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junho 04, 2011

Tesouros na terra.

     A história que vou contar hoje poderia passar despercebida como muitas histórias passam despercebidas desde o início dos tempos: alguém nasce, tem uma vida relativamente longa e, consequentemente, morre. Nada  demais, não é mesmo? Afinal todos seguimos, com alguma variação aqui e ali, o mesmo roteiro. Não fosse a pessoa em questão alguém que nasceu numa Espanha que estava vivendo uma guerra civil ( a que levou Franco ao poder) e a segunda guerra mundial (a que dividiu o mundo entre socialistas e capitalistas, para ser um tanto simplista).
     Esse garoto viveu numa Espanha destruída por uma guerra civil e paralisada pela segunda grande guerra. Filho mais novo, o pai morreu quando ele nasceu, vivia numa pequena propriedade rural na Catalunha com a mãe e mais sete irmãos, assolados pela fome e pela falta de esperança em dias melhores. Por isso, o menino foi mandado para viver com um tio padre que queria que ele tivesse o mesmo destino. Sem vocação ou interesse pela vida religiosa. apesar do padre tentar seduzi-lo com a promessa de fazê-lo seu herdeiro, nosso herói acaba deixando o seminário e vai morar com uma irmã em Madrid, onde, mais uma vez seguindo um destino inexorável, entra para o exército, apesar de suas limitações físicas. Uma vez fora do exército, volta a viver com a irmã. Naqueles dias difíceis, ele é um peso para a irmã e o cunhado. É quando alguém lembra-se que ele tem um irmão que migrou para o Brasil há algum tempo e que escreve cartas entusiasmadas sobre aquele país da América do Sul, para eles desconhecido, mas que pode ser a salvação para quem vive num país destruído e sem emprego.  A decisão de vir para o Brasil é tomada, porém falta o dinheiro para a viagem. Tudo é resolvido através de uma carta ao irmão pedindo o dinheiro da passagem. O dinheiro chega e  ele embarca num navio para o Brasil. A viagem dura cerca de dois meses.
     O ano era 1956 e o Brasil que recebe aquele imigrante é o país de Juscelino Kubitschek (cinquenta anos em cinco) que, apesar de todas as misérias, vivia um período de euforia e crescimento. Logo, nosso personagem vai estar trabalhando juntamente com o irmão que, segundo ele, era engenheiro, na construção de Brasília. Os problemas de dinheiro e falta perispectiva de futuro tinham ficado para trás. No Brasil, o garoto miserável da Espanha, tinha a chance de vislumbrar um futuro melhor. Com o irmão monta uma pequena construtora e a vida segue seu rumo. Mas o destino lhe prega uma peça: o irmão , que sofria com o calor dos trópicos, tem um derrame cerebral e morre. Sozinho no Brasil. ele se vê obrigado a sobreviver a qualquer custo. Diferente do irmão , ele não tem profissão e fala muito mal o português. É ajudado pelos amigos de seu irmão e decide permanecer no país, onde casa-se com uma boliviana.
     Sua vida viria a mudar quando ele compra um apartamento a prestações num prédio em construção no Flamengo.  Depois de esperar anos para receber o apartamento, um conjugado de fundos medindo vinte metros quadrados, ele se torna sindico do prédio: um verdadeiro cheque em branco, assinado. Os anos passam e nosso herói (?) usando de meios pouco ortodoxos se perpetua no poder como sindico, tornando-se ano após ano uma pessoa temida e odiada por tantos quantos o conheciam.  Muito gordo, baixinho (cerca de um metro e quarenta), uma voz estridente, um sotaque acentuado e uma aparência um tanto feminina, que gerava muita confusão em quem o via, ele era capaz de qualquer coisa para manter o seu posto. Tornou-se, aos poucos, uma figura folclórica no Catete, Flamengo e arredores, encarnando como ninguém o jeitinho brasileiro de fazer política e para aprender a falar o português chegou a esquecer o espanhol.
     Nessa altura você deve estar perguntando: por que diabos ele está contando essa história? O que nós temos com isso? Espera lá. Calma. Eu tive a sorte ou o azar de trabalhar com esse senhor durante dezenove anos. Sim, dezenove anos. Tive com ele uma relação muito difícil pelo fato dele ter sido um patrão cruel e perverso,  um ditador que fazia questão de que todos vivessem segundo às suas leis. Dividi a mesma sala com ele todos esses anos e nosso relacionamento era o pior possível. Não sei dizer porque trabalhei com ele tanto tempo. Provavelmente porque nós tínhamos algum resgate juntos ( acredito que não estamos aqui por acaso e que tudo tem uma razão de ser) e eu não sou de fugir dos problemas.  Além de, como ele, também migrei para essa cidade e tive que me sujeitar a trabalhar, não onde eu queria, mas onde me deixavam trabalhar.
     O fato é que esse senhor veio a falecer em meados de maio deste ano. Desde então seu estilo de vida tem me feito pensar: o que leva uma se a amealhar uma verdadeira fortuna durante sua vida e viver como um verdadeiro mendigo? O dinheiro que ganhava (que não era pouco) ele convertia em dólares e guardava, mas recusava-se a gastar, recusava-se a viver com um mínimo de dignidade e dar dignidade àqueles com os quais convivia. Ao ficar doente foi para um hospital público como um simples aposentado do INSS. Quando alguém falava com ele sobre sua vida "franciscana", ele dizia que estava guardando dinheiro para sua velhice. Velhice que já tinha chegado há bastante tempo, pois ele morreu aos 81 anos. Morreu sem gastar o dinheiro que juntou, sem viver a vida que o dinheiro pode proporcionar e sem o amor das pessoas.
     Sua morte me deixou triste por ter presenciado uma pessoa juntar tesouros aqui na terra acreditando que era isso o que valia a pena, quando na verdade da vida não se leva nada além das nossas obras de amor e caridade. Mesmo passados tantos anos e as parábulas de Jesus serem do conhecimento de todos, ainda é possível ver pessoas vivendo de forma tão materialista juntando tesouros na terra.
     Que todos vivamos certos de que a terra e seus tesouros passam e que, ao deixá-la, tudo o que juntamos de material fica aqui mesmo, nada levamos além da nossa história e dos nossos feitos.

