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outubro 06, 2011

Aprendendo com os nossos erros de cada dia.

     Para algumas pessoas é muito difícil aceitar que se deu um passo em falso, que se cometeu um erro, um engano, ou mesmo um simples deslize. Apesar disso, essas pessoas geralmente tomam o acontecimento desagradável como alerta e com a experiência adquirida seguem em frente prontas a ficarem mais atentas da próxima vez. Assim acabam desviando-se de perigos e obstáculos que antes as fizeram cair por terra. Essas pessoas acabam sendo vistas como verdadeiros sábios.
     E creio que não há quem duvide de que os sábios são, na verdade, aquelas pessoas que não se negam o direito de errar, mas que fazem do erro um trampolim para futuros acertos. Pela vida afora vão colecionando quedas e também saltos muitas vezes quase perfeitos. Como se fossem atetlas (e talvez sejam mesmo), essas pessoas vão aprimorando a cada dia mirando o pódio. Aquele lugar onde chegam somente aqueles que aceitam a dura tarefa diária do aprendizado, do aprimoramento, do cai e levanta como algo, por que não dizer, agradável e salutar. Mesmo queixando-se da sorte, mesmo reclamando de dor elas não deixam de ir adiante, de virar a página. Cada dia é um novo recomeço.
   E quando as vitórias chegam (e elas sempre chegam), não se dão por satisfeitas e querem mais. Não apenas para colecionar subidas ao pódio, mas porque a vida é um eterno desafio. Depois de um desafio vencido vem outro e mais outro. A roda da vida não para, minha gente. 
     Porém, para algumas pessoas aceitar uma situação de erro, de engano ou deslize é impossível.  Ou elas negam terminantemente que erraram e com isso permanecem errando pela vida afora, ou fazem daquilo um motivo para não tentarem nunca mais. A partir daquela situação não aceitam tentar de novo e passam a acreditar somente no fracasso. Não são capazes de vislumbrar qualquer possibilidade de sucesso dali para frente.
     Diferente das pessoas citadas no primeiro caso, elas não aprendem com o erro, nem fazem dele um incentivo para novas tentativas para então chegar aos acertos tão almejados. Não fazem do limão a suculenta limonada. Desperdiçam a chance de aprimoramento que a vida está oferecendo. O que, vamos combinar, é uma pena.

outubro 04, 2011

Falem mal de mim.

     O que para muita gente é sinal de aborrecimento e chateação, para o meu amigo Carlos é sinal de alegria e contentamento. Não acertou quem apostou que seria comer um prato de jiló, acordar cedo todos os dias ou coisa do gênero. O que jamais tiraria Carlos do sério é nada mais nada menos que alguém falar mal dele, imputar-lhe acusações, ainda que falsas.
     Esse seu jeito estranho de ser deixa muita gente estarrecida e por que não dizer também assustada. E não adianta você chegar e alertá-lo de que ele está sendo vítima de alguma fofoca ou maledicência: ele reage calmamente e até com uma certa alegria que deixa qualquer um desconsertado:
- Você não vai fazer nada?
- Não.
- Como não? Eles estão falando...
- Deixa que falem. Eu não importo. Até acho bom.
- Você deve ser louco. Só pode ser louco. Todo mundo metendo o malho e você...
Creio que você já deve ter percebido que o diálogo não prossegue. E eu digo porque: ninguém consegue aceitar aquela calma toda e acaba saindo porta à fora cheio de indignação enquanto Carlos fica sorrindo satisfeito.
     Eu já cheguei a pensar que ele faz isso por charme, que no fundo deve sentir vontade danada de desancar aqueles que não perdem oportunidade de botar seu nome na roda; ora dizendo que ele é preguiçoso, covarde, que bate em mulher; outras que é mal pagador, que deve a todo mundo, um conversa fiada, cachaceiro, mentiroso, salafrário, filho da p., que não perdoa ninguém, que não tem Deus no coração. Até de veado já foi chamado e nada.  Nem sombra de sequer uma cara de aborrecido.  Segue adiante sem nem olhar para o acusador. O máximo que já vi foi ele dizer:
- Se tá dizendo isso, então, prova. Quero ver. - fala assim, meio entre dentes, sem se preocupar se está sendo ouvido ou esperar pela resposta.
     Não me incluo entre os difamadores do Carlos, mas, confesso, sempre tive um pé atrás com ele. Afinal, é muita gente falando mal, fazendo acusações. Não vai me dizer que você também não ficaria meio assim, sei lá, desconfiado? Não dizem que a voz do povo... Pois é. Vai daí que...
    Porém, um dia aconteceu algo que me deixou intrigado. Foi quando surgiu o boato de que Carlos tinha se transformado num herói. É isso mesmo. Não se falava em outra coisa. Todos faziam questão de descrever o ato heróico de Carlos: estavam todos num piquenique na praia quando o filho da Laurinha começou a se afogar. Ninguém se mexeu. Todos pasmos olhando o menino se debater na água, pronto para sumir e não mais aparecer. Foi quando Carlos levantou de sua cadeira e se atirou na água trazendo, em seguida, o afogado nos braços. Estendeu o garoto na areia, fez os procedimentos necessários e logo ele dava sinais de vida. Carlos salvou o filho da Laurinha.
     A partir daí todos passaram a tratá-lo como herói, com pompas e reverências. Nada mais lembrava aquele Carlos de antes. Agora ele era bem-vindo em todas as rodas, festas e comemorações. Advinha qual foi sua reação diante do clamor geral? Indignação pura. Basta alguém tocar no assunto para ele ficar fora de si de raiva, vociferando impropérios como se fosse um louco. Ele que se sentia tão calmo e tranquilo quando sofria acusações, agora que é alçado a categoria de herói tem essa reação absurda. Dá para entender? Difícil, não é? Pois pode acreditar: o Carlos prefere que falem mal dele do que falem bem. Não aguentando de estupefação, perguntei a ele:
- Por que essa reação, Carlos? Afinal você salvou o garoto ou não?
- Salvar, salvar não sei. Sei que tirei o garoto da água antes que ele morresse. Se isso é... Quer saber de uma coisa? Essa gente tem mania de falar coisas. Agora tão com essa história de herói, se eu acreditar nisso vou ter que acreditar em todas as outras coisas que falaram de mim esses anos todos. Já pensou se acredito nessa papagaiada toda e começo a me sentir o herói e coisa e tal. Nem pensar. É melhor que falam mal de mim.
    E lá vai ele sem me dar tempo de, pelo menos, argumentar.

