Pesquisar este blog

abril 19, 2013

Ponha-se no meu lugar.

     Quantas vezes você já ouviu isso na vida? Muitas vezes, não é mesmo? Vira e mexe e alguém aparece com essa proposta como forma de fazer a gente entender o seu ponto de vista em algum assunto ou com o simples intuito de nos sensibilizar. Dessa maneira, acredita-se que o outro consiga ver com os seus próprios olhos aquilo se vê.
     Geralmente, o efeito provocado é o da mudez. Ninguém, que eu saiba, já tentou sentir exatamente aquilo que o outro está sentindo, tomar para si a dor do outro de forma literal e radical. O que acontece é que a gente acaba fazendo um recuo e com isso termina por concordar com o interlocutor ou simplesmente se afasta da questão.
     Foi uma, digamos, proposta dessas que me fez pensar se realmente eu seria capaz de me "colocar no lugar do outro", sentir a dor ou a alegria que ele está sentindo. Acabei por me lembrar de um pensamento ou coisa parecida que diz mais ou menos o seguinte: "ninguém é capaz de sentir a dança do amor e da dor em seu lugar, sua vida só você a vive". Não sei se reproduzi fielmente, mas a minha intenção é mostrar com isso é, na realidade, difícil.
     É difícil se colocar no lugar do outro. Por mais racional que a gente seja, não sabemos o que faríamos nessa ou naquela situação, passando por esse ou aquele percalço. Tem gente que se mostra forte ao enfrentar um momento difícil, mas desaba ao receber um simples elogio ou um pouco mais de atenção de uma pessoa querida.
     Já outros se mostram apavorados ao menor sinal de que alguma coisa não vai  do jeito que se quer e quando elas estão bem não faz o menor esforço para assim mantê-las. Isso prova que cada um de nós é diferente do outro, vê a vida por prismas diferentes e, portanto, tem reações e atitudes diversas mesmo vivendo situações parecidas.
     Acima de tudo, colocar-se no lugar do outro é um exercício duro, penoso, mas necessário muitas vezes para que não façamos julgamentos apressados e sejamos carrascos demais com os outros. Mais do que isso, é um exercício de humildade, de compaixão em relação ao nosso semelhante.
     Por mais que seja difícil, impossível, é preciso tentar. Principalmente, mudando um pouco a pergunta e transformando-a em: "se fosse eu: o que eu faria? Em muitos casos. chegamos a conclusão de que teríamos atitudes muito mais radicais do aquelas que vemos os outros tomarem. Não é mesmo?
Bom fim de semana para todos.

abril 14, 2013

Só a vida ensina - Capítulo 8

     Neste capítulo Joel recebe ajuda do amigo Fábio para tentar reconquistar Verinha e acertar a sua vida. Será que ele vai aproveitar essa chance? Leia o capítulo e descubra.

SÓ A VIDA ENSINA

CAPÍTULO 8



CENA 1 - INTERNA/DIA - QUATRO DE HOSPEDARIA
CONTINUAÇÃO IMEDITATA DA CENA 10 DO CAPÍTULO 7
FÁBIO E O HOMEM ESTÃO DIANTE DE JOEL, DEITADO NA CAMA.

FÁBIO – (PARA O HOMEM) Pode deixar. Agora eu me entendo com ele.

HOMEM – (DESCONFIADO) Olha lá, moço. Não quero saber de rolo aqui no meu estabelecimento. Se o moço aí te deve alguma coisa, é melhor acertar lá fora.

FÁBIO – Pode ficar tranqüilo. Sou amigo dele.

HOMEM – E um homem nessa situação tem amigo?

FÁBIO – (TENTANDO ACORDAR JOEL) Joel, acorda. Acorda, Joel.

HOMEM – Ele não vai acorda, não. Chegou muito doidão.

FÁBIO – Faz muito tempo que ele está morando aqui?

HOMEM – Mais ou menos uma semana.

FÁBIO – O Senhor podia dar um recado a ele?

HOMEM – Sim.

CORTA PARA:

CENA 2 - INTERNA/DIA - RECEPÇÃO DA HOSPEDARIA.
HOMEM DA CENA 1 ESTÁ NA RECEPÇÃO.
JOEL DESCE AS ESCADAS INDO PARA RUA.

HOMEM – Seu nome é Joel?

JOEL – Sim.

HOMEM – Tem um recado pro senhor.

JOEL – Recado?

HOMEM – Teve um moço aí dizendo ser seu amigo.

JOEL – É engano. Eu não tenho amigo, não. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 3 - EXTERNA/DIA - UMA RUA QUALQUER
FÁBIO E VERINHA CONVERSAM.

FÁBIO – Precisava ver o estado dele, Verinha. Coisa de cortar o coração. (TEMPO) O Joel está virando um molambo.

