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outubro 06, 2024

A mão invisível - 2° Capítulo.

Neste segundo capítulo do livro 'A mão invisível', Dimas, após sofrer mais uma decepção em sua busca por uma noiva rica, conhece Elisa e vê nela uma nova oportunidade de atingir seu objetivo.

 

Capítulo 2

 

O incômodo que Dimas (da Silva) sentia quando via PH rodeado de garotas, em parte, se dava pelo fato de acreditar que todas fossem filhas de milionários – aliás, ele pensava isso de praticamente toda garota da zona sul –, e também porque, tão logo acabava a curtição com o riquinho, elas simplesmente desapareciam da área e, consequentemente, de seu radar. Naquele momento, entretanto, o que realmente estava tirando-lhe o sono era a dívida que tinha com Manduca; usara todo o arsenal de desculpas de que dispunha, porém, diferentemente das outras vezes, não estava surtindo efeito.

- Não tem outro jeito, Manduca. – disse Jana – A gente vai ter de acionar o Valdomiro.

- Acha mesmo necessário? – reagiu Manduca – Não é precipitado, não?

Acionar o Valdomiro, figura que estava sempre por ali, sob o disfarce de mero banhista, significava encrenca à vista. Afinal de contas, não era novidade para ninguém que toda vez que surgiam problemas entre donos de quiosques e fregueses, ou quem quer que fosse, Valdo, como era mais conhecido, aparecesse, acompanhado de seu grupo, para ‘resolver’ a parada. A cara de poucos amigos, emoldurada pelo peitoral, naturalmente avantajado, a barriga proeminente e a sunga vermelha, sua marca registrada, que se destacava na pele retinta, o cabelo oxigenado, somados a voz rouca e os chamativos óculos espelhados, compunham a imagem que metia medo por si só.

- O garoto vai resolver a parada antes disso, Jana. – disse Manduca, com ar preocupado – Ele não é louco de faltar com a palavra.

Desconfiado de que o tempo fechasse, Dimas tratou de desaparecer não somente do quiosque, mas da praia e arredores. Somente uns quinze dias depois, ele retornou. Para todos os efeitos, no entanto, a ausência se deu devido a uma viagem de emergência que fizera para casa dos pais, no Mato Grosso.

- Desculpa aí. Não tive tempo nem cabeça pra avisar. Um chamado da família... Nunca se sabe, né? Mas graças a Deus, agora tá tudo bem.

- E a minha grana? – perguntou Manduca, pouco interessado em fofoca de família – A tolerância chegou ao fim, companheiro. Se não trouxe a grana, sinto muito, mas o Valdo vai entrar em ação. Liga pra ele, Jana. Diz que é aquele assunto que a gente já...

Jana pegou o aparelho celular no bolso do avental, porém, antes que completasse a ligação, viu o freguês inadimplente colocar o pacote que trazia consigo sobre o balcão do quiosque.

- Aqui tá o pagamento. – disse Dimas.

Em seguida, ele apresentou um relógio de bolso, modelo antigo, preso a uma corrente dourada,

- Essa joia pertenceu ao meu bisavô, depois ao meu avô, que passou pro meu pai, que acabou de passar pra mim. Tá na família há várias gerações. Peça única. Vale uma nota preta. Minha avó paterna conta que a avó dela garantia que foi Dom Pedro II que deu de presente para o bisavô dela. Só pra ter uma ideia da importância da peça. Ah, ia me esquecendo, a corrente é ouro puro.

- E o que isso tem a ver com a tua dívida? – perguntou Jana.

- Tudo a ver, dona Jana. Quero que fiquem com essa, joia pra saldar meu débito. Apesar de tudo o que representa pra mim, meu pai e toda a minha família.

- Isso é ouro de verdade? – perguntou Jana.

- É o que minha avó diz, dona Jana. Seja como for, pode estar certa de que ele vale, pelo menos, umas cem vezes o valor da minha dívida na barraca. Mas fique claro que é só um empenho que tô fazendo. Acima de tudo, este relógio tem valor sentimental, sabe? Tão logo o velho negocie um lote de bois e libere uma grana, eu vou pegar de volta. Aliás, ele nem pode sonhar que empenhei essa relíquia. Na verdade, o velho acha que o relógio tá bem seguro no cofre da fazenda.

Valdomiro chegou ao quiosque, com seu séquito, despertando a atenção de todos. Tão logo viu o relógio, o ‘leão de chácara’ esqueceu as ameaças e cresceu os olhos.

- Vamo fazer um rolo. – ele disse a Dimas num à parte – Quanto tu quer?

Jana percebeu o interesse de Valdo e se adiantou:

- Se o relógio é tão valioso, Manduca, então a gente...

- A gente aceita, né, Jana? – confirmou Manduca – Mas, veja bem, se não morrer na grana logo, passo adiante. O Valdo tá interessado, não é Valdo?

Livre da pressão, Dimas retomou a caçada. No entanto, o sempre bem informado Demétrio não tinha boas notícias: PH acabara de apresentar Elisa à família.

- Todo mundo ficou deslumbrado. O que não me surpreende. Elisa é um encanto de garota. E do jeito que as coisas estão indo o casamento é questão de tempo. Mas tô arrasado, sabe? Nunca pensei que o PH faria isso comigo. Só não corto os pulsos porque a garota é linda. Linda nada, ela é deslumbrante. Não acha?

- Sei lá. Nem conheço direito. – disfarçou Dimas.

- Azar o seu. Perdeu o momento em que o casal sensação firmou compromisso, num luau animadíssimo, aqui na praia. Foi um escândalo.

- A família da garota veio?

- Família!? Não tem ‘família’, apenas o pai e a mãe, que estão fazendo um tour pela Europa, não tá sabendo? É filha única, a sortuda.

“Filha única!”, repetiu Dimas, em pensamento; o fato de os pais da garota, de quem sabia apenas o primeiro nome, estarem viajando pela Europa, somado ao fato de ser filha única, só fez aumentar o interesse. Não havia mais dúvida de que Elisa possuía todos os requisitos para ser a esposa que procurava.

- E o casamento? – ele sondou – Tem ideia de quando vai ser?

- Elisa faz questão de casar somente na presença dos pais; quer uma grande festa. O problema é que os pais não voltam tão cedo. A mãe deve aproveitar a viagem pra fazer um tratamento de saúde. Tratamento esse que eu desconfio seja, na verdade, uma levantada básica.

Enquanto Demétrio falava, a bandeiras despregadas, Dimas planejava: PH, volúvel como ninguém, logo se ligaria em outra garota e deixaria o caminho livre. No mais, torcia para que o tratamento da mãe da garota levasse tempo suficiente para que pudesse melar o namoro. O único senão era que por mais que se esforçasse a garota continuava ignorando sua pessoa. Foi então que, estrategicamente, ele grudou em Demétrio; acreditava que dessa forma se aproximaria da garota.

- Legal seu lance com o Demétrio. – Elisa comentou certo dia – Tão juntos há muito tempo?

- Qual é? Nada a ver. – Dimas reagiu ao notar que o ‘tiro havia saído pela culatra’ – A gente é só amigos. Não que eu tenha preconceito. Apesar de ter sido criado no interior do Mato Grosso, sou liberal. Acho que cada deve viver do jeito que quer. Mas, espera aí, sou espada, cara.

O desapontamento, porém, trouxe certa satisfação; independente de qualquer coisa, a garota notara sua presença. Desfeito o mal entendido, estabeleceu-se alguma intimidade entre eles. A proximidade despertou ciúmes em PH, um incentivo para que se tornasse presença constante em todos os lugares frequentados pelo casal.

- Para me de secar, cara. – reclamou Elisa – Não sai do meu pé.

- O que eu posso fazer? Você me deixa louco. Penso em você o tempo todo. Acho até que... – defendeu-se Dimas – E depois o PH tá noutra, não notou?

