Pesquisar este blog

agosto 16, 2015

Eduardo Campos, morte e santidade.

Resultado de imagem para eduardo camposDefinitivamente, não sabemos lidar com a morte. A ideia de céu e inferno pregada pela maioria das religiões faz com que tudo fique mais confuso ainda em nossas cabeças. Por razões claramente sentimentais, acreditamos que a morte transforma todo ser vivente numa espécie de santo que do céu (o lugar para onde todos vão, infalivelmente) olha por nós e nos deseja todo o bem e, em muitos caos, zela por nós;.
E esse tipo de crença não faz distinção entre bons e maus. Para alcançar a tal santidade basta morrer. Nesta visão, o temido inferno, para onde iriam aqueles que não andaram pelo bom caminho, é completamente abolido. A morte apaga todos os defeitos, todas as maldades praticadas, apaga tudo. O que passa a valer são as boas ações praticadas mesmo que elas não tenham sido tão boas assim.
Sei que você deve estar pensando que esse não é um bom assunto para se tocar num domingo de sol. Eu também penso assim. O que me faz tocar nesse assunto é o fato do aniversário de morte do político Eduardo Campos  estar levando as pessoas ( políticos, principalmente) a acreditarem que, se vivo estivesse, ele seria o grande mediador dessa crise que o Brasil está enfrentando.
Sinto muito, mas isso não passa de crendice popular. Se vivo estivesse, com certeza, ele estaria agindo como todos da oposição, ou seja, louco para ver o circo pegar fogo. Nada demais nisso. Ele era político e como político almejava a presidência da república. Teria que ser verdadeiramente um "santo" para abrir mão disso, não é?
A morte não nos transforma em santos nem não apaga as nossas aspirações terrenas assim de uma hora para outra. Nós chegamos à espiritualidade da mesma maneira que saímos daqui. Se Eduardo Campos saiu daqui aspirante a presidente da república, isso ainda deve estar muito vivo em sua memória e dessa maneira ele ainda deve estar se sentindo.É preciso querer de se enganar para pensar de outra forma.
Sendo assim, contemos apenas com os que estão aqui e agora para resolver essa crise. Quantos aos mortos, ou ao morto, só nós resta torcer para que, ao sair da terra, deixem aqui o que é daqui e estejam abertos às novas experiências que apresentam.
Bom domingo.

agosto 09, 2015

Pai e memória.

Desde que meu pai partiu, faz alguns anos, que eu passo esse dia meio que fazendo de que conta que ele não existe. Essa foi a  forma que encontrei de me proteger, pois para todo lado que viro tem alguma coisa chamando atenção para a data. 
Nada contra a comemoração, é preciso que se diga. Acho que os pais, sejam eles de sangue ou adotivos, merecem ter muito mais que um dia especial, merecem um lugar especial no coração de seus filhos. E isso acho que o meu tem: um lugar especial no meu coração. 
Não sei se ele foi um bom pai. Difícil julgar isso. Pai é pai e pronto. Acho que não tenho que ficar medindo ou julgando. Até porque não sei se fui um bom filho, o filho que ele realmente gostaria de ter tido. 
O que sei é que tínhamos um bom convívio, boas conversas, um entendimento razoável. Não se pode esquecer a diferença de gerações e visão de mundo comum entre pais e filhos, não é? Ele foi embora muito cedo e muita coisa ficou por ser dita e a cada ano que passa sinto isso mais forte.
A sorte é que não acredito na morte como a maioria das pessoas. Sendo assim, de vez em quando dá para entabular umas conversas e ter sinais como resposta. Pena que eu ainda não consiga romper determinadas convenções desse nosso mundo de matéria, o que dificulta muito a comunicação.
Vejo na internet filhos fazendo homenagens, postando fotos. Não tenho nenhuma foto do meu pai, nunca fomos fotografados juntos. O que tenho dele é memória. Aí pensei: como fazer uma homenagem?  Resolvi escrever esse post.
Não há muito o que falar do meu pai. Era um ser humano como qualquer outro, cheio de defeitos, algumas virtudes, com certeza, e só. Por outro, eu não gostaria de escrever frases lindas sobre ele. Com toda certeza, soariam falsas e pareceriam cópia de algum almanaque de boas maneiras. E eu ainda não sou tão bem comportado assim.

Feliz dia dos pais.

agosto 02, 2015

O amor mais fácil.