VERINHA – E o que eu posso fazer?

FÁBIO – Dá uma chance para ele, Verinha. Quem sabe ele não toma um rumo na vida. (TEMPO) E você gosta dele que eu sei.

VERINHA – Mas eu estou mesmo resolvida a voltar pra minha terra.

FÁBIO – Pensa um pouco, Verinha. Perdoa as besteiras que ele fez. Dê uma chance para o amor de vocês dois.

VERINHA FICA MEIO INDECISA.

CPRTA PARA:

CENA 4 - INTERNA/DIA - HOSPEDARIA ONDE JOEL ESTÁ MORANDO - QUARTO
JOEL ESTÁ DEITADO. A PORTA ABRE E FÁBIO ENTRA.

JOEL – O que você quer aqui?

FÁBIO – Que é isso, Joel? Esqueceu que somos amigos?

JOEL – Amigo? Essa é boa. (TOM) Se eu tivesse amigo, não estava vivendo numa espelunca dessas.

FÁBIO – O que você quer que eu faça? (TEMPO) Lá em casa não dá para você ficar. A Marluce acha...

JOEL – (INTERROMPENDO) Eu sei o que a Marluce pensa de mim. Pra ela eu sou um cachaceiro que tira você do bom caminho. (TOM) Quer saber de uma coisa? Eu não vou ficar aqui falando com traidor. (LEVANTA E SAI)

FÁBIO – Espera aí, Joel. Que história de traidor é essa? (SAI)

CORTA PARA:

CENA 5 - EXTERNA/DIA - RUA  - EM FRENTE À  HOSPEDARIA
JOEL ESTÁ CAMINHANDO APRESSADO. FÁBIO É MAIS RÁPIDO E O ALCANÇA.

FÁBIO – Que história é essa, Joel? Eu nunca traí você.

JOEL – Não mesmo?

FÁBIO – Não.

JOEL – E o meu cargo de chefe lá no escritório? Soube que seu Olavo subiu você de cargo: agora é chefe. (TEMPO) Esse cargo era meu.

FÁBIO – Que bobagem é essa, Joel? Você saiu de lá, esqueceu?

JOEL – Era tudo o que você queria: ficar no meu lugar. Ser o chefe.

FÁBIO – Deixa de bobagem, Joel. Você não tá falando coisa com coisa. (TEMPO) Eu só vim aqui pra te dar um recado.

JOEL – Que recado?

FÁBIO – A Verinha está indo embora. Você está prestes a perder a mulher que você ama pra sempre.

JOEL SE ASSUSTA COM A REVELAÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 6 - INTERNA/NOITE - CASA DE VERINHA -  SALA
JOEL, FÁBIO E VERINHA ESTÃO DE PÉ NO MEIO DA SALA.

VERINHA – Que é isso, Fábio? Eu falei pra você não dizer nada pra esse cara.

JOEL – Quer dizer que você ia me deixar sem nem uma despedida?

VERINHA – Você não merece nenhum tipo de consideração.

JOEL – Olha como ela me trata, Fábio. (TOM) Essa mulher quer destruir o meu coração.

FÁBIO –  (MEIO SEM JEITO) Eu vou deixar vocês sozinhos. Vocês têm muito que conversar. (SAI)

VERINHA – Volta aqui, Fábio. Eu não tenho nada para falar com esse cara.

JOEL – (APROXIMA-SE DE VERINHA E TENTA ABRAÇÁ-LA) Será que não temos mesmo? (TOM) Me dá uma chance, meu amor. Se for preciso, eu me ajoelho aos seus pés. (AJOELHA-SE) Olha aqui, eu já estou de joelhos.

VERINHA – (ENCABULADA) Para com isso, Joel.

CORTA PARA:

CENA 7 - INTERIOR/DIA - CASA DE VERINHA -  QUARTO
JOEL E VERINHA ESTÃO NA CAMA. TERMINARAM DE FAZER AMOR.

JOEL – Daria tudo pra ficar com você pelo resto de minha vida.

VERINHA – Lá vem você com suas velhas promessas. (TEMPO) Tô cansada de suas promessas, Joel.

JOEL – Agora é sério, Verinha. Quero ficar com você. Só você... Acredita em mim, meu amor.

VERINHA – Deixa de conversa, Joel. Você não me engana mais. (TOM) Minha decisão já está tomada. Acertei tudo com dona Damares. Vou embora, amanhã.

JOEL – Não faça isso, meu amor.

CORTA PRA:

CENA 8 - INTERIOR/DIA - CASA DE VERINHA - QUARTO
VERINHA ESTÁ PREPARANDO SUAS MALAS TENDO JOEL DO SEU LADO.

JOEL – Não faça isso, Verinha.

