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fevereiro 23, 2013

São Jorge foi pra lua e a Turquia não caiu na boca do povo.

      Há anos, mais especificamente desde que escreveu a novela "O clone", a novelista Glória Peres vem se valendo de um filão que parecia infalível: tal qual uma carnavalesca ela escolhia um país, digamos, exótico e se propunha a mostrar, entre um merchindising social e outro, as possíveis diferenças culturais existentes entre o país escolhido da vez e o Brasil, ou seja, nós.
      A ideia deu muito certo em "O Clone", derrapou em "América" (nessa botaram a culpa no diretor Jaime Monjardim e o defenestraram) e voltou a dar certo em "Caminho das Índias". Agora em "Salve, Jorge", talvez pela forte identificação de católicos e não católicos têm com o "santo da Capadócia" todos, até esse que vos fala, acreditou que era barbada, que em pouco tempo ninguém mais se lembraria da Carminha, do Tufão, Leleco, Adauto, Nina, Max e companhia.
     Ledo engano. Dessa vez a coisa parece que não funcionou. A começar pelo próprio título da novela que soou inicialmente como uma grande homenagem ao "santo guerreiro" e que apenas teve leves e estranhas, diga-se de passagem, referências nos capítulos iniciais. De lá pra cá o santo apenas dá nome à novela e nada mais.
     São Jorge voltou pra lua. E nem na hora do aperto é chamado. Téo, o grande devoto, deixou o santo de lado faz tempo e na Capadócia parece que ele nem é conhecido. Vá lá que os capadócios não sejam católicos e nem umbandistas, mas ele nasceu lá e ganhou o mundo, quer dizer, o Brasil. Está bem. Pode dizer que santo de casa não faz milagre. Parece que não faz mesmo. Nem na novela.
     Deixando o santo lá às voltas com o seu dragão, o que me espanta mesmo é o fato de que a Turquia não se mostrou tão atraente quanto o Marrocos ou Índia. Noves fora o fato de ter uma cultura um tanto quanto semelhante aos países anteriormente abordados (vide a eterna condição da mulher relegada, mesmo que em menor grau, a um papel secundário nestas sociedades), o problema é que tudo não passa de mero pano de fundo, sem grande profundidade. A autora não se posiciona e se contenta em mostrar um país exótico aos nossos olhos.
     Quanto a questão do tráfico de mulheres, o tema se mostra pouco folhetinesco devido a dureza de sua realidade e a semelhança das histórias: toda moça é enganada e obrigada a prostituir-se e então fica presa e sem comunicação com o mundo exterior. Difícil criar cenas e tramas a partir de algo tão estático sem perigo de ter que solucionar tudo em pouco tempo. E novela é , como sabemos, como o diz o matuto: "coisa pra mais de metro".
     Fica a lição: o tema "veja que país interessante" esgotou em si e Glória Peres vai ter que buscar outro filão para se manter como "autora de novelas". Por outro lado, está provado que o que daria um bom enredo de escola de samba nem sempre daria uma boa novela. Vale a preocupação social da trama. O que sobra é muito pouco.  Principalmente porque a autora se cerca em suas novelas de tramas parelalelas no mínimo estranhas. O que é aquela história da Nicette Bruno com aquela cadelinha? Alguém vê algum sentido naquilo?
    Estava me esquecendo do Alemão. Bem, o Alemão é uma outra história ou será mero cenário para turista turcos visitar e tirar fotografia?

fevereiro 22, 2013

A coragem de Bento XVI.

