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maio 12, 2012

Mãe, o maior amor.

     Dizem muitos que o dia das mães não passa de uma data comercial e que os comerciantes fazem a festa. Por um lado, não deixa de ser verdade, porque não existe filho (a) nesse mundo (pelo menos, eu assim acredito) que, podendo, não se dispõe a comprar um belo presente para sua mãe. Ainda que seja uma lembrança simples, algo apenas para não deixar a data passar em branco e ver brotar um sorriso emocionado nos lábios daquela que lhe deu a vida. E ela. lógico, vai receber o presente com aquela frase clássica de toda mãe:
- Não precisava, filho.
É claro que precisava. Nada no mundo é capaz de pagar o sacrifício e a dedicação de uma mãe e todas elas gostam de ser lembradas, amadas, visitadas. Mesmo quando dizem o contrário.
    Agora, deixando de lado aqueles que insistem em ver a data apenas como comercial  o que eu, particularmente, não acho tão comercial assim.  Afinal nossas mães merecem todos os presentes, afagos e tudo mais, não é verdade?  O que gostaria mesmo é de falar sobre a palavra mãe, esse substantivo que dá nome àquelas cuidam de nós, que nos embalam, amamentam, educam, encaminham na vida simplesmente por nos amar. Sem nada pedir em troca.
     Durante a nossa vida usamos muitas palavras, muitas delas acabam perdendo o valor, mudam de significado e tudo o mais, mas a palavra mãe... Essa nunca perde seu sentido inicial para nós. Qualquer filho (a) de todas as idades vão sempre dizer essa palavra com o mesmo tom de chamamento, de busca, de volta ao ponto de partida.
     Por mais que a gente de se distancie delas, elas estão sempre presentes. Ainda que seja apenas na nossa memória, ainda que seja apenas nos nossos documentos ela está sempre lá. Mãe é para sempre.. Viva, morta, presente, distante, boazinha, brava. Não importa. Mãe é mãe. Mãe é tudo. Sem elas, não seríamos nada. Sem elas, não existiríamos.
    Como dizer obrigado? Como demonstrar que somos gratos por tudo o que elas fizeram e fazem por nós? É quase impossível. Nada paga. Aliás, só existem uma coisa capaz de apagar todos os nossos malfeitos, malcriações, toda nossa desatenção, toda nossa ausência: o amor.
     Toda mãe deve ser amada com o melhor amor que temos dentro de nós. Não serve um amor mais ou menos, um amor condicional, só vale o maior amor que temos. Aquele amor que vence o tempo e supera a morte. Um amor que não acabe nunca, feito o amor que elas têm por nós.

Feliz dia das mães.

maio 05, 2012

Feios e pobres, bonitos e ricos...