VERINHA – (ABORRECIDA) Para com isso, Joel! Há dias que você repete sempre a mesma coisa. Já não aguento mais isso.

JOEL – Eu vou continuar repetindo até você mudar de ideia. (TOM) Não faça isso, Verinha. Eu prometo que vou tomar juízo, virar um homem sério para ser digno do seu amor, prometo.

VERINHA – Seria tão bom se isso fosse verdade.

JOEL – E é verdade. Pode acreditar.

VERINHA – (DECIDIDA) Está bem. Pode parar com isso. Eu fico.

JOEL – (FELIZ) Verdade?

VERINHA – Verdade. (TOM) Mas olha lá: qualquer deslize seu e eu me mando.

JOEL – Tá combinado. Agora vamos desfazer essas malas.

CORTA PARA:

CENA 9 - INTERIOR/DIA. - CASA DE VERINHA – SALA CONJUGADA COM COZINHA
VERINHA ESTÁ TODA FELIZ PREPARANDO UM JANTAR. A TODA HORA OLHA NO RELÓGIO, VAI ATÉ A JANELA E DÁ UMA OLHADA.

VERINHA – O que foi feito do Joel? Até essa hora e ele não voltou.

PASSA MAIS ALGUM TEMPO, A PORTA SE ABRE E JOEL ENTRA COM ALGUNS COMPANHEIROS. ESTÃO TODOS BÊBADOS E MALTRAPILHOS.

JOEL – Verinha esses são os meus amigos. Amigos, essa é Verinha. A melhor mulher do mundo.

VERINHA – O que significa isso, Joel? Quem são esses homens?

JOEL – São meus amigos. Eles vão jantar com a gente.

VERINHA – Onde você encontrou essa gente? (TOM) Olha aqui, Joel. O jantar que eu estou preparando é para nós dois, não para um bando de bêbados. Quer fazer o favor de pedir para os seus AMIGOS irem embora?

JOEL – Que é isso, Verinha?  Se eles forem embora, eu vou com eles.

VERINHA – Faça isso. (TOM) E me faz o favor de não voltar mais. (GRITA) Nunca mais.

CORTA PARA:

CENA 10 - EXTERNA/DIA - RODOVIÁRIA NOVO RIO
VERINHA ESTÁ ESPERANDO UM ÔNIBUS NA PLATAFORMA. JOEL ESTÁ DO SEU LADO, INCONFORMADO.

JOEL – Você não vai mesmo mudar de ideia?

VERINHA – O que você acha?

JOEL – Eu sei que errei, Verinha, mas pensa melhor. A gente se ama. Nosso amor não pode terminar assim.

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO


abril 12, 2013

OBRIGADO!

     Mais do que um simples sinal de educação, agradecer é um gesto cheio de significados. Tem gente que não agradece nunca. Pode receber a gentileza que for que continua agindo como se todo mundo só existisse para servi-la.
      Adentra-se à uma porta aberta como se a porta fosse automática ou se abrisse com a força do pensamento. Simplesmente não se digna a olhar para o lado e ver a mão que prontamente a abriu.    
     Isso só para dar um único exemplo das muitas gentilezas que recebemos (e ofertamos) no nosso dia a dia e que, muitas vezes, passam desapercebidas ou que, dado o costume (bom costume, é preciso que se diga) fazemos sem nos dar conta da sua grandeza.  
     Pessoas que agem assim, não esperam recompensas, é verdade. Agem assim porque assim é o seu natural. São pessoas que sabem que o mundo é habitado por outras pessoas além delas e sabem como é agradável receber uma gentileza por mais simples que seja e até por mais desnecessária que seja.
     Porque muitas vezes aquela ajuda que recebemos ou que oferecemos não é mesmo assim tão necessária. O que vale é o gesto feito, a intenção de ser útil, a beleza da mão estendida em nossa na nossa direção ou a vontade de amparar o outro. Nesses momentos, é como se um dissesse para o outro:
- Você não está sozinho. Eu estou aqui com você.
Verdade seja dita, muitas vezes, a ajuda oferecida nem resolve e nem nós temos certeza se podemos realmente ajudar. O que vale é a intenção, o desejo de que o outro se sinta melhor.
     Já tem outras pessoas que agradecem o tempo todo. Até por aquilo que não receberam. Estão sempre dizendo obrigado. Que bela palavra é "obrigado". Ela tem uma capacidade tão grande de mudar uma situação, de criar um clima de tranquilidade ao que a diz e àquele que a ouve.
     Meu Deus. Que vontade de sair dizendo, obrigado!, a todos que eu encontrar pelo caminho. Obrigado você que acessa o meu blog e lê o que eu escrevo. OBRIGADO! OBRIGADO POR TUDO E PARA SEMPRE!
     Sobretudo, OBRIGADO DEUS!, por tudo o que faz por mim.