maio 28, 2011

É preciso manter a fé, sempre.

     Não seria nenhum exagero afirmar que nós, no geral, somos pessoas de fé,  É característico dos seres humanos estarem sempre com um olho no futuro onde se acredita que tudo será melhor. Dificilmente imaginamos um por vir cheio de catástrofes e tragédias. Pelo contrário, num futuro imediato ou à perder de vista, visualizamos sempre coisas boas onde, vencedores, estaremos apenas colhendo os louros de nossos esforços ou (por que não?) da nossa sorte.
     Alguns chamam a isso de pensamento positivo, outros de que se trata de pura ilusão e há os que acham que aqueles que vêem a vida dessa maneira estão apenas querendo enganar-se. Seja lá o que for, eu costumo ver isso como o que as religiões costumam chamar de fé. No caso das religiões, elas pregam a fé num deus, em objetos, geralmente forças que estão fora de nós. É lógico que isso é válido. Trata-se da fé no criador de todas as coisas e, inclusive, nosso criador.
     Nesse caso, prefiro chamar a atenção para a fé que devemos ter em nós mesmos, na nossa capacidade, não só conseguir feitos grandiosos, mas de nos manter acessos mesmo naqueles momentos de fortes tempestades. Naqueles momentos em que tudo parece ruir à nossa volta e que não temos nada a que nos apegar. Momentos em só conseguimos visualizar a palavra fim e nós lá caídos enquanto sobem os créditos do filme da nossa vida.
     É de fé que precisamos nesses momentos. De fé na vida, em Deus, no mundo, mas, acima de tudo e qualquer coisa, fé em nós mesmos. Pois é aí que aquela nossa característica fé no futuro costuma mostrar que não é tão inabalável assim. É quando perdermos a fé em tudo e, principalmente, em nós mesmos. Aí de nada adianta um deus super poderoso pronto para nos ajudar, se não acreditamos em nós, se não temos consciência da nossa capacidade e da nossa força. Você pode achar que não, mas somos nós que ajudamos a Deus a nos ajudar e isso ocorre através da fé que temos de que podemos atrair a bondade de Deus, que merecemos aquilo que almejamos.
     Acredito na força da fé e em sua capacidade de transformar as coisas. Talvez não seja possível mensurar objetivamente a fé. Porém, ninguém pode negar a  diferença entre uma pessoa que tem fé e outra que vai levando a vida sem apostar em si, sem levantar-se da cama todos os dias disposta a escrever uma história de vitória, de superação.
     Por isso, todas aquelas vezes em que você sentir  que nada tem mais jeito, essa é a hora de renovar as apostas em você mesmo. É nesse momento em que devemos crer mais ainda. Quando tudo parecer estar perdido, creia mais. Aumente a dose da sua fé. É claro que não precisamos esperar que as coisas cheguem a esse ponto, mas se chegar, não tenha dúvida: creia. Você pode tudo.

