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junho 24, 2011

A visão da montanha.

    Não há nada demais em ser precavido. Pelo contrário, é sempre bom calcular bem os nossos passos para que depois a gente não tenha motivos para arrependimentos. Afinal, em muitos casos, logo após dar o primeiro passo em direção a alguma coisa tornar-se um tanto difícil voltar atrás. É quando colocamos as mãos na cabeça e dizemos: "Ai, se eu tivesse pensado melhor..."
    Muita gente exagera esse tal de "pensar melhor" e, em nome de evitar problemas futuros, decide retardar indefinidamente as decisões que precisa tomar e fica super dimensionando as dificuldades que poderá encontrar no caminho. Usa essas "dificuldades" como desculpa para não colocar o pé na estrada. Comporta-se como alguém que, diante de uma montanha muito alta, sente-se cansado só em imaginar sua escalada. Por isso, permanece na base da montanha esperando que um milagre a transporte até seu topo, onde se encontra o seu objetivo, a razão de sua vida.
   Existe, sem dúvida, o desejo das grandes (ou mesmo das pequenas) realizações, mas também existe o medo, a falta de confiança na sua própria capacidade de vencer os obstáculos. É isso que nos paralisa diante do caminho a ser desbravado e nos faz enxergar apenas as barreiras, os tropeços, o cansaço que certamente virá e a possibilidade de falhar.     
    Nesses momentos, infelizmente, esquecemos que igualmente existe a chance do sucesso, do êxito e que tudo só depende de nós, que somos nós que construimos os nossos sucessos e os nossos fracassos. E se a decisão é nossa, por que não optar pelo sucesso? Acredito que você concorda comigo que seria burrice optar por ficar parado na base da montanha imaginando as dificuldades que poderá encontrar na sua escalada, não? O melhor é subir aos poucos e, se possível, sem olhar para trás. Como diz o ditado: é para frente que se anda. 
   


junho 17, 2011

Conhecendo nossos limites

     É comum e, na minha opinião, bastante saudável, o ser humano vez por outra (senão a vida inteira) lançar-se em desafios. A prova mais visível disso são os atletas. Eles, sabidamente, vivem desafiando seus próprios limites com o objetivo de quebrar recordes. Não raro, esses desafios de limites causam-lhes muitas alegrias por angariarem troféus, dinheiro, fama e tudo o que os grandes feitos promovem. Por outro lado, também podem trazer muitas dores e tristezas, quando aquele que se propõe ao desafio falha.
     É nessa hora que... Bem, nosso intuito aqui não é falar dos grandes atletas que são por vezes alçados à categoria de heróis e mitos, e sim dos simples mortais como eu e você. Porque ninguém pode negar que no nosso dia a dia nós somos levados a enfrentar vários desafios. Alguns nos são impostos pela vida e outros nós mesmos vamos ao encontro deles. Geralmente com a melhor das intenções.
    Afinal, quem não gosta de, após enfrentar alguns obstáculos, chegar vitorioso lá na frente? Todos nós gostamos, não é?  Só que muitas vezes levados pelo entusiasmo da hora ou simplesmente por não medir as consequências nos lançamos em verdadeiros abismos sem rede de proteção. Sem calcular se temos ou não condições de enfrentar os contratempos, saímos quais bois indo para o matadouro e quando damos por si estamos acima do limite de nossas forças e aí só nos resta perguntar: E agora? Desistir ou continuar? 
     A decisão não é fácil de ser tomada. Nosso lado altruísta certamente dirá que devemos continuar, usando o argumento: "Você já veio até aqui. Não custa suportar um pouquinho mais." Não se pode negar que conselhos desse tipo são, muitas vezes, sábios. Quantas histórias não conhecemos de pessoas que estavam a ponto de desistir e por insistirem um pouco mais acabaram vencendo grandes desafios que lhes foram impostos? Muitas, não?  
    Porém, devemos atentar para o fato de que, muitas vezes, estamos mesmo no nosso limite, que não se trata apenas de falta de coragem para continuar a luta, pois somos criaturas humanas e não máquinas. Existe sempre aquele momento em que nem um milagre pode mudar a situação e que temos que aceitar a realidade como ela se apresenta.
     E só podemos descobrir isso se nos conhecemos bem e, com isso, nos respeitamos. O respeito próprio é algo que nos livra de agir de forma orgulhosa e prepotente. Ele nos ensina a refletir e concluir que podemos interromper determinada tarefa e recomeçá-la num outro momento em que estejamos melhor preparados, sem que isso pareça fraqueza ou mesmo humilhação. E isso vale para tudo na vida. Não podemos exigir de nós aquilo que está acima de nossas forças. Quando nos vemos em situações como essa, agir com prudência e sempre a melhor saída.









junho 12, 2011

Você sabia?