     Já faz tempo que nossas novelas se tornaram um tanto quanto lugar comum. Entra novela e sai novela, a receita é a mesma. Todos os autores (alguns até que tentam, às vezes, criar um traçado novo, mas fica só na tentativa) seguem o mesmo roteiro ou seja:
     - personagens bons e maus - nesse caso, a separação chega a ser tão nítida quanto a mistura de água e óleo. É onde se comete os maiores deslizes. Se o cara é mau, ele é muito mau, algo patético. se é bom,chega a parecer bobo, idiota. A coisa chega a tal ponto que, quase sempre, tem-se a impressão de que não se trata de novela e sim de uma peça infantil escrita por alguém debilóide. No caso dos maus, os pobres do atores se matam em cenas estapafurdias, falas absurdas, onde os personagens sempre querem aquilo que não lhes pertence ou querem vingança pelos motivos mais disparatados.
     - os feios e os bonitos:  a conhecida frase de Vinícius de Moraes que condena as feias e diz que beleza é fundamental parece ser a máxima nesse quesito. Além dos bonitos terem direitos e regalias, só a eles cabe se apaixonarem e serem felizes no amor. Algo como: a felicidade só existe para os  belos e os muito belos, os feios têm que amargar a solidão ou quando muito torcer pela felicidade dos bonitos. Quando se apaixonam, os feios estão condenados ao que antigamente (parece que saiu de moda essa palavra) amor platônico e o máximo que conseguem é ser amigo do ser amado. Cenas de amor só em sonhos, recurso usado para que os enjeitados possam ter seus minutinhos de desfrute. Mas não se engane, a cena seguinte sempre será a do feio sonhador acordando de seu devaneio, descobrindo que na verdade estava vivendo uma fantasia e que sua realidade está lá intacta. O jeito é botar a mão na cabeça e dizer: "Oh, como eu sou infeliz".
    - os velhos e os novos - em novela velho é sempre alguém muito antiguado, que perdeu o bonde ( essa expressão também caiu no limbo, juntamente com o meio de transporte tão, digamos, charmoso), reacionário e quando tenta fazer alguma coisa de diferente tem sempre alguém lembrando a sua idade. Para falar a verdade. novela é sempre coisa de jovem, mesmo que o protagonista seja um velho.
   - os ricos e os pobres:  dessa divisão novela nenhuma escapa. É até possível dizer que só se faz novela com ricos e pobres bem separados. Além do núcleo pobre ser sempre empregado dos ricos, a separação precisa ser sempre marcada com algo bastante peculiar: rico entende de tudo, conhece tudo, já viajou o mundo todo, já esteve em todos os lugares, já comeu todas as comidas, fala línguas e está sempre aberto para o novo. Já os pobres... Bem, esses vivem num mundo totalmente à parte. Não conhecem nada, não viram nada. É como alguém que acabou de chegar: tudo é novidade, tudo é estranho. Mesmo nesse nosso mundo pós internet, onde todos têm acesso a tudo. Tem claros traços de "casa grande e senzala".
     - os bem vestidos e os mal vestidos - Pobre é sempre mal vestido, tem um mau gosto atroz e não entende nada de  moda, de comportamento em sociedade (falam alto, não sabem usar talheres, um horror), em resumo. estão sempre dando vexame. Agora os ricos... Esses, mesmo quando têm  carater duvidoso não perdem a linha, o bom gosto, estão sempre bem vestidos, perfumados com os melhores perfumes.
     - os vilões e o dinheiro: tudo o que todo vilão quer é dinheiro, mesmo quando ele já tem o suficiente. Eles sempre querem mais e, principalmente, o de todos aqueles que o cercam. Desalmados, adoram roubar o dinheiro do leite das crianças dos outros.
     Para encurtar a conversa, é disparate em cima de disparate. O jeito é mudar de canal e dar um jeito de voltar para a realidade nossa de cada dia, onde tudo parece seguir ditames menos maniqueístas..

maio 04, 2012

Acreditar ou não em destino, eis a questão.

     Para algumas pessoas não tem conversa: qualquer coisa que acontece em suas vidas ou à sua volta, elas logo dizem que foi o destino que quis assim e que nada podia ser feito para impedir que aquilo acontecesse. E não adianta ninguém tentar explicar que tudo não passou de falta de atenção ou cuidado. Fatalistas, elas se fecham em copas e não abrem mão de suas crenças e pontos de vistas. Essas são pessoas que acreditam que nascemos com um destino traçado por Deus e que dele não podemos escapar por mais que tentemos.
     Sem querer, essas pessoas acabam fazendo uma profissão de fé ao contrário. Ao acreditar que nosso destino é traçado antes mesmo do nosso nascimento, elas abrem mão de algo muito importante em nossas vidas que é a fé no amanhã, a fé que podemos transformar as nossas vidas, para o bem ou para mal, sempre que acharmos que algo nelas precisa ser mudado, que algo não está exatamente como nós queremos ou pretendemos.
     Acreditar na vida como um pacote fechado, uma viagem planejada nos mínimos detalhes torna tudo maniqueísta demais tirando, com isso, a beleza das surpresas, de sonharmos com dias melhores ou com uma vida diferente daquela que levamos. Até porque somos movidos a sonhos, fazemos planos, estabelecemos metas para nossas  vidas. Com um destino previamente traçado isso tudo perde o sentido e estaríamos aqui fazendo papel de bobos e vivendo como verdadeiros robôs, sem poder fugir daquilo para o que fomos criados.
     Por outro lado, existem aqueles que acreditam que nascemos como uma verdadeira folha em branco e que nossa vida começa do zero. Para essas pessoas, só à partir de nossa saída do útero materno é que começamos a existir. Para elas, não temos antes e o depois é um incógnita total. Algo como, não se pode dizer que a criança será isso ou aquilo, se será boa ou má, inteligente ou se terá dificuldade de aprendizado, se será alguém comum  ou se ocupará cargos importantes e por aí vai.
     Papel em branco. livro ainda por escrever, destino totalmente traçado, seja o que for, o importante é  não  abrir mão de que podemos influir no nosso caminho. Podemos fazê-lo bom ou ruim, depende de nossas atitudes, de nossas intenções e de nossa vontade de transformar nossas vidas em algo produtivo, em algo do que possamos nos orgulhar, mesmo que nossa vida seja simples, humilde. Mesmo que a nossa contribuição não seja lá assim tão grande. O destino somos nós que traçamos, mesmo acreditando no contrário.
     Se por um lado trazemos bagagens de outras vidas, também estamos aqui para uma espécie de recomeço e isso implica em tentar fazer tudo de forma diferente, buscando superar nossas deficiências e chegar o mais perto possível daquilo que chamamos de busca do conhecimento, de iluminação
     É comum algumas religiões falarem que "Deus tem um plano para nós". Talvez isso seja o mesmo que dizer que Deus criou um destino para nós. Mesmo assim nunca é demais lembrar que até Deus só consegue influir em nossas vidas se nós permitirmos. Sendo assim, é mais prudente dizer que, se temos esse poder de seguir ou não a vontade do Criador, também temos o poder de mudar o nosso destino, de refazer nosso traçado e escolher o melhor caminho para nós.

