Como todo bom brasileiro, Adolfo faz questão de dizer que não é preconceituoso. Imagina! Ele jamais seria capaz de um ato desse tipo. Pelo contrário. Ele até faz questão de dizer que tem amigos negros, gays, favelados e mais um enorme grupo que ele considera estar na lista dos que podem sofrer preconceito.
- Isso não é atitude de um homem evoluído, antenado com o seu tempo. - diz ele, quando questionado sobre a possibilidade dele ter preconceito de alguém.
Não sei se é necessário dizer, mas Adolfo acha que não se inclui em nenhuma das categorias acima descritas e nem em nenhuma outra. Para ser mais claro, ele faz questão de dizer que é loiro, que tem olhos azuis (difícil perceber, porque ele usa óculos de lentes grossas) e que comumente é confundido com estrangeiros (gringos), como se isso fosse um atestado, uma defesa:
- Isso que dá ser loiro e ter olhos azuis numa terra de mestiços, né? - diz ele, sem falsa modéstia.
Esses atributos faz dele, segundo a sua estreita de visão de vida, uma espécie de semideus, ou seja, ele está livre de sofrer preconceitos de qualquer ordem. Que coisa boa, não? Adolfinho, como comumente é chamado pelos parentes e amigos, é uma figura. Baixinho, com uma calvície evoluindo para careca, com uns bons quilos acima do peso, pé chato e com uma voz um tanto desafinada, para não dizer outra coisa e, ia me esquecendo, sem muita coordenação motora.
Porém, basta começar uma conversa qualquer para ele sair com meia dúzia de histórias que não nos deixam pensar outra coisa a seu respeito. Está sempre contando piadas envolvendo gays, negros, pobres, se espanta com casamentos ou amizades inter-raciais, ri de pessoas com defeitos físicos, gagueiras e etc, acha que pobre fede, que velho não presta para nada e que deve morrer e quando vê um travesti ou gay sai sempre com com coisas do tipo:
- Ui, ui.. Olha a menina... E aí gostosona?
Mulher no transito para ele é o fim. Qualquer coisa e lá vem ele:
- Só podia ser mulher...
Com negros a situação não melhora nem um pouco:
- Marcinho é negro, mas é muito gente boa. O cara é muito gente fina. Ninguém diz que é crioulo. É o típico preto de alma branca. - diz, confiante que sua fala é legítima e que não está cometendo um ato preconceituoso ou criminoso.
Como Adolfo, muitos vivem essa dicotomia: proclama que não são preconceituosos, mas seus atos e palavras parecem insistirem em ir para o lado contrário. Agem de forma preconceituosa exatamente por julgarem que não o são. Como se bastasse falar e as palavras agissem sozinhas, sem nenhuma coerência. Diz uma coisa e faz outra. Esquecendo-se que nossas palavras precisam estar conectadas com nossos atos e ações. Se assim não for, uma anula coisa a outra e o resultado é que a pessoa acaba sendo aquilo que afirma não ser. É provável que Adolfo gostaria de não ser preconceituoso, ser gente boa, um cara descolado, talvez apenas para ser politicamente correto como dita a moda dos nossos dias, mas não consegue.
Por outro lado, coloca-se numa posição privilegiada onde nada pode atingi-lo e enganado vai levando a vida. Sem se dar conta de que somos todos iguais, que estamos todos sujeitos às mesmas "leis".
- Isso não é atitude de um homem evoluído, antenado com o seu tempo. - diz ele, quando questionado sobre a possibilidade dele ter preconceito de alguém.
Não sei se é necessário dizer, mas Adolfo acha que não se inclui em nenhuma das categorias acima descritas e nem em nenhuma outra. Para ser mais claro, ele faz questão de dizer que é loiro, que tem olhos azuis (difícil perceber, porque ele usa óculos de lentes grossas) e que comumente é confundido com estrangeiros (gringos), como se isso fosse um atestado, uma defesa:
- Isso que dá ser loiro e ter olhos azuis numa terra de mestiços, né? - diz ele, sem falsa modéstia.
Esses atributos faz dele, segundo a sua estreita de visão de vida, uma espécie de semideus, ou seja, ele está livre de sofrer preconceitos de qualquer ordem. Que coisa boa, não? Adolfinho, como comumente é chamado pelos parentes e amigos, é uma figura. Baixinho, com uma calvície evoluindo para careca, com uns bons quilos acima do peso, pé chato e com uma voz um tanto desafinada, para não dizer outra coisa e, ia me esquecendo, sem muita coordenação motora.
Porém, basta começar uma conversa qualquer para ele sair com meia dúzia de histórias que não nos deixam pensar outra coisa a seu respeito. Está sempre contando piadas envolvendo gays, negros, pobres, se espanta com casamentos ou amizades inter-raciais, ri de pessoas com defeitos físicos, gagueiras e etc, acha que pobre fede, que velho não presta para nada e que deve morrer e quando vê um travesti ou gay sai sempre com com coisas do tipo:
- Ui, ui.. Olha a menina... E aí gostosona?
Mulher no transito para ele é o fim. Qualquer coisa e lá vem ele:
- Só podia ser mulher...
Com negros a situação não melhora nem um pouco:
- Marcinho é negro, mas é muito gente boa. O cara é muito gente fina. Ninguém diz que é crioulo. É o típico preto de alma branca. - diz, confiante que sua fala é legítima e que não está cometendo um ato preconceituoso ou criminoso.
Como Adolfo, muitos vivem essa dicotomia: proclama que não são preconceituosos, mas seus atos e palavras parecem insistirem em ir para o lado contrário. Agem de forma preconceituosa exatamente por julgarem que não o são. Como se bastasse falar e as palavras agissem sozinhas, sem nenhuma coerência. Diz uma coisa e faz outra. Esquecendo-se que nossas palavras precisam estar conectadas com nossos atos e ações. Se assim não for, uma anula coisa a outra e o resultado é que a pessoa acaba sendo aquilo que afirma não ser. É provável que Adolfo gostaria de não ser preconceituoso, ser gente boa, um cara descolado, talvez apenas para ser politicamente correto como dita a moda dos nossos dias, mas não consegue.
Por outro lado, coloca-se numa posição privilegiada onde nada pode atingi-lo e enganado vai levando a vida. Sem se dar conta de que somos todos iguais, que estamos todos sujeitos às mesmas "leis".
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