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maio 01, 2009

Choque de ordem

Sou o primeiro a reconhecer que a nossa cidade andava (e anda) uma verdadeira bagunça, com as ruas e passeios sendo usados de maneira desorganizada, um verdadeiro caus e que a ideia de nosso ainda novo prefeito de colocar uma certa ordem na bagunça é muito bem vinda. O que acontece é que nosso prefeito parece achar que o maior problema de nossa cidade ( e talvez não deixe de ter razão) é a população de rua, e que basta recolher os mendigos para que todos os ânimos sejam acalmados e que a população ( a que não é de rua, embora ande na rua e a use mal) fique satisfeita. Concordo que nossos irmãos de rua não podem ficar a mercê da sorte e que alguma coisa deva ser feita por eles. Não apenas para tirá-los das ruas e escondê-los num "depósito" qualquer, mas que algo de efetivo seja feito. Por isso, pergunto: qual é o destino que essas pessoas têm ao serem "recolhidas"? Para onde elas são levadas e qual o tratamento ou ajuda que recebem? Qual é o plano de nosso prefeito para elas? Apenas tirá-las da vista de todos como que varrendo a "sujeira" para debaixo do tapete? É essa a sensação que tenho toda vez que vejo um ônibus "cata mendigo" parado na minha porta na rua do Catete. Dentro do ônibus vejo pessoas sentadas prontas para partirem para um destino que creio seja ignorado para elas como é para os bois quando vão para o matadouro. Gostaria muito de saber qual destino elas têm. Se recebem tratamento, alojamento, se são encaminhadas para emprego ou cursos profissionalizantes. Pois não basta tirá-las da rua num ato para "inglês ver" e depois deixá-las ao o prontas para voltarem para as ruas logo em seguida. Tenho experiência no assunto, pois já vivi essa situação de morador de rua e já usei os serviços da Fundação Leão XIII que na época ( anos 1990) eram péssimos e que nada mudaram nos últimos anos ( haja vista uma visita que fiz à uma unidade da Leão XIII no último natal, quando pude constatar que tudo continua muito parecido com o que eu vi e vivi), infelizmente. Por isso, quando vejo o "ônibus" não deixo de ficar preocupado quando o "destino" desses meus irmãos. E temos (eu e o pessoal da "Sopa das quartas-feiras") recibo relatos de moradores de rua que foram "recolhidos" em Copacabana e "soltos" na Dutra, entregues à própria sorte. Não posso afirmar que os relatos são verdadeiros ou não, mas também não posso deixar de denunciar. É preciso dar voz aos moradores de rua. Nosso sociedade precisa parar de vê-los apenas como algo que enfeia a paisagem, são pessoas, seres humanos vivendo um momento de exceção seja pelo motivo que for. Apelo para o lado cristão de todos nós: como Jesus nos ensinou, devemos nos voltar mais para o nosso próximo. E nesse dia do trabalho talvez nosso próximo esteja precisando de um emprego, um dos maiores motivos que levam um indivíduo para as ruas.
PS. - Quem tiver alguma resposta para as minhas indagações, não deixe de postá-las aqui. Ficarei muito agradecido.

abril 25, 2009

Aniversário da Connie


Hoje é o aniversário da Connie. Connie é uma paraense radicada aqui no Rio de Janeiro há muitos anos que, apesar de ser totalmente integrada à vida carioca, é daquele tipo de pessoa que não esquece suas origens. Isso a torna, acima de qualquer coisa, uma embaixadora do Pará, seu estado de origem e que ela faz questão de estar sempre lembrando em suas conversas: seja sobre o Círio de Nazaré, seja sobre as comidas, os costumes, as crenças daquele pedaço da floresta amazônica, seja sobre os familiares que lá deixou e que visita sempre que pode. Além de tudo Connie é gente de teatro, tem aquela alma mambembe própria da classe, passeia por todos os assuntos, flerta com o sobrenatural, professa uma fé inabalável na vida. Não bastasse tudo isso, é minha companheira na "Sopa das quartas feiras", onde mostra sua alma caridosa, sua dedicação aos menos favorecidos, tratando a todos com carinho, respeito e atenção. Obrigado, Connie, em meu nome e em nome de todos aqueles aos quais você dedica seu tempo. Deus te dê em dobro e te proteja sempre. Feliz aniversário!
Viva a Connie! Ela merece!

