenção, o fato é que estamos novamente diante de uns desses fenômenos em que um invento nascido para facilitar a vida das pessoas segue um rumo não muito agradável. Trata-se da internet, essa maravilha que transformou o mundo numa pequena aldeia, onde todos sabem de tudo tão logo as coisas acontecem.
Sem dúvida, isso é muito bom. A internet deu voz e visibilidade para todos. Nela não vale a força do dinheiro, o poder dos que pensam que mandam. Em segundos notícias se espalham com rastilho de pólvora, ideias são disseminadas. É aí que mora o perigo. Nem todo mundo é bem intencionado.
Como o avião de Santos Dumont, a internet tem sido usada para meios que talvez não tenha sido pensada. Entre os muitos usos "pouco salutares" está um que vem crescendo a cada minuto: sob a capa de que somos livres e podemos dizer o que bem pensamos, pessoas ou grupos vêm praticando verdadeiras execrações.
Basta que não gostem de uma simples fotografia para que digam (escrevam) as maiores barbaridades sem nenhum pingo de compaixão pela pessoa que vai ler o comentário. Estão usando a internet como verdadeiro escoamento de esgoto. Pessoas, protegidas (?) pelo anonimato, descarregam todo o ódio que têm dentro de seus corações por puro desejo de destruir o outro.
Vá lá que as pessoas perderam um pouco o senso de ridículo e postam tudo acreditando que aquela velha pergunta (o que vão falar de mim?) é coisa do passado ou de quem preocupa-se com a opinião alheia. Essas pessoas enganam-se e quando começam a ler os comentários feitos em suas postagens querem até "morrer".
Isso mesmo. Tem gente até "se matando" por causa disso. Não podemos confundir sinceridade com grosseria e desrespeito. Nem a internet, acredito, é território de guerra onde as pessoas tentam "matar" umas as outras através de palavras cortantes e demolidoras. 
Talvez a saída seja criar leis que punam esse tipo de crime e acabar de vez com esse falso anonimato do qual a maioria se vale. Do contrário, daqui a pouco não se poderá mais usar essa invenção que tantas benefícios trouxe ao mundo.

Bom domingo a todos.

junho 26, 2015

Preconceito: mais que fala, atitude.

É comum ouvirmos pessoas fazendo longos discursos contra qualquer tipo de preconceito. Algumas chegam mesmo a emocionar e convencer. Porém, muitas vezes tudo não passa de mero discurso retórico cheio de palavras bonitas, frases bem construídas, mas, infelizmente, ocas de qualquer significado na prática.
Talvez seja por isso que vemos crescer a cada dia as atitudes preconceituosas na nossa sociedade. As pedras atiradas na direção de um grupo de religiosos da linha do Candomblé e que atingiram uma garota de onze anos, não faz muito tempo, é prova disso.
Não tenho ciência se os atiradores de pedra tenham proferido palavras de insulto contra o grupo, apenas atiraram as pedras, ou seja, agiram. Pois é assim que o preconceito se manifesta: através das atitudes, das ações. Ao falarem, muito provavelmente, essas pessoas devem afirmarem-se contra o preconceito, mas ao agirem demonstraram exatamente o contrário.
Na hora em que é preciso provar o que afirmamos no discurso politicamente correto que fazemos questão de apresentar com pompa de circunstância por onde passamos a máscara cai e mostra-se a verdadeira face: o preconceito, a intolerância com quem é diferente de nós, com quem tem opções diferentes das nossas, com quem professa uma fé diferente da nossa,  tem uma cor diferente da nossas, um sexo diferente do nosso, uma idade de diferente da nossa, uma  condição social diferente da nossa.
Em suma, não suportamos o diferente. Agindo assim parece que estamos gritando o tempo todo que queremos um mundo onde todos sejam iguais, que pensemos e ajamos exatamente da mesma forma. É isso que as atitudes preconceituosas deixam transparecer. Mas será que um mundo de cheios de cópias de nós mesmos seria um lugar ideal para se viver?
Tenho a impressão de que não. Temos muito mais a aprender quando fazemos das nossas diferenças um meio para que nos conheçamos e nos compreendamos melhor. Se olharmos mais atentamente vamos descobrir que nem somos tão diferentes assim, que as diferentes opções encerram a mesma busca pela felicidade e que nessa busca não estamos lutando uns contra os outros. Muito pelo contrário.
Olhando mais um pouco veremos que até as religiões são muito parecidas e falam de um ser  supremo cheio de amor e misericórdia. Seja judeu, cristão, espírita,  muçulmano, budista. hinduístas não importa. O que precisamos é ter amor no coração e ver no outro alguém como nós: imperfeitos, procurando melhorar a cada dia.

junho 21, 2015

Remédio para todas as dores.

