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novembro 10, 2011

Autores de novelas da Globo sofrem com falta de imaginação.

     Eu já disse aqui em outra ocasião que (quando dá) assisto novelas, por isso cá estou outra vez para falar do tema. Só que dessa vez não é para elogiar o gênero ou coisa parecida e sim para chamar a atenção para um fenômeno que vem ocorrendo entre os seus principais autores.  Se você também costuma dar uma olhadinha já deve ter percebido, sem nenhuma dificuldade, é claro, o quanto as tramas das ditas novelas têm sido repetitivas. Coisa de assustar os menos prevenidos. O negócio anda tão feio que está acontecendo de uma mesma trama ou tema estar na novela das 5, 6, 7 e 9 ao mesmo tempo dando a impressão de que se está vendo a mesma novela, independente do horário.
    Aquele antigo diferencial entre as tramas das seis, com suas histórias ingênuas, a das sete com ares um tanto joviais e a das oito (ou será das nove?) com suas tramas mais densas e abordando temas mais, digamos, adultos, não existe mais. Pelo que dá a entender os autores estão liberados para falar de qualquer coisa a qualquer hora. Até ai, você certamente diria, nada de mais. Fora uma certa mesmice e pasteurização, eu também vou pelo mesmo caminho. Só que esses ditos autores estão provando que não costumam, como qualquer mortal, dar uma olhadinha nas novelas dos colegas. Prova disso é a repetição de histórias, plots, tramas, argumentos, temas ou que quer que seja. Pelo que se sabe, eles (pelo menos é o que se diz pela imprensa) ganham muito bem, o que não justifica a preguiça ou indolência mental, não é? Além do mais, eles (diferentes dos autores do passado como Ivani Ribeiro, Janete Clair e outros que ainda andam por aí) escrevem suas novelas juntamente com um grupo que costuma contar com até dez integrantes. Será mesmo necessário tanta gente? O que essa turma toda faz? Será que ficam apenas batendo papo e esquecem da trama que estão desenvolvendo?
     Eu sei que você dirá que os temas se esgotam, afinal são mais de cinquenta anos de novelas no ar. Pode também dizer que chega uma hora em que dá-se a impressão de que já se falou de tudo, que o gênero está desgastado e precisando de renovação.  Mais uma vez digo que concordo. Deve ser desgastante escrever duzentos capítulos e ainda tentar ser original. Pois está aí a questão: tentar ser original. Não é demais dizer que a "moçada" não tem feito essa lição de casa: buscar um mínimo que seja de estilo e originalidade. Parar de ficar copiando uns aos outros e buscar o novo para brindar o público que (pelo que sei) continua prestigiando com sua audiência e interesse.
    No ar atualmente temos tramas que falam de espiritismo (sem muito compromisso com a doutrina, haja vista),  inseminação artificial com casais divergindo dos procedimentos e etc, temos gente ganhando na loteria (pelo menos na ficção se ganha e se sabe quem ganhou), temos milionários esnobes que não estão nem aí para os pobres e pela coisa alheia (alguns casos até os atores são repetidos), temos dondocas fúteis que se acham "o ó do borogodó"  desfazendo de todo mundo, homem mais velho abandonando mulher para ficar com jovenzinha boazuda sem neurônio, um uso, sempre estranho e que beira o jocoso, da Internet e afins e assim poderia ficar aqui listando as repetições. E as verdadeiras questões do nosso país, onde é que ficam? Parece que nossas queridas novelas (leia-se, os autores) não têm nenhum compromisso em retratar a vida do brasileiro comum e sim nos enfiar pela cara à fora uns tipos que ficariam melhor se fossem americanos de Miami.
     Aí você poderia dizer que novela se transformou num produto industrial e que é feito para dar lucro. Isso talvez explique a ausência de tipos mais brasileiros, a presença quase única e obrigatória de personagens da raça branca (sobretudo uma população loura que talvez nem na Europa possa encontrar tantos), a quase inexistência de personagens da raça negra (e outras) que não sejam empregados domésticos ou personagens meramente periféricos. Pelo que dizem, é isso que os gringos querem ver e é isso que eles mostram. Até porque as produções visam o mercado externo e nunca é demais lembrar o .carnavalesco Joãozinho Trinta com sua frase: "Pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual". Pode até ser. Eu prefiro apostar que um povo gosta de se ver retratado no espelho, quero dizer, no vídeo.
    Apesar da trama repetitiva (os atores, idem) temos que tirar o chapéu para a novela das seis. Lícia Manzo, ao localizar sua história em Porto Alegre e arredores, acaba tirando a novela do eixo Rio de Janeiro e São Paulo. Pelo que parece, até agora, a história se passa mesmo no sul do país. Só falta, é claro, daqui a pouco a autora ( e toda a sua trupe) colocar os personagens num veículo qualquer e os trazer para o Rio ou os levar para São Paulo. Alguém seria capaz de apostar qual das duas cidades seria a escolhida?