     Faz algum tempo eu escrevi aqui uma postagem onde eu falava que há momento em que a gente tem desistir de algum sonho que acalentamos durante anos e que, por várias questões, se torna inviável. Na época, eu estava vivendo uma situação parecida e quis escrever como forma de exorcizar o que estava sentindo. Cheguei a pensar em não publicar a postagem que se chama: "Quando é preciso desistir de um sonho", por achar que talvez as pessoas pudessem ver naquilo algo de fraco e pouco recomendado.
     Para minha surpresa, essa é uma das postagem mais lidas do meu blog e isso me fez ver que essa é uma realidade comum em nossas vidas. Vez ou outra nos deparamos com a impossibilidade de realizar alguma coisa e desistir se torna um ato de grandeza e abre possibilidades para possamos tentar outras coisas, seguir outros caminhos.
     Foi assim que recebi a notícia da renúncia  de Bento XVI. Por alguma razão, que só ele pode conhecer totalmente, ele se viu impedido de continuar à frente da igreja católica. Ninguém tem dúvida que se trata de um ato extremo. O Papa sempre foi visto como algo muito próximo de Deus, o sucessor de Pedro e tudo o mais. Portanto, jamais se esperava isso dele.
     Vendo do lado de cá, parece tudo mero privilegio, mas ninguém consegue dimensionar o tamanho da responsabilidade de estar no comando de tanta gente. Ainda mais nesse momento em que a igreja enfrenta tantos problemas. O maior deles: os padres (seriam apenas padres?) pedófilos de hoje e de todos os tempos.
     Mais do que isso, tem a eterna briga pelo poder. O Vaticano não é apenas a sede da igreja católica, é um país com todas as ingerências de um país e, pasmem, um líder espiritual é quem toma conta de tudo isso. Difícil conjugação: política e fé.
     Em tudo isso, longe de parecer fraco, Bento XVI (agora apenas cardeal Ratzinger), mostrou-se corajoso. Além de qualquer coisa, resolveu se submeter ao julgamento da história. O tempo julgará o seu ato, mas a sua consciência repousará tranquila. Fez o que achou ser o mais acertado. Assim, a igreja poderá encontrar o seu caminho. Novas possibilidades que se abrem.

fevereiro 19, 2013

Esperar e esperar.

     Quando Artur terminou o seu trabalho, deu  um grande suspiro e se deixou cair sobre as pernas.  Tinha, finalmente , concluído a sua obra. Logo o seu quadro estava exposto numa grande galeria e as pessoas podiam apreciar o seu talento e inspiração.  
     Artur se sentia feliz por ter realizado mais aquele belo trabalho. Mas a sua rotina o chamava de volta. Não podia viver  eternamentee dos louros colhidos por aquele quadro, como não tinha ficado parado todas as outras vezes.
     Foi lá, entre tintas e pincéis que uma jornalista foi encontrá-lo. Ele sempre fora avesso à entrevistas, mas daquela vez resolveu abrir um precedente. Afinal de contas, o seu público merecia uma palavra, uma certa atenção e ele resolveu falar.
     A jornalista não conseguia esconder a sua emoção de ser a primeira a conseguir uma entrevista daquele artista maravilhoso depois de tantos anos de silêncio. Ela foi logo enchendo Artur de perguntas. Queria saber tudo sobre a sua vida.
     Artur, por sua vez, só queria falar do trabalho. Essa era a única coisa que o interessava: o trabalho. O ato de criar.  Porém, para a jornalista isso parecia não interessar muito. Ele insistiu  e ela acabou por ceder e passou a fazer conversar a respeito do seu trabalho e tascou:
- Como é o seu processo criativo? Como o senhor (os jornalistas, não se sabe bem por que, chamam todo mundo de senhor) concebe uma ideia?
Artur respondeu simplesmente: "Eu espero." Ela pareceu não entender e ele repetiu:
- Eu simplesmente me sento e espero a inspiração chegar.
- E a inspiração sempre vem?
- Às vezes ela vem , às vezes ela não vem.
- E como o senhor faz quando ela não vem?
- Eu continuo esperando. Uma hora ela vem.
Assim é com tudo na vida. Como o artista, temos  que estar sempre esperando. Ter esperança é tudo.

fevereiro 02, 2013

Fora do "politicamente correto".

