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outubro 16, 2010

Ei, aonde vai com tanta pressa?

     Quantas vezes você já teve que responder a essa pergunta em sua curta (ou longa) vida? Difícil imaginar, não é? Provavelmente uma centena de vezes. E todas elas porque você estava agindo como alguém que esteve ligado a um motor e não estivesse com a mínima noção do que estava fazendo. Corria de um lado para o outro fazendo coisas, tomando decisões, comprando, vendendo, rindo, chorando, chegando, partindo tudo sem pensar nas consequências que cada ato desses, por mais insignifcante que fosse, pudesse ter em sua vida e na vida das pessoas que lhe cercam.
     Sei que existe uma grande chance de você não estar dentro do padrão descrito acima, o que, convenhamos, é uma coisa admirável. Que bom que você é uma pessoa calma, capaz de pensar nos seus atos com responsabilidade e, sobretudo, com paciência. Mas, se pelo contrário , você faz parte do grupo que está na outra margem do rio, eu faço um convite a que você comece a desacerelar o seu ritmo e passe  a agir de forma menos automática. Alguém já disse, e muito sabiamente, que a vida é muito curta, que passa muito rápido.  Por isso deve ser vivida como quem saboreia uma comida gostosa: devagar, de maneira tal que se possa sentir o seu sabor. A comparação  pode não ser das melhores, mas é a única que me ocorre no momento. Não podemos viver eternamente como quem quer virar a página do livro para ver o que  acontece depois. Pelo contrário, devemos ler cada palavra, cada frase ou período buscando entender o que está escrito, para que ao final do capítulo não tenhamos que voltar ao início.
     Portanto, vamos todos parar a nossa corrida com obstáculos e vamos imaginar que não há corrida nenhuma, não somos maratonistas tentando chegar em primeiro lugar e sim pessoas vivendo uma experiência que por mais que se repita (principalmente para aqueles que acreditam na reencarnação), é única, pessoal e intransferível. Cada momento que vivemos é único e não vai se repetir. Por isso, devemos saboreá-lo, vivê-lo como se fosse o último.
     E essa visão não pode ser confundida com pressa ou essa ideia de que não podemos perder tempo com inutilidades, muito comum em nossos dias. A ideia de que devemos estar sempre de olho no relógio, no futuro, de que tudo deve ser muito rápido. Desde a comida, os meios de transporte, os avanços tecnológicos, os relacionamentos, tudo.
     Esta errada essa crença de que não se pode ficar parado contemplando, vendo as ondas do mar batendo na praia, as águas do rio indo de encontro ao mar, o barulho do vento, a chuva que cai, a nuvem que brinca no céu, o pássaro que voa, a borboleta que colore o dia, a criança que dá o primeiro passo, enfim o movimento natural da vida.
     Pelo contrário, vamos parar e respirar fundo para sentir a quietude da vida, o silêncio onde Deus toca fundo em nossos corações e nos pede calma, muita calma. E quando já estivermos prontos, recomeçamos a caminhada, dessa vez tentando perceber as belezas do caminho.

Bom domingo.

outubro 09, 2010

Morrer é castigo?

