Pesquisar este blog

março 15, 2013

Compartilhando no Facebook

     Eu demorei um pouco para aderir ao Facebook. Sempre achei (e continuo achando)  esquisito expor  a minha alma assim de forma tão, digamos,  avassaladora. 
     Confesso mesmo que não morro de amores, mas que acho válido pessoas de todos os lugares do mundo se sentirem mais próximas através dessa rede social  e de tantas outras que existem, onde reencontramos amigos e fazemos tantos outros. E não posso (seria mesmo imperdoável, não é?) esquecer o dihitt.
     Também não se pode esquecer que vivermos na era da informação. E quem não se abre para o mundo (via internet, por exemplo) corre o risco de perder o bonde da história. E ninguém (muito menos eu) quer perder esse bonde que continua bonde apesar de todas as modernidades e que ninguém exatamente onde vai dar.
     Mas não estou aqui para falar das virtudes e dos pecados da era da informática. O que me traz a esse assunto é a questão, entre outras coisas, dos compartilhamentos. Qualquer um sabe que uma das coisas que mais se faz no Facebook é compartilhar. 
     Algo bastante legal. Ninguém consegue ver tudo ou acompanhar de tudo e saber que alguém ao encontrar algo interessante se dispõe a compartilhá-lo com os seus amigos é sempre muito bom e bem-vindo, não é?
     Só que acontece das pessoas compartilharem coisas de que elas não têm muita noção do que seja. Coisas sem sentido e até de muito mal gosto. Para não dizer que muitas vezes são desnecessárias mesmo.
     Acredito que no afã de simplesmente compartilhar, as pessoas vão clicando a torto e a direito, sem fazer nenhum tipo de seleção, nem ver se aquilo é mesmo relevante ou se interessa aos seus amigos virtuais.
     Há também casos de pessoas que embarcam em verdadeiras canoas furadas. Outro dia um amigo compartilhou o desaparecimento de alguem, dizendo que a família estava desesperada atrás da referida pessoa. Poucas dias depois se soube que pessoa estava na casa de uma amiga e não queria falar com ninguém. Espera lá. Isso é brincadeira, não? Alguém com acesso fácil ao Facebook saber que está sendo procurado e não se manifestar me parece um tanto quanto estranho.
     Isso sem falar nas fotos de pessoas em situações penosas e dignas da nossa compaixão que são com partilhadas. Fico pensando aqui comigo: será que são todos fatos verdadeiras?
     Escrevi este post para tentar dizer que compartilhar é coisa séria

março 11, 2013

Só a vida ensina. - Capítulo 3

Com um dia de atraso, eis aí o capítulo 3 da saga de Joel.

SÓ A VIDA ENSINA.


Capítulo 3

CENA 1 - INTERNA/NOITE - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL MORA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 10 DO CAPÍTULO 2
JOEL CONTINUA COM A CARTA NA MÃO. ELMIR, O PORTEIRO, OBSERVA:

ELMIR – Algum problema, seu Joel?

JOEL – (DISFARÇANDO) Não. Nada. Apenas uma dessas cartas de propaganda de políticos. Não sei como descobrem o endereço da gente.

ELMIR – Coisa chata, né?

JOEL – Se é... (TEMPO) Mas sabe o que eu faço? (RASGA A CARTA EM PEDACINHOS) É isso que eu faço.

ELMIR – Essa gente é muito desaforada. (ESTENDE A MÃO PARA PEGAR OS PEDAÇOS DA CARTA) Me dá aqui, seu Joel, que eu jogo no lixo pro senhor. (JOEL ENTREGA OS PEDAÇOS DA CARTA AO PORTEIRO E SAI. DEPOIS UM TEMPO O PORTEIRO COLOCA OS PEDAÇOS DA CARTA SOBRE SUA MESA E COMEÇA A MONTAR COMO SE FOSSE UM QUEBRA-CABEÇA PARA DESCOBRIR DO QUE SE TRATAVA SEU CONTEÚDO) Ora! Veja só. É carta da administradora cobrando aluguéis atrasados. Bem que eu estava desconfiado. Atrasado com o aluguel, condomínio... Esse seu Joel nunca me enganou. (TOM) Também, vive na farra torrando tudo o que ganha. Dona Margarida é que sofre, coitada.


