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dezembro 19, 2008

Fundação Leão XIII e O despertador.




Ontem, 18/12/08, estive numa unidade da Fundação Leão XIII, na avenida dos Democráticos, a convite da assistente social Isabel, para apresentar uma peça de teatro para os internos, como parte das comemorações do natal. Eu já sabia que seria uma louca aventura apresentar a peça. Afinal, a peça em questão é o monólogo de minha autoria, O despertador. Embora a peça seja ( ou pretenda ser) uma estória engraçada, o clima pesado da instituição, a situação deprimente em que a maioria se encontra, aquele ar de coisa abandonada que têm as instiuições do governo ( será que sou eu penso assim?), misturado com minha própria condição de estar voltando ( embora não fosse a primeira vez) para apresentar num local parecido com o que estive um dia e quase (creio que já falei sobre isso aqui), tudo contribuiu para que eu voltasse de lá um pouco deprimido. Deprimido e triste. Infelizmente, desde o tempo em que passei pela Fundação Leão XIII no início dos anos noventa até hoje nada mudou. Nem os móveis mudaram. Está tudo igual. E o que para mim é pior: os funcionários continuam os mesmos. Alguns são literalmente os mesmos. As assistentes sociais agem da mesma forma que eu as vi agirem no tempo em que passei por lá: apenas repetem velhos chavões e tratam os assistidos como se fossem dementes. Em muitos casos eles são mesmo demente, disso não há dúvida. O que me deixa perplexo (ainda) é o quão pouco a instituição pode fazer por aqueles que se encontram numa verdadeira condição de perda de identidade. São, na sua maioria, drogados, alcoolatras, dementes, desmemoriados, pequenos marginais, desempregados, sem teto, sem família (talvez essa seja a maior causa do total desamparo em que muitos se encontram) e sobretudo, pessoas sem rumo, sem norte, sem futuro ou um simples amanhã. Voltei para casa, eu e Silvia, minha colega da Sopa que me acompanhou nessa aventura, bastante abalado. Quando Isabel me convidou para participar da festa de natal acho que, na minha empolgação, me esqueci do lugar triste que era a Leão XIII. dificil acreditar tantos anos depois ( quase vinte) que eu vivi a mesma situação. Hoje posso me sentir como privilegiado, alguém que, desculpem o meu exagero, esteve no inferno e voltou. Alguém que esteve ( como já disse no meu livro, No olho da rua), a beira de perder a identidade, mas que teve a sorte de encontrar uma saída. E é esse o ponto que mais me preocupa. Apesar de não negar que foi de grande estima a ajuda que recebi da Fundação Leão XIII, sou honesto em afirmar que se eu recuperei( esse é um assunto que daria um livro) o meu lugar na sociedade foi, acima de qualquer coisa, porque eu tinha um certo preparo. Além de ter o segundo grau completo (Técnico em Contabilidade) e já havia me ingressado numa faculdade ( Letras), curso que abandonei pelo meio e retomei vinte anos depois (assunto para outro dia), ou seja, eu não era nenhum analfabeto ou semianalfabeto. A realidade é bem outra. A maioria dos assistidos (creio) são de semianalfabetos e que não têm facilidade para encontrar uma colocação no mercado por esse e por muitos outros motivos. Por isso, acho que já era hora da Fundação Leão XIII rever o seu papel ou então será sempre uma instituição de cata-mendigos e nada mais do que isso.




P.S. - Quando eu e Silvia estávamos sentados esperando que os internos entrassem no refeitório onde aconteceria a confraternização, um dos últimos da fila se aproximou de nós e falou algo como que tudo aquilo que estávamos vendo era tudo fachada, dia de festa:


- Estão vendo essas cadeiras limpas? Acham que é sempre assim? Que nada! Durante o ano é tudo sujo. Só limparam para a festa.


Eu e Silvia ouvimos calados. Silvia que já estava um tanto assustada com a situação, me olhou sem nada dizer. Da minha parte, tive a sensação que já tinha visto aquele filme.