PS. A Eloisa também assina.

março 08, 2009

Beato Zé Miguelin, a minissérie.

Por volta do ano de 1990, quando eu praticamente tinha acabado de chegar ao Rio de Janeiro, vivi uma situação bastante complicada financeiramente ( fato que narro no meu livro, No olho da rua), mas também bastante fértil no que diz respeito ao meu lado de escritor. Nesse período escrevi o monólogo "Saudades da China", onde conto a história de José da Silva Severino, um migrante nordestino que vem para o Rio de Janeiro em busca de "melhores condições de vida" e acaba se transformando num traficante de drogas; escrevi também a peça infantil "Juca e Bilo em busca de uma grande aventura", que narra as peripécias de dois garotos em busca de aventura numa cidade do Rio de Janeiro caótica; além de "Vestida para o baile" , peça adulta que conta história de uma romântica dona de casa que após o casamento tem que lidar com a paraplegia do marido, vendo seus sonhos de uma vida feliz irem por água abaixo. Nesse período escrevi nada menos que uma minissérie, essas novelas curtas que são apresentadas na televisão. Além de ser ator, sempre gostei de escrever. E esse gostar de escrever passa também pelos roteiros para televisão e cinema. Tenho muitas sinopses para filmes e novelas que, infelizmente, não consigo mostrar aos canais de televisão ou produtores de cinema. Esse meio é muito fechado, só trabalham aqueles que têm QI ( quem indica) e eu não possuo esse atributo. Mesmo remando contra a maré, resolvi escrever a minissérie "Beato Zé Miguelin", em 20 capítulos; a história se passa no interior de Minas e fala de um garoto que nasce muito doente e sua mãe faz uma promessa que se ele for curado dedicará sua vida ao sacerdócio. Ele se cura e a mãe o entrega a um padre para ele o encaminhe para o seminário, esse padre envolve-se em questões políticas contra um coronel local e é transferido, passando a incumbência para o novo padre de chega. Esse novo padre entende que o garoto não vai ser padre por sua escolha e sim pela vontade da mãe e por isso decide que ele não irá para seminário, criando um sério problema. O garoto que passou a vida toda convencido de que seria padre se vê perdido e acaba se transformando num beato que, segundo muitos, faz milagres. Seus milagres incomodam a igreja e o coronel local, que sente o dono da cidade, causando um embate entre o bem e o mal.
Mas agora vem a pergunta que não quer calar: por que estou falando disso? É que outro dia encontrei a tal minissérie perdida nos meus guardados e resolvi relê-la e fiquei assustado de ver a sua qualidade. Modéstia à parte, muito melhor que muitas histórias que vemos hoje em nossa televisão. Autores cheios de tiques e manias, penando são verdadeiros dramaturgos ou filósofos gregos e nos apresentam histórias chinfrins e sem contacto com a realidade. É verdade que lendo a minha minissérie, escrita nas dependências da extinta rádio Continental, onde eu trabalha na produção de um programa na parte da manhã e passava o resto do dia escrevendo os capítulos, disputando as poucas máquinas de escrever com os jornalistas que ali trabalhavam, noto que ela foi escrita um pouco (ou muito) sob influência do realismo fantástico do Dias Gomes e do Aguinaldo Silva, que imperava na época, mas nada que tire seu valor. Afinal, quem não sofreu influências nessa vida? Quando olho para trás, acho tudo isso uma grande aventura. Eu era muito louco. Nesses anos só mostrei esse trabalho para o José Louzeiro, ele fez algumas anotações, mas não creio que tenha lido ou se interessado. Gostaria de ver essa minissérie no ar um dia, ainda que fosse numa produção simples e num canal obscuro. A história do Beato merece ser vista.

janeiro 01, 2009

Feliz 2009!