CORTA PARA:

CENA 2 - INTERNA/NOITE - UM BAR QUALQUER.
JOEL ESTÁ NUMA MESA BEBENDO COM AMIGOS. JÁ ESTÁ BASTANTE ALTO.

JOEL – (LEVANTANDO COM UM COPO DE BEBIDA NA MÃO) Proponho um brinde ao mais novo desempregado da praça.

TURMA DA MESA SE MOVIMENTA. UNS ASSUSTADOS, OUTROS DANDO GARGALHADAS.

JOEL – (AINDA DE PÉ) Estou livre daquele chato do seu Olavo, livre daquele escritoriozinho de quinta categoria. Liberdade para Joel Gomes. (LEVANTANDO O COPO DE BEBIDA) Um viva à liberdade.

TODOS – Viva!

CORTA PARA:

CENA 3 - INTERIOR/NOITE - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL MORA
DONA MARGARIDA ESTÁ DE FRENTE PARA ELMIR. ELA ENTREGA A ELE UM EMBRULHO.

DONA MARGARIDA – Trouxe uma merendinha para o senhor, seu Elmir.

ELMIR – Não precisava, dona Margarida. (PEGANDO O PACOTE) Só a senhora é capaz de se lembrar da gente. Obrigado.

DONA MARGARIDA – O senhor merece muito mais, seu Elmir. (TEMPO) E as contas já chegaram?

ELMIR – Tudo o que chegou até agora eu entreguei para o Joel, seu filho.

DONA MARGARIDA – Não faça isso, seu Elmir.

ELMIR – Ora, por que, dona Margarida?

DONA MARGARIDA – O Joel é um cabeça de vento, seu Elmir. Pega as coisas e depois não sabe onde pôs. (TEMPO) Vamos combinar o seguinte: o senhor só entrega as contas para mim. Combinado?

ELMIR – Combinado.

DONA MARGARIDA – Boa noite, seu Elmir. (SAI)

ELMIR – Bem que eu tento fazer isso, mas ele não deixa. A senhora não conhece o filho que tem.

CORTA PARA:

CENA 4 - INTERNA/NOITE - UM BAR QUALQUER
(O MESMO DA CENA 2)
JOEL LEVANTA-SE DA MESA EM QUE BEBE COM OS AMIGOS E SE DIRIGE A UMA MOÇA QUE BEBE COM UMA TURMA NUMA MESA AO LADO.

JOEL – E aí, gatinha? Não quer passar para a minha mesa?

MOÇA – E por que eu faria isso?

JOEL – Pra gente conversar, ora!

MOÇA – (APONTANDO PARA O RAPAZ AO LADO) Será que você não prefere conversar com o meu namorado?

RAPAZ – O que tá pegando, amor?

MOÇA – O moço aqui tá me convidando para ir para mesa dele.

RAPAZ – Verdade? (A MOÇA FAZ SINAL QUE SIM E O RAPAZ DÁ UM SOCO EM JOEL QUE CAI. FORMA-SE UMA CONFUSÃO. O PESSOAL DA MESA DE JOEL SE METE NA BRIGA. O DONO DO BAR PERCEBE A CONFUSÃO, PEGA O TELEFONE E FAZ UMA LIGAÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 5 - INTERNA /NOITE - BAR
MESMO BAR DA CENA 2 E 4.
CONFUSÃO CONTINUA. JOEL, MUITO BÊBADO, INSISTE EM QUERER FALAR A COM A MOÇA ACOMPANHADA.

JOEL – E aí, gatinha? Vai me esnobar, vai?

RAPAZ – (PARA A NAMORADA) Eu vou partir a cara desse filho da mãe.

MOÇA – Fica calmo, amor.

NESSE MOMENTO ENTRAM DOIS POLICIAIS. A CONFUSÃO TERMINA NO ATO DA CHEGADA DOS POLICIAIS.

POLICIAL – Quem é o responsável por essa baderna?

TEM-SE INÍCIO UM GRANDE BURBURINHO, TODOS FALAM E NINGUÉM SE ENTENDE.

POLICIAL – Já entendi tudo. Vai todo mundo em cana. Vão ter que se explicar com o delegado.

