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janeiro 29, 2011

A arte de convidar.

     Não precisam ficar assustados, porque eu não pretendo escrever um tratado sobre a arte de convidar, receber, como se vestir, sentar à mesa ou coisa parecida. Longe de mim. Afinal, não sou lá muito versado nessas artes onde reinam as "Glorinhas Kalills" e assemelhados. Nada disso. Apenas o fato que  vou narrar a seguir diz respeito ao ato (ou arte) de convidar. É verdade que sempre olhei com alguma desconfiança para esse assunto. Para mim, sempre pareceu frescura demais ficar ditando regra de comportamento para as pessoas. Sempre achei que as pessoas deveriam ficar à vontade. Cada um à sua maneira e todos muito felizes. Nada desse papo de ficar engessando as pessoas e obrigando-as a comportar segundo esse ou aquele padrão. Isso é bom aquilo é ruim, isso pode aquilo não pode.
     Porém, outro dia recebi um convite para um aniversário. O convite partiu de uma pessoa que eu não conhecia bem e confesso que cheguei a pensar em não aceitar, mas como ultimamente tenho convivido muito essa pessoa achei que não custava aceitar o convite. De certa forma seria um jeito de conseguir uma aproximação maior e isso não seria nada mau. Meio relutante ainda, arrumei-me e fui. A festa era num restaurante desses que servem a rodízio. Fato que eu achei contar a meu favor, por ser um lugar neutro. Logo que cheguei não consegui identificar nenhum conhecido e foi como muito custo que vi alguém com quem poderia ter algum tipo de conversa e sentei-me ao lado dele. Tudo pareceu-me extremamente formal. Pouco se falava. Aqueles que conversavam, dava para perceber, eram parentes da aniversariante ou estavam ali juntos como casais, amigos comuns, etc. De resto, a monotonia era quebrada pelo "entra e sai" dos garçons que passavam a todo tempo oferecendo suas comidas sem ao menos dar tempo de pensar. Você vai dizer que rodízio é assim mesmo e eu sei disso, mas cá pra nós, num aniversário ou qualquer tipo de comemoração é preciso que se tenha um pouco de delicadeza para não assustar. Se não o convidado se sente numa roleta russa, numa roda-gigante.
     No entanto, isso não foi o pior. Como já disse, eu não conhecia praticamente ninguém além da aniversariante. Por sorte aquele quase conhecido estava a fim de papo e ficamos conversando coisas sem muito sentido ou utilidade, mas que davam para passar o tempo e me tirava a sensação de estar sozinho no mundo.  Mas como tudo o que é bom dura pouco, depois de uma hora mais ou menos, o companheiro anunciou que iria embora. Fiquei sem jeito de fazer-lhe companhia e sair também. Enquanto ele estava bem fundamentado em suas desculpas para sair, pois fora um dos primeiros a chegar, eu não tinha a mesma sorte e não tinha intimidade para pegar carona na sua desculpa. Resolvi ficar acreditando que encontraria alguém naquela comprida mesa para bater papo e matar o tempo e o tédio. Ledo engano. Com a saída do companheiro improvisado, não mais consegui nenhum tipo de contato com os habitantes daquela mesa. Eram blocos impenetráveis. Decidi ficar até criar coragem de levantar e sair dali e acabar com aquela sensação de estar na festa errada, pois nem com a aniversariante eu conseguia conversar. Toda vez que eu tentava ela dizia: "Estou em falta com você, né? Daqui a pouco eu venho aqui para gente tirar uma foto." E sumia. O tempo passava e eu ali. De repente foi me dando uma raiva misturada com pânico de estar ali perdido no meio daquele monte de gente estranha que cheguei a suar. Foi então que  levantei para ir ao banheiro e fui embora acreditando ter feito um péssimo programa para uma noite de sábado.
      Por esse motivo, passei a acreditar que os ditadores de regras de comportamento não estão tão errados assim. Pois, se a aniversariante (ou eu) tivesse se preocupado com fato de que é preciso juntar numa festa pessoas afins, eu teria me livrado desse vexame. A partir de agora quando eu for convidado para alguma festa ou comemoração quero ver a lista de convidados. Se não, nada feito.
   

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