maio 21, 2011

Pena não ter dito que te amava.

     A frase do título não é a única. Existem outras formas de dizer que nos arrependemos de não termos sido mais explícitos ao verbalizar aquilo que estávamos sentindo em relação à alguém que vivia ao nosso lado, que estava sempre ao alcance da nossa mão e que, de repente, saiu da nossa vida e só então nos demos conta da importância que aquela pessoa tinha em nossa vida.´
     Esse afastamento pode ocorrer por morte (talvez a pior de todas elas, por quase sempre não depender da nossa vontade, nem da vontade da pessoa), por mudança (bairro, cidade, estado, país), briga, rompimento amoroso, separação, por nossa simples vontade, enfim, toda uma gama de situações às quais estamos expostos no nosso dia a dia.
     Apesar dos ares folhetinescos da situação, ela ocorre mais vezes em nossas vidas do que podemos supor. Quem não viveu uma situação parecida algum dia na vida, não é? É muito arriscado apostar num não. Até porque estamos envolvidos com pessoas desde que nascemos: primeiro são os nossos pais, irmãos, avós, tios, primos, vizinhos, colegas de rua e de escola e vai por aí. Não há como escapar de conviver com pessoas e, por algum motivo, muitas vezes inexplicável, não perceber o quanto elas são vitais para nós.
     Basta que esta pessoa (ou pessoas) saia de nossa vida para que descubramos que ela não era uma pessoa qualquer, que não estava apenas fazendo figuração em nossa vida, que sua presença tinha uma razão de ser e que, o pior de tudo, sentimos sua falta.
     Trata-se de uma situação delicada, triste, difícil de encarar. Para muitos, é hora de cantar aquele bolerão da Maísa: "E o mundo caiu". Brincadeira à parte, muitos enfrentam sérias dificuldades para atravessar esses momentos e, muitas vezes, precisam da ajuda de profissionais para poder seguir em frente sem a tal pessoa antes praticamente invisível e que, de uma hora para outra, se transforma no ar que respiramos, na nossa razão de viver. Parece exagero, não? Mas infelizmente não é. A coisa é brava mesmo. Dor de amor, de saudade, de arrependimento é, como diz no salmo: "ferida que dói e não se sente".
     Há também aqueles que buscam ajuda na fé. São aqueles que vão buscar consolo nas  religiões (inclusive aquelas que prometem trazer a pessoa amada em três dias) tornando-se seguidores, não pela doutrina em si, mas pela necessidade de respostas para sua dor. Talvez aí esteja o perigo. Essa dor só o tempo pode curar. Não adianta querer milagres. E ela pode nos proporcionar um grande salto rumo ao entendimento da vida. É verdade que muitos se tornam amargos após viver suas desilusões, mas que elas ensinam, ensinam. Saímos mais maduros e prudentes, não é?
     O fato é que precisamos prestar mais atenção naqueles que vivem ao nosso lado, com os quais dividimos as nossas vidas. Ninguém é para sempre. Um belo dia vem uma onda e carrega as pessoas para  longe. Pode ser até que nós mesmos a qualquer momento possamos partir para outro lugar e ter que nos separarmos daqueles com os quais convivemos. Que saibamos externar os nossos sentimentos enquanto essas pessoas estão próximas a nós sem medo  de ser meloso ou fraco. Pelo contrário, os bons sentimentos são a nossa fortaleza, são eles que nos mantém ligados ao mundo, ao universo.
      Não perca a chance de demonstrar o seu sentimento àqueles que você ama. A hora é agora:  Eu te amo.

maio 14, 2011

O lugar que ocupamos no mundo.