abril 27, 2012

Onde estão os urubus do lixão da novela "Avenida Brasil"?

     É de se bater palmas para a coragem do autor João Emanuel Carneiro (e por tabela, para a Rede Globo) pela abordagem e pelo destaque que dá ao núcleo do lixão em sua novela, Avenida Brasil. Considerados uma espécie de párias sociais, os trabalhadores dos lixões não eram, até então, vistos em novelas. Ficavam lá no seu canto, um tanto confundidos com o próprio material que "garimpam".
     Sabe aquela frase atribuída ao carnavalesco Joãozinho Trinta que diz que quem gosta de pobreza é intelectual e que pobre gosta mesmo é de luxo que reinou até agora, parece que não foi levada em conta dessa vez. Antes um tanto impensado, agora é só sintonizar na "novela das oito" (difícil perder essa mania, mesmo sabendo que ela vai ao ar à nove e...) para ver um lixão e não como pano de fundo e sim como uma das tramas principais.
     Há quem fique incomodado, afinal a realidade não é assim tão fácil de ser encarada. Imaginar que aquelas pessoas mergulham literalmente no lixo que a cidade produz para dali tirar o seu sustento, é algo que faz pensar. Só que o autor parece estar disposto a comprar essa briga. Aliás, é preciso lembrar, ele mesmo já usou um lixão em sua novela "Da cor do pecado", onde a personagem de Giovanna Antonelli vai parar num vestida de noiva e tudo.
     Na época, me pareceu que autor queria apenas chocar. Não vi ali algo que remetesse a uma preocupação social ou mesmo vontade de mostrar que aquele local existia, que aquelas pessoas viviam daquela maneira. Fora a atitude da atriz Giovanna Antonelli de tirar de lá uma catadora de lixo que, pelo que me consta, veio tornar-se uma modelo, nada mais foi falado ou feito. Agora, no entanto, parece que a abordagem é mais séria e faz parte do contexto da história e isso é bastante louvável.
     Já faz tempo que nossas novelas apresentam um certo desgaste em sua temática. A repetição de tramas, tipos, ambientes parece tornar tudo pior ainda. Ao buscar o subúrbio e arrabaldes, o autor acerta. Só temos que esperar para ver se os ditos formadores de opinião não vão se sentir melindrados com uma pobreza assim tão escancarada e obrigue o autor a mudar o foco de sua história.
     Por outro lado e não querendo ser estraga-prazeres, temos que fazer algumas perguntas: Quem são aquelas crianças que os personagens Lucinda e   Nilo  "criam"? Com tanta criança desaparecida e tantas atrocidades seria necessário um explicação melhor, tipo de onde elas procedem, se elas não tem pais, se foram abandonadas, roubadas e por aí vai.
     Outro dado é quanto a ambientação do lixão, bastante realista por sinal. Vale ressaltar apenas que por mais que o trabalho seja próximo da realidade, faltam detalhes  tais como os urubus (além de outros bichos) que vivem nesses lugares. Isso me faz pensar que por mais que a arte tente imitar a vida, a vida sempre se impõe. Isso sem falar do mau cheiro  etc e tal, mas isso é uma outra história e com um H bem grande.

abril 23, 2012

Salve, São Jorge Guerreiro!

"Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me exerguem e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. Armas de fogo o meu corpo não o alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem."

Assim diz  um trecho da oração dedicada ao santo guerreiro tão venerado no Brasil, principalmente pelas pessoas mais simples. Santo Católico, mártir do cristianismo, ele parece não ter muito cartaz nas igrejas e o seu feriado hoje, como sabemos, é fruto de projeto de um vereador. Não sei ao certo se ele é católico. Provávelmente deve ser um católico-umbandista como existem milhares e, por que não dizer, milhões.

Por conta do sincretismo, São Jorge foi (como muitos outros santos e santas da igreja católica) "adotado" pela Umbanda que o tem, aqui no Rio de Janeiro, como o Orixá Ogum. Também ele (Ogum), um guerreiro destemido.  Por essa razão, no imaginário do povo, São Jorge é Ogum e Ogum é São Jorge. Creio que para muitos essa confusão nunca mais se desfará, pois tratou-se (e trata) de um daqueles encontros felizes que parece terem nascido assim. Não dá mais para imaginar São Jorge fora da Umbanda, mesmo sabendo que a sua história seja bem outra.

 O santo católico que conhecemos tem uma história bem marcada pela sua firme adesão a Jesus. Por essa razão ele enfrentou o imperador Dioclésiano e foi capaz de suportar as mais duras torturas sem, em nenhum momento, negar a sua fé. No fim, em nome de sua fé, foi decapitado a mando do imperador romando. Dizem que até um dragão ele foi capaz de enfrentar e com isso cristianizou uma cidade inteira de uma vez. 

Os puristas dirão que um santo com esse perfil não se bandearia para a Umbanda ou qualquer outra religião. Talvez isso seja verdade. Mas também podemos crer que a sua presença na Umbanda seja um motivo para reforçar o lado cristão dessa religião nascida dos negros, muitos deles já um tanto convertidos ao cristianismo, e que não conseguiam esquecer suas raízes africanas.  Vendo por esse lado, podemos dizer que o exemplo de fé desse homem/santo ainda consegue converter corações para Jesus Cristo como fez durante a sua vida na terra.

 É bem verdade que os padres (dizemos padres para falar Igreja Católica) torcem o nariz para os membros do culto umbandista que nesse dia 23 de abril lotam as igrejas do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. Pena que aqui no Rio de Janeiro haja tão poucas igrejas dedicadas ao santo. Eu conheço apenas uma na região da Central do Brasil. Independente disso, os terreiros de Umbanda estão todos abertos para o homenagear o santo guerreiro.

 Salve, São Jorge Guerreiro!


abril 19, 2012

Despedido.

     Quando José chegou ao trabalho naquele dia sentiu algo estranho no ar. Mesmo assim, tentou não dar bola para os pressentimentos ( havia muito que os boatos corriam de boca em boca de que a firma não ia bem das pernas e que "cabeças iriam rolar") e tratou de iniciar a rotina de todos os dias. Minutos depois recebeu um chamado dizendo que era solicitado na sala do Chefe.
      Por incrível que pareça, naquele momento o tal pressentimento já tinha desaparecido por completo e ele pensou que não seria nada de mais. Afinal, ele já estava acostumado a ir à sala do Chefe pelos motivos mais diversos. Tratou logo de atender o chamado e lá foi ele. Entrou  e ao mirar a cara do Chefe percebeu que ele nem respondeu ao seu "bom dia". Perguntou se podia sentar e ele foi seco:
- Claro. Senta aí.
     José sentou-se e ficou esperando o Chefe se pronunciar. O que seria? Justo naquele dia com tanta coisa para fazer... Foi uma longa espera. O Chefe parecia ter todo o tempo do mundo e não estava nem um pouco preocupado com a figura à sua frente. Rabiscando alguma coisa num papel, ele parecia estar sem coragem para começar a conversa. Foi quando José, já não aguentando mais, perguntou:
- O senhor me chamou aqui?
- Chamei, sim. - respondeu ele, sem levantar a cabeça.
José mexeu-se  na cadeira, impaciente. Pensou em alguma coisa e já estava preparado para falar quando ouviu:
- Eu sei que você sabe da nossa situação. Estamos vivendo momentos difíceis e teremos que cortar custos... Infelizmente, vamos ter que dispensar os seus serviços. - disse sem levantar os olhos do papel onde fazia rabiscos aleatórios.
     Naquele momento foi como se o chão faltasse debaixo dos pés de José. Por mais que ele não morresse de amores por aquele trabalho e soubesse que aquilo mais cedo ou mais tarde viria a acontecer, foi pego de surpresa. Na verdade, pensou, como na morte: por mais que saibamos que ela uma hora chega, sempre somos surpreendidos.
     Feitos os entendimentos de praxe, José deixou a sala do Chefe. Só então procurou dimensionar o que havia acontecido: fora despedido depois de vinte anos de trabalho. Isso não chegava a ser o fim do mundo, mas o deixou abalado e mesmo tocado. Vinte anos não são vinte dias. Pensou como daria a notícia em casa e na situação de estar desempregado. Por pouco não chorou andando pelas ruas meio sem destino.
     Foi quando sentiu uma sensação boa, como se um vento novo tocasse o seu rosto. Juntamente com ele, a  convicção de que novos tempos estavam chegando. Não era tão ruim assim sair daquele emprego onde ficou tanto tempo mais por comodismo do que por qualquer outra coisa e sempre haverá um lugar para quem quer e sabe trabalhar. Levantou a cabeça e seguiu pela rua.  Tirou o paletó, afrouxou a gravata e encheu os pulmões de ar. Pela primeira vez em muitos anos descobriu que não tinha a menor pressa. Parecia que um peso enorme tinha saído de seus ombros.