CORTA PARA:

CENA 6 - INTERIOR/NOITE - DELEGACIA DE POLÍCIA
JOEL, A MOÇA, O RAPAZ, OS POLICIAIS E TODOS OS OUTROS DA CENA 5 ESTÃO DIANTE DO DELEGADO.

DELEGADO – Dá para  falar um de cada vez?

TODOS VOLTAM A DISCUTIR. O POLICIAL QUE DEU A VOZ DE PRISÃO TOMA A FRENTE.

POLICIAL – Sabe o que é. Doutor... Estavam todos fazendo baderna num bar. Pelo que me consta esse daí (APONTA PARA JOEL) foi quem começou tudo.

DELEGADO – (PARA JOEL) O que o senhor tem a dizer?

JOEL – (BÊBADO) Em primeiro lugar: quem é o senhor? Com que autoridade se dirige a mim nestes termos?
DELEGADO – Sou o delegado.

JOEL – Então prove que é o delegado.

DELEGADO – Olha aqui, seu cachaceiro. Quem faz pergunta aqui sou eu. (PARA OS POLCIAIS) Levem esse elemento para a cela. Ele tá precisando refrescar as ideias.  Os outros estão liberados.

OS OUTROS DETIDOS SAEM.

JOEL – (RESISTINDO À PRISÃO) Vocês não podem fazer isso. Eu tenho direito de chamar o meu advogado.

DELEGADO – O senhor vai fazer isso lá da cela. Podem levar.

POLICIAIS SAEM COM JOEL.

CORTA PARA:

CENA 7 - INTERNA/NOITE - CELA DE PRISÃO
JOEL ESTÁ PRESO JUNTAMENTE COM OUTROS. POLICIAL CHEGA TRAZENDO VERINHA. PRESOS COMEÇAM COM UMA CERTA ALGAZARRA.

POLICIAL – Silêncio no ressinto. (PRESOS SE ACALMAM. ELE APONTA PARA JOEL) É esse aí o seu namorado.

VERINHA – Noivo, moço.

POLCIAL – O que seja. (TEMPO) Tem dez minutos, nem um segundo a mais. (SAI)

JOEL – Viu o que fizeram comigo, amor?

VERINHA – Que foi que você aprontou, Joel?

JOEL – Não fiz nada. Tava quietinho no meu canto. A moça é que ficou me dando bola, aí o cara, que não controla a sua namorada, partiu para cima de mim.

VERINHA – Difícil de acreditar, né, Joel? (TEMPO) O que você quer de mim?

JOEL – Que você conversasse com o delegado, explicasse a minha situação. Sou um homem de bem, trabalhador. Não mereço esse tratamento.

VERINHA – Tá bom. Eu vou tentar falar com ele.

CORTA PARA:

CENA 8 - INTERNA/NOITE - SALA DO DELEGADO
VERINHA ESTÁ DIANTE DO DELEGADO.

DELEGADO – Estão a senhorita é a noiva do meliante?

VERINHA – Meu noivo é homem trabalhador, doutor delegado.

DELEGADO – É mesmo? (TEMPO) E por que ele estava brigando num bar altas horas da noite? Pelo que me consta trabalhadores não costumam agir assim.

VERINHA – É que ele às vezes se junta com umas companhias... O senhor entende, né?

DELEGADO – Olha aqui, moça. Eu vou liberar esse rapaz em consideração a você que eu estou vendo que é uma moça de bem. Mas que fique bem claro: se esse rapaz for trazido mais uma vez aqui por estar perturbando a ordem, a coisa vai engrossar para o lado dele. Ouviu bem?

VERINHA – Pode deixar, doutor delegado. Pode deixar.

CORTA PARA:
CENA 9 - EXTERNA/NOITE - PORTA DA DELEGACIA
VERINHA E JOEL ESTÃO CONVERSANDO.

VERINHA – Que essa seja a última vez que você me mete nos seus rolos, viu Joel?

JOEL – Pode deixar. Eu vou mudar. Você pode ficar tranquila, meu amor. (TENTA BEIJAR VERINHA, ELA SE AFASTA) Só um beijinho, Verinha. Você não sabe o que sofri naquela cela.