     É muito comum passarmos a vida inteira (ou parte dela) lutando para conseguir alguma coisa que queremos bastante (pode ser posição social, emprego, formação cultural, amor, casamento ou qualquer outra coisa) e tão logo e arduamente conseguimos passamos a ter uma série de questionamentos: "Será que eu merecia tudo isso?" "Será que eu não estou tomando o lugar de alguém?" Poderia listar aqui um monte de perguntas que passamos a nos fazer. Passamos a agir como se conseguir as coisas num mundo onde, não raro, as pessoas costumam ficar de braços cruzados esperando que tudo lhes caia do céu, fosse pecado.
     Parece absurdo, mas é exatamente assim que querem que nos sintamos: culpados. Transformam as nossas lutas, nossa busca pelo conhecimento, nossa força para enfrentar as adversidades, nossa capacidade de se reinventar, nossos objetivos de melhorar de vida apenas como se fossem coisas de gente ambiciosa, que não aceita as suas limitações e que quer ocupar um lugar que não é seu.
     Não acredite nisso. Você tem o direito (e o dever) de sempre querer o melhor. Mais do que isso, temos que nos convencer que somos criados por Deus e que Ele preparou um caminho para nós nesse mundo que só nós podemos trilhar, mais ninguém. Sendo assim, não precisamos ter dúvidas quanto ao lugar que ocupamos, seja ele qual for. Nunca estamos ocupando o lugar de ninguém, ainda que isso possa parecer. 
    Não dê ouvidos à pessoas que, por não terem coragem de ir à luta, vêem qualquer iniciativa alheia de sair da inércia como uma provocação. E essas pessoas estão sempre por perto para nos lembrarem que estamos sonhando demais, querendo demais, enfim, elas querem que você desista de lutar, que você faça parte do time daqueles que não têm coragem de sair da caverna por medo do que vão encontrar do lado de fora.
     É claro que não é fácil se tornar uma pessoa corajosa e destemida da noite para o dia, pois somos condicionados para agir forma contrária. Na maioria das vezes somos convencidos a permanecer do jeito que estamos. Há quem diga que não se deve mexer em time que está ganhando. Pode até ser que isso funcione no mundo do futebol, mas na vida devemos estar sempre procurando nos desafiar, dar um passo à frente, descobrir e aprender coisas novas. É preciso estar constantemente reagindo contra o comodismo que impera em nossa volta, contra a nossa falta de fé.
     Portanto, se você está ocupando o primeiro lugar é porque esse lugar é seu. Você lutou, fez por merecer, conquistou e é isso que importa, não é? Caso você ainda esteja no caminho para chegar até esse sonhado posto, não desista de sua luta. Cada dia é um novo começar, uma nova chance que nos é dada. Só precisamos estar alerta e não perder nossos objetivos de vista. O resto é apenas papo de quem não tem coragem de ir à luta.

Boa sorte!