        É assim que começa a maioria das conversas em que o falante tem a intenção de contar alguma novidade ou algum segredo cabeludo. Geralmente, antes mesmo que você responda sim, não ou o que? a pessoa já vai despejando toda a história. Não raro, trata-se de algo que todo mundo já está cansado de saber e , portanto, nem é tão novidade assim, mas também pode ser um daqueles segredos envolvendo algum conhecido que você preferiria não ficar sabendo. Não porque não se deva gostar de novidades. Todos gostam , não é?
     Porém, essas novidades ou segredos quase sempre são uma mera desculpa para que o falante espalhe seu veneninho sobre a pessoa da qual se trata a história. Você já reparou que é muito raro alguém vir contar que 'Fulano de tal" ou "Sicrano" subiu na vida por seu próprio esforço, que é talentoso, que merecia a promoção que recebeu no trabalho, que está no lugar certo, que merece a família que tem, os amigos e tudo o que tem? Pois é. Essas "novidades" são sempre para espalhar os maus passos daquela pessoa. Parece que tem gente que fica feliz quando descobre algum deslize dos outros: "Sabia que fulana está traindo seu marido?" "Sabia que o Jorge deu um desfalque na firma onde trabalhava?" Sabia que, apesar daquela cara de certinho, o Pedro é viciado em drogas ilícitas?" E vai por aí. Dá até para ver o veneno escorrendo no canto da boca.
     Esse tipo de pessoa não pode ser bem intencionada. Não acredito que alguém que saia por aí difamando os outros possa ser visto como inofensivo e que tudo o que quer é apenas jogar conversa fora, mostrar o quanto chocado está com a situação em que se encontra seu amigo. Mesmo com muito esforço, não dá para acreditar. Sempre tenho um pé (senão os dois) atrás com esse tipo de gente. Além do que ela só te conta o fato porque tem desejo de vê-lo disseminado. Para mim, não tem outro jeito: essa pessoa não passa de uma fofoqueira e quando ela conta a fofoca tem em vista que você vai contar para o primeiro que encontrar, ainda que seja apenas por ter achado a história esquisita, inacreditável ou para conferir se se trata de verdade ou mentira. É aí que muita fofoca acaba ganhando a boca do povo.
     Isso não significa que todo mundo seja anjinho e que tudo que é dito por aí é mentira, fofoca. Não é bem assim. As pessoas cometem erros mesmo, dão maus passos, saem da linha, têm vícios, taras, são politicamente incorretas. O que não significa que devam ser crucificadas por isso, nem protegidas também. Cada um de nós tem o seu caminho para trilhar e pode, claro, acontecer de num momento ou noutro a gente dar uma escorregada aqui e ali ou mesmo cair.
     Alguém já disse que só Deus é perfeito. Portanto, tudo pode acontecer nessa nossa caminhada. E se nós, por algum motivo (ou pela graça de Deus) não temos esse ou aquele defeito, não podemos(nem devemos) ficar apontando o dedo, jogando luzes sobre os defeitos dos outros. O fato de estarmos (se for o caso) um pouco adiantados em relação àqueles que estão do nosso lado só nos faz ser mais compreensivos, mais solidários.
     Tenho por hábito esquecer ou ignorar qualquer história que venham me contar em que envolva a vida particular dos outros. Principalmente quando não posso fazer nada para ajudar aquela pessoa. Nesse caso, só resta mandar vibrações positivas para a pessoa (ou rezar, para quem assim prefere) e esperar que ela atravesse aquele momento e saia lá na frente inteira. Fuja quando alguém aparecer com algo parecido com: "Você sabia?"