     Eu sei que o tema em questão é muito espinhoso e que poucos são os que aceitam falar dele sem reservas. O fato é que a morte (desculpe a falta de cerimônia) apavora a todos, sem exceção. Ninguém quer falar do assunto e foge, como o diabo da cruz, quando alguém resolve trazer o tema para o centro da discussão. Sei de muitos que além de não querer encarar a ideia da própria morte, também evitam o tema quando acontece com os outros: não vão a hospitais, enterros, missas de sétimo dia ou qualquer coisa que lembra a "indigitada das horas", como o grande poeta Manoel Bandeira a cunhou num de seus poemas. Tudo com a vã intenção de, com isso, mantê-la bem longe. Bem no estilo: se eu não falo dela ela não existe e se ela não existe não virá me importunar.
     Não cabe a mim criticar uma pessoa que encara a vida dessa maneira, ou seja, fugindo do assunto, mas precisamos nos conscientizar de que é necessário que a gente tente encara-lo, uma vez que, querendo ou não, um dia (todos torcemos para que este tal dia esteja sempre muito distante) vamos ter que encara-la de frente. Pois, como o diz o dito popular, não nascemos para semente. O que já significa um grande ganho: por que você já pensou como seria chato ficar "plantado" nesse mundo para sempre? É melhor nem pensar nessa possibilidade, não é mesmo? Definitivamente, o mundo não é o lugar mais indicado para alguém viver toda a eternidade, existem lugares melhores nesse universo, tenho certeza.
     E não devemos esquecer que ao nascer já trazemos essa marca. Todos somos informados da brevidade da vida, da sua transitoriedade, de que um dia, cedo ou tarde, teremos que ir embora. E certamente isso acontecerá da mesma maneira que se deu nossa vinda, de maneira natural e suave.
     Por isso, não devemos ficar tristes. Muito pelo contrário, isso deveria nos deixar felizes, pois somos esperados em algum lugar como fomos esperados aqui. Em algum lugar do universo alguém conta os dias para nos rever. Alguém que deixamos tristes quando viemos para a terra cumprir nossa missão evolutiva. Nunca devemos esquecer que a terra é um local de passagem, onde expiamos nossas faltas, mas também o lugar onde crescemos, construimos relações de afeto que perduram para sempre. Portanto, nada a temer. Tudo é ganho. Até o fato de sermos mortais, de um dia partirmos para outras viagens, como diria algum poeta, para outras paisagens.
     Toquei nesse assunto porque uma conhecida que perdeu um ente querido não está conseguindo aceitar o fato. Embora se diga uma pessoa espiritualizada está vivendo uma crise de fé e de entendimento dos mistérios da vida. Em sua crise passou a ver a morte, como aliás a maioria vê, como um castigo cruel e injusto. Uma visão comummente propagada em nossa sociedade e que nossos autores de novelas fazem questão de manter viva: quando querem castigar um personagem malvado, o condenam a morte, numa visão mesquinha de um momento importante de todo ser vivente. Isso me fez pensar em como nós enfrentamos não só o fato de as pessoas que amamos serem mortais, mas no fato de nós mesmos sermos mortais. Porque se não aceitamos a partida de um ente querido também não vamos aceitar quando chegar a nossa hora. Somos, assim, candidatos a sermos espíritos revoltados e trevosos, desses que povoam a terra transformando a vida dos encarnados (nesse momento nós) num inferno. Será que é isso que queremos?  Vale a pena fugir da verdade e depois sofrer mais e fazer os outros sofrerem?
      Convido todos a pensarem no assunto. Vamos aproveitar a vida em todos os sentidos, todos mesmo, inclusive tomando consciência do nosso papel diante de Deus, diante do Universo.

outubro 02, 2010

Porteiros de prédio: amigos ou inimigos?