Num canto da sala, munido do inseparável violão, o riquinho dedilhava uma música, rodeado de garotas. A perturbação de Elisa diante da cena deixou claro para Dimas que a relação não andava bem. Razão mais que suficiente para que intensificasse ainda mais o assédio. A garota mordeu a isca e, em pouco tempo, nasceu um ‘rolo’, que se transformaria num relacionamento secreto. Os encontros, porém, não satisfizeram Dimas. “Sem essa de ser o ‘outro’. Meu lance é casamento, preto no branco”, ele pensou.

- A parada com o PH é pra casamento, não é? Por isso não, eu também caso contigo, até agora mesmo se quiser. Bora pra um cartório. A gente é maior de idade. Nada impede.

- Você é louco? – reagiu Elisa – Ninguém casa assim. Pra viver de quê? Morar onde?

- Na cobertura de seus velhos, ora. Não vive reclamando de solidão? Pensa comigo: a gente fica morando na cobertura de seus pais até eles voltarem da Europa. Nesse tempo, eu me entendo com meu velho e a grana volta a cair na minha conta. Garanto que ele vai ficar superfeliz quando souber que resolvi virar um homem sério. Além disso, a família toda vai te adorar. Não tenho dúvida que seu Paulo vai comprar uma big cobertura pra gente, como presente de casamento. É claro que eu faço questão que seja na Vieira Souto, pra você ficar perto de seus pais. E então? Topa?

Despeito de todo esforço, Elisa não abriu mão do noivado com PH. Dimas, então, entendeu que seria necessário buscar um meio mais eficiente de tirar o rival do caminho, sobretudo depois que Elisa revelou o desejo de se mudar para a casa dele. “Elisa tem algum interesse em manter esse relacionamento que não tô atinando qual seja”, ele especulou, depois de, em vão, tentar fazê-la desistir da mudança. Com isso, os encontros, antes frequentes, praticamente deixaram de acontecer; Elisa alegava dificuldades para se livrar da marcação cerrada dos sogros, dos cunhadinhos, até mesmo dos empregados da casa e, claro, do noivinho apaixonado.

Sentindo que estava perdendo a chance de conquistar a milionária, Dimas viu que era necessário agir. Depois de muita maquinação, surgiu a ideia que lhe pareceu perfeita: atrair PH para uma emboscada. Na verdade, seria um assalto simulado, onde o rival levaria um tiro fatal. Afinal, estava pronto para o tudo ou nada.

Durante a caminhada por Copacabana, dias depois, ao passar diante de uma banca de jornal, uma manchete chamou atenção: “O empresário Pedro Henrique Soares Alves foi despertado por volta das seis horas desta manhã com agentes da Polícia Federal em sua porta. Os policiais cumpriam um mandado de busca e apreensão, em mais uma rodada da operação deflagrada com o objetivo de apurar evidências de superfaturamento em obras do governo. O empresário é suspeito de fazer parte da quadrilha que vem fraudando os cofres públicos. Fontes dão conta de que no apartamento foram encontrados indícios que compravam os crimes”.

A reportagem, que se encerrava informando que o empresário fora levado preso pelos agentes, poderia ter passado despercebida, pois se tratava de mais um escândalo de corrupção, envolvendo políticos e empresários, tão comuns no Brasil, não fosse o preso da vez ninguém menos que o pai de PH, seu empecilho na conquista de Elisa. Passado o efeito surpresa, Dimas tentou mensurar o terremoto que a notícia provocaria. Não foi difícil intuir que acabara de encontrar o melhor meio de se livrar do rival; seria mais que óbvio que Elisa, assim que tivesse conhecimento do escândalo, poria fim ao noivado. Ainda que não fosse por si seria pelos pais que, com certeza, não aceitariam vê-la unida ao filho de um corrupto, publicamente denunciado.

Quando retomou a caminhada, Dimas assobiava, cantava, enfim, não cabia em si de contentamento; o destino resolvera seu problema, sem que precisasse se comprometer.

- Tá todo mundo chocado com a notícia. – disse Pedrão assim que viu Dimas – Maior vacilo do velho do PH, não é não? O lado bom de tudo é que a Elisa tá firme do lado do PH.

O semblante de Dimas, antes reluzente de felicidade, murchou, como flor em dia de sol escaldante; não podia conceber que Elisa continuasse metida na casa de PH, depois de tudo.

- O que tá fazendo aí? – ele cobrou – Sai daí antes que seus pais tomem conhecimento dessa patifaria, Elisa. Gente como nós não se mete com ladrão, mesmo que seja do colarinho branco.

Os argumentos de nada valeram; Elisa encerrou a ligação decidida a permanecer ao lado noivo que, segundo suas palavras, precisava de apoio.

Em casa, Dimas encontrou a mãe desesperada: a caixa que, por anos, guardou nos fundos do guarda-roupa simplesmente desaparecera.

- Caixa, guarda-roupa... Não sei do que tá falando, sua louca. Além do mais, o que eu faria com uma caixa que não vale nada?

Abadia não revelou detalhes sobre o conteúdo da caixa, ou mesmo que, muitas vezes, teve necessidade de se desfazer dela, porém, não teve coragem. “Sem o relógio, tudo se apaga. É como se o que vivi não tivesse passado de um sonho”, ela pensou.

- Fala, escrota. – continuou Dimas, impaciente diante do silêncio da mãe – Abre o jogo. Por que a caixa era tão importante? O que tinha dentro dela? Presentinho de algum amante, velha assanhada?

- Não é isso, filho. Uma patroa mandou jogar no lixo, mas achei bonita e resolvi guardar. Mas não tem a menor importância. Vai ver joguei fora e esqueci. Acho que foi isso.

Dimas sabia que a mãe era cheia de esquisitices, no entanto, vê-la tão perturbada o levou a pensar que o relógio tivesse pertencido ao pai, que nunca conheceu. A ideia de ter um pai nunca foi de fato considerada. Antes, sempre fora descartada, pois acreditava que certamente seria uma figura tão desprezível quanto a mãe. “Nem vale a pena pensar nessa hipótese. Sem dúvida, é um miserável, um indigente que vive pelos becos de alguma favela, arrastando um corpo doente”, ele pensou, mantendo os olhos fixados na mãe, que permanecia à sua frente. Por vezes, até tinha vontade de ser um filho que, em vez de exigir o que mãe não podia lhe dar, que cuidasse dela, que a livrasse de arrastar o corpo frágil pelos becos e ladeiras do morro, sempre a caminho das exaustivas faxinas. Porém, a revolta o dominava a cada dia mais, superando qualquer possibilidade de afeição.

Mais tarde, completamente esquecido do estorvo que recebera como mãe, Dimas se voltou para a questão que estava tirando-lhe o sono: a insistência de Elisa em manter o relacionamento com PH, mesmo depois que o pai do rapaz fora preso, acusado de corrupção. Nenhuma argumentação era convincente bastante para fazer a garota mudar de ideia. Quando apelou para os pais, a resposta que ouviu foi que eles não tinham o hábito de fazer julgamentos precipitados. “Por enquanto, são apenas meras acusações”, teria dito o pai, certo de que tudo não passava de um mal entendido.

Como fazia nos momentos de crise, Dimas tomou o caminho da sede do movimento. Mais uma vez, ele relevou a Garrincha ter encontrado a garota que o livraria da pobreza.

- Então, qual é o grilo? – disse Garrincha – Casa com a moça e vai desfrutar da vida boa, camarada. Seja feliz. O que tá esperando?

- Que um babaca saia do meu caminho.

Depois um tempo, ele completou:

- Não preciso dizer que conto com o mano pra isso, não é?

- Qual é, cara? Que papo doido é esse? Tá me tirando, é? Eu apenas comercializo entorpecente, não sou matador de aluguel.

- Não é bem apagar o cara que eu pretendo. Tenho um plano. Ouve isso: eu planto uma muamba na mochila do cara, aviso a cana, que vai, dá o flagrante, e enquadra. Sacou? Simples assim. Sem morte, sem complicação.