VERINHA – Faço uma ideia. (TOM) E vou logo lhe avisando: se você continuar nessa vida, boto um fim nesse noivado. Tô cansada de tudo isso.

JOEL – Não fala assim, Verinha. Você é a razão da minha vida.

CORTA PARA:

CENA 10 - INTERNA/DIA. - CASA DE JOEL
SALA, JOEL ESTÁ ASSISTINDO FUTEBOL NA TELEVISÃO. TOCA A CAMPAINHA E ELE VAI ATENDER. ABRE A PORTA E SURGE UM HOMEM DE TERNO E GRAVATA.

HOMEM – Senhor, Joel Gomes?

JOEL – É ele.

HOMEM – Oficial de justiça. Queira assinar aqui, por favor.

JOEL FICA SEM AÇÃO.

CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO

março 07, 2013

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

   Essa frase, dita pela raposa ao pequeno príncipe no livro de mesmo nome, é vista, muitas vezes, como algo piegas. O próprio livro sempre foi visto como "um livro para moças de cabeças vazias". Prova disso é que onze  em cada dez canditatas a miss diziam tê-lo como seu livro de cabeceira.
      Mas não estamos para falar do famoso e controverso livro de  Saint Exupéry. Eu, particularmente, gosto muito e acho que é sempre oportuno que alguém nos chame a atenção para  esses detalhes da vida que teimamos em classificar como coisas sem muita importância ou às quais não devamos prestar muita atenção.
     É baseado nesse tipo de visão que fechamos os olhos para tudo o que está acontecendo ao nosso lado. É como se nada nos dissesse respeito e que tudo o que acontece com o outro não é da nossa conta.
     Até quando vamos viver essa mentira? Tudo o que acontece com os outros nos interessa sim, estamos todos interligados sim. Não podemos ficar indiferentes a nada. Mesmo com todo o esforço que fazemos par provar o contrário, ninguém pode negar
que a dor do outro doe em nós e que a  alegria do outro também é a nossa alegria.
     Parece piegas falar assim, mas não existe outra maneira de encarar os fatos. Ninguém é tão  insensível quanto tenta  provar ser. Somos todos irmãos, membros de uma mesma família e, portanto, responsáveis uns pelos outros.
     Nesses nossos dias, convencionou-se que o ideal é ninguém falar nada, concordar com tudo em nome da boa convivência, para não se aborrecer, para não parecer chato ou inconveniente.
     Por isso, deixamos que tudo aconteça à nossa volta: deixamos que depredem a cidade, que joguem lixo nas ruas e todos fiquemos ilhados nos dias de chuva e coisas assim porque este é a melhor maneira de se viver. Será mesmo? Acredito que a raposa estava certa: somos responsáveis por aqueles que cativamos:  os parentes, os amigos, os conhecidos, aqueles a quem nem conhecemos (principalmente esses),  nossa casa, a nossa cidade e por nós mesmos.
     Precisamos aprender a cuidar melhor de tudo isso.  Ou nos sucumbiremos  todos acreditando que tudo é responsabilidade do outro, do governo e de quem mais se queira acreditar.

março 05, 2013

Comédia ensaiada.

     Mesmo com todas as mudanças que ocorreram e que correm diariamente no  mundo, ainda não conseguimos dizer aquilo que estamos realmente pensando, deixar claro o nosso ponto de vista, expressar com clareza,  dar a nossa verdadeira opinião a respeito de qualquer assunto seja para não ferir suscetibilidades, seja para não se meter "naquilo que não é da nossa conta".
     Até pode parecer normal, pois essa é uma das conquistas da liberdade. Cada um pode viver do jeito que bem entende, sem dar satisfação a ninguém. Isso nos levar a viver pisando em ovos, só podemos dizer aquilo que convém e nada mais. Nada de sinceridade, nada de ir muito fundo nas questões. Tudo o que queremos é agradar.
     Do contrário, podemos ser taxados como loucos, chatos,  pessoas inconvenientes, seres antissociais.  Em nome disso, abrimos mão de conhecer o outro melhor, de buscar saber o que lhe vai na alma, de procurar saber de suas necessidades e carências. Por outro lado, também fazemos questão de esconder as nossas fragilidades, morrendo de medo de, por isso, não ser aceito no meio aonde vivemos e, assim, sofrer rejeição.
     Assim, vivemos num mundo de aparências: somos uma coisa e tentamos mostrar que somos outra completamente diferente, uma pessoa que construímos e que serve ao padrão exigido. Tentamos apagar qualquer resquicio da pessoa verdadeira que somos: aquela que chora, sofre, ri, tem dúvidas e se vê por vezes invadida por sentimentos contraditórios, mas que somos nós e mais ninguém, ou seja, a nossa essência.     
     Por outro lado, esse tipo de visão de vida nos leva a achar que tudo  o que acontece com o outro não nos diz respeito. O outro é alguém que idealizamos e a sua verdadeira essência não nos interessa, uma vez que aceitamos o jogo do faz de conta, onde ninguém mostra sua verdadeira cara, onde todo mundo faz questão de representar um papel préviamente ensaiado. 
     Acreditamos que assim (e só assim) podemos ser verdadeiramente felizes. Será? Pense nisso.