OBRIGADO!

abril 07, 2013

Só a vida ensina - Capítulo 7

No capítulo 7, mais da vida errante de Joel.

SÓ A VIDA ENSINA
Capítulo 7


CENA 1 - INTERIOR/NOITE - CASA DE VERINHA - QUARTO
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 10 DO CAPÍTULO 6
JOEL E VERINHA AINDA ESTÃO NA CAMA. VERINHA PERMANECE CALADA.

JOEL – Eu lhe fiz uma pergunta.

VERINHA – Preferia não falar sobre isso, Joel.

JOEL – Por quê?... (TOM) A gente está junto há tanto tempo... E depois, você sempre quis casar, não quis?

VERINHA – Sempre quis, Joel. (TEMPO) Mas não desse jeito.

JOEL – Desse jeito, como?

VERINHA – Assim, correndo. Parece que está tirando o pai forca. Assim, eu não quero. (SONHADORA) Casamento, pra mim, é com igreja, padre, convidados, festa. (TOM) Você só quer casar agora porque está sem lugar para morar.

JOEL – O quê?

VERINHA – É isso mesmo, Joel. Você vem com esse jeitinho de apaixonado, mas o que você quer é um lugar para morar. Pensa que eu não sei? (TOM) Vê se te orienta, Joel. Não sou mulher de sustentar homem.

CORTA PARA:

CENA 2 - EXTERIOR/DIA - BANCO DE PRAÇA
JOEL E FÁBIO ESTÃO SENTADOS.

JOEL – Ela disse que não quer se casar comigo, Fábio.

FÁBIO – Ela falou assim, na lata?

JOEL – Com todas as letras. Só faltou me chamar de vagabundo. Disse que eu só quero me casar com ela porque estou sem ter onde morar. Vê se pode?

FÁBIO – Vamos ser sinceros, Joel. No fundo é isso mesmo, não é? Fala a verdade. Depois de enrolar a pobre da Verinha por tanto tempo, você aparece com essa história de casamento e justo no momento em que você tá... (TOM) Ela percebeu, Joel. A Verinha é apaixonada, mas não é burra.

JOEL – É...  Acho que você tem razão. Eu sempre abusei da boa vontade dela. Ela sempre ali, apaixonada, perdoando cada deslize meu. E eu sempre aprontando.

FÁBIO – Foi por isso que eu tratei de me sossegar com a Marluce. Vida de solteiro é boa, mas de casado pode ser melhor. (TOM) Marluce é uma companheira e tanto.

JOEL  – Falou, o apaixonado.

FÁBIO – E tô mesmo. (TOM) E você devia fazer o mesmo com a Verinha.

JOEL – Mas ela não me quer.

FÁBIO – Quer sim, homem. A Verinha é louca por você. Conversa com ela direito. Prova pra ela que você tá mudado.

JOEL – (RESOLVIDO) É isso mesmo que eu vou fazer.

CORTA PARA:

CENA 3 - EXTERNA/NOITE. - PORTA DA CASA DE VERINHA
JOEL ESTÁ PARADO NA PORTA, VERINHA CHEGA VINDO DO TRABALHO.

VERINHA – O que você está fazendo aqui, Joel? Não disse que não quero saber de você aqui? Minha casa não é nem pensão, nem hotel. Pode dar o fora.

JOEL – Não fala assim, Verinha. Vamos conversar. (TOM) Eu sei que sempre aprontei com você, que fui um canalha. Mas eu mudei, meu amor. Só agora caí em mim e vi a mulher maravilhosa que você é. Me dá uma chance, umazinha só.

VERINHA – (NERVOSA) Para com essa conversa, Joel. Daqui a pouco os vizinhos vão reclamar.

JOEL – Então, vamos conversar lá dentro.

VERINHA – Já disse que não. Vai embora, Joel. (TOM) Cansei de fazer papel de trouxa. Vai enrolar outra, tá?

VERINHA ENTRA E BATE A PORTA NA CARA DE JOEL. ELE FICA ALÍ UM TEMPO E DEPOIS VAI EMBORA.

CORTA PARA:

CENA 4 - EXTERNA/DIA - PORTA DO SALÃO DE BELEZA ONDE VERINHA TRABALHA
JOEL ESTÁ COMPLETAMENTE BÊBADO.

JOEL – (GRITANDO) Verinha, meu amor. Casa comigo. Eu te amo, Verinha. Você é o amor da minha vida. Sem você eu não posso viver. Sem você, eu prefiro morrer. Eu vou morrer, Verinha. Eu estou morrendo de amor por você. Vem me salvar, Verinha.

