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novembro 26, 2014
novembro 22, 2014
Olhando-se com outro olhar.
    Porém, há uma forma de preconceito que talvez não se possa enfrentar tão claramente ou mesmos denunciar. É o preconceito que impomos a nós mesmos. Ele às vezes vem mascarado de timidez, de falta de amor próprio, de medo de encarar a vida, mas não se engane, é preconceito mesmo.
     É preconceito s pior espécie que se pode imaginar, pois nos paralisa. Acaba com todas as nossas chances, uma vez que ele está sempre ali dizendo: "você não vai conseguir", "isso não é para você", "você não nasceu pra isso"...
     Não faltam afirmativas destrutivas que, infelizmente, costumamos ouvir vindas do nosso próprio interior. Muita gente vê isso como prevenção. Acreditam que ao nos alertar das nossas limitações estaríamos evitando sofrimentos maiores.
     Pode até ser. No entanto, vejo como preconceito pura e simplesmente. E como se livrar dele já que não podemos denunciá-los às autoridades ou mesmo fazer passeata nas ruas? Olhando para si mesmo com um outro olhar, sem exigências absurdas, sem a intolerância dos preconceituosos e, sobretudo, sem fazer pouco de si, sem diminuir-se diante do outro.
    O preconceito nada mais é do que uma tentativa de aniquilar o outro, julgando-se superior. Quando temos preconceito de nós mesmos estamos dizendo que somos inferiores aos demais, que estamos aquém das exigências da sociedade em que vivemos.
     Livre-se desse  câncer que coroe as nossas vidas e nos transforma em pálidas figuras que se arrastam pela vida fazendo-nos dependentes da aprovação e da bondade dos outros. Antes de querer ser aceito, devemos nos aceitar. 
Bom domingo.
novembro 15, 2014
Ganância
     A vida foi passando e logo descobri que ser ambicioso não era uma coisa tão ruim assim. A ambição me levaria a querer mais da vida e a  lutar para melhorar minha cultura, meu padrão social e a ter metas a alcançar. Com isso, eu já tinha mais que me envergonhar de ser ambicioso e, sim, me orgulhar. Assim eu estava apenas aceitado fazer parte do grupo dos que lutam por um lugar melhor ao sol. Camada de ozônio à parte, nada demais, não é? 
     Passei a ambicionar ser melhor do que eu era e a alcançar posições que eu antes achava que estava fora do meu padrão e assim tenho vivido até hoje. Sempre querendo galgar um degrau a mais sabendo, claro, que a vida é feita de vitórias, mas também de derrotas. Mais que isso, sabendo que as derrotas não são vergonhas ou vexames, mas aprendizados, alertas, avisos para que eu me prepare melhor para a próxima tentativa.
     No entanto, nos últimos tempos tenho me perguntado se a palavra ambição não voltou a ter aquele seu único significado da minha infância, ou seja, sinônimo de ganância e "olho grande naquilo que não lhe pertence". E essa dúvida vem desses constantes escândalos políticos que a imprensa noticia dia a dia.
    Não dá para entender como alguém pode ter a desfaçatez de meter a mão no que não lhe pertence apenas levado pelo desejo de viver uma vida melhor. E não se pode dizer que seja sem fazer esforço, porque o que eles fazem para botar a mão no dinheiro público é algo que leva tempo e astúcia.
      Dizem que é a certeza da impunidade que os leva a agir assim, mas pelo que vemos há tempos a maioria acaba indo para a cadeia ou sendo exposta a algum tipo de vexame público. O que resta é mesmo pensar que são pessoas que agem levadas pela ambição, pura e simplesmente, sem medir as consequências de seus atos.
    É triste ver, não só o dinheiro público indo para as contas pessoais de ladrões e larápios travestidos de respeitados homens públicos, mas ver a que ponto o ser humano é capaz de descer para satisfazer a sua ganância.
      Mais triste é perceber que levados pelo que muitos acreditam ser apenas senso de oportunidade, o ser humano torna-se tão somente um predador voraz. Não aquele animal predador que mata para satisfazer a sua fome imediata, mas aquele que abocanha tudo pelo prazer de ver os próprios semelhantes padecerem sem nada.
Bom domingo
novembro 08, 2014
Sintonia perdida.
 Os dois se conheceram nos primeiros anos do curso fundamental e permaneceram na mesma escola e, quase sempre, na mesma classe até o segundo ano do ensino médio, quando o pai de Maurício, que era funcionário do Banco do Brasil,foi transferido de cidade.
Eles se separaram com promessas de que se veriam sempre e que a amizade nunca acabaria. Nos primeiros anos, eles se comunicaram através de cartas, algumas poucas vezes falaram por telefone e, com a passagem do tempo, as cartas e os telefonemas foram se espaçando até que deixaram de existir.
Eles se separaram com promessas de que se veriam sempre e que a amizade nunca acabaria. Nos primeiros anos, eles se comunicaram através de cartas, algumas poucas vezes falaram por telefone e, com a passagem do tempo, as cartas e os telefonemas foram se espaçando até que deixaram de existir.