- E, pelo que entendi, tu quer que eu forneça a ‘mercadoria’ do flagrante. Acertei?

- Justamente.

O olhar de Garrincha, subitamente, ganhou um brilho diferente: ainda não sabia como, mas algo dizia que ali estava a oportunidade que sempre buscou para arrebanhar o amigo de infância para o tráfico.

- Tu sabe que bagulho não dá em árvore, né? – ele disse – Esclarece aí: quem vai morrer na grana? O playboy é que não vai ser, né?

- Aí é que tá o lance. Pago quando casar com a ricaça. Não vai demorar, garanto. A gata já tá na minha. Dessa vez não falha.

- Sei não, cara. Esse tipo de coisa tem muita implicação. E se der errado? Não posso me arriscar numa loucura com pouca chance de dar certo.

- Em nome da nossa velha amizade, cara. – apelou Dimas – A gente se conhece desde criança. Sabe que não vou dar furo contigo.

- Vai lá. – disse Garrincha, depois de simular que estava pensando seriamente no assunto – Mas tem uma condição. Aliás, duas condições. A primeira é que não quero meu nome envolvido e, a segunda, se o plano falhar ou a mercadoria extraviar, o pagamento só pode ser feito com trabalho na boca. Ou seja, tu vem trabalhar aqui. Tamo entendido?

Confiante no sucesso do plano, Dimas concordaria com aquelas e quaisquer outras condições que Garrincha impusesse; o que interessava era tirar PH do caminho, nada mais.

- Quando eu pego a mercadoria? – ele perguntou, com incontida euforia.

- Calma! Vou precisar de um tempo. Uma semana, pelo menos. Tô esperando um carregamento pra esses dias, se nada falhar. A repressão tá endurecendo cada vez mais, tá ligado? Todo cuidado ainda é pouco.

Enquanto esperou pela ‘mercadoria’, Dimas continuou frequentando a praia do Leblon. Elisa não apareceu por lá, nem atendeu aos seus insistentes telefonemas, o que fez com que o desejo de eliminar o rival aumentasse consideravelmente.

- Elisa praticamente já faz parte da família do PH. O casamento ainda não rolou porque PH-pai continua preso. Assim que resolverem essa parada...

O comentário de Pedrão reforçou a urgência da execução do plano. Para que isso acontecesse, porém, o rival precisava aparecer na praia. Só assim poderia armar o flagrante. A possibilidade de plantar a droga em sua casa chegou a ser considerada, mas foi abandonada; acabaria levantando suspeita.

Quase um mês se passou sem que o casal desse as caras na praia. O sumiço deixava claro que o relacionamento seguia firme. “Perdeu, malandro! Desiste e parte pra outra”, Dimas se aconselhou; não era a primeira vez que se via obrigado a desistir de uma garota. Dessa vez, entretanto, sentia que fosse algo mais que o simples desejo de se dar bem; Elisa não representava somente uma ponte para uma vida melhor. Na verdade, estava gamado de um jeito que nunca estivera por nenhuma outra garota. A constatação o deixou, mais que assustado, mortificado; não fazia parte dos planos se apaixonar. A esposa milionária seria mero trampolim para atingir as altas esferas da sociedade, nada mais que isso. Uma vez casado, tiraria o máximo que pudesse da garota, dos pais e de quem mais estivesse dando sopa por perto. Então, pularia fora. “O casamento é um negócio. Essa garota não pode estragar meus planos. Não pode”, ele murmurou alheio ao papo que rolava solto entre Suzana, Larissa e Jane, em rara aparição. As três, em momentos distintos, foram seus alvos. Jane, das três, era a única que ele ainda tinha esperança de levar para o altar. Não por acaso, a mais rica das três. Infelizmente, a tatuadora insistia em morar num barraco, no Vidigal, como se fosse uma pessoa comum, recusando a montanha de dinheiro do pai. “Pensando bem, não custa tentar mais pouco”, ele pensou. E, num esforço para se livrar do fantasma de Elisa, ele se preparou para mais uma investida sobre Jane. No final do dia, em vez de ir para casa, tomou o caminho do Vidigal, e por lá acabou ficando.

- Tava pensando aqui, amor. A gente tá morando junto há um tempo e eu nem conheço sua família. Sabe como é, sou do interior... Lá não é como aqui. A gente faz questão de conhecer a família da namorada, pedir a permissão do pai... Queria fazer a coisa certa, tá ligada? Quando vai me apresentar pra família?

- Deixa minha família fora disso, por favor. – disse Jane, evitando o assunto a qualquer custo.

No entanto, obstinado a se aproximar da família da namorada, sobretudo do futuro sogro, Dimas vestiu a melhor beca que tinha e foi até a casa, uma bela mansão, no Alto da Boa Vista. Somente depois de enfrentar uma verdadeira barreira humana, ele conseguiu ser recebido. Para sua surpresa, o pai da garota se mostrou feliz de saber que a filha estava namorando um rapaz ajuizado, preocupado em conhecer sua família.

- Foi Janinha que te mandou me procurar? – o empresário perguntou.

- Sim e não. – Dimas gaguejou – Ela ainda tá meio sem jeito. Sabe como é...

- Sei sim. Minha filha é cabeça-dura. Saiu a mim. Não nego. Também não sou fácil. Cadê ela? Não veio com você?

Desejoso de ter a filha de volta a casa, o empresário Alaor Cavalcante agarrou a oportunidade de reaproximação. E, sem desconfiar das intenções do futuro genro, abriu-lhe as portas da casa e do coração. Dimas se deslumbrou com tudo: a mansão, os carros, os frigoríficos e seus escritórios, centenas de empregados, prontos para servi-lo tão logo oficializasse a união com a herdeira, e mais o que não viu, mas sabia que existia: tudo seria seu, bastava convencer Jane a conviver pacificamente com o pai e, claro, aceitar seu precioso dinheirinho.

Há meses sem notícias, Abadia – após perambular à sua procura pelas ruas de Ipanema e Leblon, como fazia quando ele, criança, sumia de casa – temia que o pior tivesse acontecido.

- Meu Dimas nunca ficou tanto tempo sem dar notícia, dona Santana. – ela desabafou com a vizinha – Tô muito preocupada.

- Vazo ruim não quebra, mulher. E notícia ruim voa. Se tivesse acontecendo alguma desgraça a gente já sabia. Não se aperreia. Dimas tá é de desfrute com alguma moça rica da zona sul. Vai por mim. Mas se é pra te aliviar seu coração, eu mando os meninos dar uma averiguada por aí. Aliás, eu vou mandar logo dar olhada no IML. Não que eu teja agourando o menino. Nunca se sabe, não é?

A conversa das vizinhas foi interrompida pela chegada repentina de Pelado, garoto que, após ser abandonado pela mãe, fora criado pelas vielas do morro de onde, naturalmente, acabou capturado pelo tráfico.

- Que qui quer aqui, muleque? – adiantou-se dona Santana – Toma seu rumo. Coisa feia ficar ouvindo conversa.

- Garrincha mandou dizer que o negócio do Dimas tá esperando por ele lá no movimento, dona Badia. É pra ele ir buscar. – disse o garoto, desaparecendo em seguida.

- Que tipo de negócio teu filho tem com essa gente? – indagou dona Santana.

Abadia não soube o que responder.

Enquanto isso, acreditando estar praticando uma boa ação, Dimas chegava ao barraco-estúdio de tatuagem de Jane, na companhia do futuro sogro. 

- Fora daqui. – disse Jane, assim que viu o pai entrar em casa, acompanhado do namorado – Fora da minha casa, os dois.

Diante da violenta reação de Jane, não restou outra saída para o caça-dotes senão voltar para o único lugar que de fato tinha na vida, a casa da mãe. 

- Por onde andou, filho? Por que ficou tanto tempo sem dar notícia? Não faz ideia de quanta coisa ruim passou pela minha cabeça. – disse a mãe – Parece tão magro. Tem se alimentado direito? Senta aí. O que quer comer? Diz que eu faço num minuto.