março 03, 2013

Só a vida ensina - Cap. 2

Eis o segundo capítulo da saga de Joel. 

 

SÓ A VIDA ENSINA


CAPÍTULO 2 

Autor: Julio Fernando

CENA 1  - INTERIOR/DIA - SALA DO SR. OLAVO
OLAVO ESTÁ SENTADO EM SUA MESA, TRABALHANDO. JOEL ENTRA.  ESTÁ BASTANTE APREENSIVO.

JOEL – Me chamou, seu Olavo?

OLAVO – (SEM PARAR O QUE ESTÁ FAZENDO) Sim. (TEMPO) Sente-se.

JOEL – (SENTANDO) Não sei se o Fábio avisou... Eu tive um probleminha em casa...

OLAVO – (INTERROMPENDO) Eu sei. Sua mãe... (TEMPO) E por falar nisso: como ela está?

JOEL – Agora ela está bem.

OLAVO – Que bom. Estimo as melhoras dela.

JOEL – Obrigado. (LEVANTANDO-SE) Posso ir. É que tenho muito trabalho. O senhor sabe, fim de mês...

OLAVO –  Não  precisa mais se preocupar...

JOEL – Como assim?...

OLAVO – A partir de hoje o senhor não mais precisará se preocupar com o serviço aqui, senhor Joel. Poderá cuidar muito bem de sua mãe.

JOEL – Não estou entendendo...

OLAVO – Eu me cansei, senhor Joel. Todo dia uma desculpa... Minha paciência se esgotou. (TOM) O senhor está DESPEDIDO.

JOEL – (PERPLEXO) O quê?

CORTA PARA:

CENA 2 - INTERIOR/DIA -SALA ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO ESTÁ DE PÉ DIANTE DA MESA DO OUTRO FUNCIONÁRIO. JOEL ENTRA. ESTÁ COMPLETAMENTE ARRASADO.

FÁBIO – E então? O que o homem queria?

JOEL – Ele me mandou embora. Tô no olho da rua.

FÁBIO – Qual é, Joel? Está de brincadeira? Seu Olavo vive dizendo que você é o melhor funcionário que ele tem.

JOEL – Para você ver. O melhor funcionário está sendo despedido.

FÁBIO – Que é isso, Joel? (TOM) Conversa com ele. Quem sabe ele muda de ideia...?

JOEL – (ESPERANÇOSO) Você acha...?

FÁBIO – Claro. Seu Olavo é gente boa. (TOM) O problema é que você tem abusado ultimamente. De repente, se você falar pra ele que vai mudar de atitude...

JOEL – (DECIDIDO) É isso que eu vou fazer. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 3 - INTERIOR/DIA - SALA DO SENHOR OLAVO
OLAVO ESTÁ TRABALHANDO. JOEL ENTRA.

OLAVO – Pois não.

JOEL – Sabe o que é, seu Olavo, o senhor tem toda razão em estar chateado comigo. Eu tenho abusado muito da sua confiança nos últimos tempos. Mas agora eu prometo para o senhor que vou melhorar. O senhor vai ver: a partir de hoje eu vou ser o primeiro a chegar no escritório e o ultimo a sair. Pode confiar.