junho 10, 2011

Como naquela canção do Roberto

     Em uma de suas canções mais populares dos anos 1970, o cantor Roberto Carlos diz que quer ter um "milhão de amigos". Quem não se lembra dessa música? Não sei ao certo se o cantor, no seu convívio social, conseguiu tal façanha. Embora seja possível calcular que ele tenha mais do que isso em número de fãs. Fãs e amigos são a mesma coisa? Creio que não. Amizade é algo mais que sentir admiração pelo trabalho de um artista, não é ? Ao mesmo tempo podemos dizer que talvez não seja algo para se contar em números. Melhor um amigo que vale por um milhão do que o contrário. Nesse caso, o importante de verdade é a qualidade das amizades e não a quantidade.
     Mas a questão não é essa. Afinal quem não gosta de ser benquisto, adorado por todos e viver cheio de amigos por onde passa? Todo mundo, não? Eu mesmo confesso que não acharia nada mal. Nada como ser querido de todos, ter amigos verdadeiros e ser alguém cuja presença é sempre requisitada não por outro motivo que não seja pela empatia pessoal. Esse é o ideal que todos buscamos no nosso dia a dia, no nosso convívio social, durante toda a nossa existência.
     Em dias de "redes sociais" como Orkut, Facebooks e outros mais talvez não seja de duvidar que alguém chegue perto de ter um milhão de amigos. Ainda que, para muitos ( inclusive para mim), "a amizade virtual" não seja precisamente como a amizade, digamos, "real" . Polêmicas à parte, o fato é que nem sempre somos essa simpatia toda. Por mais que estejamos abertos ao diálogo, certos de nossa boa energia, a coisa não rola. Acontece de antes mesmo de chagarmos a algum lugar já estarmos causando estranheza em alguém. Daí a desenvolver grandes antipatias é um pulo. Muitas pessoas acabam estigmátizadas como chatas, desagradáveis e insuportáveis ( o que não falta é adjetivo) por causa dessas antipatias à primeira vista.
     Tenho certeza de que você se enquadra no primeiro tipo, sou seja, o dos simpáticos, os candidatos a um milhão de amigos. Porém, é preciso lembrar que nem sempre isso é possível. Sobretudo quando a pessoa desempenha alguma função do tipo síndico, chefes de toda sorte, policial, juiz, advogado de acusação e tantas outras em que, não raro, se vê obrigada a ter posições não muito simpáticas mas necessárias para o bom andamento das coisas.
     Então o que fazer se você  por mais que cante "aquela canção do Roberto" continua mal no IBOPE? Para ser sincero, não há muito o que fazer e nem adianta ficar reclamando da sorte. Principalmente  se você tem certeza de suas qualidades e do tanto de calor humano e amizade que tem para distribuir. Muitos preferem pensar que as pessoas são que não vêem as suas qualidades e estão fechadas no seu mundinho particular e não enxergam o mundo à sua volta. Uma saída, talvez mais sensata, seria  distribuir esse amor por todas as pessoas com as quais você encontra sem se preocupar  se elas estão percebendo ou não. Uma hora elas vão perceber e então... O importante é não armazenar esses sentimentos aí dentro de você esperando uma ocasião propícia para usá-los. Bota isso pra fora. Toda hora é hora de distribuir bons sentimentos e estar em paz consigo mesmo.
     Quando eu era adolescente. e enfrentava problemas que todo adolescente enfrenta, li um livro chamado "Pai, me compra um amigo", do Pedro Bloch. Acho que não é o caso de sair por aí comprando amigos.  Amizade a gente conquista. E é bom que seja uma conquista bem difícil para que possamos valorizá-las mais. Para que saibamos o seu real valor.


junho 04, 2011

Tesouros na terra.