O arremedo de filho-pródigo não se deu ao trabalho de justificar a longa ausência. Na cabeça martelava o fato de ter, pela segunda vez, perdido a chance de levar Jane para o altar.

A fossa foi grande. Não exatamente por Jane, mas por Elisa; não tinha como negar que a garota conquistara seu coração de tal maneira que não mais se sentia motivado a procurar candidatas nas quais vislumbrasse a possibilidade de realizar seu intento de subir na vida.

- Garrincha deixou aí esse pacote. – disse Abadia fazendo as recomendações de sempre, ou seja, que o filho não devia se envolver com a gente do tráfico, pois sabia muito bem no que ia dar – Não esquece o que aconteceu com o Vaguinho...

Dimas deixou a mãe falando sozinha e correu para a sede o movimento, aonde chegou pagando para o amigo de infância.

- Qual é, meu? Tá me tirando de otário? – reagiu Garrincha – Baixa a bola! Acha que tenho todo o tempo do mundo? Não esqueça que eu cedi a mercadoria com a condição de, se a parada desse errado, tu trabalhar comigo. E, pelo jeito, deu ruim, não deu?

- Não é bem isso. Tive uns contratempos. O pai do cara, acredite se quiser, foi preso nesse negócio aí de crime do colarinho branco. Deu no jornal e tudo. Aí, o maluco vazou da praia. Tá morto de vergonha do lance do pai. Até porque, a galera não perdoa. Cai em cima sem dó nem piedade. Daí, eu não tive como executar o plano, tá ligado?

- Tenho nada a ver com isso. Pra mim, vale o combinado. E combinado não sai caro.

- Alivia aí, irmão. O que eu vou fazer com a mercadoria?

- Dá seus pulos, se vira.  A mercadoria de volta, eu não aceito. Se não vai mais foder com a vida do riquinho, bom pra ele. Mas pensa no lado bom da coisa. Agora tu tem material pra fazer uma grana. E, veja bem, sem precisar dessa babaquice que é azarar gatinha rica.

- Pela nossa amizade, Sinval. Sabe que vida de traficante não tem nada a ver comigo e nem contigo, que eu sei muito bem. Seu lance era fazer carreira no exército, lembra?  E eu quero ser bacana, viver nas altas rodas. Tráfico tá fora de questão.

- Não tem esse papo de Sinval, exército, porra nenhuma. Sou o Garrincha, traficante, sujeito homem. E me orgulho disso pra caramba. E isso aqui é quebrada de morro, não é prainha de playboy não!  Se não arrumar a grana, vai rodar. Tenho dito. – decretou Garrincha.

 

Bom domingo e excelente semana.

Esperança, fé, amor e GRATIDÃO. 

 

 

 

 

 

 

 

outubro 05, 2024

Mundo sem divisões. - O voto é nosso.

Neste domingo temos o dever de comparecer às urnas para escolher prefeitos e vereadores que deverão governar nossas cidades pelos próximos quatro anos. Para muitos esse é um ato prazeroso, pois se sentem felizes em participar do jogo democrático. Já outros vão às urnas apenas para cumprir uma obrigação.

Se qual for a sua posição o certo é que não podemos deixar de expressar a nossa opinião, deixar de fazer a nossa escolha dentro os candidatos que nos são apresentados. Sem esquecer que são essas pessoas (os candidatos escolhidos por nós) que vão governar as nossas cidades, que vão resolver ( ou minorar) os problemas que enfrentamos toda vez que saímos de casa, seja para trabalhar, estudar, cumprir nossa rotina diária ou simples exercer nosso direito de ir e vir.

Infelizmente, principalmente nos últimos anos, estamos vivendo um tempo de divisão que não traz nenhum benefício para nossas cidades, nem para nossas vidas como cidadãos. Pessoas se colocam de um lado e do outro como donos da verdade, como salvadores da pátria, como arautos de uma boa nova que sabemos não que vai chegar. Tudo baseado em mentiras e acusações normalmente falsas.

No meio de tudo isso, o eleitor precisa escolher o melhor. Confesso que considero essa tarefa muito difícil, para não dizer praticamente impossível. Ao mesmo tempo, acredito que já temos capacidade de abstrair tudo isso e tirar água da pedra. Aprendemos com o tempo a separar o joio do trigo, afinal de contas, por mais que não acreditemos, somos a parte forte desta história. O voto é nosso, ninguém pode nos tirar o direito de escolher nossos candidatos seguindo a nossa vontade, o nosso entendimento.

Neste domingo, quando entrar na cabina de votação, esqueça qualquer divisão entre os espectros políticos. Se eles estão divididos e dividindo, nós somos inteiros, somos nós mesmos e sabemos muito bem aquilo que queremos para nós e para a nossa cidade.

Boa votação.

Esperança, fé, amor e GRATIDÃO. 

setembro 29, 2024

A mão invisível - Cap. 1

Hoje apresento a vocês o primeiro capítulo de meu livro 'A mão invisível', que conta as agruras do jovem Dimas, em sua desesperada luta para viver num mundo de luxos e mordomias, que lhe foi negado ao nascer pobre e favelado.


Capítulo 1

Na comunidade pobre do subúrbio do Rio de Janeiro, onde a vida pulsava em seu ritmo próprio, um jovem saiu de um tosco barraco, não muito diferente daqueles que o circundavam, e, esforçando-se para ignorar os obstáculos que a cada passo surgiram à sua frente – a ladeira íngreme demais, as valas negras que precisavam ser transpostas, a pobreza, o desencanto e o abandono –, atingiu o pé do morro. Após longa espera na desorganizada fila, ele embarcou na condução e, mais ou menos uma hora depois, desceu a certa altura da Avenida Atlântica. Os pés, quase automaticamente, o levaram ao calçadão, de onde observou, com deleite, o oceano azul, o movimento das ondas e a faixa de areia, àquela hora apinhada de banhistas, grupos de turistas – sobretudo gringos –, vendedores ambulantes, enfim, a atmosfera de Copacabana do verão de 2010.

Diante da exuberante vista, após se alongar, o jovem colocou os óculos de sol, que trazia sobre a cabeça em forma de tiara, e, em seguida, misturou-se à multidão que fazia jogging, pedalava, patinava, andava de skate tentando convencer-se de que fosse um legítimo morador da área, pois, em seus devaneios, residia num prédio bacana daqueles bem ali do outro lado da pista.

A essa altura, Copacabana ficou para trás, dando lugar à Ipanema. Algumas passadas depois, o jovem pisou as areias da praia do Leblon. Antes de se aproximar da turma de amigos, porém, recapitulou o roteiro que trazia memorizado: para todos os efeitos, era filho de um rico proprietário de terras do Mato Grosso.

- Tô passando o maior perrengue. O velho anda meio na bronca, tá ligado? Quer que eu volte pra fazenda. Dá pra encarar? Coisa de louco, não é não?

O desabafo se deu no dia em que finalmente conseguiu se aproximar dos ‘riquinhos do Leblon’, maneira como se referia ao pessoal da praia, turma de jovens, quase todos na casa dos vinte anos, com o objetivo de convencê-los de que faziam parte do mesmo grupo social.

- Tá no maior jogo-duro. Disse que só volta a liberar grana quando eu estiver trabalhando nas fazendas. E não tá de brincadeira não. Há meses não manda a mesada. Por isso, tive de desfazer de meus dois amores: o carango e a motoca. Doeu o coração, tá ligado? O consolo é que com a grana continuo levando minha vidinha, curtindo legal. Mas até quando?

- Não cai na pilha do velho, cara. – disse um loirinho, cara de bicho-grilo, enquanto apertava o terceiro baseado – O meu tentou esse lance comigo. Não me deixei dobrar.