OLAVO (FICA OLHANDO PARA JOEL UM TEMPO, DEPOIS LEVANTA E O ENCARA, FIRMEMENTE) Eu tenho a impressão de que não fui claro o suficiente, senhor Joel. (TOM) O senhor está des – pe – di – do, entendeu? Eu lhe dei várias oportunidades de crescer aqui. O senhor fez questão de jogar todas no lixo. Portanto, não existe a menor possibilidade de eu voltar atrás na minha decisão. (TEMPO) E agora, saia daqui que o senhor está me atrapalhando.

JOEL – (SAINDO, HUMILHADO) Com licença.

CORTA PARA:

CENA 4 - INTERIOR/DIA -SALA ONDE JOEL TRABALHA
FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO ESPERAM POR JOEL. JOEL ENTRA DE CABEÇA BAIXA.

JOEL – O homem não quis conversa.

FÁBIO – Ele deve estar meio nervoso. Mais tarde, quem sabe?

JOEL – Não tem mais jeito. Ele não vai mudar de ideia. É rua e pronto. (JOEL COMEÇA A JUNTAR SUAS COISAS. FÁBIO E O OUTRO FUNCIONÁRIO TENTAM DEMONSTRAR SOLIDARIEDADE. DEPOIS DE JUNTAR UNS POUCOS PERTENCES, JOEL SE DESPEDE DOS COMPANHEIROS) Valeu, companheiros. A gente se vê por aí. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 5 - INTERIOR/DIA - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL TRABALHA
PORTEIRO ESTÁ POR ALI. JOEL SAI DO ELEVADOR CARREGANDO UMA CAIXA PEQUENA.

PORTEIRO – (ZOMBANDO) Ora, vejam! O último a chegar e o primeiro a ir embora. Isso que é vida boa.

JOEL – Não enche o saco.

PORTEIRO – Ih!, o marajá tá nervoso.

JOEL – (PARTE PARA CIMA DO PORTEIRO) Olha aqui, seu folgado. (PORTEIRO CORRE E SE ESCONDE. JOEL FICA BUFANDO DE RAIVA) Filho da mãe. Provoca e corre.

CORTA PARA:

CENA 6 - EXTERIOR/DIA - UMA RUA DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
JOEL ANDA COM SUA PEQUENA CAIXA NA MÃO. NA CAIXA ESTÃO SEUS PERTENCES DO ESCRITÓRIO. ESTÁ BASTANTE ABATIDO, TRISTE.

JOEL – E agora, Joel? (TEMPO) Como é que eu vou dar essa notícia para minha mãe? Dona Margarida vai me matar quando souber.

JOEL CONTINUA CAMINHANDO A ESMO, COM OS PENSAMENTOS FERVILHANDO NA CABEÇA.

CORTA PARA:

CENA 7 - EXTERIOR/DIA - PORTA DO SALÃO DE BELEZA ONDE VERINHA, A NAMORADA DE JOEL, TRABALHA
É UM SALÃO SIMPLES QUE ATENDE A CLIENTELA MAIS POBRE.
JOEL ESTÁ PARADO SEGURANDO A CAIXA. VERINHA SURGE SEGURANDO ALGUNS APETRECHOS DE CABELEREIRA. É UMA MOÇA DE ESTATURA MÉDIA, COM ROSTO DE GENTE SOFRIDA.

VERINHA – O que você está fazendo aqui? Já não disse que a minha patroa não gosta. Além do mais, eu tô com uma cliente na cadeira...

JOEL – Não fala assim, Verinha, meu amor. Não vê que eu tô aqui cheio de problema?

VERINHA – O único problema que eu sei que você tem é a safadeza.

JOEL – Tô falando sério, Verinha.

VERINHA – O que foi dessa vez, Joel? Fala logo que eu tenho que voltar para o meu trabalho. Daqui a pouco dona Damares briga comigo.

JOEL – É que eu... Bem eu...

VERINHA – Desembucha, homem. Já sei. Veio aqui para terminar o noivado comigo. (TOM) Tudo bem. Eu já esperava por isso. (TIRA A ALIANÇA DO DEDO) Toma essa aliança e agora me deixa em paz.

JOEL – Não é nada disso, Verinha.(COLOCANDO  A ALIANÇA DE VOLTA AO DEDO DE VERINHA) Eu te amo e quero me casar com você.