abril 17, 2012

Aborto de anencéfalos.

     Com a decisão do STF fica autorizado o aborto de bebês anencéfalos no Brasil. Por um lado, muitos respiram aliviados.  Essa era uma luta antiga de mães e pais que ao descobrirem que o filho que esperam traz consigo essa deformação e que ao nascer não terá chances de sobreviver e levar uma vida normal. Esses pais e mães, sobretudo as mães, lutavam pelo direito de interromper a gravidez e, assim, tentar diminuir o sofrimento em que se torna a espera daquele ente que, muitas vezes, era esperado com grande ansiedade e alegria. Dessa forma, os que decidirem pela interrupção da gravidez não precisarão mais recorrer aos tribunais para exercer esse direito.
     Por outro lado, estão aqueles que levados por princípios ou crenças religiosas acham que a mãe deve levar a gravidez até o fim e, com isso, cumprir uma espécie de plano de Deus para aquela vida em formação. Esse grupo entende que a vida do bebê dentro do útero já conta e que ele deve ter a chance de completar sua vinda à terra mesmo que por um tempo curto.
     São duas visões bastante diferentes. As duas merecem o nosso respeito. Se de um lado se quer evitar um sofrimento maior para a gestante e para toda a família ( afinal, a vinda de uma criança ao mundo, salvo raras exceções, sempre é cercada de muita espectativa por todos que cercam o casal ou a mãe); do outro está a criança que precisa vir ao mundo, Deus tem um plano para ela (não se pode conceber que nascemos por acaso e que nascer é apenas para aqueles que reúnem condições de sobrevivência e que esta decisão é apenas dos pais) e ele precisa ser cumprido.
     Não acredito que aqueles, como eu, que nunca vivenciaram essa situação de perto estejam em condições de fazer qualquer tipo de julgamento ou mesmo opinar. Não se trata disso. Estou tocando nesse assunto porque acho que é um daqueles casos em que a gente não tem como não pensar, não tem como não se sentir envolvido até a alma. Confesso que sempre me senti tocado.
    Minha postura religiosa me leva a ser contra qualquer tipo de interrupção da vida. Antes mesmo da concepção já existe um plano de vida traçado e o fato dela ser de curta duração pode ser exatamente a sua caracteristica. Aquele espírito precisa passar por aquela situação e os pais são o veículo que vão tornar isso possível. Porém, ninguém é obrigado a ver o mundo pela mesma ótica. Somos livres para tomar as nossas decisões.
    Vale a pena ressaltar que, independente de qual for a postura dos pais e demais envolvidos, dificilmente isso se dá sem sofrimento, sem dor. Optando pelo aborto ou por levar a gravidez até o seu fim, o sofrimento sempre é grande. Nos dois casos,  é necessário ter muita força e capacidade de superação para seguir vivendo. E essa força está na fé, na espiritualidade, e não em algo que o homem não possa determinar através de leis.