O comentário foi o bastante para que o jovem já se sentisse integrado à turma, que era composta por Paulo Henrique, o loirinho, mais conhecido como PH, estudante de direito, que nunca ia à escola; Jane, estudante de artes, tipo doidona: cabelo vermelho, tatuagens e piercings compunham seu visual; Pedrão, um tipo meio obeso que passava o tempo dormindo na areia e que há anos fazia cursinho pré-vestibular; Suzana, formada em Letras, que usava pesados óculos de grau, sempre de livro na mão, fazendo tipo intelectual; Lucas, surfista amador, estudante de arquitetura, tipo boa gente; Larissa, estudante de odontologia, na verdade, uma devoradora de homens; Demétrio, estudante de teatro, assumidamente gay, a diversão da turma; e outros que chegavam, papeavam, bebiam, fumavam e se afastavam. Os encontros aconteciam na faixa de areia próxima ao quiosque do Manduca, o Carlos Emanuel de Jesus, ‘negão gente fina’ que dizia ter sido afamado jogador de futebol. Naquele momento, no entanto, Manduca buscava, de forma quase obsessiva emplacar o filho, o adolescente Príncipe Carlos, no elenco de base do Flamengo, time em que confessava, não sem esconder a mágoa, não ter chegado a jogar. O filho, em quem depositava a esperança de que realizasse esse sonho, era fruto de seu casamento com Janaína, que fazia questão de apresentar a todos ali na praia como a mulher que abandonara promissora carreira de modelo para viver ao seu lado.

- Essa loira é louca por mim. – alardeava, quando não estava cuidando do futuro profissional do rebento – Largou fama e dinheiro pra ficar com esse negão. Quer prova de amor maior? Pena que logo depois eu sofri a contusão que me obrigou a parar de jogar.

Janaína, que guardava poucos vestígios de um passado glorioso, trabalhava na barraca. Para lá, depois dos treinos, também ia Príncipe Carlos. Quem via o futuro craque do Flamengo em ação nas areias garantia que tinha dois ‘pés esquerdos’; o que chamava atenção, sem sombra de dúvida, era apenas o título de príncipe.

- Filho de rei é príncipe, certo? – dizia Manduca, acrescentando que em seus áureos dias de jogador fora coroado ‘o rei dos gramados brasileiros’.

- Qual é, Manduca? Rei é o Pelé.– retrucavam.

- Veja bem, meu irmão, o Pelé, Edson Arantes do Nascimento, é o rei do futebol e eu, Carlos Emanuel de Jesus, vulgo Manduca, sou o rei dos gramados brasileiros. Dá pra entender ou tá difícil?

Independente de qualquer coisa, Manduca já calculava os altos salários que o filho faria jus. Príncipe Carlos teria a vida que o pai deveria ter tido em sua época de jogador, mas a contusão impediu. Entretanto, a preocupação naquele momento era que desde que apareceu na praia, o filho do fazendeiro do Mato Grosso comprava fiado no quiosque. Na hora de pagar, no entanto, sempre alegava que pagaria tão logo a mesada caísse em sua conta.

- E aí, malandro? Cadê a grana?

- Nada, Manduca. O velho ainda tá fazendo jogo duro comigo. Mas pode ficar descansado. Assim que a grana cair na conta, tá na sua mão.

- A tolerância tá acabando. Não vou ficar no prejuízo porque o papai tá regulando a grana. Não vou mesmo. – disse Manduca.

Ao perceber que o freguês desaparecera entre os banhistas, acrescentou alteou a voz e acrescentou:

- Trate de dar teus pulos, ouviu?

- Esse papo de pai fazendeiro é cascata, paixão. Vai por mim.

- Será, Jana? O garoto tem toda pinta de filho de bacana.

“Quer saber de uma coisa? Não vou dar as caras durante um tempo”, pensou o falso rico; não tinha a menor ideia de como arranjaria a grana para saldar o débito no quiosque. A decisão, entretanto, atrapalhava seus planos; elegeu a praia como o lugar ideal para conhecer a garota que, segundo acreditava, mudaria sua vida, razão principal de ter se metido entre os ‘filhinhos de papai’. Larissa, Suzana e Jane, as garotas da turma, cada uma por sua vez, foram seus alvos; com as três, viveu relacionamentos com vistas a um casamento por interesse. Suzana e Larissa, segundo apurou, eram filhas de empreiteiros, com obras em várias esferas governamentais. Jane, por sua vez, a única que fez seus olhos brilharem de verdade, pois o pai era um poderoso industrial do ramo das carnes. A descoberta o levou a acreditar ter encontrado a verdadeira ‘galinha dos ovos de ouro’.

O convite de Jane para que conhecesse sua casa foi recebido como o sinal de que tudo se encaminhava para a realização de seu grande objetivo. Para que nada desse errado, o jovem preparou, com extremo cuidado, o que diria aos futuros sogros. Antes de qualquer coisa, falaria das hipotéticas fazendas do pai e que, como filho mais velho, mais cedo ou mais tarde, estaria no comando de tudo.

- Minha Jane finalmente encontrou o rapaz certo. – diria o pai de Jane, após ouvir seu relato.

Entretanto, no dia marcado, sentado no lado do carona, estranhou quando o carro da namorada tomou a direção do Vidigal.

- Pra onde a gente tá indo, amor? A casa de sua família... Não diga... Boca numa hora dessas... Pô, cara. Não é legal chegar turbinado num encontro com a família. Falta de...

Jane seguiu em frente, sem nada responder e, pouco adiante, estacionou o carro em frente a um sobrado, que ficava no pé da ladeira.

- Não vai descer? – ela perguntou, já fora do carro – Desistiu de conhecer a minha casa?

Naquele dia, o ‘caça-fortuna’ soube que a namorada vivia num sobradinho no Vidigal, misto de estúdio de tatuagem e moradia, pois abrira mão da grana da família para viver dos modestos ganhos que obtinha como tatuadora iniciante; não queria ser sustentada por um homem (o pai) que fizera fortuna matando animais indefesos. “Protetora de animais criados para abate. Que maluquice! Onde eu fui me meter?”, ele ruminava enquanto descia a pé as ladeiras do Vidigal, pouco interessado no sofrimento dos animais ou de quem quer que fosse; o importante era a grana, viesse de onde viesse.

- Tá mais que na hora desse menino arrumar um emprego, Badia. Para de dar vida boa pra ele. Depois de certa idade, filho tem ajudar nas despesas da casa.

O alerta partiu de dona Santana, inconformada com a ‘vida boa’ que a vizinha proporcionava ao filho. Mulata, corpulenta, baiana de Feira de Santana, a viúva – pelo menos, era o que afirmava – era mãe de três filhos: Genildo, Genilson e Genivaldo, “homens machos e trabalhadores”, como propalava aos quatro ventos, orgulhosa de ter ensinado a eles, desde cedo, a encarar o trabalho, sem desconfiar das piadas e dos insultos que os filhos ‘machos e trabalhadores’ enfrentavam pelos becos do morro.

- Meus meninos, além de labutar o dia inteiro na rua, limpam a casa, cozinham, lavam e passam, fazem mercado... E ai deles que não façam de boa-vontade, e no capricho. Mando fazer tudo de novo. Enquanto não fica do meu gosto não dou a tarefa por acabada. Não suporto gente preguiçosa, nem de desmazelo. Eu sei o que passei quando o Ednaldo partiu dessa pra melhor me deixando sozinha com os três. Genivaldo ainda mamava no peito. Mourejei demais nessa vida, Badia. Mas o tempo da peleja já passou. Agora eu quero é descanso.  

A falta de interesse do filho para arranjar emprego, somados aos seus arroubos de menino mimado, realmente causavam preocupação. No entanto, como mãe abnegada, Abadia acreditava que o comportamento fosse apenas uma fase. Logo ele se conscientizaria de que devia garantir o próprio sustento, como todo mundo. Para seu desgosto, nem mesmo pelos estudos o filho demonstrava interesse; esnobou sucessivos convites para participar de projetos que poderiam lhe garantir encaminhamento para trabalhos e recusou bolsas de estudo ‘por não querer esmola de ninguém’, como fazia questão de frisar.