maio 07, 2011

Mandar sem ferir

     Acredito que quase todo mundo sonha em um dia estar à frente de alguma coisa, no comando, tomando decisões. Parece sempre muito bom quando nos imaginamos nessas situações, não? E isso não se dá apenas no âmbito profissional onde a luta por um cargo de chefia pode ter desdobramentos inimagináveis. Em praticamente tudo na vida de qualquer um, em determinado momento, alguém tem que estar  à frente organizando tudo, mostrando o caminho a seguir. Não porque as pessoas não tenham capacidade de agirem sozinhas, mas pelo fato de que para se agir em grupo é preciso que haja um objetivo comum, não é mesmo? Caso contrário, teremos cada um fazendo aquilo que acha melhor, mas que não condiz com o senso comum.
     Portanto, não podemos negar que uma pessoa no comando é sempre necessário ou até imprescindível. Só que, não raro, essa pessoa acaba por ter muitos problemas no exercício desse comando. Algumas pessoas se revelam autoritárias demais, outras se mostram fracas e confusas e poucos são aquelas que conseguem exercer seu trabalho sem criar inimigos ferrenhos ou até mesmo os famosos bajuladores. Definitivamente, mandar não é uma tarefa fácil. Mandar com doçura, sem gerar raiva, ciúme, inveja, descontentamento é tarefa quase impossível.
     É comum as pessoas confundirem autoridade com autoritarismo. Ao se virem em postos de comando, algumas pessoas acabam revelando um caráter duro, inflexível, do tipo que não ouve opiniões dos outros e passam a agir como verdadeiros donos da verdade. Só vale aquilo que eles pensam e não admitem serem contrariados. Isso termina por gerar situações desagradáveis sem proveito para ninguém.
     Um cargo de chefia pode ser um grande salto na vida de uma pessoa, como também pode ser a sua queda. Ao se vir exposta uma pessoa tanto pode revelar suas grandezas, seus talentos, mas também pode deixar transparecer suas fraquezas, suas inseguranças, medos e mesmo um caráter pouco admirável. Por isso, precisamos ter muito cuidado quando somos colocados (ou nos colocamos) em posição de comando. O risco é muito grande. Ascensão e queda andam sempre juntas. Não se pode vacilar.
     Outra coisa que não se pode esquecer é a má vontade que as pessoas geralmente têm com os chefes e afins. Eles normalmente são vistos como verdadeiros diabos,  ditadores, seres que agem sem nenhuma piedade para com os seus comandados e que estão sempre prontos a tirar o seu sangue até a última gota. Exageros à parte, podemos admitir que esse tipo até exista, porém tem-se que levar em conta que ninguém gosta daqueles que mandam. Muitas vezes é essa má vontade que leva muitos chefes a mostrarem suas garras afiadas. Seria, grosso modo, uma forma de proteção.
      Sem dúvida, é preciso ter humildade tanto para ser comandado quanto para comandar. Os lados da moeda são difíceis de encarar. Para facilitar as coisas, basta que nos coloquemos nas duas posições. Dessa maneira poderemos entender aquele manda e o que é mandado. Como gostaríamos que agissem se estivéssemos nessa ou naquela situação? A resposta deve nos levar a ação.

abril 30, 2011

Verdade ou pura convenção?

     Acho que todo mundo, em algum momento da vida, principalmente se esteve enfrentando algum tipo de dificuldade, deve ter ouvido algo parecido com: " Qualquer coisa que você precisar, não se acanhe, me procura ou me liga. Estou à sua disposição." No momento essa fala soa como um bálsamo. Você tem a sensação de que não está sozinho. Qualquer coisa pode procurar aquela pessoa que acaba de se oferecer, tão prontamente, sem até que você pedisse. Só que... A coisa não é bem assim.
     Muitas vezes (praticamente sempre) o oferecimento não passa de uma simples convenção.  A pessoa que as profere ou não tem a mínima intenção de lhe ajudar ou se quer fazê-lo não tem condições para isso. O pior de tudo é que, por estar muito necessitado de ajuda naquele momento, você acaba acreditando. Pega o telefone e liga ou vai bater na porta da pessoa. Quase sempre (eu já vivi essa situação) o que se vê é uma pessoa constrangida que não se lembra de ter lhe oferecido ajuda (até porque o fez praticamente sem perceber que fez) e que não tem a menor ideia de como ajudar. E isso só faz aumentar o  problema, pois levado pela necessidade de sair daquele sufoco você acabou acreditando que aquela pessoa lhe traria a solução e até deixou de buscar outras saídas. Resultado: além de tudo, você sente que foi enganado.
     Isso  se dá em todo tipo de situação. Desde um amigo ou simples conhecido que ao saber que você passa por esse ou aquele problema anuncia uma solução mágica ou um profissional ao qual você recorre. Entre os profissionais, os mais comuns são os médicos e dentistas. Eles sempre se colocam à disposição a qualquer hora do dia ou da noite. Qualquer coisa você pode ligar e eles estarão a postos. Para isso dão telefone (vários), e-mail, sms, bip, facebook, orkut, tudo que se pode imaginar. Mas na hora h estão sempre bem longe ou simplesmente não atendem ao chamado. Ou seja, tudo não passa de mera convenção. Oferecem uma ajuda ou um serviço que não querem ou não podem prestar.
     Para ser sincero, eu nunca acredito quando um amigo ou um profissional profere essas palavras mágicas. Por experiência sei que estão apenas cumprindo um dever social, profissional. Por trás dessas palavras (infelizmente) existe muito pouco de verdade, de sinceridade. Elas são ditas apenas para que o interlocutor se livre da pessoa à sua frente. Até porque não existe possibilidade de, por exemplo, um dentista ficar vinte e quatro horas à sua disposição caso você sinta uma dor. Afinal, como qualquer pessoa, ele tem outros interesses, tem sua vida, sua família, seu lazer, seu descanso.
     Porém, é preciso levar em conta que as pessoas têm por hábito acreditar naquilo que ouvem. Algumas até muito mais que outras. Vá lá que precisamos de convenções para poder viver em sociedade. Seria muito estranho se ficássemos o tempo todo dizendo verdades, sendo extremamente sinceros. O convívio seria muito tumultuado. Mas certas convenções acabam gerando mais confusões do que se optássemos por usar de sinceridade. Isso evitaria de alguém bater em nossa porta no meio da noite cobrando aquela ajuda prometida só para ser socialmente agradável.