      É claro que há um tom de exagero no título, mas duvido se em algum momento você não questionou essa figura quase onipresente em nossas vidas: o porteiro. Todos que moram em prédio, quase sem exceção, tem pelo menos um desses profissionais em sua vida. Não raro, são pessoas simples de pouca ou nenhuma cultura ( pode-se dizer que são todos semianalfabetos, muitos mal assinam o nome), vindos do nordeste brasileiro ( não é difícil eleger o estado do Ceará como o maior exportador de porteiros e afins) e entram  nos prédios como faxineiros, trazidos por algum parente ou amigo também nordestino. Essa é uma regra: todo funcionário de um prédio é indicado por outro funcionário e, quase sempre, é um parente que acabou de chegar e está sem onde morar. Muitos vêm direito da rodoviária para o prédio e são admitidos quase imediatamente.
     É possível que você esteja se perguntando o por que de eu estar falando desse profissional que todos têm como boa gente e que está ali como um verdadeiro "pau para toda obra" e que "quebra o galho de todo mundo" e tudo o que se precisa fazer é dar uma gorjeta para ele e tudo bem. Até concordo com essa visão que a maioria das pessoas têm do porteiro. Nada mais justo, pois geralmente são mesmo pessoas do bem e que tudo fazem para ajudar a quem os procura. Só que a moeda tem dois lados: de um está o porteiro, esse profissional, muitas vezes improvisado, que serve a todos e passa o tempo tendo de ora ser onipresente e ora ser quase uma peça de decoração que nada vê e nada escuda, mas que tudo vê e tudo escuta, que não está na portaria do seu prédio porque não tem nada melhor para fazer e sim porque, como qualquer outro profissional ou cidadão, está ali para ganhar o seu salário e garantir o sustento de sua família; do outro está o morador do prédio que, dependendo do seu interesse, vê o porteiro ora como a mais amável das criatura (basta que ele dê bom-dia, boa-tarde e boa-noite e que ele resolva todos os problemas do prédio e de sua casa, de preferência sem cobrar nada), ora o vê como um parasita que fica o tempo todo sentado na portaria sem nada fazer apenas falando sobre futebol ( parece que para ser porteiro é obrigatório gostar de futebol e ser flamenguista) e assistindo televisão.
     Há exagero nas duas visões. Nem o porteiro é um anjo da guarda e nem é um vagabundo que leva seu dinheiro sem fazer muita força. Aliás, exagero  é coisa comum em prédio. Tem morador que praticamente "adota" o porteiro e sua família, tratando-os como coitadinhos. Outros os demonizam, vendo neles todo tipo de defeitos. Os acusam de alcoólatras, ladrões, fofoqueiros, preguiçosos e até ostilizam seus familiares sob a acusação de causarem prejuízos ao prédio e morarem de graça. Na questão salarial, acham absurdo qualquer aumento e fazem conta de cada benefício que o porteiro tem.
     Na verdade o porteiro é um profissional como outro qualquer. Como já disse  nada tem de anjo ou super-herói. Apenas está ali para ganhar seu dinheiro e como é um profissional com características de empregado doméstico por morar no emprego ( a maioria dos prédios oferece moradia para os porteiros), isso é motivo de muita confusão. Muita gente acha que eles têm que estar disponíveis o tempo todo e que no seu salário está incluído tudo, até aturar morador chato. Isso não é verdade. O porteiro trabalha para o condomínio não para o morador particularmente. É preciso ficar atento à isso.
     Por outro lado, os moradores precisam deixar de confundir os porteiros como pessoas da família e lhes confiar todos os seus segredos. como se fossem pessoas de sua inteira confiança. O porteiro é empregado do prédio e o Sindico  não é responsável pelo seu caráter. Há quem faça negócios ou trate com excesso de confiança um profissional desses e quando tem algum problema diz que a culpa é do Sindico que o colocou no prédio. Isso é discutível.
     Creio que a saída é profissionalizar a função de porteiro passando a exigir que eles tenham um certo grau de escolaridade e que tenham um preparo maior para o trato das questões (que não são poucas) do dia a dia de um prédio. É preciso deixar um pouco de lado essa história de admitir parentes analfabetos que acabaram de chegar na cidade.
Porteiros profissionais já!

setembro 25, 2010

Votar certo, votar errado.

     Com a proximidade do dia das eleições, volta com mais força a discussão sobre o voto. Muitos são os programas (televisão ou rádio), matérias de jornal, enquete na Internet, propagandas e afins que tratam do assunto. Todos falam da importância do voto, de que devemos usar o nosso voto de maneira correta e que ele é a nossa "única" arma para mudar esse país que, haja vista, está sempre precisando de mudança, principalmente por causa das nossas más escolhas. Nesse falatório a respeito do voto está sempre implícito (ou explícito) que nós não sabemos votar e que, por isso, o país está do jeito que está, ou seja, na bancarrota. Segundo eles, nós somos os culpados de tudo. Se nós soubéssemos votar, se nós escolhêssemos direito nossos governantes... Só falta nos condenar ao fogo do inferno.
     Exageros à parte, não é difícil dar uma certa razão para eles. Afinal, um país (qualquer um) precisa ser governado por pessoas (homens e mulheres) de caráter, capazes de trabalhar pela melhoria de vida da população e não por seres ávidos de enriquecerem, dispostos a qualquer coisa para colocar alguns (muitos) trocados no bolso, insensíveis aos problemas do país como a fome, a falta de habitação, o desemprego, a violência, as drogas, o cuidado com a infância, a juventude, a velhice e tudo o mais. Infelizmente, é isso que vemos em nosso país: falta de respeito com o eleitor (os que votam e os que não votam), falta de compromisso com os princípios básicos da vida, falta de respeito com a coisa pública, com o coletivo.
     Não é difícil afirmar que todos aqueles (sem exceção) que entram na política têm por objetivo apenas cuidar dos seus próprios interesses, todos querem apenas "se darem bem", arranjar um bom emprego, com muita mordomia e com direito a fazer muita maracutáia, muita negociata, muito conchavo, muito loby. Pouco se importam com as necessidades da população que, para eles, é apenas massa de manobra, um trampolim para eles chegarem onde querem, mais nada. Por isso, usam e abusam de atrativos e promessas no período de campanha eleitoral. É nesse momento que seduzem os eleitores se fazendo de bonzinhos e salvadores da pátria. E muitos eleitores se deixam levar por esses falsos encantos, essas falsas promessas. O resultado todos nós já conhecemos há séculos: escandâlo atrás de escândalo e o dinheiro dos impostos indo pelo ralo abaixo, quero dizer, para as contas no exterior.
     É por isso que não concordo que haja voto certo ou voto errado. Todos votamos certo. Mesmo aqueles que votam de olho em alguma compensação porque, afinal, votamos interessados na melhoria de nossas vidas, do nosso país, da nossa gente. E nisso não há nada de errado. O que não pode é haver pessoas que querem se tornar políticos para melhorar as suas próprias vidas, pouco ligando para os outros. Pessoas que embolsam o dinheiro da merenda escolar, da educação, da saúde, dos transportes, das estradas, do meio ambiente, do saneamento básico, da dragagem dos rios, das aposentadorias... Pessoas que vêm pedir nosso voto para nos trapacear descaradamente.
     Confesso que estou com dificuldade para escolher os meus candidatos. Não estou conseguindo fechar uma lista com todos os cargos: deputado estadual, deputado federal, senadores, governador e presidente. Está muito difícil, os candidatos que se apresentam não se mostram criveis. O dia está chegando... O pior é que depois ainda posso ser taxado de não saber votar.