- Devia ter seguido meu exemplo, Badia. – continuou a baiana – Hoje estaria vivendo, não digo como eu, mas, pelo menos, sem tanto aperreio, sem tanta consumição.

- Criei esse menino sem pai, dona Santana. Por isso, sempre tive medo de ser enérgica demais. Mas não há de ser nada. Tenho fé na minha santinha que ele ainda vai tomar jeito.

Abadia nunca esqueceu o período em que o filho andou na companhia de Vagner da Conceição, o Vaguinho, o garoto que acabou morto pelos comparsas, que o acusaram de traição. Abadia proporcionaria, caso pudesse, a vida de facilidades que o filho tanto ambicionava, para livrá-lo da ameaça de ter o mesmo destino. Porém, tinha a oferecer apenas um barraco, sem conforto, e uma comida magra; sempre tivera dificuldade para colocar o básico dentro de casa. O filho chegou a ficar sem estudar, por falta de vaga em escolas públicas perto de casa. As roupas e calçados que usava eram doados pelas patroas, ou garimpados em bazares de igrejas e brechós.

- Por que eu tinha que nascer pobre, hein? Por que não me abortou? Seria melhor eu não ter nascido.

- Não fala assim, filho. Deus castiga. Minha avó dizia que o destino da gente é traçado antes de nascer; uns nascem pra ter boa-vida, venturas e alegrias, outros, pra passar por perrengues, atropelos e dificuldades sem fim. Ela tava certa. Sempre foi assim. Nunca vai mudar.

As palavras da mãe deixaram o jovem tão enfurecido, que ele atirou o prato de comida no chão, derrubou mesa, cadeiras e mais o que viu pela frente. Diante daquele ataque de fúria, Abadia, mais uma vez, se sentiu totalmente impotente. A mesma impotência que experimentou no dia em que descobriu que estava grávida.

- Não vem com esse papo de gravidez. – reagiu o namorado ao ser comunicado que seria pai – Nunca te prometi nada. Descuidou? O problema é seu.

- Pensei que a gente tivesse namorando.

- Pensou errado. Olha aqui, garota, veja lá o que vai fazer, hein? Eu sou muito jovem pra estragar a minha vida por causa de uma bobagem de gravidez. Não conta comigo. Tava tudo bom, mas sinto muito se foi sério pra você. Pra mim, nunca passou de namorico.

A jovem Abadia ouviu as duras palavras do namorado em estado de choque: difícil acreditar que o rapaz bonito que conhecera durante os jogos de futebol no campinho da favela fosse capaz de agir daquela forma.

- É bonitinha... Ficava me dando bola... Eu sou homem, caramba! – ele disse.

Já ia longe, quando retornou e, sem descer da motocicleta, entregou-lhe o objeto que retirou do bolso da jaqueta.

- Pega. Vende e usa o dinheiro pra se livrar disso. Vai ser melhor pra todo mundo. Vai por mim.

E partiu, sem olhar para trás. Abadia ficou plantada no meio do campinho de terra batida, naquela hora totalmente deserto, com o objeto na mão, sem saber o que fazer ou para onde ir. Na cabeça uma certeza: com os pais não poderia contar. “Escuta bem o que digo: se filha minha pegar barriga, vai direto pra rua. Não tem conversa. Já tem boca demais pra sustentar nesta casa”, ela recordou as palavras do pai.

Enquanto deu, Abadia manteve a gravidez em segredo. Quando a barriga começou a aparecer, concluiu que a solução era seguir o conselho do namorado. Não seria a primeira garota no mundo a se livrar de uma gravidez indesejada. Com esse pensamento, ela resolveu procurar dona Mena, senhora que vivia num casebre no alto do morro, conhecida como ‘fazedeira de anjos’.

- Peguei barriga, dona. – ela disse, envergonhada – Meu namorado me deixou e meu pai disse que vai me jogar no meio da rua.

- Quem mandô ocê aqui? – tartamudeou a mulher, que parecia uma selvagem – Tô aqui no meu canto, ocês vem mi procurá. Aí, faço o qui mi pede... O risco é por conta de quem pede o sirviço. Num quero sabê se é certo ou errado, pecado ou não. E se ocê fizé passage, espero a noite chegá e jogo o corpo no mato, pros arubú comê.

Abadia se manteve em silêncio; os pés pareciam colados ao chão.

- Se qué si livrá du incômo, a gente dá um jeito. – prosseguiu a mulher, da porta do casebre – A muleca tem pataca? Promodiquê num é di graça não.

Abadia combinou de voltar no dia seguinte. Embora a ideia de estar prestes a condenar a própria alma ao fogo do inferno a enchesse de temor, não era menor o medo de ser atirada no meio da rua, grávida e sem ter para onde ir. Pela manhã, depois de uma noite em claro, tomou o rumo da casa de dona Mena, a fazedeira de anjo’, levando o ‘presente’ que recebera do namorado; como ele sugerira, para pagar pelo aborto.

No interior do barraco, Abadia não encontrou nada diferente do que se via do lado de fora, ou seja, um amontoado de cacarecos, dentre eles, um móvel que parecia uma cama, mas que, na verdade, tratava-se de uma tosca maca. Apesar de viver numa casa tão miserável quanto a da parteira – o pai era um simples biscateiro, que arrastava um ‘burro sem rabo’ morro acima e morro abaixo, e mal ganhava para botar o básico na mesa, para alimentar os sete filhos –, ela sentiu o peso da atmosfera miserável do ambiente.

- Deita aí. Sunga o vistido, tira a calçola e abre bem as perna. Se prepara promodiquê vai duê. – disse a mulher apontando a maca.

Abadia deitou na maca, porém, assim que foi tocada pelas grosseiras mãos da ‘fazedeira de anjo’, saltou para o chão e saiu porta afora, em desabalada corrida.

- Que consumição é essa, Badia? – perguntou a mãe quando a viu entrar em casa, completamente transtornada – Não acha que já tá na hora de falá o que tá acontecendo?

Esquecida de todos os riscos, Abadia abriu o coração. A mãe, dentro do possível, buscou ser compreensiva. Entretanto, o pai, confirmando a ameaça muitas vezes repetida, escorraçou-a de casa.

Mais de vinte anos depois, ela estava diante do filho, que esteve a um passo de abortar, tentando impedir que, como fazia a cada crise, ele procurasse Sinval Donizete dos Santos, mais conhecido como Garrincha, chefe do tráfico no morro. Nessas ocasiões, para evitar que o filho se envolvesse com o tráfico, Abadia se sentia propensa a revelar a suspeita de que o antigo namorado, seu pai, fosse morador da zona sul. No entanto, não arriscava; nunca soubera nem mesmo seu nome completo, o endereço ou a que família pertencia; os encontros se davam apenas quando o rapaz aparecia no morro para jogar futebol com os filhos das empregadas da mãe.

Tomada pelas lembranças, Abadia foi até o guarda-roupa e pegou o ‘presente’, a única recordação do passado, já quase apagado na memória.

- Se eu tivesse alguma pista do paradeiro dele, passaria por cima de todas as mágoas, ressentimentos, o que fosse e ia atrás. Mas ele não ia se interessar pelo filho, depois de tanto tempo. Me deixou justamente porque falei que tava grávida.

Mais tarde, Abadia jogou um surrado casaco sobre os ombros e saiu pelas vielas da comunidade disposta a impedir que o filho fizesse o que tanto temia. “Alguém há de ter visto o rumo que ele tomou”, ela pensou. Ninguém vira sombra do filho. Pouco depois, sem ter mais onde procurar, ela tomou o caminho de volta para casa; teria faxina na manhã seguinte. Não estava podendo com estripulias; a saúde não andava boa, já sentia o peso dos anos, que não eram tantos assim, ainda nem chegara aos cinquenta. No entanto, a aparência era de muito mais, em parte, devido às asperezas e agruras que a vida sempre lhe impusera.