VERINHA – Mas quando?

JOEL – (MENTINDO) O mais breve possível.

VERINHA – Você vive adiando nosso casamento.

JOEL – Eu bem que tava pensando em marcar a data, mas aconteceu uma coisa...

VERINHA – O que foi?

JOEL – Seu Olavo me mandou embora.

VERINHA – O quê? Era só o que faltava. Agora é que a gente não se casa mais...

JOEL – Agora vai ficar difícil. Sem emprego, não dá.

VERINHA – E você veio aqui para me dizer que não vai dar pra se casar agora porque perdeu o emprego? Não podia ter deixado isso pra mais tarde?

JOEL – Eu vim aqui pra lhe pedir que vá lá em casa comigo. Tô com medo de dar essa notícia pra minha mãe. Dona Margarida não vai resistir. (TEMPO) Você vem comigo?

VERINHA – Não. Sinto muito, mas eu tenho cliente esperando. Preciso trabalhar. Mais tarde a gente se fala. (SAI)

JOEL – Volta aqui, Verinha. Não me deixe sozinho nessa.

CORTA PARA:

CENA 8 - INTERIOR/DIA - CASA DE JOEL. SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ ASSISTINDO TELEVISÃO. JOEL ENTRA COM A CAIXA NA MÃO.

DONA MARGARIDA – Em casa à essa hora, Joel? O que aconteceu?

JOEL – (DISFARÇANDO) Nada, mãe. (TEMPO) Por que? Por acaso, tem sempre que estar acontecendo alguma coisa?

DONA MARGARIDA – Do jeito que a vida anda... (TOM) Além do mais, você já saiu daqui tarde...

JOEL – (MENTINDO) Seu Olavo deu folga para o pessoal do escritório na parte da tarde.

DONA MARGARIDA – É mesmo?  (DESCONFIADA) Fala a verdade, Joel. (TOM)
Você perdeu o emprego? Seu Olavo te mandou embora? (TEMPO) Eu sabia que isso ia acontecer. Coração de mãe não falha. E agora?

JOEL – E agora eu vou arrumar outro emprego. Não é assim que funciona a vida? Tava cansado daquele chato do seu Olavo. Muquirana, mão de vaca. Eu tenho condição de arrumar coisa muito melhor.

CORTA PARA:

CENA 9 - INTERIOR/NOITE - CASA DE JOEL - SALA
DONA MARGARIDA ESTÁ VENDO NOVELA NA TELEVISÃO. JOEL ENTRA VINDO DO QUARTO. ESTÁ ARRUMADO PARA SAIR.

DONA MARGARIDA – Onde você vai?

JOEL – Por ai.

DONA MARGARIDA – Não acha que está na hora de criar juízo, Joel? Para com tanta farra, filho.  Bota juízo nessa cabeça. Você já não é nenhum menino. Trata de casar com a Verinha e sossegar o facho.

JOEL – Que conversa é essa, dona Margarida? Seu filho ainda tem muita lenha para queimar. Tchau. (SAI)

CARA DE PREOCUPADA DE DONA MARGARIDA.

DONA MARGARIDA – Não se esqueça que você acabou de perder o emprego.

CORTA PARA:

CENA 10 - INTERIOR/NOITE - PORTARIA DO PRÉDIO ONDE JOEL MORA
JOEL SAI DO ELEVADOR E DÁ DE CARA COM O PORTEIRO, SEU ELMIR.

ELMIR – Boa noite, seu Joel. Tem aqui uma correspondência urgente para o senhor. (ENTREGA A CARTA A JOEL) Parece coisa da justiça. Não vai ler?

JOEL – (ABRINDO A CARTA) O quê? (A MEDIDA QUE VAI TOMANDO CONHECIMENTO DA CARTA, JOEL VAI FICANDO CADA VEZ MAIS ASSUSTADO.) Era só o que faltava, meu Deus!

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO

março 02, 2013

Fumar é mesmo uma escolha individual?