setembro 12, 2010

Nosso lar - o filme

     Antes de qualquer coisa, gostaria de expressar o quanto gosto desse livro. Na minha opinião trata-se do livro mais esclarecedor quanto a vida depois da vida (ou da morte, como preferir). Nesse livro, creio que pela primeira vez, tem-se uma ideia geral de como se vive no além túmulo, dá-nos uma visão de que tudo continua e que a vida na terra é apenas um meio pelo qual podemos nos tornar seres melhores e nos aproximar mais do Criador. A ideia da morte como a pior coisa que pode acontecer a um ser vivente, como injustiça, como terrível castigo (como nos apresentam os novelistas de plantão) ou a morte como descanso eterno (vide Igreja Católica) deixa de existir depois de sua leitura.
     Nosso lar, o livro, nos leva a tomar consciência da nossa total responsabilidade diante de tudo aquilo que nos acontece de bom ou de ruim. Nada nos acontece por acaso, pois somos os causadores diretos e indiretos de nossa felicidade e de nossas vicissitudes. É isso que André Luiz vai descobrir de forma, inicialmente, dolorosa através de sua passagem pelo Umbral, lugar parecido com o inferno que a Igreja Católica nos  apresenta. Ali em meio a todo tipo de gente com seus problemas, dores, gritos, lamentos, demência, fome, cede, defeitos trazidos de sua vivência na terra ele vai finalmente curvar-se e com humildade pedir a ajuda divina. E Deus vai atendê-lo através de Clarêncio e sua equipe que o recolhem e o levam para a colônia Nosso lar.
     É nessa colônia espiritual que André Luiz vai tomar consciência de que é um suicida, que sua morte não foi tão natural quanto ele imaginava e que podemos deliberadamente causar a morte de nosso corpo mesmo que isso pareça natural, através dos excessos. Excessos que podem ser de bebida, comida, sexo, drogas, maus sentimentos e tantas outras coisas. Mais do que isso, ele vai aprender que ali os títulos terrenos não valem, que há regras a seguir, que tudo se consegue pelo trabalho, pelo esforço próprio, que precisamos  ajudar uns aos outros, aceitar os designos de Deus, e que ali não é o céu. Como a terra, a colônia é um local de passagem entre uma encarnação e outra e que é preciso se preparar para voltar à terra, nosso palco de lutas.
      Poderia continuar indefinidamente falando do livro Nosso lar, mas a postagem é para falar do filme e vamos a ele: em primeiro ligar é preciso elogiar tal iniciativa. Levar Nosso Lar ao cinema é algo bastante oportuno e ver os cinemas cheios, um grande prazer. O livro, a espiritualidade, Chico Xavier e todos nós merecemos que isso aconteça. O filme dá um amplitude maior para tudo, principalmente àqueles que por falta de cultura, desconhecimento, preguiça ou qualquer outra coisa ainda não conhecia a obra. Através do filme muito mais gente terá (está tendo) acesso às informações do livro e, por que não dizer, à doutrina espírita. Por isso, palmas para o filme e todos os seus realizadores.
     Apenas alguns senões ( coisa de gente metida a perfeccionista como eu), o filme carecia de um roteiro mais pungente, a coisa parece correr meio frouxa; talvez o ator que faz o André Luiz devesse ser outro, Renato Prieto é um excelente ator com uma militância no teatro espírita que o credenciou para o papel, mas não acho que ele conseguiu chegar lá, parecia estar o tempo inteiro como quem acaba de chegar e ainda não entendeu o que faz ali, o que é uma pena; outro ponto é adaptação que abriu mão de coisas que seriam mais esclarecedoras para o público, diminuindo papéis (como é o caso de Laura, interpretada pela atriz Ana Rosa) e suprindo outros; e quanto ás locações, não creio que uma fortaleza militar fosse o melhor lugar para situar uma colônia espiritual, questão de opinião.
     Nos acertos quero acrescentar a direção (correta), a música ( muito boa), os efeitos especiais (na medida certa) e a presença do ator Fernando Alves Pinto, o Lísias, o ator conseguiu passar toda emoção do personagem, é a melhor interpretação do filme. Outro destaque fica para a atriz Selma Egrei, como a mãe de André Luiz, presença verdadeiramente luminosa.
      Depois de ler tudo isso, esqueça, e veja o filme.