     Sem dúvida estamos vivendo um tempo de meias verdades. Com medo de parecer  politicamente incorreto, muita gente acaba optando por dizer somente aquilo que é conveniente dizer e não aquilo que realmente está pensando ou sentindo. Isso provoca uma estranha sensação de que nada do que é dito é verdade. Como se estivéssemos todos vivendo uma espécie de faz de conta: eu não digo nada que  aborreça os outros e em contra partida não sou obrigado a ouvir nada daquilo que não quero ouvir.
     Alguém ate pode dizer que parece até uma troca justa. E há quem diga também que esta é a melhor maneira de conviver sem que haja atritos entre as pessoas, para que haja paz no mundo etc e tal. Peraí. Não é bem assim.  Isso é pura hipocrisia. Não é possível viver num mundo em que as pessoas estejam o tempo todo dizendo o contrário daquilo estão pensando. 
     Será que ser politicamente correto é isso? Se é "tô fora".  Impossível fazer parte desse jogo, viver fingindo o tempo todo só para não me chatear e nem chatear ninguém. Acredito que a paz é conquistada principalmente com um bocado de tolerância entre as pessoas, que não devemos sair por ai dizendo o que pensamos a torto e a direito sem medir as consequências.
     Mas isso não significa fechar os olhos e fingir que está tudo bem quando sabemos que não está. Corremos o risco de ser coniventes, apenas para não correr o risco de ser desagradáveis. Tem limite para tudo na vida. Até para o "politicamente correto". Esse "politicamente correto" que nos leva a agir como pessoas sem opinião, sem posição definida, que diz apenas o que a regra do bom convívio permite.
     Dizem que quem cala consente. Nosso silêncio diz isso. Nos transforma em seres omissos, preocupados apenas em manter o status de gente boa, que não  cria confusão, de fácil convivência. Só que, se queremos um mundo melhor para viver, temos que  começar sendo mais verdadeiros , capazes de se posicionar diante das coisas e apontar aquilo que precisa ser mudado e consertado. Chega de silêncio e omissão. Um basta no bom mocismo que impera em todos os lugares.

janeiro 26, 2013

Pequenos detalhes.

    

     Um amigo me fez uma pergunta aparentemente simples, ms que me deixou bastante intrigado. Ele    queria saber como é que faço para manter a minha fé mesmo com todos os problemas que a vida apresenta. 
     Pensei muito numa resposta e cheguei a conclusão de que não existe fórmula para isso, que o jeito é a gente não dar muita bola para os infortúnios e seguir vivendo. É claro que ele não ficou satisfeito, queria uma resposta concreta. Afinal de contas ele estava passando por momentos difíceis e andava cheio de questões e em busca de soluções e por isso a minha resposta soou vazia aos seus ouvidos.
     Talvez essa a seja a grande questão das nossas vidas: quando nos deparamos com uma situação que não tem solução imediata ficamos querendo resolver tudo logo e perdemos a paciência até para ouvir o que o outro tem a nos dizer.  E  com isso perdemos a oportunidade de aprender com aquela experiência. Nenhum problema surge por acaso. Pode ser a vida tentando nos ensinar alguma coisa. 
      Porém, qual nada, não damos atenção para esse tipo de papo. Achamos tudo isso uma grande enganação e chegamos a ficar cegos diante do problema.  Tudo o que nos interessa é sair daquela situação. O resto é puro detalhe sem importância, conversa fiada.
     Pois é aí que muitas vezes pode estar a solução ou a saída  para se resolver a coisa. Podemos na verdade estar fazendo tudo certo e não nos atentando a um simples detalhe que faz com que todo o resto se perca,  fazendo com que a gente se veja em apuros.
     E não é que era este o caso do meu amigo João? Ele estava esquecendo dos detalhes, dando importância apenas ao que parecia grande aos seus olhos. Foi só consertar aquela pequena falha e tudo se acertou e sua vida voltou aos trilhos.
     Ninguém está livre de enfrentar grandes problemas e eles existem aos montes por aí. Mas também não se pode negar que muitas vezes superdimensionamos os nossos problemas e o que era simples de resolver se torna um verdadeiro "cavalo de batalha".
    Botar a mão na cabeça e se desesperar pode render uma boa cena no teatro, no cinema ou na televisão, mas na vida real não tem muita serventia. Só serve mesmo é para nos fazer ficar mais tempo presos a uma situação que com cabeça fria e uma boa dose de fé na vida tudo se resolveria mais facilmente.

Bom domingo.

janeiro 24, 2013

Reencontros.