      Muito se fala das escolhas pessoais de cada um, que são nada mais nada menos que a afirmação da nossa liberdade. Liberdade essa que como bem diz o dito popular: começa onde termina a do outro ou vice versa. Trocando em miúdos, todos nós somos ávidos em defender a liberdade de escolha e isso é muito importante, uma grande conquista de nossa sociedade, sem dúvida.
     Porém, há sempre que se lembrar que nossa liberdade não pode e nem deve ferir a do outro, não é mesmo? Não parece ser o que acontece quando se diz respeito ao hábito de fumar. É bem verdade que a escolha de fumar é tida como pessoal, mas não o efeito causado  pelo ato de acender o cigarro. Uma vez aceso ele (o cigarro e sua fumaça) passa a ser divido por todos os presentes naquele ambiente.
     É verdade que leis bastante oportunas têm sido colocadas em prática para poder diminuir essa escolha forçada, esse ato de fumar involuntário e seus efeitos nocivos, mas elas estão longe de resolver a questão.  É grande o contingente de fumantes passivos, aqueles que embora não acendam (muitas vezes, nunca acenderam) um cigarro e que são fumantes.
     Isso, na minha opinião, faz com que o ato de fumar não seja, necessariamente, uma escolha individual e que querendo ou não todos somos fumantes. E isso não se dá apenas quando o(a) fumante está num local fechado, mas também quando se anda pela rua, por exemplo. Basta que a pessoa que anda à nossa frente esteja com um cigarro aceso para a gente respire a fumaça exalada e "fume junto com a pessoa".
     Isso, sem esquecer que quando um local é usado por um fumante fica impregnado pelo cheiro do cigarro por um bom tempo. Definitivamente, pode-se afirmar que o ato de fumar não é uma livre escolha. Quando alguém acende um cigarro não está botando, como se pode supor, em risco somente a sua saúde, mas a de todos ao seu redor. Triste constatação.

fevereiro 28, 2013

As palavras que falamos e ouvimos.

     Nossa relação com as palavras nem sempre é muito boa. Parece que pensamos que elas são meros vocábulos sem sentido e que podemos fazer uso delas de qualquer maneira sem nos preocupar com seu significado e com a sua força.
     A coisa não é bem assim. Como já há muito é sabido por todos, as palavras têm força e elas vêm sempre depois de um pensamento, quase nunca antes. Assim, quando dizemos alguma coisa é porque antes pensamos naquela coisa, mesmo que seja de forma inconsciente.
     Essa história de que "falei sem pensar" é quase sempre furada. Usamos esse expediente quando percebemos (geralmente, tardiamente) que falamos algo impróprio. O certo, nesse caso,  seria dizer: "falei o que não devida ter falado".
     Isso se dá porque muitas vezes falamos e só depois é que vamos dimensionar aquilo que foi dito. Aí vem as confusões, as brigas e, consequentemente, os arrependimentos. Nos mortificamos por ter dito coisas que prejudicaram ou magoaram pessoas.
     E mesmo tentando usar outras palavras (sim, sempre elas) para poder consertar o estrago, a chance de sucesso é muito pequena.  Uma vez dita, a palavra ganha uma força extraordinária para o bem e para o mal. O jeito, então, é esperar que o tempo bote as coisas no seu devido lugar outra vez. Só que, muitas vezes, isso demora para acontecer.  Depende do grau do ressentemento causado.
     Por isso, é preciso ter cuidado com elas. Elas tanto podem construir um belo relacionamento, trazer à tona coisas edificantes, como também podem destruir tudo à sua volta. Depois, como diz aquele velho ditado popular: " chorar na cama que é lugar quente".
     Outro ponto importante são aquelas palavras que a gente ouve por ai meio que sem saber o seu verdadeiro sentido ou mesmo o seu destino exato.  Devemos prestar mais atenção nessas palavras. Atrás de muitas coisas ditas ao acaso, por conhecidos e desconhecidos, escondem-se verdadeiros  toques, mensagens de vida dos anjos, dos guias de luz (ou não, pois não devemos cair na armadilha de pensar que tudo que vem do "além" é bom e bem intencionado), de Deus ou de quem mais possa habitar esse nosso mundo corpóreo e incorpóreo.
     Não raras vezes somos apenas porta-vozes, mensageiros. Através das palavras que proferimos ou ouvimos o amor ou ódio, a paz ou a guerra podem estar sendo disseminados. Portanto, atenção com elas,   as palavras.