dezembro 08, 2008

Divagações


Qual é o verdadeiro papel que representamos nesse mundo? Hoje acordei com essa pergunta na cabeça e gostaria que alguém me desse a resposta. Está bem. Sei que é praticamente impossível ter uma resposta exata, mas tem dias que as dúvidas aumentam muito. Há dias que dá para ir levando, sem muito questionamento, porém, noutros o bicho pega. Acho que estou chegando numa idade em que esse questionamento é inevitável. Fiz muita coisa, e deixei de fazer muitas outras. Acho que as coisas que deixei de fazer, que são em maior número e seriam, a meu ver, as mais importantes, estão me cobrando o fato de tê-las ignorado ou, quem sabe, negligenciado. O fato é que hoje amanheci querendo respostas para os meus questionamentos internos. Sei que isso é chato. Ninguém gosta de questionamentos fora de hora. Mas será que é tão fora de hora assim? Afinal, o século 21 já chegou. Daqui a pouco já contará com uma década, o tempo está passando. os sinos do natal já estão tocando. E por falar nisso, não serão exatamente os sinos do natal os responsáveis pelo meu questionamento? É bem possível que esteja aí a resposta. Natal me deixa um pouco "deprê". Fico achando tudo muito esquisito. Sei que é estranho para uma pessoa que se diz cristã dizer uma coisa dessas, mas eu acho que tudo soa muito falso. Parece um carnaval. A gente faz uma força enorme para se sentir feliz. As vezes dá, as vezes não dá. É a vida. Apesar de tudo ainda acredito que é preciso tentar. Mesmo que seja difícil, como está para mim hoje. Espero que amanhã eu acorde achando tudo mais natural, normal. Mas se eu acordar com novos questionamento, não vou me importar. Até porque uma duvidazinha não faz mal a ninguém. Muito pelo contrário. Mostra que estou vivo e querendo me encontrar em algum momento desse caminho.

dezembro 06, 2008

Dezessete anos

Dia 02/12 fez 17 anos que trabalho no mesmo emprego e este seria um bom motivo para comemoração, afinal vivo num país onde as coisas mudam constantemente, não fossem as circunstâncias em que comemoro "esse aniversário". Não estou feliz. Aliás, nunca fui feliz nesse trabalho. Quando fui trabalhar lá, estava saindo de um período muito difícil da minha vida, período esse que eu contei no meio livro " No olho da rua" que lancei e 1999, e vi esse emprego como uma coisa passageira. Eu esperava ficar lá apenas até eu me recuperar financeira e psicologicamente do fato de ter ficado mais de dois anos desempregado e sem ter onde morar. Logo de cara vi que não era um lugar do qual se podia esperar muito. O referido empregado é como auxiliar de escritório numa administração própria de um condomínio de grande prédio no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro. Fui contratado para trabalhar com o sindico, uma figura um tanto peculiar, seu "administrador", não menos peculiar. Dois "senhores" aposentados, cuja função naquele lugar era algo como defender o seu patrimônio. Segundo eles, havia muita gente interessada em tomar "o poder" e destruir o patrimônio que eles tinham gasto uma vida inteira para juntar. Aparentemente, nada mais justo. Afinal, quem não quer defender o seu patrimônio. Ninguém é louco de jogar fora o que conquistou com dificuldade. Diante de fatos como esse, fui tomando contato com o que hoje, dezessete anos depois, eu chamo de paranóia. Os dois senhores foram, aos poucos, mostrando serem duas pessoas totalmente irracíveis, que vivem aos berros e fazem qualquer negócio, sobretudo mentir, para manter-se no poder. Nesses dezessete anos participei de inúmeras (mais vinte) reuniões condominiais e eleições. Muitas delas, debaixo de brigas, acusações e muita gritaria. O tempo foi passando e o que seria um emprego temporário tornou-se permanente. Estou sempre dizendo para mim mesmo que não aguento mais trabalhar num lugar desses, mas quando lembro de tudo o que passei, me vejo obrigado a adiar o meu sonho de ficar livre desses dois, hoje velhos, senhores. Eles mantém o mesmo discurso de dezessete anos atrás. Ainda estão defendendo o seu patrimônio (um tempo um apartamento e trinta metros e o outro um de sessenta metros), com unhas e dentes. Depois de muitas brigas, muito me indispor com eles e tentar imprimir uma visão de vida mais suave, acabei desistindo. Trabalho apenas para garantir o meu salário no final do mês e abandonei qualquer sonho. Esses sonhos que qualquer pessoa tem ao se candidatar a um emprego: crescer, subir, melhorar o seu salário (embora não possa me queixar), ou assumir posto de comando. Nesse ponto costumo dizer que, como leonino que sou, acabei me dando muito mal. Não é fácil ter um temperamento de lider e trabalhar num lugar onde querem que você apenas diga "amém" para tudo e guarde sua opinião. Para não perder o costume, nesse dois de dezembro, voltei a fazer a promessa de trocar de emprego. Essa é a promessa de 2009. Porém, a crise mundial está aí e os economistas de plantão dizem que não é momento para grandes mudanças e mais uma vez acho que vou ter que adiar o meu sonho.

novembro 15, 2008

Morte

Há dias em que morro um tanto
Há dias em que morro mais
Mas morro todos os dias
Morro de alegria
Morro de tristeza
E até de encantamento.

