Marina era uma daquelas pessoas que, se não podiam ser classificadas como desafortunadas, também não podiam ser chamadas de sortudas. Vivia o que podia classificar de una vida simples e corriqueira. Uma das coisas que a deixava cabreira, era o fato de que parecia que ela estava sempre vivendo numa espécie de contramão de tudo o que ela desejava ou necessitava para sua vida. Nao raros foram os momentos em que ela se considerou infeliz mesmo.
Como ela chorou e praguejou contra a vida, contra Deus e contra toda a existência. Não compreendia mesmo o mecanismo da vida: se ela pedia uma coisa, recebia outra completamente diferente ou, quase sempre, não recebia nada. Ficava triste, acabrunhada, resmungava pelos cantos.
Porém, como todo quase todo mundo, ela logo esquecia aquele infortúnio e tratava de levar a vida adiante. Acreditava muito em Deus e que um ia ela a sua sorte acabaria mudando. Mas não foi bem isso o que aconteceu. Marina seguiu sua vida vivendo de maneira modesta e vendo muitas pessoas à sua volta terem muito mais do que ela.
Isso trazia de volta aqueles pensamentos que tanto tentava evitar, mas que vinha sempre à sua mente: Será que Deus é injusto e dá mais para uns do que para outros? Onde está a minha boa carreira, o marido e os filhos que não tive? A casa boa, as viagens que não fiz? Por que uns têm tanto e outros são obrigados a amargarem uma vida de sofrimento, de falta até das coisas básicas?
Não é preciso dizer que Marina não encontrou resposta para nenhuma de suas indagações, não é? E que chegou um certo tempo em que todas elas, aquelas indagaçoes, desapareceram. O tempo passou, os invernos ficaram cada vez mais rigorosos e Marina morreu.
Lá do outro lado veio a surpresa: Marina percebeu que a mudança de estado a deixou muito bem e que ela agora sentia-se feliz por ter cumprido uma vida que parecia tão pouco feliz aos olhos da terra de maneira tal que não tinha arrependimentos. Agora ela via que as fortunas da terra, muitas vezes, nos afastam das fortunas do céu.
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