Hoje é o primeiro dia de um ano que se inicia. Normalmente colocamos no novo ano todas as nossas esperanças e desejos. Acreditamos que teremos tempo de realizar tudo o que desejamos, só esquecemos que o ano tem, em média, 365 dias. Não é tempo suficiente para realizar tantos desejos. O que fazer então? Apenas viver o ano levando em conta as prioridades, aquilo que realmente é importante para nós. Sei que é difícil decidir entre tantas coisas, mas esse é o desafio do ano que se inicia e provavelmente sempre foi o maior desafio de nossas vidas: fazer escolhas. É aí que pedimos a ajuda do alto; que Deus nos ilumine para que nós possamos fazer as escolhas certas dentro daquilo que vai nos guiar rumo a uma vida melhor, rumo a um mundo melhor. O mundo só ficará melhor o dia que nós melhorarmos. Não adianta reclamarmos do mundo se nâo procuramos melhor a nós mesmos. De nada adianta sairmos em passeata pelas ruas pedindo paz, se no nosso interior estamos travando a mais sangrenta das guerras. Que a nossa maior prioridade em 2009 seja pacificar os nossos corações. Feliz 2009 para todos!

dezembro 25, 2008

Apenas para registrar um momento família. Uma foto minha com minha irmã Eloisa. Ela é muito tímida e não gosta de aparecer ou tirar fotos. O grande problema do tímido, e eu também sou muito tímido, é de que sempre aparece alguém tentando acender um holofote bem na sua cara, expondo todas as suas entranhas. "Entranhas!?" É isso aí. No fundo todo tímido não passa de um exagerado. E depois, aparecer não tão ruim assim.

dezembro 21, 2008

Ainda "O Despertador"


Como eu já falei, O Despertador é um monólogo de minha autoria com pretensões de ser chamado de comédia ou quem sabe uma comédia-sentimental, algo que possa fazer rir ao mesmo tempo que faça refletir. Embora a peça conte a estória de um homem e seu apego por um relógio despertador que o acompanhou em muitos momentos de sua vida e do qual ele tem dificuldades de se separar, acredito ter muito de engraçado. Com essa estória tentei falar da amizade, um tema que é muito caro para mim. Por que estou falando disso? Ah!, sim. Quero falar dos meus projetos para 2009. Aliás, dos meus projetos, não, do meu projeto: O Despertador. Esse é o meu projeto. Quero montar O Despertador. Por isso, embora bastante atropelada, não pelos internos da Fundação Leão XIII, que se revelaram uma plateia bastante atenta e muito educada, mas pelo organizadores que, pelo que pude constatar, não conheciam uma peça de teatro ( provavelmente nunca tenham assistido à uma), essa apresentação foi muito importante. Com ela pude fazer uma espécie de teste com o texto e achei que ele passou com louvor. Ainda pretendo fazer outros testes para que a peça possa sofrer os ajustes necessários. Silvia já me de uns toques muito interessantes. Gostaria de encontrar espaços como escola, asilos, firmas, igrejas e o que apareça. Quem souber de algum espaço disponível é só entrar em contato aqui pelo blog. Trata-se de um espetáculo de aproximadamente 50 minutos de duração. A produção é muito simples: duas cadeiras, uma escada, alguns livros velhos, uma caixa de papelão, o relógio, jornais e porta retrato. Por isso, cabe em qualquer lugar e até num teatro convencional. É o que antigamente se chamava de espetáculo de bolso (Será que não estou inventando isso, meu Deus? É que eu sou meio visionário. Vejo coisas que não existem.) ou espetáculo para viagem. Em 2009, não perca o espetáculo O Desperator, com interpretação, direção e texto de Julio Fernando.

dezembro 19, 2008

Fundação Leão XIII e O despertador.