VERINHA – (APARECENDO NA PORTA DO SALÃO) Que escândalo é esse, Joel? Está querendo que eu perca o meu emprego? Dona Damares não gosta desse tipo de coisa. Vai embora daqui.

JOEL – Só se você aceitar se casar com comigo. (TEMPO) Promete que casa comigo?

VERINHA – Você está bêbado, Joel.

JOEL – Promete?

VERINHA – Vai embora, Joel. Eu vou acabar perdendo o meu emprego.

JOEL – Promete que casa comigo. Promete que vai me dar uma chance de provar o meu amor por você.

VERINHA – (PERDENDO A PACIÊNCIA) Vai procurar sua turma, Joel.

VERINHA ENTRA NO SALÃO E JOEL FICA POR ALI, SOB OLHARES DE CURIOSOS.

CORTA PARA:

CENA 5 - INTERNA/NOITE.  - CASA DE VERINHA - QUARTO
VERINHA ENTRA NO QUATRO, ACENDE A LUZ E LEVA UM SUSTO. JOEL ESTÁ DORMINDO EM SUA CAMA.

VERINHA – (ACORDANDO JOEL) O que significa isso?

JOEL – Me deixa dormir.

VERINHA – Acorda, Joel.

JOEL – (ACORDANDO) Oi, amor. Você chegou?

VERINHA – Como foi que você entrou aqui, Joel?

JOEL – Esqueceu que você me deu uma chave?

VERINHA – Nem me lembrava mais disso. (TOM) Me devolve essa chave, Joel. Eu não quero a chave da minha casa com você.

JOEL – Entenda de uma vez por todas, Verinha: nós nascemos um para o outro.

VERINHA – Entenda de uma vez por todas, você. (GRITA) Eu não te quaro na minha casa, nem na minha vida. Some de uma vez por todas, coisa ruim.

JOEL – (VENDO O ESTADO DE VERINHA) Está bem. (LEVANTANDO PARA SAIR) Eu saio.

VERINHA – (COM A MÃO ESTENDIDA) A chave.

JOEL TIRA DO BOLSO DA CALÇA UMA CHAVE E ENTREGA-A A VERINHA E SAI. VERINHA SENTA NA CAMA E CHORA.

CORTA PARA:

CENA 6 - EXTERNA/NOITE - UMA RUA QUALQUER
JOEL ANDA MEIO SEM RUMO, DE REPENTE DÁ UM ESBARRÃO EM ALGUÉM. É FÁBIO.

JOEL – Não presta atenção por onde anda?

FÁBIO – Qual é, meu? Você é que não olha.

OS DOIS SE RECONHECEM.

FÁBIO – Joel?

JOEL – Só podia ser você.

FÁBIO – O que você está fazendo por aqui?

JOEL – Andando sem rumo.

FÁBIO – O quê?

CORTA PARA:

CENA 7 - INTERNA/NOITE. - UM BAR QUALQUER
JOEL E FÁBIO CHEGAM E SENTAM.

FÁBIO – Fala aí. O que está acontecendo?

JOEL – A Verinha... (TOM) Ela não quer nada comigo. Me expulsou da casa dela.

FÁBIO – O que você andou aprontando?

JOEL – Nada. Apenas pedi que ela se casasse comigo.

FÁBIO – Ainda essa história? (TEMPO) Você precisa tomar jeito, Joel. Arrumar um emprego. Mostrar que está disposto a viver como um homem sério. Só assim a Verinha vai acreditar em você. Não se esqueça que você aprontou muito com ela.

JOEL – (TRISTE) Eu perdi a única mulher que podia me fazer feliz. A Verinha é tudo pra mim. (TOM) Mas vamos beber uma que assim a vida melhora.

FÁBIO – Para com essa bebedeira, Joel. Sei de muita gente que começou assim como você, bebendo para afogar as mágoas e virou mendigo.

JOEL – Vira essa boa pra lá, agourento.

CORTA PARA:

CENA 8 - EXTERNA/DIA - PORTA DE UMA HOSPEDARIA NO CENTRO DA CIDADE
JOEL VEM CAMBALEANDO PELA RUA E ENTRA NUMA
HOSPEDARIA. É UMA HOSPEDARIA BEM SIMPLES E POBRE.

DETALHE DA PLACA NA PORTA DA HOSPEDARIA:

- “ALUGAM-SE QUARTOS PARA RAPAZES SOLTEIROS”.

CORTA PARA:

CENA 9 - EXTERNA/DIA - PORTA DO SALÃO ONDE VERINHA TRABALHA
VERINHA E FÁBIO CONVERSAM.

FÁBIO – Desculpa ter vindo te procurar no seu emprego. (TOM) Eu ando muito preocupado com o Joel. Desde que você disse não ao pedido de casamento dele, ele não faz outra coisa senão beber.

