Neste capítulo, Joel é ferido por Zelão e é abandonado à própria sorte. Enquanto isso, sua mãe, dona Margarida, sofre com a falta de notícias suas.
SÓ A VIDA ENSINA
Capítulo 12
CENA 1 – EXTERNA/NOITE – TERRENO BALDIO
JOEL, ZELÃO, SUZI E O PESSOAL DO ACAMPAMENTO.
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 8 DO CAPÍTULO 11
JOEL ESTÁ CAÍDO NO CHÃO, SANGRANDO. ZELÃO PERMANECE COM O CANIVETE NA MÃO. SUZI CORRE PARA ACUDIR JOEL.
JOEL – Você me feriu, desgraçado.
SUZI – O que você fez, Zelão? Ele está sangrando.
ZELÃO – Isso é para ele aprender que quem manda aqui sou eu.
SUZI – Ele precisa ser levado para um hospital, Zelão. Ele está sangrando muito.
ZELÃO – Nada disso. Ele vai sangrar até morrer. Quem mandou se meter com mulher minha?
SUZI – Eu não sou sua mulher.
ZELÃO – Vai querer um furo também? (TEMPO) Olha ai, pessoal. Pega esse cara e coloca lá no fundo do acampamento.
ALGUNS HOMENS PEGAM JOEL E ELE GEME DE DOR.
SUZI – Não faz isso, Zelão. Ele precisa de ajuda.
ZELÃO – Nem se atreva, Suzi. Ele não sai daqui. (TEMPO) Aí, pessoal. Pega uma corda e amarra bem. E que alguém fique vigiando. (TOM) Eu não quero que ninguém ajude esse cara. Ouviram bem?
SUZI – Por que essa maldade, Zelão?
ZELÃO – Leva logo.
OS HOMENS PEGAM JOEL E LEVAM EMBORA. ELE GEME DE DOR E PELO CAMINHO VAI FICANDO UM RASTRO DE SANGUE.
CORTA PARA:
CENA 2 – EXTERNA/NOITE – FUNDOS DO ACAMAPAMENTO.
OS HOMENS CHEGAM CARREGANDO JOEL. ELES O JOGAM DE QUALQUER JEITO NO CHÃO. ELE GRITA DE DOR. OS HOMENS PEGAM UMA CORDA E AMARRAM OS PÉS E AS MÃOS DE JOEL. FEITO ISSO, ELES VÃO SAINDO.
JOEL – Ei. Não me deixem aqui. Eu preciso ir para um hospital. Eu preciso de ajuda.
HOMENS PARAM E FICAM EXISTANTES.
HOMEM 1 – Se ele ficar aí, vai sangrar até morrer.
HOMEM 2 – O Zelão disse que não é para ninguém ajudar.
HOMEM 1 – É muita covardia. O homem está ferido. Ele está sagrando como um porco. Olha essa barriga aberta.
HOMEM 2 – Isso não é problema nosso. (TEMPO) E você vai querer enfrentar o Zelão, vai? Vamos embora.
JOEL – Me ajudem, por favor. Não me deixem aqui.
OS HOMENS VIRAM AS COSTAS E SAEM.
CORTA PARA:
CENA 3 – EXTERNA/NOITE – TERRENO BALDIO
SUZI E ZELÃO.
SUZI – Deixa levarem ele para o hospital, Zelão. Se ele continuar sangrando daquele jeito ele vai acabar morrendo.
ZELÃO – Você não acha que está muito preocupada com ele, não? (TEMPO) O que é? Não vai me dizer que levou a sério a brincadeira de seduzir o idiota?
SUZI – (TOM) Não é nada disso.
ZELÃO – Então o que é?
SUZI – (TEMPO) Ele não está acostumado com esse nosso tipo de vida.
ZELÃO – Pode deixar. Se ele sobreviver, vai ficar igualzinho a todo mundo. Quantos já chegaram aqui cheios de coisa e logo se dobraram? Com ele não vai ser diferente.
SUZI – E se ele morrer?
ZELÃO – A gente pega o corpo e joga na rua.