    

abril 23, 2011

Enfrentando os nossos medos.

     Há quem diga que eles são os nossos melhores conselheiros e que por tê-los nós deixamos de fazer muitas besteiras cujas consequências nem podemos calcular. Vá lá que isso seja verdade. Mas por tê-los também deixamos de fazer muitas coisas que poderiam dar um novo sentido para nossas vidas e tirarmos do marasmo que muitas vezes nos encontramos exatamente por causa da nossa falta de coragem de dar um passo rumo à concretização de nossos sonhos ou simples rotinas de nossas vidas.
     Não é preciso de dizer que estou falando deles: os medos. Esses sentimentos (eles são muitos) que nascem, muitas vezes sem uma explicação lógica ou razoável, e que vão tomando conta da gente.  Começam pequenos, quase de forma imperceptível e vão se agigantando dentro nós. Quando você menos espera está paralisado, sem ação por causa de um deles.
     Quem mora no campo pode ter  medo de ser atacado por uma onça faminta, uma cobra venenosa ou que um raio caia na sua cabeça durante uma tempestade. Só que a maioria vive na cidade e os medos são outros: medo de assalto, tiroteio, desemprego, fome, falta de habitação, medo de chuvas e alagamentos (que na cidade provocam mais estrago que qualquer raio) e medos mais, digamos, modernos como medo de avião, medo de sair de casa, medo de elevador, medo de multidão, medo de abandono, medo da solidão e vai por aí. O que não faltam são situações em nos sentimos quais crianças abandonadas, perdidos sem saber como dar um passo e nos livrar daquilo que não nos deixa seguir em frente.
     É claro que esse é um assunto para especialistas, coisa que eu não sou. Mas o fato de ser humano e também ter que conviver com alguns medos, me leva a tocar no assunto. Tenho aprendido com o correr dos anos que medos existem para serem enfrentados. Eles são peças fundamentais para o nosso crescimento seja espiritual e até material. Só quando nos dispomos a enfrentá-los é que conseguimos sair do casulo em que vivemos por falta de coragem de descobrir que temos capacidade de voar bem alto.
     É verdade que quando voamos saímos da terra firme e ganhamos os céus e isso pode assustar no início, mas logo vamos perceber que não precisamos de tanta segurança assim. Até por que, estar firme no chão só nos limita e isso não é segurança. É apenas uma fórmula que encontramos para explicar a nossa falta de coragem para enfrentar a vida.
     Portanto, não cultive medos. Não se orgulhe deles. Pelo contrário, livre-se deles. Livre-se de todos eles. Eles não servem para nada. Vá lá que devemos pensar uma, duas, ou quantas vezes forem necessárias para dar um passo, mas só não podemos é ficarmos reféns de nossas dúvidas  receios e medos. Agir com cautela é diferente de se render aos medos. Os medos são monstros que precisamos enfrentar para que eles não nos impeçam de viver e desfrutar do que a vida tem de melhor.

Feliz Páscoa para todos!