P.S. Não podia deixar de falar na presença das atrizes Chica Xavier ( irrepreensível) e de Aracy Cardoso ( notável).

setembro 04, 2010

Esse meio de transporte chamado elevador

     Para começo de conversa, eu vou confessar uma coisa: eu não gosto de elevadores. O ideal seria sair do meu apartamento voando, mas eu não tenho asas... Restam as escadas, mas como eu moro num oitavo andar fica difícil abrir mão completamente do elevador. Ainda mais que as escadas dos prédios (o meu particularmente) parecem que não foram feitas para serem usadas com muita frequência. Elas são escuras, íngremes. entulhadas de tralhas (geralmente lixo, móveis, caixas, etc), o que desaprova seu uso constante. Mesmo assim, sempre que posso faço uso delas para espanto de muitos, sobretudo do porteiro. Ele não entende como eu posso abrir mão do "conforto" de subir pelo elevador sem fazer esforço algum para subir ou descer pelas escadas.
     Pode ser que você more numa casa, sempre morou, sempre vai morar e nunca vai precisar usar esse útil, prático, porém, nada confortável meio de transporte chamado elevador. Eu sei que você pode achar estranho esse tipo de conversa. Mas falando sério, você acha normal todos os dias, por várias vezes, entrar numa caixa apertada (raramente são largos) sem grandes atrativos (só os fatídicos espelhos que são para dar a impressão de que você tem um sósia) acompanhado de pessoas que, por mais que você as encontre todos os dias, não passam de estranhos e, como você, tudo o que querem é ganhar a rua o mais rápido possível e se livrar daquele incomodo? Pode dizer que acha normal, eu não vou estranhar nem um pouco. Afinal de contas, esse de tipo de invenção existe para facilitar a vida de todos e como os prédios estão ficando cada vez mais altos é pouco provável que algum dia eles deixem de existir.
     Sei que a essa altura você deve estar pensando que eu sou um daquele tipo que morre de medo de andar nesse referido meio de transporte, mas não. Eu não tenho medo de elevador. Pelo contrário, acho que é uma bela invenção. Só que para ser usado sozinho ou acompanhado apenas por pessoas conhecidas. O que, para mim, torna o elevador um meio de transporte inviável é justamente o fato de que você está sempre acompanhado por alguém que você não conhece ou conhece muito pouco e numa proximidade muito grande, que quase beira a intimidade.
     No elevador você fica tão próximo das pessoas que praticamente sente a sua respiração, seus batimentos cardíacos, seus odores, o que gera muito desconforto. Não fosse isso, têm ainda os diálogos travados durante a "viagem". Geralmente começam com um "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite" que se não for respondido em alto e bom som  imediatamente leva o "educado passageiro" a repetir o cumprimento em voz mais alta e forte ou protestar classificando você de grosso e mal educado. Essa regra de responder ao cumprimento não pode ser quebrada em hipótese nenhuma. Cumprimentos mais descontraídos como "oi" ou "olá" são terminantemente proibidos e não são respondidos. Fica como se você não tivesse dito nada, ou seja, você é grosso e mal educado mesmo.
     Depois disso passamos aos comentários gerais. Aqui se passa a falar do jogo de futebol, do capítulo da novela, do tempo ("Parece que vai chover..." "É parece..." Se está um dia de sol o comentário passa a ser a praia e se o passageiro (a) pode ou não curtir aquele dia... "É duro a gente ser trabalhador(a)...") Não importa o quanto você se interesse se vai chover, se o capítulo da novela foi emocionante ou não, se o Flamengo (sempre ele) ganhou ou perdeu, os comentários vêm e se você não falar qualquer coisa pode até ser atirado fora do elevador. Ou seja, esse meio de transporte tem regras claras. Não se entra num elevador assim de qualquer jeito, é preciso seguir as regras. Pensa que é só aquela história de elevador de serviço, conduzir bicicleta, andar sem camisa, roupa de banho... As regras vão muito além disso.
     Agora, o que me incomoda  mesmo são as conversas de elevador. Aquelas em que os interlocutores falam de assuntos que são apenas do conhecimento deles numa conserva interminável cheia de detalhes, ignorando a presença das outras pessoas. Isso é a morte. Fico imaginando que essas pessoas deixam todos os seus assuntos para tratar dentro do elevador e, uma vez fora deles, nada mais têm para conversar. Ou vai ser que elas só se encontram no elevador. Isso quando não estão ao celular, aí prepare para saber toda a vida do passageiro com direito a xingamentos, impropérios, etc.
     Diante disso, tomei a decisão de, nesta eleição, só votar no candidato que representar a classe dos "passageiros de elevador".