VERINHA – O Joel sempre bebeu e vai continuar bebendo. (TEMPO) Eu não posso me casar com ele só pra resolver os problemas dele. E eu?

FÁBIO – Eu entendo o seu lado, mas dá uma chance pra ele. Quem sabe o que ele precisa é de um apoio. Antes tinha a mãe dele, dona Margarida. Ela controlava um pouco. Mas ela foi morar com a outra filha.

VERINHA – E tudo, por quê? (TOM) Por causa da irresponsabilidade dele. (TEMPO) Ele só quer ficar comigo agora, por que não tem onde morar. Tudo o que ele quer é um canto para morar e comida na mesa. (TOM) Eu tomei uma decisão...

FÁBIO – O quê?

VERINHA – Decidi voltar pra minha terra, lá no nordeste.

CORTA PARA:

CENA 10 - INTERNA/DIA - QUARTO DE HOSPEDARIA
QUARTO PEQUENO E ESCURO.
FÁBIO ENTRA NO QUATRO ACOMPANHADO DE UM HOMEM.

HOMEM – O homem que você está procurando é esse aí?

FÁBIO VÊ JOEL CAÍDO NUMA CAMA SUJA, DORMINDO, COMPLETAMENTE BÊBEDO.

FÁBIO – (HORRORIZADO) Meu Deus!

CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO




abril 05, 2013

Selvageria e intolerância.

      Estamos vivendo um tempo em que ficou muito difícil pensar, viver e agir diferente dos outros. Por mais que se fale em liberdade, sobretudo de expressão, os exemplos de intolerância com aqueles que pensam ou vivem de forma diferente têm sido flagrantes. Em nome da defesa de seus pontos de vista, muitos tomam atitudes que podem ser claramente classificadas como intolerantes.
     Um exemplo disso foram os ataques sofridos, em sua vinda ao Brasil, pela blogueira cubana, Yoani Sánchez. Muitos partidários de Fidel Castro e que não concordam com a luta por liberdade da blogueira acharam por bem atrapalhar a vida da moça, tentando impedir que ela participasse de alguns eventos.
     Que nome se dar a isso que não seja intolerância, cerceamento da liberdade? Essa foi uma demonstração de que essas pessoas não respeitam a opinião do outro, não respeitam a luta do outro. Ninguém é obrigado a concordar com tudo. Essa é uma grande verdade e um direito de todos.
     O que não se pode é acreditar que a luta de uma pessoa é sem valor porque vai contra aquilo que pensamos ou defendemos. É desse tipo de atitude que nascem os ódios e as guerras que tanto destroem vidas mundo afora.
     Parece que as pessoas acreditam que o  vale é o que elas pensam e fazem em detrimento do o outro faz ou pensa. Vivemos numa democracia, mas parece que pensar diferente é proibido. Querem todos pensando da mesma maneira, agindo do mesmo jeito. E a pluralidade? E a diversidade tão importante para a manutenção da vida nesse planeta?
     Passados tantos anos, vencidas tantas lutas, depois de tantos avanços será que estamos voltando no tempo? Ou será que não estamos sabendo usar a liberdade que tanto almejamos e que conquistamos a duras penas?
     Nesse mundo globalizado e integrado que pretendemos não podia haver espaço para tantas manifestações de selvageria e intolerância. O fato de não concordarmos uns com os outros não significa que sejamos inimigos ou adversários.

março 31, 2013

Só a vida ensina - Capítulo 6

A saga de Joel continua.


SÓ A VIDA ENSINA

Capítulo 6

CENA 1 - INTERNA/DIA - CASA DE BERNADETE - SALA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 8 DO CAPÍTULO 5
OZIAS ESTÁ DE PÉ NO CENTRO DA SALA. QUANDO ELE ENTROU TODOS SE LEVANTARAM,. BERNADETE NÃO CONSEGUE DISFARÇAR SUA PREOCUPAÇÃO. ARTUR ENTRA CORRENDO E ABRAÇA O PAI.

JOEL – Que é isso, Ozias? Isso é maneira de receber seu cunhado e sua sogra?

OZIAS – (TRANSTORNADO) Cunhado!? Como você tem coragem de voltar aqui, seu canalha?

BERNADETE – Calma, Ozias. O Joel e a mãe só vieram aqui para nos fazer uma visita. Eles nem pretendem ficar, não é?

A PERGUNTA FICA NO AR UM TEMPO. DONA MARGARIIDA FAZ SINAL PARA JOEL FALAR ALGUMA COISA.

DONA MARGARIDA – Fala, Joel. Se você não fala, falo eu.

JOEL – Pode deixar, mãe. Eu falo.

OZIAS – Vem bomba aí.