Ontem, 18/12/08, estive numa unidade da Fundação Leão XIII, na avenida dos Democráticos, a convite da assistente social Isabel, para apresentar uma peça de teatro para os internos, como parte das comemorações do natal. Eu já sabia que seria uma louca aventura apresentar a peça. Afinal, a peça em questão é o monólogo de minha autoria, O despertador. Embora a peça seja ( ou pretenda ser) uma estória engraçada, o clima pesado da instituição, a situação deprimente em que a maioria se encontra, aquele ar de coisa abandonada que têm as instiuições do governo ( será que sou eu penso assim?), misturado com minha própria condição de estar voltando ( embora não fosse a primeira vez) para apresentar num local parecido com o que estive um dia e quase (creio que já falei sobre isso aqui), tudo contribuiu para que eu voltasse de lá um pouco deprimido. Deprimido e triste. Infelizmente, desde o tempo em que passei pela Fundação Leão XIII no início dos anos noventa até hoje nada mudou. Nem os móveis mudaram. Está tudo igual. E o que para mim é pior: os funcionários continuam os mesmos. Alguns são literalmente os mesmos. As assistentes sociais agem da mesma forma que eu as vi agirem no tempo em que passei por lá: apenas repetem velhos chavões e tratam os assistidos como se fossem dementes. Em muitos casos eles são mesmo demente, disso não há dúvida. O que me deixa perplexo (ainda) é o quão pouco a instituição pode fazer por aqueles que se encontram numa verdadeira condição de perda de identidade. São, na sua maioria, drogados, alcoolatras, dementes, desmemoriados, pequenos marginais, desempregados, sem teto, sem família (talvez essa seja a maior causa do total desamparo em que muitos se encontram) e sobretudo, pessoas sem rumo, sem norte, sem futuro ou um simples amanhã. Voltei para casa, eu e Silvia, minha colega da Sopa que me acompanhou nessa aventura, bastante abalado. Quando Isabel me convidou para participar da festa de natal acho que, na minha empolgação, me esqueci do lugar triste que era a Leão XIII. dificil acreditar tantos anos depois ( quase vinte) que eu vivi a mesma situação. Hoje posso me sentir como privilegiado, alguém que, desculpem o meu exagero, esteve no inferno e voltou. Alguém que esteve ( como já disse no meu livro, No olho da rua), a beira de perder a identidade, mas que teve a sorte de encontrar uma saída. E é esse o ponto que mais me preocupa. Apesar de não negar que foi de grande estima a ajuda que recebi da Fundação Leão XIII, sou honesto em afirmar que se eu recuperei( esse é um assunto que daria um livro) o meu lugar na sociedade foi, acima de qualquer coisa, porque eu tinha um certo preparo. Além de ter o segundo grau completo (Técnico em Contabilidade) e já havia me ingressado numa faculdade ( Letras), curso que abandonei pelo meio e retomei vinte anos depois (assunto para outro dia), ou seja, eu não era nenhum analfabeto ou semianalfabeto. A realidade é bem outra. A maioria dos assistidos (creio) são de semianalfabetos e que não têm facilidade para encontrar uma colocação no mercado por esse e por muitos outros motivos. Por isso, acho que já era hora da Fundação Leão XIII rever o seu papel ou então será sempre uma instituição de cata-mendigos e nada mais do que isso.




P.S. - Quando eu e Silvia estávamos sentados esperando que os internos entrassem no refeitório onde aconteceria a confraternização, um dos últimos da fila se aproximou de nós e falou algo como que tudo aquilo que estávamos vendo era tudo fachada, dia de festa:


- Estão vendo essas cadeiras limpas? Acham que é sempre assim? Que nada! Durante o ano é tudo sujo. Só limparam para a festa.


Eu e Silvia ouvimos calados. Silvia que já estava um tanto assustada com a situação, me olhou sem nada dizer. Da minha parte, tive a sensação que já tinha visto aquele filme.