Marcos e Maurício ficaram alguns anos sem se falarem. Um não sabia do outro. Marcos tentou contato com o amigo, mas foi em vão. Suas cartas voltaram e o número de telefone mudou de dono. O jeito foi esquecer o amigo e seguir a sua vida. 
Novas amizades surgiram, a vida seguiu o seu curso. Mas aquela amizade, aquela sintonia que existia entre ele e Maurício nunca mais aconteceu. Por isso, Marcos queria tanto reencontrar o amigo. Em sua imaginação, a amizade continuava intacta, o tempo não tinha feito nenhuma diferença. Bastaria que eles se encontrassem para que tudo voltasse a ser como antes.
E foi com esse pensamento que Marcos caminhou para aquele encontro que só estava sendo possível pelo milagre da internet. Foi através do Facebook que os dois voltaram a se encontrar. Marcos viu a foto do amigo e não teve dúvida, era ele. Sem demora, mandou um pedido de amizade e, para sua sorte, Maurício aceitou imediatamente.
Desde então, os dois mantêm contato. Marcos, sempre muito falante e cheio de saudades, e Maurício, bastante reservado, com respostas monossilábicas às muitas indagações do amigo de infância e adolescência.
A caminho do encontro, marcado num bar na orla de Copacabana, Marcos vai fazendo planos. Não vê a hora de dar um forte abraço no amigo e matar a saudade. Ele chega ao bar e avista um homem gordo sentado numa mesa a um canto, acompanhado por duas mulheres. O homem levanta e vem ao seu encontro. Ele não tem dúvida, é Maurício. Quanta diferença! Ele era tão magro e agora...
- O tempo passou, Marquinho. - grita Maurício, diante da surpresa do amigo.
E ali, de pé, eles trocam as primeiras impressões. Marcos pensa dizer que a foto no Facebook não denotava tanta diferença, mas prefere ficar calado. O amigo apressa em apresentar as duas amigas que estão na mesa. São suas convidadas. Ele as conheceu na praia e as convidou para animar o encontro dos dois:
- Não me leve a mal, mas eu não sou de ficar de encontrinho com homem. Meu negócio é mulher. E espero que você também goste da fruta. Ou eu tô enganado?
Marcos não consegue esconder o constrangimento. Diante do silêncio que se estabelece, Maurício continua:
- No nosso tempo de criança você costumava desmunhecar um pouco...
Maurício solta uma sonora gargalhada e é acompanhado pelas duas mulheres. Marcos tem vontade de sair correndo do bar. A decepção é muito grande. Ele foi até ali ao encontro de um amigo que não via há muitos anos e não de um bêbado desagradável.
Novo silêncio. Marcos tem que decidir: ele vai para a mesa com o amigo bêbado e as duas mulheres ou volta para a rua e esquece aquele reencontro infeliz? Ele decide tomar o caminho da rua.
Lá fora, um sol de fim de tarde não desmente a estação. É horário de verão e o calor está forte. Marcos caminha um pouco. Está desnorteado. Aquele homem no bar não era seu amigo de infância e adolescência, era apenas um estranho. O Maurício, amigo inesquecível, ficou lá atrás na bruma do tempo protegido pela memória e lá que ele deve permanecer.
Bom domingo.
A caminho do encontro, marcado num bar na orla de Copacabana, Marcos vai fazendo planos. Não vê a hora de dar um forte abraço no amigo e matar a saudade. Ele chega ao bar e avista um homem gordo sentado numa mesa a um canto, acompanhado por duas mulheres. O homem levanta e vem ao seu encontro. Ele não tem dúvida, é Maurício. Quanta diferença! Ele era tão magro e agora...
- O tempo passou, Marquinho. - grita Maurício, diante da surpresa do amigo.
E ali, de pé, eles trocam as primeiras impressões. Marcos pensa dizer que a foto no Facebook não denotava tanta diferença, mas prefere ficar calado. O amigo apressa em apresentar as duas amigas que estão na mesa. São suas convidadas. Ele as conheceu na praia e as convidou para animar o encontro dos dois:
- Não me leve a mal, mas eu não sou de ficar de encontrinho com homem. Meu negócio é mulher. E espero que você também goste da fruta. Ou eu tô enganado?
Marcos não consegue esconder o constrangimento. Diante do silêncio que se estabelece, Maurício continua:
- No nosso tempo de criança você costumava desmunhecar um pouco...
Maurício solta uma sonora gargalhada e é acompanhado pelas duas mulheres. Marcos tem vontade de sair correndo do bar. A decepção é muito grande. Ele foi até ali ao encontro de um amigo que não via há muitos anos e não de um bêbado desagradável.
Novo silêncio. Marcos tem que decidir: ele vai para a mesa com o amigo bêbado e as duas mulheres ou volta para a rua e esquece aquele reencontro infeliz? Ele decide tomar o caminho da rua.
Lá fora, um sol de fim de tarde não desmente a estação. É horário de verão e o calor está forte. Marcos caminha um pouco. Está desnorteado. Aquele homem no bar não era seu amigo de infância e adolescência, era apenas um estranho. O Maurício, amigo inesquecível, ficou lá atrás na bruma do tempo protegido pela memória e lá que ele deve permanecer.
Bom domingo.
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