BERNADETE – Espera, Ozias. Deixa o Joel falar. (CONCILIADORA) Por que a gente não senta? (SAINDO) Eu vou preparar um café.

OZIAS – Nada disso, Bernadete. Vamos primeiro ouvir o que o seu irmão tem a dizer.

BERNADETE PERMANECE NA SALA. TODOS SENTAM.

OZIAS – E então...

JOEL – Sabe o que é... Eu tive aí uns contratempos. Perdi o emprego e tivemos que entregar o apartamento. A gente, eu e a mãe... A gente tá, temporariamente, sem onde morar. Essa que é a verdade.

BERNADETE – O quê?

OZIAS – Vê se eu entendi... Vocês estão sem ter onde morar e então resolveram se aboletar aqui na minha casa?

JOEL – É só por uns tempos...

OZIAS – Uns tempos!?

JOEL – Vê se dá pra você esquecer as mágoas do passado, cunhado. Eu sei que eu sempre aprontei muito, mas eu tô mudado, não é mãe? (TEMPO) A vida ensina a gente, Ozias. Você tem razão. Tá mais que na hora de eu criar juízo. Tô disposto a correr atrás de emprego. Você vai ver. Em pouco tempo tô empregado de novo e aí é vida nova.

OZIAS – Até isso acontecer, se acontecer, eu é que pago o pato. (SAINDO DA SALA) Era só o que me faltava. (SAI)

CORTA PARA:

CENA 2 - INTERNA/DIA - CASA DE BERNADETE -  SALA
APÓS O JANTAR, TODOS ESTÃO REUNIDOS. OZIAS PUXA BERNADETE PARA UM CANTO.

OZIAS – Você tem que dar um jeito nisso.

BERNADETE – O que você quer que eu faça? É meu irmão, é minha mãe... Não dá para fechar as portas assim. Será que não dá para você entender, Ozias?

OZIAS – Não. Eu não entendo. (TEMPO) Eu não quero esse pilantra aqui em casa misturado com nossos filhos. Eu entendo que é seu irmão, mas você sabe que ele não presta. Se tá nessa situação é porque nunca teve responsabilidade.  Sempre botou fora tudo o que ganha, além de torrar o dinheiro da pensão de dona Margarida.

BERNADETE – É por ela que eu tô preocupada. (TOM) Eu não posso deixar minha mãe na rua.

CORTA PARA:

CENA 3 - INTERNA/DIA. - CASA DE BERNADETE -  SALA.
BERNADETE ESTÁ DIANTE DE JOEL E DONA MARGARIDA. BERNADETE ESTÁ NERVOSA, AFLITA.

DONA MARGARIDA – Senta, Bernadete. Assim você vai passar mal.

JOEL – Parece que a Dete não tem notícia boa pra gente, né, Dete?

BERNADETE – Tenta entender, Joel. (TEMPO) O Ozias não consegue esquecer as vezes que você aprontou com ele.

JOEL – (LEVANTANDO-SE PARA PEGAR AS MALAS QUE AINDA ESTÃO NA SALA) Já entendi tudo. Estamos sendo colocados no meio da rua. (TOM) Vamos embora, mãe.  Sua filha tá fechando a porta na nossa cara.

BERNADETE – Não é nada disso.

JOEL – Então o que é?

BERNADETE – O Ozias disse que a mãe pode ficar. (TEMPO) Você se arranja melhor, Joel. É homem, sabe se virar. A casa é muito pequena pra tanta gente. Os meninos estão crescendo... Olha, você pode fazer as refeições aqui, só não pode ficar morando.

JOEL – Tudo bem, Bernadete. (TOM) E pensar que eu sempre tive a maior consideração por você. (PARA A MÃE) Fica aí, mãe. É só eu conseguir um emprego que eu volto para te buscar.

DONA MARGARIDA – Para onde você vai, filho?

JOEL – Eu me viro. (PEGA UMA MALA, DESPEDE-SE DA MÃE E SAÍ. BERNADETE ABRAÇA A MÃE QUE CHORA AO VER O FILHO PARTIR.)

CORTA PARA:

CENA 4 - INTERNA/NOITE - CORREDOR DE UM PRÉDIO - PORTA DE UM APARTAMENTO
JOEL ESTÁ DE PÉ TOCANDO A CAMPAINHA. A PORTA SE ABRE E SURGE FÁBIO. ESTÁ VESTIDO APENAS DE CALÇÃO.

FÁBIO – (SURPRESO) O que você está fazendo aqui, Joel?

JOEL – O cunhadinho bíblia não me quer na casa dele. Acha que vou desencaminhar os filhos dele.

FÁBIO – E não é para menos, né, Joel? Você sempre aprontou muito com ele.