     É  mais que comum a gente ter uma relação de afetividade com o passado. Não raro se tem aquela sensação  de que "naquele tempo" as coisas eram muito melhores do que são hoje e que éramos felizes e não sabiámos. Daí, acredito, essa vontade que todos temos de querer entrar numa máquina do tempo e voltar à nossa infância, adolescência e outros momentos de nossas vidas em que nós acreditamos que éramos as pessoas mais felizes do mundo.
     Isso, em muitos casos, não quer dizer apenas que as pessoas são saudosistas ou sofrem de algum tipo de melancolia. Ás vezes a vida no presente se torna tão difícil que muitos vão buscar no passado uma espécie de compensação, como se a felicidade vivida no passado compensasse as agruras vividas no presente: "as coisas estão ruins agora, mas já foram melhores".
     Por isso, o perigo de superdimencionarmos o passado é grande.  Provávelmente o passado não foi tão bom assim e a tal felicidade de que tanto sentimos falta era apenas uma vida cotidiana sem muitas dificuldades, mas também sem muitos planos, desejos, ambições. Ou, por alguma razão, ainda não tínhamos a visão de vida e as necessidades que temos no momento presente.
     Foi o que aconteceu com um amigo meu. Ele tinha um grande sonho de rever um amigo de infância. Vivia sonhando com o reencontro. Julgava que aquele teria sido o único amigo que ele teve na vida e que a amizade, a despeito de qualquer coisa continuava intacta.  Quando ficou sabendo da possibilidade do reencontro, quase trinta anos depois, ficou exultante de tanta felicidade. Esperou o dia da chegada do amigo como uma criança que espera pela chegada do "Papai Noel".
     Porém, bastou bater os olhos no amigo para levar um susto: "quem esse estranho? - pensou. Ele não reconhecia aquela pessoa  envelhecida que estava na sua frente. Aquele não era mais o adolescente que ele deixou para trás quando saiu de sua cidade. As conversas soavam  estranhas, os interesses não eram os mesmos. Descobriu um abismo entre eles. O tempo, o inexorável tempo.
     O amigo voltou para sua terra e Oscar voltou para a sua vidinha. Mas agora não era mais como antes. Aquele reencontro fez com que tivesse que repensar muita coisa. A partir dali deixou de ver o passado como a morada da felicidade perdida. Aprendeu  que as pessoas mudam assim como ele também mudou e muito nos últimos anos. Ele também não era mais o mesmo e com certeza seu amigo percebeu. .Em resumo: aprendeu que  o passado não volta mais. E que tudo, muitas vezes, não passa de mera idealização.

janeiro 19, 2013

"Eu peço somente o que eu puder dar."

     Essa frase faz parte da letra de uma bela música do conjunto Titãs que toca muito no rádio. Faz algum tempo que ouço essa canção e nunca tinha me dado conta do quanto essa é uma atitude para se levar a sério na vida. Já imaginou se realmente esperássemos, pedíssemos, exigíssimos dos outros aquilo que a gente tem na mesma quantidade para dar em troca? Com certeza acabariam as relações desiguais nas quais uns dão tudo o que podem e outros ficam apenas na "aba".
      Engraçado como uma canção aparentemente despretensiosa traz uma mensagem que chega  ser profunda. Em nossas vidas, normalmente acostumanos a esperar muito dos outros.  Sempre o outro tem que ser mais isso e mais aquilo. Pelo nosso lado, talvez por medo de se  entregar ou sei o que seja, quase sempre agimos na defensiva: se  o outro fizer primeiro, nós faremos também.
     Não queremos demonstrar os nossos sentimentos com medo de uma decepção e esperamos que a outra parte se manifeste primeiro para só depois demonstrarmos o nosso amor, nossa vontade de ajudar, participar e dividir o que temos para somar com o outro. Daí  acabamos, egoisticamente, não  dando na mesma medida daquilo que recebemos. E isso acaba fazendo com que as pessoas se afastem de nós certos de que somos do tipo que quer apenas receber e nada dar em troca.
     É por isso que acho que esta canção fala uma grande verdade e que deveria ser levada em conta por todos.  Principalmente aqueles que vivem  reclamando de falta de amor, carinho, consideração, respeito, atenção, gentileza e todas essas coisas aparentemente banais, mas que são tão vitais para o bom encaminhamento da vida em sociedade.
     Isso também está presente na oração de São Francisco: "é dando que se recebe".  Essa é outra grande verdade. Com uma mão damos tudo aquilo que possuímos de bom em nosso coração e com a outra recebemos de volta na mesma medida. É a lei da vida. Vale para tudo.
Infelizmente, nós ainda insistimos em primeiro receber para somente depois pensar em retribuir e assim mesmo de forma desigual e até injusta.