outubro 01, 2011

Antes que a casa caia.


    Parece que é um hábito corriqueiro deixar que as coisas estraguem, deteriorem para só então depois dar um jeito de tentar recuperá-las. Podemos ver isso facilmente dando umas voltas pela cidade do Rio de Janeiro. Pelo caminho, qualquer um que você tomar, você pode ver muita beleza, prédios de arquitetura deslumbrantes, monumentos históricos, mas também pode ver muita coisa deteriorada, estragada mesmo. Chega a dar pena ver prédios cheios de história para contar caindo aos pedaços. Na região do centro próxima à praça Tiradentes, rua Gomes Freire, rua dos Inválidos então, chega a dar medo. Além do mais, a população (nós) ainda corre o risco com os desabamentos constantes, incêndios, etc.
     É possível que você esteja pensando: "mas são só os prédios públicos que agonizam e morrem na nossa frente". Isso é verdade. Tem muita propriedade particular nesse meio também. Só que, cabe ao poder público cuidar para que os proprietários particulares cuidem bem dos seus imóveis através de uma fiscalização mais rigorosa, não é mesmo? No caso do prédios públicos, vira e mexe a gente fica sabendo que um ou outro será recuperado. Isso significa sempre o gasto de cifras altíssimas. Dinheiro que não se sabe se é mesmo necessário ou usado, mas que é anunciado, creio até que com algum orgulho. Como se fosse bom gastar muito, se isso fosse sinônimo de importância, trabalho bem realizado, presteza do poder público e mais não sei o quê.
    Não foi só a notícia de que algumas casas que estão quase indo abaixo próximo aonde eu moro serão recuperadas (as casas no sopé do Outeiro da Glória) que me levou a escrever esse post. Mais do que isso, foi o fato de que na vida costumamos agir de maneira parecida: primeiro engordamos além da conta para depois fazer um grande regime (a moda agora é cirurgia); deixamos nossos relacionamentos deteriorar para depois sair em campo para tentar recuperar a pessoa amada; o mesmo se pode dizer do nosso corpo, aquela barriguinha que cresce com o nosso consentimento e que depois lutamos para perder; ficamos sedentários para mais tarde lembrarmos (ou sermos lembrados) de que devemos nos mexer; nossas rugas, nossos dentes, enfim tudo aquilo que podemos prevenir e que, quase sempre, deixamos de lado, como se não pudéssemos fazer nada, se não dependesse de nós.
     Pelo contrário, depende sim. Aliás, para ser exato, depende somente de nós, de ninguém mais.  Podemos e devemos agir antes que "a casa caia", antes que seja tarde demais, antes que as pessoas comecem a olhar horrorizadas para nós, como se fossemos "monumentos" em vias de desabamento. Antes que precisemos fazer malabarismos para aparentar menos idade, menos peso, menos ignorância.
   Já pensou nisso? Então vamos agir enquanto é tempo. Os outros monumentos e prédios (desculpe a comparação) podem até depender do poder público para não virem abaixo ou deteriorarem, mas nós não. Cabe a cada um de nós cuidar de si (física e intelectualmente), manter-se bem, cuidar-se dia a dia, para não ser surpreendido de uma hora para outra. Cuide-se! A hora é agora.