Como suspeitava, o filho fora ao encontro de Garrincha, o amigo de infância que, recusado pelo exército – como seu homônimo, ele tinha as pernas tortas –, viu no tráfico o único meio de pertencer a uma organização em que pudesse angariar respeito e, com sorte, galgar postos de comando. O filho de Abadia evitava ser visto na companhia de ‘gente do movimento’; temia que atrapalhasse seus planos de ascensão social. “Vai que um dia resolvem investigar minha vida e descobrem que andei metido com essa gente? Aí, eu me ferro”, ele pensava. A preocupação se estendia à mãe, que aturava por extrema incapacidade de se manter sozinho, e a toda a comunidade, que ignorava, solenemente; não suportava aquela gente pobre, feia e malcheirosa. No dia em que atingisse o topo da pirâmide apagaria da memória que tivera a infelicidade de ter nascido do ventre de uma mulher miserável, tacanha e insignificante. “Tanta mulher no mundo e eu tinha de ser filho de uma reles diarista, que não consegue nem mesmo botar uma comida decente na mesa. É muita falta de sorte”, ele lamentava.

- Muita calma nessa hora, papai. – disse Garrincha ao ver o amigo aspirar o pó, avidamente – Que tá pegando? Fala comigo. Qual é o enredo? Tá difícil encontrar ricaça por aí, né?

- Colei na gata que cabe direitinho no meu plano, mas descobri que ela é brigada com o pai, que prefere viver na pobreza. Calculou o meu azar?

Garrincha sorriu de satisfação; nunca levou a sério o plano do amigo. Entretanto, ao perceber que sua reação pudesse ser notada, ele desfez o sorriso.

- A garota tava dando condição, cara. Tava no caminho certo. Aí, surgiu o lance de que não se dá com o pai e faz questão de dispensar a grana dele.

- Deixa dessa bobagem de ficar correndo atrás de mulher rica, mano. Tu pode conseguir grana pra viver vida de bacana aqui mesmo na comunidade. Não é papo. É a real. Tu tem penetração entre os playboy, cara. Já calculou a grana que pode faturar?

O filho de Abadia mantinha viva na memória a lembrança do amigo Vaguinho, covardemente assassinado pelos comparsas, porque ousou sonhar com uma vida melhor. Além disso, para todos os efeitos, era filho de fazendeiro, dono de quase metade do Mato Grosso.

- Esquece isso, maluco. Da mesma forma que não consegui entrar pro exército, tu também...

- Tem nada a ver. Além do mais, não é sonho, caramba. Quando o sujeito não nasce rico a única saída é apelar pra um bom casamento. Isso tá mais que provado, entendeu?

- Isso funciona é com mulher, cara. Não vale pra macho. Se pelo menos, tu andasse com coroa ou veado... Tem muito veado rico que dá vida boa pra garotão boa pinta assim como tu, tá ligado?

A insinuação transformou o papo numa divertida troca de socos e insultos. Embora o filho de Abadia não admitisse, Garrincha era a única pessoa com quem podia falar abertamente. No fundo, tinham muitas coisas em comum: enquanto um corria atrás de ricaças, o outro almejava mais poder no tráfico.

Mais tarde, ao atravessar a porta de casa, ele vislumbrou o espectro da mãe, no escuro, e teve vontade lançar-lhe os costumeiros xingamentos; não suportava aquela mulher o tempo todo no seu pé. Entretanto, foi direto para o quarto que, por direito, seria dela, mas que usava como se fosse o senhor da casa, a mãe que se contentasse com o duro sofá, e ela realmente se contentava. Então, ele se ajeitou na cama, não muito diferente do sofá da mãe. Impossível pregar o olho; se recusava a acreditar que estivera tão perto de deixar a vida miserável para trás.

A claridade trazida pelos raios do sol, que atravessavam as fendas das paredes e janela, denunciava que beirava o meio-dia. Através dos rabiscos da mãe, ele tomou conhecimento de que havia café no fogão, que deveria esquentar: a garrafa térmica estava estragada. “Grande novidade!”, pensou. Também decifrou nos garranchos o alerta para que não esquecesse a chama do fogão acesa à toa, pois o gás estava no fim.

- Não tem mesmo jeito. Enquanto fica flanando por aí, a mãe trabalha feito burro de carga. – murmurou dona Santana, debruçada na janela.

- Falou alguma coisa, dona Santana?

- Falei sim, seu desocupado. Falei que o mercado que abriu lá embaixo tá contratando trabalhador. Por que não passa lá? Quem sabe arruma vaga de entregador?

- Não nasci pra trabalhar em mercado, dona Santana. Entregador é bom pros filhos da senhora, que tão acostumados a pegar no pesado.

- E tu tá acostumado é a explorar a coitada da Badia, não é?

Cerca de uma hora depois, livre da vizinha enxerida, seguindo o trajeto de sempre, o jovem desembarcou em Copacabana. Também como fazia todos os dias, caminhou até o Leblon.

- E aí? – saudou Manduca tão logo o avistou – O velho liberou a grana?

- Nada, seu Manduca. – respondeu com fingido desapontamento – O velho é turrão. Bem que eu liguei, mas ele nem quis me atender.

- O malandro tá de caô, paixão. – interveio Jana – Só não vê porque não quer.

- Qual é, dona Jana? Seu Manduca sabe que sou firmeza. Assim que a grana cair na minha conta tá na mão de vocês. Olha só, tô até disposto a pagar um pouco mais, pra compensar o tempo que tão esperando. Só queria pedir que não falassem nada pra rapaziada. Que fique entre nós, valeu?

- Tá legal. – disse Manduca – Última chance.

- Daqui esse pilantra não leva mais nada fiado, ouviu Manduca? – disse Janaína.

Enquanto o casal discutia, o falso rico se afastou do quiosque. Foi ao encontro de Suzana, que devorava mais um livro, e postou-se ao seu lado.

- Ei! – ela disse, incomodada – Não me lembro de ter contratado um guarda-costas.

- Tava te manjando aí com seu livrinho e, de repente, sei lá, senti saudade dos rangos de sua mãe. Sabe que eu moro sozinho, né? Não tenho muito jeito na cozinha. Pedir comida... Não sou muito chegado em junk food... Já viu, né? Gente do interior...

- Sei como é. – disse Suzana – E por falar nisso, onde é mesmo que você está morando?

- Tô passando uns tempos num hotel aqui mesmo na orla. Manter apartamento montado é muito complicado. Contas pra pagar, serviçais... Mas cadê o resto da turma? Será que fomos abandonados?

- Lucas, pra variar, está na água, Demétrio e Larissa estão azarando por aí e o Pedrão está ali tirando uma soneca, como pode ver com seus próprios olhos. Só falta o Pedro Henrique.

- O que houve com o PH?

- Não sabe da garota que apareceu aí?  Acho que o nome dela é Elisa. Parece que dessa vez Pedro Henrique gamou mesmo. Não fala noutra coisa. Aliás, ninguém fala noutra coisa por aqui. Lucas, Pedrão, até o Demétrio... – disse Suzana deixando escapar uma ponta de despeito, confirmando a suspeita de que nutria uma espécie de amor platônico pelo colega de turma.

- E quem é a beldade? – perguntou Dimas, pouco interessado na desilusão amorosa de Suzana – Pelo menos, é da nossa... Quer dizer, ela tem grana?

- Pelo que tudo indica...

A simples possibilidade de que a desconhecida fosse rica significava a chance de pôr fim à decepção sofrida com Jane, ou seja, nem tudo estava perdido. “Hora de botar o exército na rua”, ele pensou. Quando, mais tarde, após um mergulho, retornou para a areia, PH estava por lá, na companhia da garota.

- Então você que é...