     A história que vou contar hoje poderia passar despercebida como muitas histórias passam despercebidas desde o início dos tempos: alguém nasce, tem uma vida relativamente longa e, consequentemente, morre. Nada  demais, não é mesmo? Afinal todos seguimos, com alguma variação aqui e ali, o mesmo roteiro. Não fosse a pessoa em questão alguém que nasceu numa Espanha que estava vivendo uma guerra civil ( a que levou Franco ao poder) e a segunda guerra mundial (a que dividiu o mundo entre socialistas e capitalistas, para ser um tanto simplista).
     Esse garoto viveu numa Espanha destruída por uma guerra civil e paralisada pela segunda grande guerra. Filho mais novo, o pai morreu quando ele nasceu, vivia numa pequena propriedade rural na Catalunha com a mãe e mais sete irmãos, assolados pela fome e pela falta de esperança em dias melhores. Por isso, o menino foi mandado para viver com um tio padre que queria que ele tivesse o mesmo destino. Sem vocação ou interesse pela vida religiosa. apesar do padre tentar seduzi-lo com a promessa de fazê-lo seu herdeiro, nosso herói acaba deixando o seminário e vai morar com uma irmã em Madrid, onde, mais uma vez seguindo um destino inexorável, entra para o exército, apesar de suas limitações físicas. Uma vez fora do exército, volta a viver com a irmã. Naqueles dias difíceis, ele é um peso para a irmã e o cunhado. É quando alguém lembra-se que ele tem um irmão que migrou para o Brasil há algum tempo e que escreve cartas entusiasmadas sobre aquele país da América do Sul, para eles desconhecido, mas que pode ser a salvação para quem vive num país destruído e sem emprego.  A decisão de vir para o Brasil é tomada, porém falta o dinheiro para a viagem. Tudo é resolvido através de uma carta ao irmão pedindo o dinheiro da passagem. O dinheiro chega e  ele embarca num navio para o Brasil. A viagem dura cerca de dois meses.
     O ano era 1956 e o Brasil que recebe aquele imigrante é o país de Juscelino Kubitschek (cinquenta anos em cinco) que, apesar de todas as misérias, vivia um período de euforia e crescimento. Logo, nosso personagem vai estar trabalhando juntamente com o irmão que, segundo ele, era engenheiro, na construção de Brasília. Os problemas de dinheiro e falta perispectiva de futuro tinham ficado para trás. No Brasil, o garoto miserável da Espanha, tinha a chance de vislumbrar um futuro melhor. Com o irmão monta uma pequena construtora e a vida segue seu rumo. Mas o destino lhe prega uma peça: o irmão , que sofria com o calor dos trópicos, tem um derrame cerebral e morre. Sozinho no Brasil. ele se vê obrigado a sobreviver a qualquer custo. Diferente do irmão , ele não tem profissão e fala muito mal o português. É ajudado pelos amigos de seu irmão e decide permanecer no país, onde casa-se com uma boliviana.
     Sua vida viria a mudar quando ele compra um apartamento a prestações num prédio em construção no Flamengo.  Depois de esperar anos para receber o apartamento, um conjugado de fundos medindo vinte metros quadrados, ele se torna sindico do prédio: um verdadeiro cheque em branco, assinado. Os anos passam e nosso herói (?) usando de meios pouco ortodoxos se perpetua no poder como sindico, tornando-se ano após ano uma pessoa temida e odiada por tantos quantos o conheciam.  Muito gordo, baixinho (cerca de um metro e quarenta), uma voz estridente, um sotaque acentuado e uma aparência um tanto feminina, que gerava muita confusão em quem o via, ele era capaz de qualquer coisa para manter o seu posto. Tornou-se, aos poucos, uma figura folclórica no Catete, Flamengo e arredores, encarnando como ninguém o jeitinho brasileiro de fazer política e para aprender a falar o português chegou a esquecer o espanhol.
     Nessa altura você deve estar perguntando: por que diabos ele está contando essa história? O que nós temos com isso? Espera lá. Calma. Eu tive a sorte ou o azar de trabalhar com esse senhor durante dezenove anos. Sim, dezenove anos. Tive com ele uma relação muito difícil pelo fato dele ter sido um patrão cruel e perverso,  um ditador que fazia questão de que todos vivessem segundo às suas leis. Dividi a mesma sala com ele todos esses anos e nosso relacionamento era o pior possível. Não sei dizer porque trabalhei com ele tanto tempo. Provavelmente porque nós tínhamos algum resgate juntos ( acredito que não estamos aqui por acaso e que tudo tem uma razão de ser) e eu não sou de fugir dos problemas.  Além de, como ele, também migrei para essa cidade e tive que me sujeitar a trabalhar, não onde eu queria, mas onde me deixavam trabalhar.
     O fato é que esse senhor veio a falecer em meados de maio deste ano. Desde então seu estilo de vida tem me feito pensar: o que leva uma se a amealhar uma verdadeira fortuna durante sua vida e viver como um verdadeiro mendigo? O dinheiro que ganhava (que não era pouco) ele convertia em dólares e guardava, mas recusava-se a gastar, recusava-se a viver com um mínimo de dignidade e dar dignidade àqueles com os quais convivia. Ao ficar doente foi para um hospital público como um simples aposentado do INSS. Quando alguém falava com ele sobre sua vida "franciscana", ele dizia que estava guardando dinheiro para sua velhice. Velhice que já tinha chegado há bastante tempo, pois ele morreu aos 81 anos. Morreu sem gastar o dinheiro que juntou, sem viver a vida que o dinheiro pode proporcionar e sem o amor das pessoas.
     Sua morte me deixou triste por ter presenciado uma pessoa juntar tesouros aqui na terra acreditando que era isso o que valia a pena, quando na verdade da vida não se leva nada além das nossas obras de amor e caridade. Mesmo passados tantos anos e as parábulas de Jesus serem do conhecimento de todos, ainda é possível ver pessoas vivendo de forma tão materialista juntando tesouros na terra.
     Que todos vivamos certos de que a terra e seus tesouros passam e que, ao deixá-la, tudo o que juntamos de material fica aqui mesmo, nada levamos além da nossa história e dos nossos feitos.