    

agosto 28, 2010

Abaixo ao horário de propaganda eleitoral

     É difícil entender como algo tão, digamos, odiado por todos continue existindo e, o que é pior, sem nenhuma perspectiva de acabar um dia. Um doce para quem adivinhar do que é que eu estou falando. Acertou na mosca quem disse que é o horário de propaganda eleitoral, esse "programão" que a despeito de agradar ou não, estar bem na audiência ou não, duas vezes por dia toma de assalto nossos rádios e televisões com o único objetivo de tentar (é preciso lembrar que quase sempre conseguem) nos enganar com suas mentiras, falsas promessas, e tapeações.
     Nesses programas pessoas, a maioria delas ilustres desconhecidos, mas tem também nossas queridas figurinhas carimbadas que somem durante o mandato e ao final deste retornam para nos pedir mais quatro anos de emprego com ótimo salário, aparecem no vídeo da televisão ou nas ondas do rádio dizendo o que o mundo está perdido, que nada presta (o custo de vida está nas alturas, a violência cresce a cada segundo, falta emprego, habitação, transporte, moradia, a fome graça, é o caos) e somente aquela figura patética que se encontra agora falando coisas que você provavelmente não está interessado em ouvir é que tem a solução.
     Se você votar na figura todos esses problemas estarão automaticamente resolvidos, diz o cínico sem sequer se dar ao trabalho de acreditar naquilo que está falando. No geral, são pessoas que declamam textos mal decorados de forma monocordia com plataformas esdrúxulas procurando desesperadamente um nicho da sociedade do qual se dizem legítimos representantes. Segundo a visão que tentam passar taxista vota em taxista, ferroviário em ferroviário, judeu em judeu, católico em católico, gay em gay, hetero em hetero e vai por aí...
     Pouca coisa faz sentindo. Nada de verdadeiramente consistente é apresentado aos eleitores que se arriscam em assistir a esses programas. Os partidos maiores apresentam grandes produções onde seus canditados (as tais figurinhas carimbadas) aparecem como se fossem grandes personalidades pelas quais o povo clama e segue pelas ruas. "Como eles não apareceram antes para nos salvar", pode de repetente aparecer numa boca falsamente arrebatada pela figura que ora se exibe. Criancinhas (essa cena é velha) são levantadas para o alto como prova de que o candidato é mesmo um pai, um pai preocupado até com aqueles que ainda nem votam. Já viu desprendimento maior? É claro que não.
     Não sei se já deu para reparar que a criança levantada para o alto surge, quase sempre, dos braços de um pai ou mãe de aparência humilde, alguém do povo,  eleitor que aquele candidato quer atingir. Ou seja, nada de novo. E se alguém tem a leve esperança de que desses "bonecos" que se apresentam sairão deputados estaduais, deputados federais, governadores, senadores ou presidente da república que realmente representem os anseios do povo, que vá realmente nos representar, parece estar enganado. Campanha politica continua a ser apenas a oportunidade que alguns têm de arranjar uma ocupação rendosa, ou seja, cargo político é emprego. Qualquer coisa que se diga em contrário é enganação.
     Resta aqueles que usam a campanha política para aparecer (quase todos) e se candidatam para cargos que não têm a menor chance e acabam sendo apenas figuras engraçadas. Desses, pelo menos, podemos dar boas risadas sem se preocupar com o mal que eles viessem a nos fazer caso fossem eleitos.