Antes que o caçador de fortuna completasse, PH apareceu do nada e levou a garota para longe. A reação do colega, porém, não foi motivo de preocupação; cedo ou tarde, tinha certeza de que acabaria surgindo a oportunidade de uma aproximação.

No início da noite, na condução de volta para casa, estava convencido de que o pai da garota fosse tão rico quanto o pai de Jane. “Tá na cara que ela nasceu em berço de ouro. Quer saber? Não descanso enquanto não conquistar essa garota”, ele murmurou. Em casa, a mãe quis saber o motivo do sorriso que trazia estampado no rosto e, sem querer, cavou um motivo para ser vítima de mais uma demonstração de desafeto e desrespeito do filho.

- É foda pensar que nasci de uma mulher cuja presença, voz melosa e excesso de zelo simplesmente me causam asco. – ele iniciou – Por que não me deu pra adoção? Pelo menos, eu teria sido criado por alguém com mais grana. Há tantos casais abastados que não conseguem ter filhos e optam pela adoção. Por que não me vendeu? Podia ter feito uma boa grana. Bebês brancos valem muito mercado. Mas sempre foi burra demais pra ter...

Não aceitava o que o destino lhe reservou. Entretanto, em vez lutar para mudar a situação através do estudo e do trabalho, como qualquer pessoa normal faria, preferiu inventar a história na qual se apresentava como filho de um fazendeiro, criador de gado do Mato Grosso. Para não cair em contradições, trazia tudo muito bem esquematizado: o pai era João Otávio Capanema, a mãe, Sônia Menezes Capanema, os irmãos, Júnior e Soninha. E não eram simples nomes; conferia a eles uma existência quase real. Inclusive, com algumas peculiaridades. Por exemplo: quando perguntavam por que o irmão mais novo e não ele levava o nome do pai, a resposta estava na ponta da língua: a mãe, devido aos problemas que enfrentou durante a gravidez, prometeu a São Dimas, seu santo de devoção, que o filho levaria seu nome, caso nascesse saudável.

- É por isso que tenho esse nome.

Se você leu até aqui e pretende conhecer a continuação da história deixe um comentário. A obra completa encontra-se à venda no site da Amazon. 

 

 Bom domingo e excelente semana.

Esperança, fé, amor e GRATIDÃO.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

setembro 27, 2024

Palavras mágicas

Estamos eternamente em busca de algo que reconecte com Deus, com a nossa essência, aquele elo que um dia tivemos mas que, infelizmente, perdemos. Como bem nos ensinam as escrituras sagradas, tudo teve início através do verbo, ou seja, a palavra. 

Deus disse faça e tudo se fez. Isso nos leva a crer que a palavra, qualquer palavra, tem um poder imensurável de fazer as coisas acontecerem. Da mesma forma que Deus pronunciou a palavra e através dela tudo se fez, também nós temos esse poder. Basta que digamos algo e ele se materializa na nossa frente, cedo ou tarde.

No entanto, esquecemos disso e passamos a vida pronunciando palavras que fazem materializar coisas e acontecimentos contrários aos nossos desejos. Desejamos uma coisa em nosso íntimo e nossa boca diz outra coisa completamente diferente. Dessa forma atraímos para nossas vidas coisas ruins que nos levam a viver uma vida de tropeços e inquietações.

Que bom seria se pronunciássemos apenas palavras que atraem bons acontecimentos, prosperidade e felicidade para nós e para todos aqueles que vivem ao nosso lado, não é? Se através da palavra Deus criou o mundo e tudo o que nele há, por que nós também não podemos fazer o mesmo? Bem verdade que não podemos nos comparar ao criador do universo, porém podemos nos esforçar em criar um ambiente propício para que a magia da boa palavra aconteça em nossas vidas.

Bom dia!

Esperança, fé, amor e GRATIDÃO.

setembro 25, 2024

Pai Nosso, a oração.


A oração do Pai Nosso representa uma verdadeira conversa com Deus. Nela, além de nos afirmar 'filhos de Deus', chamamos para nós o seu reino, pedimos o pão de cada de dia, solicitamos o perdão de nossos ofensas prometendo perdoar aqueles possam nos ter ofendido e suplicamos que nos livre de todo o mal. E pode ser rezada (recitada) a qualquer momento do dia, em qualquer situação. Um verdadeiro tesouro que Jesus nos deixou.


Pai nosso que estais no céu

Santificado seja o vosso nome

Venha a nós o vosso reino

Seja feita a vossa vontade

Assim na terra como céu

O pão nosso de cada dia

Nos dai hoje

Perdoai as nossas ofensas

Assim com nós perdoamos 

a quem nos tem ofendido

Não nos deixei cair em tentação

Mas livrai-nos do mal

Amém!


Bom dia!

Esperança, fé, amor e GRATIDÃO.

setembro 22, 2024

Fala e eu te escuto, diz o Senhor.

 Desde o início dos tempos, o homem ( a humanidade como um todo) busca meios eficazes de falar com Deus. Para atingir esse objetivo criam-se as mais diversas orações, quase todas muito boas e cheias de piedade, nessa busca, muitas vezes desesperada, por fazer que o criador de todas as coisas atenda aos nossos muitos anseios.

Infelizmente, por mais que tentemos, essa comunicação, esse diálogo com Deus, em muitos casos, acaba não ocorrendo de uma maneira satisfatória. No fundo, continuamos a nos sentir como se falássemos sozinhos ou como se as nossas palavras (a nossa oração) não chegasse ao seu destino, ao nosso objetivo maior.

Esse tipo de sensação, ou sentimento, quase sempre acaba enfraquecendo a nossa fé, pois a dor da decepção não é fácil de suportar. O desânimo bate forte e manter a firmeza e convicção de que exista algo além daquilo que vemos com os nossos olhos humanos realmente não é fácil. Nesses momentos voltamos a ser descrentes de tudo e as palavras por mais fortes que sejam simplesmente perdem o significado. 

Pena agirmos dessa maneira. A fé, ao contrário daquilo que imaginamos, não é algo palpável. Não podemos ver, nem medir o quanto de fé temos, nem saber qual o seu peso. Fé é algo que se tem e pronto. Não se consegue explicar. Além disso, e para nossa sorte, existe uma oração que nos foi ensinada pelo  próprio Jesus que dispensa qualquer outra nessa busca por uma perfeita comunicação com o criador. 

É a oração do Pai Nosso. Nela, ao mesmo tempo que apresentamos nossos pedidos, nos comprometemos a fazer a nossa parte. Pedimos perdão, ao mesmo tempo em que perdoamos e, o principal, pedimos que o reino de Deus venha até nós e aceitamos que seja feita a Sua (Dele) vontade.

Bom domingo e excelente semana.

Esperança. fé, amor e GRATIDÃO.

setembro 15, 2024

Aceite-se como é e seja feliz.

O medo de não ser aceito geralmente nos leva a nos apresentar como uma pessoa cheia de virtudes, talentos e qualidades acreditando que assim vão gostar mais de nós e estaremos livres de sofrer rejeição.

Infelizmente, essa não é a melhor saída. Como costumam dizer por aí, a mentira tem pernas curtas. Por mais que a história que contamos a nosso respeito seja bem estruturada vai chegar um momento em que a verdade aparece.

Nesse momento teremos que nos despir da fantasia que criamos para enfrentar a nossa verdadeira face, aquilo que realmente somos, sem máscaras, disfarces, maquiagem ou qualquer outro subterfúgio do qual lançamos mão para nos proteger, nos tornar mais 'bonitinhos' diante dos outros.

Portanto, o melhor a fazer sempre é procurar nos aceitar como realmente somos, partindo do ponto de que ninguém é perfeito, que todos temos fraquezas e imperfeições. Algumas podem ser corrigidas, outras, no entanto, fazem parte de nossa história de vida, são barreiras que precisamos transpor para nos tornar pessoas melhores, mais humanos, mais felizes.

Bom domingo e excelente semana.

Esperança. fé, amor e GRATIDÃO.