Resultado de imagem para imagens de amor fácilDesde sempre nós humanos estamos buscando comodidade. Por esse motivo muitas coisas foram inventadas: o carro, o telefone, o avião, a máquina de lavrar roupa, o computador são alguns exemplos. Todos têm por objetivos eliminar distâncias, esforço físico ou mental, poupar tempo e vai por aí.
Isso fez com que, para muitos, felicidade na vida seja possuir ou ter acesso a esses  inventos e usá-los no dia a dia. Há quem nem consiga imaginar como era a vida sem eles, tão importante se tornaram em suas vidas.
Até aí nada de mais, não é? Para que lavar a roupa no método tradicional se é muito mais fácil colocá-la na máquina e apertar um simples botão? Para que escrever cartas e esperar dias pela resposta, se podemos falar com a pessoa na hora? Ou por que viajar dias em um ônibus ou navio, se um avião economiza tempo e encurta distâncias?
Ninguém, tendo condições de comprar a máquina, viajar de avião, falar ao telefone com certeza não abriria mão desses confortos. Não há dúvida nenhuma nisso. O problema é essa coisa de estar sempre procurando viver pelo lado mais fácil e confortável. Isso nos tem levado também a estender essas facilidades ao terreno dos sentimentos. Passamos a querer vivenciar  somente os sentimentos mais fáceis.
Dessa forma, só amamos aqueles cujo amor seja mais fácil de conquistar. Se encontramos algum obstáculo, alguma resistência logo abandonamos aquele possível amor e partimos em busca do que não nos dê tanto trabalho, aquele amor que se troca juras no primeiro encontro, que não tem arestas para acertar, dúvidas ou diferenças.
Com isso, abrirmos mão de viver sentimentos fortes e verdadeiros, abrimos mão de nos conhecer melhor e conhecer aquelas pessoas a quem dizemos amar tanto.

Bom domingo.

julho 26, 2015

A visita.

Juvenal tinha uma grande amiga. Seu nome era Luzia. Os dois trabalharam juntos durante muito tempo. Juvenal era o chefe de Luzia numa loja de departamentos no centro do Rio de Janeiro. Quando aposentou-se, Juvenal resolveu realizar um grande sonho: voltar a morar no interior de Minas, onde nascera.
E foi do interior de Minas que ele partiu para cumprir a promessa que fez a Luzia de que voltaria para  visitá-la pelo menos uma vez por ano. Infelizmente, as coisas não andaram como ele planejou e a visita foi sendo adiada ano a ano. Somente depois de dez anos é que ele finalmente conseguiu honrar com sua palavra de amigo.
No início, eles se comunicaram bastante por cartas e, muito raro, por telefone, mas as cartas e os telefonemas foram se espaçando e acabaram sendo esquecidos. Juvenal passou alguns anos sem notícias de sua amiga Luzia.
Mesmo assim, ele decidiu viajar sem comunicar-se com ela. Queria chegar de surpresa. Durante a viagem, ele fez planos. Provavelmente, Luzia já estaria aposentada como ele e, o que era mais importante, sozinha. Dessa forma, ele poderia confessar o grande amor que sempre teve por ela e eles se entenderiam. 
Como o coração batendo forte no peito, Juvenal chegou à porta da casa da amiga no Rio de Janeiro. Um rapaz distinto de uns trinta anos veio atender a porta:
- Pois não.
Juvenal disse ao rapaz o que fazia ali. Ele queria falar com Luzia, a dona casa. O rapaz abaixou a cabeça e com um tom triste na voz disse:
- Dona Luzia não mora mais aqui.
Juvenal teve um choque. Ele jamais considerou essa possibilidade. Em sua imaginação, Luzia permanecia naquela casa como no dia em que despediu-se dela ali mesmo naquela porta. Muitas perguntas saltaram da boca de Juvenal. Ele precisava saber como encontrar sua velha amiga.
- Para onde ela foi? - ele quis saber.
O rapaz respondeu que Luzia estava morta. Morreu  há dois anos depois de grande sofrimento. A dor de receber tão triste notícia fez com Juvenal recordasse o passado.
- Foi ele que a matou, não foi? Aquele bandido a matou. Além de ter impedido que eu e Luzia vivêssemos nosso grande amor, ele a matou. Onde ele está? Eu vou acabar com ele.
Mesmo assustado com aquela reação, o rapaz tentou acalmar Juvenal chamando-o para entrar e sentar-se. Já mais calmo, Juvenal perguntou:
- O que você é dela?
- Filho. - respondeu o rapaz.
Juvenal achou aquela resposta estranha. Ele conhecia apenas um filho de Luzia. E ele era intratável, um verdadeiro marginal que causava os maiores aborrecimentos para a mãe. Muitas vezes, ele foi com ela tirá-lo da cadeia, noutras andou com a amiga atrás do filho por hospitais e necrotérios. 
- Acredito que ele tenha morrido também. Uma pessoa que levava aquele tipo de vida não poderia viver muito. - falou Juvenal.
Mais uma vez o rapaz abaixou a cabeça e Juvenal pode ver que ele chorava.
- Pelo que vejo, você era um filho amoroso. Bom saber que Luzia tinha outro filho e que esse filho a amava de verdade. Gostaria muito de ter conhecido você, meu filho. Eu amava muito a sua mãe.
O rapaz irrompeu no choro e, de repente, caiu de joelhos nos pés de Juvenal.
- Me perdoa, seu Juvenal. Me perdoa. Eu impedi que minha mãe realizasse o grande sonho da vida dela.
- Que sonho era esse?
- Ela sempre amou o senhor, seu Juvenal. E eu não deixei ela fosse ao seu encontro quando ela se aposentou, como ela tanto queria.
- Quer dizer que você é o Venâncio, aquele rapaz...
- Sim.
Juvenal teve dificuldades para acreditar. Como poderia o filho de Luzia ter se transformado daquela maneira? E ele quis duvidar acusando o rapaz de estar fazendo mais uma das suas traquinagens. Porém, a entrada de dois garotos chamando Venâncio de pai e uma jovem senhora com uma criança no colo, fez com que ele mudasse de ideia. Apesar de tudo, o filho de Luzia tinha se tornado outra pessoa: um pai de família.
Juvenal saiu dali certo de que onde quer que Luzia estivesse ela estaria feliz de ver que sua luta para salvar o filho não fora em vão.

