Como transplantado (recebi um rim através do sistema nacional de transplantes), soube da notícia de que pacientes da fila do transplante receberam órgãos contaminados com o vírus do HIV (AIDS) com muita dor e, sobretudo, indignação. Não dá para sequer imaginar que um laboratório responsável por fazer testes nos órgãos doados simplesmente, visando lucro, não os tenha feito e os pacientes órgãos infectados.
Apesar de tudo o que vemos acontecer a cada instante à nossa volta, e conhecedor da capacidade que o ser humano tem para cometer atos contra seus próprios irmãos, sempre mantenho a esperança de que reste alguma dignidade, algum tipo de piedade que nos impeça de descer tão baixo, de sermos tão mesquinhos a ponto de, em nome do dinheiro fácil, desprezar o outro, o seu próximo, a quem devemos amar como se fossem nós mesmos.
O que passa pela cabeça de alguém quando sabe que está prejudicando um semelhante que já está fundo do poço, que está naufragado e, com a mão estendida, espera por algo que o resgate, o que traga de volta a terra firme? Desprezo, indiferença? Não dá para mensurar. Mas dá para imaginar o que sente uma pessoa que espera por um órgão, essa tábua de salvação, essa esperança de voltar a ter uma vida normal, embora ainda cheia de cuidados, pois já estive exatamente neste lugar.
Não consigo mensurar a decepção de cada um dos transplantados ao descobrir que sua esperança de voltar a viver sem tantas limitações foi negligenciada por um grupo de pessoas que, provavelmente, nunca passaram pelas privações que passa um paciente com um órgão, seja ele qual for, que não funciona como deveria ou não simplesmente não funciona. É certo que se soubessem teriam mais cuidados, não arriscariam a vida de ninguém para ganhar um valor que não será capaz de apagar o rastro de seu ato indigno.
Não pretendo julgar ninguém, mas não deixo de me colocar no lugar daqueles que ao buscarem a solução para um problema acabaram encontrando outro. Podemos dizer que o HIV não mata como no início, mas isso não resolve. O corpo precisa absorver o órgão transplantado e para isso não poderia estar sobre ameaça de um vírus, simplesmente isso.
O que me resta é desejar que Deus ampare esses colegas transplantados (infelizmente, já houve óbito) e que encontrem força para manter o (s) tratamento (s) sem perder a fé e a esperança de que sempre podemos vencer os obstáculos que se apresentam.
Bom domingo e excelente semana.
Esperança, fé, amor e GRATIDÃO.
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