OS HOMENS SE APROXIMAM DE ZELÃO E AVISAM QUE FIZERAM O QUE ELE MANDOU. SUZI DEMONSTRA PREOCUPAÇÃO E ZELÃO FICA DE OLHO NELA.
CORTA PARA:
CENA 4 – EXTERNA/DIA – TERRENO BALDIO
O DIA AMANHECE. TODOS AINDA DORMEM NO ACAMAPAMENTO. SUZI ESTÁ DEITADA AO LADO DE ZELÃO. ELA SE LEVANTA, PEGA ALGUMAS COISAS E SAI. ZELÃO ABRE OS OLHOS E A VÊ SAINDO.
ZELÃO – O que você está arrumando, Suzi?
ZELÃO LEVANTA-SE E PEGA UMA PANELA E COMEÇA A BATER NO FUNDO DELA COM UM PEDAÇO DE PAU.
ZELÃO – Vamos lá, macacada. Hora de acordar.
ZELÃO CONTINUA BATENDO NA PANELA E O POVO VAI DISPERTANDO, PREGUIÇOSAMENTE.
CORTA PARA:
CENA 5 – EXTERNA/DIA – FUNDOS DO ACAMPAMENTO
JOEL ESTÁ JOGADO NO CHÃO COM OS PÉS E AS MÃOS AMARRADOS. ELE ESTÁ MEIO FORA DE SI. PARECE DORMIR, MAS GEME. O SANGRAMENTO PAROU. SUZI SE APROXIMA E SE ALARMA COM O QUE VÊ.
SUZI – O que é isso? (TEMPO) Joel, Joel... Acorda.
JOEL – (DESPERTANDO) O quê? O quê?
SUZI – Você está bem?
JOEL – Me ajude a ir para um hospital. Eu preciso...
JOEL PERDE AS FORÇAS E SUZI PERCEBE QUE ELE ESTÁ SUANDO MUITO. ELA COLOCA A MÃO EM SUA TESTA.
SUZI – Você está queimando de febre. Preciso dar um jeito de tirar você daqui.
SUZI DESAMARRA JOEL.
SUZI – Vamos lá, Joel. Tenta se levantar. Eu te ajudo.
JOEL SE ESFORÇA PARA LEVANTAR, MAS NÃO CONSEGUE.
SUZI – Pelo menos se tivesse alguém para ajudar.
ZELÃO APARECE POR TRÁS.
ZELÃO – Eu não sirvo?
SUZI – Zelão?
ZELÃO – Está querendo desobedecer as minhas ordens, Suzi?
SUZI – Ele precisa de ajuda, Zelão. (TOM) Deixa levar ele para um hospital.
ZELÃO – (TOM) Não. Ele precisa aprender a respeitar a minha autoridade. (TEMPO) Larga isso aí e vai fazer o meu café.
SUZI SAI E ZELÃO SE APROXIMA DE JOEL.
JOEL – Me leva para um hospital, Zelão. Eu não vou aguentar.
ZELÃO – Devia ter pensado nisso antes de se meter com a minha mulher e querer achar que era diferente dos outros. Depois desse furo, você se iguala a todo mundo aqui. (TEMPO) Se bem que eu posso facilitar a sua vida.
JOEL – Como?
ZELÃO – Tenho aqui uma pedra de crack. Quer?
JOEL – Eu não mexo com isso?
ZELÃO – Eu sei que você prefere cachaça. Também trouxe aqui uma garrafinha para você. Mas eu faço questão que você queime essa pedra.
ZELÃO ENTREGA A GARRAFA DE CACHAÇA E JOEL A LEVA DIRETO À BOCA.
ZELÃO – Agora você queima essa pedra e vai ver como se sente melhor.
ZELÃO AJUDA JOEL A USAR O CRACK.
CORTA PARA:
CENA 6 – INTERNA/DIA – CASA DE BERNADETE – SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ SENTADA NO SOFÁ. BERNADETE ENTRA VINDO DA RUA. ELE VÊ DONA MARGARIDA E VAI ATÉ ELA.