Bom domingo.

julho 24, 2015

Aprendizado pelo amor ou pela dor, a esolha é nossa.

Resultado de imagem para imagens de escolhasPode soar estranho, mas  a verdade é que nos são dadas apenas duas opções para o nosso aprendizado neste mundo. Podemos escolher aprender pelo amor, o que torna tudo muito mais fácil, pois nesse caso não oferecemos resistência aos, na maioria das vezes, duros ensinamentos da vida.  Ou podemos nos rebelar  negando a aceitar enfrentar os desafios apresentados e, nesse caso, ai de nós, o que já era difícil fica pior ainda.
Parece uma escolha simples. Qualquer um de nós, em sã consciência, escolheria, com toda certeza, a opção da não resistência, não é mesmo? Infelizmente, a resposta é não. A maioria, para não dizer todos, nega o caminho do amor e se envereda pelo caminho da dor.
Para entender isso, basta que examinemos a nossa própria vida. Como as coisas seriam mais fáceis se nós não fôssemos tão cabeças duras, tão voluntariosos, tão infantis diante das adversidades. Agimos como se tivéssemos vindo ao mundo a passeio e que a única lei que deve imperar é a  do menor esforço.
Se a vida vai indo "bem obrigado", não chiamos. Pode estar ruim para todo mundo em volta, o mundo pode estar desabando ao seu lado que nada nos abala. Agora, se a coisa começa a não dar muito certo para o nosso lado, aí o papo é outro. Começamos a reclamar de tudo, o mundo não presta, nada vale á pena e vai por aí. Em pouco tempo estamos em guerra contra tudo e contra todos. O mundo vira um inferno. Esse é o caminho da dor. 
Caminho duro de seguir, mas necessário. E como ele se apresenta? Através das doenças físicas e mentais, das dificuldades financeiras, do desemprego, da fome, das renúncias que temos que fazer no nosso dia a dia, das perdas, da infelicidade no relacionamento social ou amoroso, na solidão e tudo o que nos aflige durante a vida.
Definitivamente, não viemos ao mundo a passeio. Nossa passagem por aqui é de aprendizado. O mundo é uma escola. E em uma escola, alguns aprendem mais rápido e outros levam mais tempo para assimilar os ensinamentos, por isso os diferentes estágios que encontramos. O importante é não desistir nunca. A cada dia devemos renovar a nossa fé de que o aprendizado acaba vindo e que quanto menos resistência oferecermos, melhor e mais depressa ele chega.

julho 19, 2015

O bem mais precioso.