A oferta de remédio é grande. Basta ligar a televisão e eles estão lá gritando que têm a solução para todas as dores físicas que atrapalham a nossa vida. Alguns chegam a ser mais ousados e prometem dar um jeito também nas nossas dores espirituais.
Sabemos que é tudo promessa falsa. Eles não conseguem curar nem nossas cores físicas com suas drogas cada vez mais devastadoras que dirá as nossas dores da alma. Essas as drogas não podem dar jeito. Para curá-las precisamos, antes de tudo, abrir mão dos subterfúgios e das mentiras com as quais convivemos todos os dias.
Entre elas, a falsa ideia de que não se pode sentir dor. O que se prega é que antes mesmo que a dor venha, devemos mascará-la tomando esse ou aquele remédio. É como se vivêssemos eternamente tentando evitar sofrer. 
Será que viver é isso? Uma eterna e desesperada fuga do sofrimento? Por que evitamos tanto algo que sabemos ser a única condição para o nosso crescimento e descoberta das nossas próprias capacidades. Quando enfrentamos a dor e conseguimos superá-la nos sentimos mais fortes e capazes de encarar o que vem pela frente.
Por isso não devemos sair por aí tomando remédios, de que categoria forem, pensando que isso torna a vida mais fácil ou mais suportável. É claro que existem os remédios necessários para o bom funcionamento do organismo de algumas pessoas, não é desses que falo. Falo, sim, daqueles remédios que apenas entorpecem a dor por uns poucos momentos. Acabado o efeito a dor volta e, não muito raro, volta mais forte exigindo uma dose maior de remédio.
Tomar remédio que mascara dor, é querer enganar-se. Ou enfrenta-se a dor ou se faz algo realmente efetivo para livrar-se dela. Quase sempre, isso é uma questão de atitude física e mental. Se a dor é física, caminhe, movimente-se. Se a dor é do espírito, renove-se, mude seu padrão de pensamento. A chave pode estar aí. Deixe de se sentir uma casca de ovo, um cristal e passe a se ver com uma rocha resistente que aguenta sol, vento, chuva, calor, frio e permanece firme.
Não existe remédio melhor do que o pensamento firme, a fé, a confiança de que tudo sempre concorre para o bem. E esse remédio não custa nada além do esforço de se querer bem, de amar-se a si mesmo.

junho 13, 2015

Fé que discrimina.

Acredito que nunca se falou tanto religião como nos últimos tempos. E isso seria uma boa notícia, não fosse o motivo que tem levado a se tocar no tema com uma assiduidade quase acima do normal. O motivo tem sido, quase sempre, o ódio, a intolerância àqueles que professam uma fé diferente, aqueles que acreditam ou vivem de maneira diversa da que se convencionou ser a certa.
Em nome de Deus, entidade máxima das religiões, pessoas e grupos têm espalhado ódio e discriminação de uma forma assustadora. Os episódios envolvendo os muçulmanos na França não deixam dúvidas de que em nome da fé se promove barbáries.
Que fé é essa que não hesita em destruir o outro, que pratica atentados, que dissemina o ódio? Que fé é essa que prega a intolerância como caminho para chegar até Deus?
Antes, acreditávamos que esse era um problema dos outros, mas agora, com a visibilidade que algumas minorias vêm ganhando ( com justiça, diga-se de passagem) a coisa tem tomado outro curso. No Brasil, em nome de Jesus (não o Alá dos muçulmanos), tem-se levantado vozes contra tudo e contra todos que pensam de forma contrária à ordem vigente.
Fala-se em nome da família, em nome do povo. São pastores travestidos de políticos interessados somente nos votos que vão ganhar aparecendo na mídia dizendo absurdos. Um simples anúncio de perfume é motivo de polêmica. Parece que perdemos mesmo o senso ao falarmos em nome de um Jesus que veio ao mundo exatamente para acabar com as diferenças, que veio para nos fazer todos irmãos, filhos do mesmo Pai.
Se um homem vai dar presente no dia dos namorados para um outro homem, isso é problema deles. Independente da opinião de quem quer que seja, as pessoas trocam presente, tem relacionamentos homo ou héteros. É perda de tempo ficarem discutindo o que não lhes diz respeito.
O que diz respeito a um pastor é pregar a palavra de Jesus, e essa palavra é de amor e tolerância. Ao político cabe representar a vontade do povo. Somente isso. E não creio que o povo queira discriminar e disseminar ódio. O povo quer e precisa viver em paz. Que os nossos religiosos preguem o amor incondicional que Jesus ensinou e que os políticos, governem. O resto, é gente querendo ditar regras e suscitar diferenças. E disso, com certeza, não precisamos.

Bom domingo.