novembro 05, 2011

Uma viagem sempre adiada



     Quando ele resolveu  deixar sua pequena cidade, decidiu que só voltaria a pisar ali novamente quando "vencesse na vida". Mas aquele jovem não sabia nada da vida. Pouco importava que lhe dissessem que vencer na vida nos grandes centros não era algo assim tão fácil. Ele respondia que isso dependeria de força de vontade e persistência. E isso ele tinha de sobra.
     Muitos foram os que tentaram lhe avisar: "A vida nos grandes centros é dura e perigosa. Quantos já foram e  voltaram?" Até os mais velhos contaram histórias tristes de aventureiros que saíram da cidade em busca do eldorado e viraram mendigos, ladrões, assassinos, ou  enlouqueceram e nunca mais encontraram o caminho de volta. Nada era capaz de demovê-lo de seu sonho de conquistar a cidade grande.
     Num belo dia ele estava de mala e cuia, como diziam, pronto para pegar o ônibus rumo ao seu sonho. Quando desembarcou na cidade grande, achou tudo muito grande, barulhento, confuso. Durante muito, muito tempo, sentiu-se como se não pertencesse àquele mundo. Passou fome, frio, dormiu na rua.Trabalhou aqui e ali. Nada que valesse muito à pena. Apenas dava para não morrer de fome. Por muitas vezes se viu fazendo tarefas que em sua cidade ele não faria, mas que ali eram a sua salvação.Noutras, pensou em fazer o caminho de volta. Porém, bateu o orgulho. Sentiu que não teria coragem de enfrentar todos aqueles que tentaram dissuadi-lo de partir, por isso desistiu da ideia. Mesmo porque não tinha dinheiro para comprar a passagem de volta. Assim descobriu que vencer na vida não dependia somente dele como havia pensado. As pessoas de sua cidade tinham razão. A vida na cidade grande era dura e em meio aquelas agruras, muitas vezes chorou, sentiu-se sozinho, derrotado.
      O tempo foi passando.  Viveu ilusões, desiludiu-se, galgou postos, conheceu pessoas, juntou-se a elas e depois separou-se delas e uniu-se a outras das quais se separou também. Algumas mais tarde voltou a encontrar. Outras, sumiram, desapareceram como se não tivessem existido um dia. Aprendeu, com isso, a dança dos encontros e desencontros. Amou, sofreu, riu, fez chorar, chorou, voltou a alegrar-se de novo para novamente voltar a chorar e rir e rir e chorar. A roda da vida.
     Nesse meio, galgou postos melhores e sentiu-se mais forte. Poderia até dizer que sentiu-se um vencedor. Não como ele tinha sonhado, mas descobriu que nem tudo é como nos sonhos. Talvez essa seja a maior lição que ele aprendeu: valorizar as pequenas vitórias da vida e transformá-las em grandes feitos, pois os vencedores se fazem no dia a dia, aprendendo com os erros e os acertos. Foi assim que, num belo momento, se viu numa posição confortável e se sentiu feliz. Já não era mais aquele jovem de mãos vazias e com a cabeça cheia de sonhos de antes. O menino tinha virado um homem.
      Apenas uma coisa continuava martelando em sua cabeça: aquela sonhada viagem de volta. A viagem do vencedor. Viagem essa que ele tinha tentado fazer várias vezes e desistido pelos mais diferentes motivos. Como das outras vezes, ele preparou-se para a viagem: comprou a passagem, comprou roupa nova, alguns presentes. Dessa vez, sentia que tinha chegado a hora. Agora nada iria impedí-lo. Malas na mão, ele passou a chave na porta de casa. Na rua, fez sinal para um táxi. Na rodoviária caminhou para a plataforma de embarque. Nervoso, pois-se a esperar a ônibus. Foi quando começou a indagar-se: Para onde e para o que estou voltando? Sentia-se tão diferente, quase não se reconhecia. De repente, rasgou a passagem que trazia na mão, pegou a mala e voltou para casa.