outubro 22, 2008

O mundo precisa de paz

Existe uma oração onde se diz: paz na terra aos homens de boa vontade. Nada mais justo do que isso. Paz aos homens de boa vontade. Porém, em nossos dias com todos esses acontecimentos temos que pedir, ou até implorar, que a paz seja para todos, sem distinção. Até mesmo aqueles que não têm boa vontade com o nosso sofrido mundo e seus habitantes. Que a paz venha para todos., que todos os corações a recebem e se encham dela, para que assim possam transbordar de paz como rios caudalosos de esperança e de amor, compaixão e fé. Paz a todos. Nesses dias de tragédias sem fim e nos outros dias em que tudo parece correr numa normalidade mais aparente que verdadeira. Que ninguém precise morrer para que possamos pensar, falar ou pedir paz. Que a paz viva em nossos corações e que Deus, nosso misericordioso Pai, esteja sempre junto de nós. Paz a todos.

junho 20, 2008

Invasão ao Centro Espírita Cruz de Oxalá

Sei que já é um pouco tarde para falar desse assunto aqui, mas tive alguns contra-tempos ( inclusive o próprio fato em si) e só hoje posso falar do que aconteceu. Não para dizer apenas que condeno a invasão ou que acho que os quatro jovens merecem esse ou aquele tipo de punição. Devo dizer, antes de tudo, que sou membro do Centro Espírita Cruz de Oxalá, onde atuo como médium (assunto sobre o qual prometo falar mais adiante) e que esse tipo de atitude mostra que estamos caminhando em direção oposta ao que Jesus pregou. Ao invés e falarmos e vivenciarmos o amor, estamos pregando o ódio e a discriminação. Porém, há males que vem para o bem, como dizem os mais velhos. Essa atitude dos quatros jovens fez nascer uma reação em nossa sociedade e já podemos perceber algumas manifestações a favor da liberdade religiosa, do direito que as pessoas têm de expressar livremente o seu pensamento. O próprio Centro Cruz de Oxalá recebeu muito apoio de várias entidades ligadas ao espiritismo, o que nos mostrou que não estamos sozinhos. Também a imprensa nos apoiou, noticiando o fato com o devido respeito e dando a devida atenção, sem esquecer, é claro, de dar voz ao outro lado. Mais do que isso, o que quero deixar claro é que devemos todos nos unir em torno de um pensamento único que é o da paz entre todos os povos sejam judeus, mulçumanos, umbandista, católicos, protestantes, espíritas, candomblecistas, budista, ou qualquer outra religião e mesmo aqueles sem religião. O importante é que todos tenhamos em mente o respeito e a tolerâncias às diferenças de pensamento, raça e credo.

Morre Elza de Souza

Talvez você não saiba quem foi dona Elza de Souza, mas os moradores de rua e trabalhadores autômonos dos arredores do Largo do Machado e Catete, Glória e Centro a conheceram muito bem. Dona Elza era uma figura franzina, negra e tinha cerca 83 anos de idade, embora não aparentasse dado à sua agilidade e vivacidade. Conheci Dona Elza no Centro Espirita Cruz de Oxalá, no Catete, onde ela ajudava cozinha. Quando lancei, no Centro, a idéia da Sopa, ela foi uma das primeiras a juntar-se a nós e com a gente ficou até o dia 04/06/08, última quarta-feira em que ela participou da feitura e distribuição da Sopa. Na quinta-feira dia 05/06/08, ela sofreu uma queda em frente ao Ciep Tancredo Neves, foi socorrida por transeuntes que chamaram uma ambulância que a levou para o hospital, onde ficou comprovado que ela sofrera uma fratura no braço, sendo logo mandada para casa, onde na madrugada do 06/06/08 ela sofreu um AVC e foi internada no Hospital Rocha Maia, sendo transferida para o Hospital Miguel Couto onde veio a falecer no dia 18/06/08, por volta das 17:30. Coincidentemente uma quarta-feira, o dia da entrega da Sopa. Recebemos, eu Silvia e Eloisa, a noticia de sua morte enquanto preparávamos a Sopa. Difícil não se emocionar. Dona Elza estava sempre ali conosco, contando suas histórias ( quase sempre sobre comida e fatos de sua vida) e nos ajudando na organização de tudo. Era ajuda de formiguinha, mas muito importante. Provavelmente, perdemos nossa melhor formiguinha, nosso beija-flor. Os moradores de rua a tratavam por Vovó. Ela era a "vovó" da Sopa. No Largo do Machado, assim que nós chegávamos ela saía avisando aos nossos "clientes" e quando encontrava um bando de crianças de rua os trazia até, emocionada. Vamos todos sentir muita falta de Dona Elza. Falta da sua presença, da sua ajuda e de seu exemplo de que caridade se faz até o último instante de nossa passagem pela terra. Mesmo tendo tido uma vida de dificuldades, ela soube pensar no seu próximo. Obrigado, dona Elza. Até um dia. Siga em paz o seu caminho e que Deus lhe abençoe sempre.