Hoje a "Sopa das quartas-feiras no Largo do Machado, faz cinco anos. Tenho motivo de sobra para comemorar, afinal são cinco anos de um trabalho com o qual sempre sonhei. As pessoas não fazem ideia do número de pessoas que vivem pelas nossas ruas, principalemente à noite, disfarçadas de simples transeuntes e que no fundo só estão à espera que o movimento diminua ou acabe para que elas se acomodem num cantinho e possam dormir ou simplesmente descansar o corpo. É esse o principal alvo da "Sopa": pessoas que vivem nas ruas, em sua maioria provinientes de outras cidades, desempregados, vencidos pelos vícios, ex-presidiários, pessoas que vivem à margem da nossa tão decantada "boa sociedade". A "Sopa" não faz distinção de pessoas e todos aqueles que querem tomá-la são benvindos. Sabemos que nossas ruas estão cheia de marginais, fugitivos da polícia, pivetes, mas não somos juizes de nada e nem de ninguém. O que sabemos é que existe uma situação de orfandade, um abandono generalizado, um "não estou nem aí" que a cada dia se torna mais visivel. Não como ignorar a situação de nossas ruas, o número de crianças e mendigos nas ruas é cada vez maior. Em nossas caminhadas pela cidade encontramos famílias inteiras, crianças nascem e crescem nas ruas, às vistas de todos, poder público e sociedade. Nesses cinco, não contei quantas quartas-feiras foram, apenas sei que não faltamos nenhuma desde então, pois firmamos um compromisso com esses nossos irmãos de rua e não podemos recuar. Apesar de a cada quarta-feira apresentar sua peculiaridade, nunca somos recebidos da mesma forma, as vezes afetuosamente, as vezes com indeferença ou até violência como o dia em que uma mulher atirou um ponte sopa, que é servida quente, longe quase acertando uma de nossas colaboradoras ou o dia em que o caro do André, nosso "digamos" motorista, teve o vidro da porta violentamente quebrado e o seu toca-fitas roubado, deixando-nos estarecidos, mas não sem ânimo para continuar. Pois já enfrentamos duas mudanças súbitas de endereço e tivemos duas grandes colaboradoras que abandonaram a "Sopa" sob a alegação de terem sido ameaçadas de assalto por alguns rapazes que recebiam a sopa e com elas levou, além de outros colaboradores, levaram também alguns apoiadores importantes, deixando-nos de uma hora para outra meio sem chão. Tem também as constantes chuvas que caem sobre a cidade do Rio de Janeiro, inundando a rua do Catete e adjacências, locais pelos quais circulamos com nossa sopa, o que vale pedir ao nosso prefeito que em seu choque de ordem também inclua a limpeza dos bueiros para melhor escoamento da água da chuva, pois é grande a desordem causada pelo alagamento das ruas, além das pessoas ficarem impedidas de caminharem. Problemas que superamos para poder seguir em frente com o nosso objetivo de doar um pouco do nosso tempo e do nosso amor para aqueles que por um momento estão privados. Aqui vale um agradecimento especial a todos aqueles que colaboram com a nossa sopa e aqueles que, se não colaboram mais, coloboram um dia.
Nosso agradecimento a:
Cristina , Cátia, Adelaide, Sérgio, Márcia, Ronaldo Daniel, Centro Cruz de Oxalá, Suely, Dona Elza(in memorian), Denise, Eloisa, Sílvia, Connie, Suzy, Clívia, Juliana, André, César, José Angelo. Wallace, e muitos outros e principalmente a Deus.
Obrigado!
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