BERNADETE – Que tristeza é essa, mãe?
DONA MARGARIDA – É o seu irmão, Bernadete. Desde que ele me deixou aqui que não deu mais notícias. O que é feito dele, filha? Onde será que ele está vivendo?
BERNADETE – O Joel, sempre o Joel. Ele não se cansa de causar preocupação. Quando é que ele vai tomar jeito na vida?
DONA MARCARIDA – Seu irmão é uma boa pessoa, filha. Só é um pouco atrapalhado.
BERNADETE – Ele é muito atrapalhado, mãe. Pode deixar. Eu vou dar um jeito de procurar aquele amigo dele, o Fábio. Quem sabe ele tem notícias dele
DONA MARGARIDA – Faz isso, filha. Eu não me aguento de preocupação.
BERNADETE – Eu faço sim, mãe. Mas agora, vamos melhorar essa carinha triste.
DONA MARGARIDA – Enquanto não tiver notícias do seu irmão eu não me sossego. Às vezes tenho tido uns pressentimentos ruins.
BERNADETE – Deixa de bobagem, dona Margarida. O Joel sempre foi esperto. Ele deve estar muito bem.
CORTA PARA:
CENA 7 – EXTERNA/DIA – TERRENO BALDIO
ZELÃO ESTÁ PARADO. SUZI CHEGA.
ZELÃO – E então?
SUZI – Ele piorou muito, Zelão. Acho que ele não vai aguentar não. O ferimento está muito infeccionado. (TEMPO) Estava pensando em chamar o seu Ramiro.
ZELÃO – (TOM) Eu não quero aquele velho aqui.
SUZI – Nesse caso, o Joel vai morrer.
ZELÃO – E você está com pena?
SUZI – É gente como a gente, Zelão.
SUZI – É só isso mesmo? (TOM) Cuidado, Suzi. Você sabe que aqueles que não se dobram à minha autoridade acabam morrendo.
CORTA PARA:
CENA 8 – EXTERNA/DIA – PORTA DO PRÉDIO ONDE FUNCIONA A FIRMA EM QUE JOEL TRABALHAVA.
BERNADETE ESTÁ PARADA. FÁBIO CHEGA.
FÁBIO – Desculpa o atraso, Bernadete. É que agora eu sou chefe. Nem sempre dá para sair. O seu Olavo...
BERNADETE – Eu é que peço desculpa, Fábio. (TEMPO) Estou atrás de notícias do Joel. Você sabe dele?
FÁBIO – Não, Bernadete. Faz tempo que não vejo o Joel.
BERNADETE – Ele não tem dado notícias, Fábio. Minha mãe anda muito preocupada.
FÁBIO – Pode deixar, Bernadete. Eu vou tentar localizar o Joel e entro em contato com vocês. (TEMPO) A dona Margarida está bem?
BERNADETE – Dentro do possível. O problema dela é o Joel. Ele não cansa de dar preocupação.
CORTA PARA:
CENA 9 – EXTERNA/DIA – PORTA DA RODOVIÁRIA NOVO RIO
VERINHA SURGE NO ALTO DA ESCADA ROLANTE. ELA DESCE CARREGANDO ALGUMAS MALAS E CAMINHA PARA O PONTO DE TÁXI. CONVERSA COM O MOTORISTA E ENTRA NO TÁXI. O TÁXI SAI.
CORTA PARA:
CENA 10 – EXTERNA/NOITE – FUNDOS DO TERRENO BALDIO
JOEL ESTÁ DEITADO NO CHÃO PRATICAMENTE INCONSCIENTE. ZELÃO, SUZI E ALGUNS HOMENS ESTÃO DO LADO DELE.
SUZI – Não faz isso, Zelão.
ZELÃO – E qual saída que eu tenho? Esse homem não pode morrer aqui. Se isso acontecer, a polícia vai bater aqui. (PARA OS HOMENS) Pega e joga bem longe daqui.
OS HOMENS PEGAM JOEL E VÃO SAINDO. SUZI SE COLOCA NA FRENTE DELES.
SUZI – Não!
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO
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