É de se bater palmas para a coragem do autor João Emanuel Carneiro (e por tabela, para a Rede Globo) pela abordagem e pelo destaque que dá ao núcleo do lixão em sua novela, Avenida Brasil. Considerados uma espécie de párias sociais, os trabalhadores dos lixões não eram, até então, vistos em novelas. Ficavam lá no seu canto, um tanto confundidos com o próprio material que "garimpam".
Sabe aquela frase atribuída ao carnavalesco Joãozinho Trinta que diz que quem gosta de pobreza é intelectual e que pobre gosta mesmo é de luxo que reinou até agora, parece que não foi levada em conta dessa vez. Antes um tanto impensado, agora é só sintonizar na "novela das oito" (difícil perder essa mania, mesmo sabendo que ela vai ao ar à nove e...) para ver um lixão e não como pano de fundo e sim como uma das tramas principais.
Há quem fique incomodado, afinal a realidade não é assim tão fácil de ser encarada. Imaginar que aquelas pessoas mergulham literalmente no lixo que a cidade produz para dali tirar o seu sustento, é algo que faz pensar. Só que o autor parece estar disposto a comprar essa briga. Aliás, é preciso lembrar, ele mesmo já usou um lixão em sua novela "Da cor do pecado", onde a personagem de Giovanna Antonelli vai parar num vestida de noiva e tudo.
Na época, me pareceu que autor queria apenas chocar. Não vi ali algo que remetesse a uma preocupação social ou mesmo vontade de mostrar que aquele local existia, que aquelas pessoas viviam daquela maneira. Fora a atitude da atriz Giovanna Antonelli de tirar de lá uma catadora de lixo que, pelo que me consta, veio tornar-se uma modelo, nada mais foi falado ou feito. Agora, no entanto, parece que a abordagem é mais séria e faz parte do contexto da história e isso é bastante louvável.
Já faz tempo que nossas novelas apresentam um certo desgaste em sua temática. A repetição de tramas, tipos, ambientes parece tornar tudo pior ainda. Ao buscar o subúrbio e arrabaldes, o autor acerta. Só temos que esperar para ver se os ditos formadores de opinião não vão se sentir melindrados com uma pobreza assim tão escancarada e obrigue o autor a mudar o foco de sua história.
Por outro lado e não querendo ser estraga-prazeres, temos que fazer algumas perguntas: Quem são aquelas crianças que os personagens Lucinda e Nilo "criam"? Com tanta criança desaparecida e tantas atrocidades seria necessário um explicação melhor, tipo de onde elas procedem, se elas não tem pais, se foram abandonadas, roubadas e por aí vai.
Outro dado é quanto a ambientação do lixão, bastante realista por sinal. Vale ressaltar apenas que por mais que o trabalho seja próximo da realidade, faltam detalhes tais como os urubus (além de outros bichos) que vivem nesses lugares. Isso me faz pensar que por mais que a arte tente imitar a vida, a vida sempre se impõe. Isso sem falar do mau cheiro etc e tal, mas isso é uma outra história e com um H bem grande.
Outro dado é quanto a ambientação do lixão, bastante realista por sinal. Vale ressaltar apenas que por mais que o trabalho seja próximo da realidade, faltam detalhes tais como os urubus (além de outros bichos) que vivem nesses lugares. Isso me faz pensar que por mais que a arte tente imitar a vida, a vida sempre se impõe. Isso sem falar do mau cheiro etc e tal, mas isso é uma outra história e com um H bem grande.
Julio
ResponderExcluirMuito boa a sua abordagem sobre o assunto, a arte imitando a vida