Resultado de imagem para imagem de preto velhoUm pai, muito preocupado com o futuro do filho, resolveu procurar um guia espiritual. Cada um está livre para  entender "guia espiritual"  à sua maneira. Tanto pode ser um padre, um pastor, um pai de santo, um preto velho, um xamã,  um parente mais velho e sábio ou mesmo um amigo. Nesse caso, especificamente, o pai procurou um preto velho.
Era hábito antigo na família de vez em quando esquecerem que eram católicos apostólicos romanos, de missa todos os domingos, casamentos e batizados, e fazerem uma visitinha à tenda do "Pai Joaquim de Angola" . Tinham o preto velho quase como alguém da família e toda vez que tinham um problema era na porta dele que batiam.
E lá foi o pai em busca de alguma confirmação quanto ao futuro de seu rebento. Ele chegou, sentou-se diante da entidade, e começou a falar. Fez todos os elogios possíveis. Seu filho era o mais isso, o mais aquilo. O preto velho, entre uma pitada de cachimbo e outra, ouvia atentamente o que aquele pai dizia sem interferir.
Ao final do relato, o pai respirou fundo e completou:
- Vai, me diz aí. Meu filho tem um futuro brilhante, não tem?
O preto velho pitou mais um pouco, pigarreou, e  falou:
- Depois de todas essas maravilhas que você disse a respeito de seu filho, o velho chegou à uma conclusão.
- Que conclusão? - perguntou o ansioso pai.
- O seu filho tem apenas um bem nessa vida.
Ao ouvir aquilo o pai não conteve e falou:
- Como assim? Meu filho tem apenas um único bem? Mas ele...
O preto velho o interrompeu:
- Apenas um. 
O pai não podia aceitar e já estava pronto para sair porta a fora maldizendo o preto velho quando ouviu a entidade falar, depois de uma longa baforada:
 - Em compensação esse é o maior bem que uma pessoa pode ter durante toda a vida toda. 
Essa fala fez o pai respirar aliviado. O seu filho tinha o maior bem que alguém pode ter na vida. Ele não demorou a perguntar:
- Que bem tão precioso é esse?
O preto velho respondeu:
- A juventude. 
- A juventude!? - exclamou o pai.
- Sim. E diga pra ele que tome cuidado, pois ela passa rápido.
E dando uma risadinha, o preto velho não disse mais nada.

Bom domingo.

julho 12, 2015

A outra Alice.

Alice tinha uma amiga de nome Marta. Essa amiga vivia falando de uma outra amiga que tinha uma amiga que se chamava Alice e que era uma pessoa muito feliz. A coincidência do nome deixou Alice feliz e ela murmurou:
- Bom saber que uma pessoa que tem o mesmo nome que eu é feliz. Não é muito, mas serve como conforto saber que nem toda Alice é infeliz como eu.
Após esse pensamento aparentemente banal, Alice tomou uma decisão: na próxima vez que sua amiga Marta falasse da outra Alice, ela pediria para conhecê-la. Queria saber quem era essa pessoa que despertara nela tanta admiração e curiosidade. Uma pessoa com quem ela tinha em comum apenas o nome.
Ela era triste, sentia-se a última das pessoas, não tinha muitos amigos. Namorados? Nem pensar. Aos trinta e dois anos de idade tivera apenas amores platônicos. Uma vez apaixonara-se pelo professor de matemática, outra pelo dentista, um colega de trabalho, um estranho que encontrava todos no dias no caminho para o trabalho e  de quem ela nunca soube sequer o nome e.. Alice perdeu a conta das vezes que sonhou com príncipes encantados que vinham trazer luz para os seus dias sombrios.
No entanto, nada acontecia e sua tristeza e solidão pareciam não ter fim. A única companhia era Marta, a amiga com um estilo de vida quase idêntico ao dela, que falava muito da Alice que era feliz.
A amiga tanto falou que sua vontade de conhecer a tal Alice que era feliz só fez aumentar. Um dia, ela  se encheu de coragem e pediu a Marta que lhe apresentasse a amiga que tinha mesmo nome que ela. Marta ficou de marcar o encontro com sua amiga Elisabete  que era, na verdade, quem conhecia a feliz Alice.
Por coincidência, Alice também tinha uma colega de nome Elisabete, porém ela não deu muita importância para o fato. Se havia mais uma Alice no mundo, também havia mais de uma Elisabete. Encontro marcado, lá foi Alice na companhia de sua amiga Marta para conhecer a Alice cuja vida feliz causava-lhe tanta admiração
No caminho Alice foi pensando em fazer muitas perguntas para sua xará. Pensou até em pedir-lhe a receita de como ser feliz, pois deveria haver um segredo. Segredo esse que ela seria capaz de tudo para descobrir. Marta também não conhecia a outra Alice e estava igualmente ansiosa para conhecer uma pessoa que tinha encontrado o dom mais precioso dessa vida: a felicidade. Afinal ela, como Alice, vivia solitária e infeliz achando a vida sem graça e sem brilho.
Ao se aproximarem do local, Alice começou  a achar tudo muito estranho. Ela conhecia bem aquele lugar. A primeira pessoa que ela viu no local foi sua colega de trabalho Elisabete. Só então lembrou-se que tinha marcado um encontro com ela, mas que tinha esquecido de ligar para desmarcar.
Elisabete levantou e deu um grito de felicidade quando as duas chegarem perto da mesa onde ela estava sentada. Alice estava pronta para pedir desculpas. No entanto, a colega adiantou-se:
- Pelo que vejo vocês duas já se conhecem.
Marta e Alice não entenderam nada e Elisabete sorrindo explicou:
- Marta, essa é a minha amiga Alice, a pessoa mais feliz que eu conheço nesse mundo. Ela vive sorrindo, trata a todos com gentileza, educação e nunca reclama da vida. Isso é ou não é ser feliz?
Bom domingo.