JOEL – Aquele babaca! Vai ver. É só as coisas melhorarem que eu pego ele de jeito. (TEMPO) E aí, não vai me convidar pra entrar? Acho que sobrou pra você, amigo. Tenho que ficar aí uns dias.

FÁBIO – ( SEM JEITO) Sabe o que é, Joel?...

JOEL – Vai negar ajuda pro seu amigo, vai?

FÁBIO – Não é isso, cara. É que a Marluce...(TEMPO) Acho que eu esqueci de te dizer. A gente tà morando junto.

JOEL – Não vai me dizer que se deixou cair na armadilha?

FÁBIO – Isso aí, Joel. A Marluce é uma garota legal e já estava passando da hora da gente se juntar. (TEMPO) E o apartamento é muito pequeno. Não dá. Você entende?

SEM DAR RESPOSTA, JOEL PEGA SUA MALA E SAI. FÁBIO O OBSERVA SE DISTANCIANDO.

CORTA PARA:

CENA 5 - INTERNA/NOITE - BAR NO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
 SENTADO NO BALCÃO, COM SUA MALA DO LADO, JOEL BEBE UMA CERVEJA.

JOEL – (CONSIGO MESMO) Veja aonde você chegou, Joel. E agora? Até o Fábio, que se dizia ser seu melhor amigo, fechou as portas pra você. E tudo isso por quê? Por causa da Marluce. Fábio se deixou amarrar pela Marluce. Era só o que faltava. Se bem que... (FICA PENSANDO DURANTE UM TEMPO) Eu também... Ora, ora. Por que eu não pensei nisso antes?

TOMADO POR UMA INESPERADA ANIMAÇÃO, JOEL PAGA A CONTA E SAI DO BAR LEVANDO SUA MALA.

CORTA PARA:

CENA 6 - EXTERNA/DIA - PORTA DO SALÃO ONDE VERINHA TRABALHA
JOEL E VERINHA CONVERSAM

VERINHA – Já falei que a minha patroa não gosta que a gente receba visitas aqui?

JOEL – Essa sua patroa é muito chata. (TENTA ABRAÇAR VERINHA) Vem cá, meu amor.

VERINHA – (AFASTANDO-SE DE JOEL) Sai pra lá.

JOEL – (SENTIDO) Pô! Eu aqui cheio de amor pra dar e você me rejeita?

VERINHA – Aqui não é lugar disso. Já falei.

JOEL – Tá bom. (TEMPO) Que tal se a gente saísse hoje à noite?

VERINHA – Você convida, mas sempre me dá o bolo.

JOEL – Hoje vai ser diferente. Pego você às oito, combinado?

VERINHA – Combinado.

ELES SE DESPEDEM E VERINHA ENTRA. JOEL SAIU CAMINHADO TODO ANIMADO.

CORTA PARA:

CENA 7 - INTERNA/NOITE - UM BAR FREQUENTADO POR CASAIS
JOEL E VERINHA ESTÃO NUMA MESA.

VERINHA – Pra que tudo isso, Joel? Você nunca me trouxe num bar desses. Ganhou na loteria, foi?

JOEL – (GALANTE) Que nada! (TOM) Eu tô é apaixonado.

VERINHA – Apaixonado?

JOEL – Não sei como nunca percebi a mulher maravilhosa que você é.

VERINHA (ENCAMBULADA) Para com isso, Joel. Tá todo mundo olhando.

JOEL – Deixa que olhem. Eles estão com inveja do nosso amor.

OS DOIS SE BEIJAM APAIXONADAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 8- EXTERNA/DIA - SUBÚRBIO. PORTA DA CASA DE VERINHA.
JOEL E VERINHA ESTÃO NO PORTÃO TROCANDO BEIJOS.

JOEL – Não vai me convidar para entrar?

VERINHA – Está tarde.

JOEL – Para dois apaixonados não existe hora, existe?

OS DOIS TROCAM MAIS ALGUN BEIJOS E ENTRAM NA CASA.

CORTA PARA:

CENA 9- INTERIOR/NOITE - CASA DE VERINHA -  QUARTO
JOEL E VERINHA ESTÃO DEITADOS NA CAMA.  

JOEL – Eu te amo, Verinha.

VERINHA – Eu também te amo, Joel.

JOEL – Você é a mulher da minha vida.

OS DOIS FAZEM AMOR, ARDENTEMENTE.

CORTA PARA:

CENA 10 - INTERIOR/NOITE - CASA DE VERINHA - QUARTO
APÓS FAZEREM AMOR, JOEL E VERINHA PERMANECEM DEITADOS.

VERINHA – Seria tão bom se fosse sempre assim...

JOEL – Nossa felicidade pode durar para sempre.

VERINHA – Como?

JOEL – Quer se casar comigo?

CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO